Os Jogos De Annie Cresta escrita por Annie Azeite


Capítulo 17
XVI — Prisioneira


Notas iniciais do capítulo

* O nome Vixen é uma homenagem à personagem principal da fic "Em cinzas" da Caderno Azul.
* O personagem Hardie é uma homenagem à Hardie Fairbain, uma das minhas leitoras mais antigas, que adoro e usa esse pseudônimo fofo :)



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As primeiras gotas de chuva acariciam meu rosto e desenham círculos na superfície da água calma. Nunca choveu nesta arena, desde o início dos jogos. O ar se encontra úmido e é bom finalmente respirá-lo sem que adentre minhas narinas como uma lixa.

O céu está claro e o sol — ainda que tímido detrás das nuvens — situa-se bem acima de nossas cabeças. Meio dia, penso comigo. Falta pouco. O plano já está em curso: Noah e eu aguardamos pelo banquete no topo da barragem enquanto os outros cercam a base em uma emboscada. Se nossos oponentes estiverem reunidos, será três contra cinco lá embaixo. Ainda assim, somos carreiristas. Nunca estamos em desvantagem.

Sento-me na beirada estreita de pedras e Noah se encolhe para acomodar os membros compridos. Está compenetrado em admirar algo nas mãos unidas em concha e, por mais que seus lábios estejam comprimidos, posso identificar o sorriso em seus olhos.

— Não há espaço para uma luta aqui em cima. — observo, atraindo a atenção de meu aliado. — Espero que não consigam subir.

Ele aperta a palma — contendo o que eu acredito ser uma foto — contra a bermuda e se vira para mim.

— Você realmente acha que alguém vai passar por Taurus ou Bagiot?

— Não sei...

— Deixe com muralha e armário — ele brinca. — Não se preocupe à toa. Fique tranquila.

Eu não rio desta vez. É fácil tirar vantagem do tamanho avantajado de nossos aliados enquanto eles ainda estão do nosso lado. O problema é que a Aliança temporária está cada vez mais perto de terminar.

— Como pode ficar tranquilo? — eu questiono perturbada. — Não está com medo?

— É claro que estou, não há vergonha em sentir medo. — Ele ergue os ombros em indiferença. — Significa que estamos vivos, que tememos perder o que amamos. Mas não pode nos limitar.

Seu conselho me faz refletir por algum tempo e me esforço para pensar em uma resposta adequada. Noah, no entanto, não me dá espaço ou tempo para responder.

— Ela quebrou meu tornozelo — adiciona quase que aleatoriamente.

— Oi? — pergunto desorientada, questionando-me se perdi alguma parte da conversa. — Bagiot quebrou seu tornozelo?

— Não! Outro dia você me perguntou como conheci minha namorada — lembra ele. — Pois bem, ela quebrou meu tornozelo.

— Esperava uma história romântica! — Eu rio de forma inofensiva. — Como aconteceu?

— Bem... Ela era minha adversária num confronto corpo-a-corpo da Academia de carreiristas. Eu a subestimei por ser frágil e pequena e acabei levando a pior. — Noah prossegue a narrativa. — Depois disso, nós nos aproximamos. Talvez ela tenha se sentido culpada pelo meu pé machucado porque me ajudava com as tarefas, preparava doces e, quando me dei conta, fazia parte da minha vida. Nunca fiquei tão feliz por um tornozelo quebrado, mas confesso que ele ainda dói quando eu me apoio no calcanhar.

Ele desvia os olhos para a imagem novamente e posso observá-la melhor. Trata-se da mesma garota da Colheita. O cabelo parece menos laranja na foto desbotada e os lábios rubros se encontram esticados sobre os dentes. Pergunto-me quando foi a última vez em que esse sorriso existiu, dada a quase inatingibilidade da felicidade no momento.

— Escuta, eu tenho uma dúvida... — Noah anuncia, sem desviar os olhos da ruiva na foto.

— Pode perguntar — eu permito.

Ele torna a cabeça na minha direção, me dirigindo os olhos azuis penetrantes.

— O que tem na mochila?

Eu o fito surpresa, fingindo desconhecer a existência de uma mochila. De todo modo, não há nenhuma aqui comigo, uma vez que a reservada para minha fuga está devidamente escondida entre arbustos ao pé da barragem.

— A que você conferiu antes de subirmos — explica de forma sucinta. — O que tem nela? Suprimentos? Armas?

Não respondo. Como poderia? Fui descoberta mesmo tomando todas as precauções possíveis. Em que momento me percebeu? Já faz mais de duas horas que estamos aqui e ele esperou esse tempo todo para me questionar.

— Você vai fugir depois daqui, não vai? — deduz, preenchendo mais uma vez o silêncio.

Não há para onde correr, não existe forma de escapar. Ele me encurralou.

— Sim — respondo derrotada.

— Você está certa. A aliança deve terminar logo. Quem quer ser o primeiro a atacar? Terá mais chances se escondendo até o final dos jogos... — Ele fita os próprios pés na água. — Além do mais, também devo desaparecer. Em breve.

— Pode vir comigo se quiser — ofereço. — Podemos dividir os suprimentos.

Sei que parece estupidez, porém parte de mim confia em Noah. Não é pela comida extra para nosso distrito que eu desejo sua vitória em caso de eu não conseguir.

— Obrigado pelo convite, mas acredito que nos separar seja a melhor opção. Eu não gostaria de assistir sua morte, tampouco permitiria que aconteça — diz num tom melancólico, ainda que amigável. — Você me lembra ela.

Não digo mais nada. Não vejo qualquer semelhança minha com a garota ruiva, mas resolvo não contestar. O que me aflige é o que ele diz sobre morrermos. Parece um evento ordinário sob a forma como ele refere, mas, embora seja frequente em nosso mundo e em nossa realidade, não há como tratá-la com indiferença. Morrer é abandonar tudo aquilo que amamos e enfrentar o desconhecido.

— Ah, não me olhe assim! Você sabe que ambos pensamos desta forma — ele completa.

— Tudo bem — respondo indiferente. — Não podemos ser aliados para sempre.

— Amigos — ele corrige —, somos amigos, lembra?

De repente, me sobressalto com o som estridente de um alarme. Noah parece tão confuso quanto eu. Aguardamos algum anuncio do narrador dos jogos, mas, após duas repetições, há apenas o silêncio.

— O que é aquilo? — ele aponta com o indicador.

Um grande círculo se abre na lateral da barragem — abaixo do nível da água — e, de dentro dele, saem criaturas fluorescentes, tão transparentes que posso enxergar através delas. Possuem o corpo em forma de disco, ostentando tentáculos compridos e delgados. Tenho a impressão de já ter me deparado com algo parecido nas praias do distrito quatro. No entanto, nunca as vi tão grandes e cintilantes.

— É a nossa deixa — anuncia Noah. — Provavelmente, o que precisamos estará na água.

Observo as criaturas reluzentes no fundo da represa. Bestantes, sem dúvida. Existem dezenas delas lá embaixo. Procuro qualquer sinal das nossas recompensas através da superfície turva. Infelizmente, não encontro nenhum embrulho ou algo que possa ser a dádiva.

— Vamos estar vulneráveis na água. Um de nós precisa ficar de guarda — sugiro.

— Tudo bem. Eu posso ficar, você é melhor nadadora.

Jamais o assisti em ação, porém acredito que eu seja mesmo. Nadar é uma das poucas coisas em que sou realmente boa. É claro que meu aliado se recorda do dia avaliação individual em que retornei encharcada para o nosso andar. Apenas a lembrança do dia já me faz abrir um sorriso. Lembro da inquietação nos lábios franzidos de minha estilista e nos olhos revirados do próprio Noah. Afinal, a minha habilidade tão limitada servirá de algo!

Percebo a atenção de meu companheiro de distrito pelo canto do olho e me forço a manter a seriedade. Espio-o discretamente e ele parece pensativo, com uma sobrancelha arqueada e o prelúdio de um sorriso.

— O que foi? — pergunto intrigada.

— Você é sem dúvidas a mais forte... — constata ele.

— Eu? Como posso ser forte?

— Por conseguir sorrir num lugar como este.

— Está enganado, isso não faz de mim forte. — eu indago. Desde quando sorrir torna alguém mais forte? — E Gretel sorri o tempo todo, chega a ser assustador. 

— Ah! Aquilo é cinismo, já você é sincera. Vê bondade em todos, inclusive quando não há. — Então, ele franze o cenho em desânimo. — Isso pode ser sua maior virtude, Cresta, mas também a sua ruína. Ninguém aqui é confiável.

Eu percebo se tratar de um conselho de amigo, tudo que posso chamar de amizade no momento. Minha afeição por Noah me inquieta em virtude do meu já conhecido dilema. No entanto, fico feliz de encontrar um resquício de humanidade neste mundo desumano.

E então meus pensamentos são interrompidos por outro alarme. Seguido por duas repetições. Mais bestantes? Já não há o suficiente? Desta vez, cinco portas se abrem simultaneamente em localizações diferentes no assoalho da represa, sem, no entanto, que a água seja drenada. De cada uma delas, surge um embrulho retangular — a recompensa! — preso ao fundo por uma corda fina. Acredito que o fio seja a única coisa que o impeça de subir à superfície, pois a embalagem o traciona para cima. Ok. Seja o que for a nossa dádiva, ela é capaz de flutuar na água.

— Em caso de você desaparecer, foi um prazer ter sido seu aliado, Annie Cresta. — Ele conclui, levantando o facão e se pondo em posição de guarda. — Estarei aqui em cima esperando.

Aliado não, amigo. — eu o corrijo, sem entender o ar de despedida. Fugir sem entregá-lo a recompensa seria uma trapaça suja, até mesmo para os Jogos. Não acredito que ele suspeite isso de mim. — E eu não vou desaparecer.

Tomo fôlego o suficiente e mergulho na água. A represa é profunda — deve ter por volta de dezoito metros de altura — e tenho dificuldade em alcançar o chão. Solto o ar pela boca para facilitar a imersão, o que acaba me privando de alguns segundos a mais de oxigênio. Sinto uma leve pressão nos ouvidos em virtude da profundidade, mas continuo descendo.

As criaturas transparentes quase não se movem. Ainda assim, estão em grande número e frequentemente me choco contra seus corpos gelatinosos. Felizmente, nada acontece e, somente quando os tentáculos tocam minha panturrilha, uma dor lancinante me atinge. Tentáculo queima, corpo não, repasso mentalmente.

Aproximo-me do primeiro embrulho, serro a corda com a minha faca e seguro a recompensa pelo cabo. Consigo repetir o feito mais duas vezes antes de precisar respirar novamente e retorno à superfície tão rápido que a compressão em meu ouvido estoura como uma bolha.

— Conseguiu? — pergunta Noah ansioso.

— Quase. Faltam dois. — Apoio minha carga sobre a beirada. — Atualize-me sobre os outros.

— Feminino do três e o masculino do seis tentaram escalar a represa, o resto do grupo está atrás deles agora.

— E os demais?

— Nem sinal.

— Ótimo, vou terminar aqui.

Completo minha missão rapidamente, embora seja ferida pelos tentáculos mais duas vezes: uma em meu ombro recém cicatrizado e a outra no rosto. Ao retornar, o embrulho da recompensa se encontra aberto — por Noah, obviamente — e me atento ao seu conteúdo que consiste numa blusa sem gola ou mangas dividida ao meio por um zíper. O material é bem espesso e consistente, porém maleável o suficiente para ser dobrável.

— É um colete — concluo.

— Sim, mas qual o objetivo? — pergunta meu aliado — Proteger?

— Talvez flutuar — arrisco. — Eles não afundam na água.

— Curioso. O que isso quer dizer?

— Não sei... — Dou de ombros, observando a movimentação lá embaixo. — O que está havendo?

Noah se vira para olhar melhor. De cima da barragem, é possível identificar nossos aliados em torno de alguma coisa, talvez tenham capturado um dos oponentes.

— Já está morto? — pergunto receosa.

Não ouvi canhão algum, mas a água em meus ouvidos pode ter abafado o som. Espero que o tributo em questão já esteja morto, execuções nunca são divertidas de se ver. 

— Não — ele responde com convicção. — Nenhum disparo.

Descemos depressa pela parede rochosa, dividindo a carga entre nós. Os coletes são leves e os mantemos alçados ao braço, a fim de ter as duas mãos livres para a escalada. Recolho minha mochila assim que alcançamos o solo e, logo depois, nos juntamos aos outros.

— É a mãos-de-manteiga — reconhece Noah.

Ele tem razão. É ela. No entanto, aquela não é a imagem que esperava da traiçoeira autora de armadilhas. Encontra-se estirada no solo áspero, coberta de sangue e hematomas e a pele negra pincelada de vermelho. Parece ainda mais indefesa do que no treinamento.

— Responda! — grita Taurus, chutando diversas vezes o abdome da garota no chão. — Como fez aquela armadilha?

Ela contrai o tronco, tentando alcançar os joelhos e se fechar em um casulo do próprio corpo. Como se, assim, pudesse se proteger da ira de meus aliados.

— O rastreador. — Cospe uma poça de sangue antes de retomar a fala. — Usei o rastreador.

— Sua vermezinha de merda!

O carreirista eleva o punho para agredi-la novamente, quando Gretel segura seu braço e intervém:

— Já chega, Taurus! Você vai matá-la! Deixe-me falar com ela. — Em seguida, se vira para a garota. — Você é Vixen, correto?

— S-sim — gagueja.

Minha aliada retira o machado do suporte — o que arregala os olhos da prisioneira — e apoia a lâmina no chão, recostando o cabo num tronco próximo.

— Eu não vou machucá-la. — Ergue as mãos vazias em sinal de paz. — Preciso que você se acalme e me conte exatamente o que fez. Você pode fazer isso, Vixen?

Ela assente com a cabeça.

— Eu...eu... — hesita alguns segundos enquanto Gretel aguarda paciente. — Eu reverti a polaridade dos terminais para criar uma diferença de potencial e gerar uma corrente elétrica de 5 ampères.

— Fala nossa língua, vadia! — Taurus se intromete.

— Para criar um choque — Vixen se corrige rapidamente, protegendo o rosto com os braços. — Quem matasse a garota do sete levaria uma carga elétrica letal se mantivesse contato físico. O rastreador avisa a morte do tributo emitindo energia eletromagnética e eu me aproveitei desse sistema, sincronizando a descarga elétrica com a parada cardíaca. Foi ideia do meu mentor, na verdade.

— Muito esperto! — Gretel elogia, aparentemente orgulhosa.

Ninguém mais interrompe e deixamos que ela conduza o interrogatório, uma vez que consegue extrair informações de nossa prisioneira sem causá-la sofrimento. Talvez Vixen venha a ser uma aliada. Afinal, ela já se provou bastante útil.

— E quem estava ajudando você nisso? — continua. — Só os dois do seis?

— Sim, no começo, mas o garoto do dez está com eles agora.

— Você sabe onde eles estão?

— Não, sinto muito.

— Vixen, você é inteligente... Sabe que se não puder nos ajudar, não teremos por que mantê-la viva, certo?

— E-eu... Eu ainda posso ajudar! Não me mate por favor! — Algumas lágrimas escorrem de seus olhos. — Hardie, a garota do seis, possui uma zarabatana. O veneno não é letal, mas deixa os membros dormentes. Ela tem uma mira boa, foi assim que pegamos a menina do sete.

— E os outros?

— Eles não possuem muitas habilidades de luta. O tributo do dez sabe caçar, conseguiu uma lança na Cornucópia.

— Existem mais truques como aquele do rastreador?

— Não. Nenhum truque. Eu juro.

— Tem mais informação que eu precise saber?

— Não...

— Acredito que ela não saiba mais de nada — Gretel se dirige a nós agora —, mas algum de vocês tem alguma pergunta?

Todos negamos com a cabeça.

— Certo — ela conclui, recolhendo o machado novamente. — Obrigada, Vixen. Você foi de grande ajuda.

Em seguida, tudo acontece tão rápido que não compreendo de primeira: num instante, a lâmina se encontra erguida acima dos ombros da minha aliada e, no outro, atravessada no rosto da prisioneira. Em questão de segundos, o canhão anuncia sua morte. Sequer houve tempo para gritos.

— Não! — exclamo surpresa, levando minhas mãos à boca para abafar o som do meu sobressalto.

— Por que fez isso? — Noah a questiona, tão perplexo quanto eu. — Ela poderia ser útil como aliada.

— Aliada? Você está falando sério?

A carreirista ri como se fosse uma brincadeira e, ao perceber nossas expressões sérias, desfaz o sorriso.

— Essa garota era inteligente demais — afirma com uma seriedade que não parece lhe pertencer e, então, se volta para o resto de nós: — Valeria o risco para vocês?


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Notas finais do capítulo

O rastreador mede a frequencia cardíaca do tributo e quando os batimentos cessam, envia sinais ( provavelmente eletremagneticos) avisando que ele morreu. Na minha teoria, seria possivel converter esses sinais em corrente elétrica ( fechando um curto, revertendo polaridade... Diversas maneiras) Para criar corrente elétrica só necessita haver diferença de potencial e um material condutor de elétrons ordenados ( que obviamente oferece uma resistência natural, daí vem aquela equaçãozinha U=R.i). Lembrando que apenas 75 miliampères já podem ser letais... Não acho muito interessante explorar isso de forma profunda na FIC. Então, estou explicando aqui.
Se nós conseguimos converter a energia mecânica(cinética/potencial) do movimento da água em elétrica, o que não podemos fazer ne? Ou a energia da fissão de um átomo em usinas nucleares! A tecnologia humana é absurda, imaginem o estrago que uma pessoa instruida no distrito 3 com toda a tecnologia de Panem a seu favor nao poderia fazer na arena! Espero que tenham gostado da teoria. Era uma ideia minha pra uma fic "original" de jogos vorazes, mas preferi introduzi-la aqui mesmo já que nao planejo outros projetos :)
Espero que não achem viajado demais! Mas o fundamento físico é bem embasado, oras.

Sobre a aparência da mãos-de-manteiga, eu sei que é característico do distrito 3 os tributos serem pálidos de cabelos escuros e o Beetee deveria ser algo "nerd estilo bill gates", mas fiquei fascinada com o Beetee quase negro, com barbicha e óculos de hipster do filme ahha Sei lá, ficou uma coisa menos "estereótipo do cara branquelo de oculos retangulares" e resolvi fazer a butterhands negra também. Viva a miscigenação em Panem!
— Azeite.