“Aquilo era uma situação, no mínimo constrangedora, mas eu não me sentia atraída por ele, era algo unicamente fraternal. Eu me sentia mais como a mãe dele, o que chegava a ser até engraçado, ter um filho mais velho do que eu.”

Hinata Hyuuga:

Já era quase oito horas da manhã, e eu ainda estava acordada, sentada na sala, servindo um fumegante chá para Neji. O moreno olhou para a mediana caneca, tentando descobrir o que era aquele líquido fumegante escuro e de cheiro forte.

—O que tem aqui?—Perguntou o Hyuuga, desconfiado.

—É o meu chá secreto, mamãe me ensinou quando eu era pequena, vai ajudar seu estomago, confie em mim.—Respondi orgulhosamente de meu feito culinário, enquanto prendia o meu cabelo com uma vareta.

Mesmo mantendo sua desconfiança, o garoto bebeu um pequeno gole do líquido e a sua careta de repulsa foi cômica.

—Ei, eu não vou beber isso!—Exclamou ele, colocando a caneca na mesinha de centro, como se recusasse a beber.

—Bebe!—Decretei, o encarando com o melhor olhar ameaçador e ditatório, mas, digamos que não funcionou muito, já que ele retrucou.

—Você só pode estar querendo me matar!—Retrucou, contrariado como uma criança.

—Eu estou fazendo isso para o seu bem!—Disparei, já ofendida com tanta ingratidão, afinal de contas, eu virei a noite acordada preocupada com esse arrogante! O mínimo que eu estou pedindo é que ele beba a porcaria do chá! —Isso é para você aprender a não encher a cara como um idiota!

De súbito, eu senti o ar ficar pesado, como quando mais cedo na escola, onde aquela garota estranha entrou do nada. Mordi minha língua, sentindo que o que eu havia falado era melhor ter sido mantido somente em meus xingamentos mentais, mas agora já era tarde e Neji me encarou com receio e raiva, como se também tivesse coisas a me falar, e falou:

—Não venha bancar a moça exemplar para cima de mim, Hinata! Você não tem direito nenhum de falar assim comigo!

—Bah, cale a boca!—Gritei, minhas mãos tremiam e meus olhos se enchiam de lágrimas de raiva.—Dá para você me ouvir?! Eu só estava tentando nos salvar, salvar Konoha!

A risada irônica e acida de meu primo se fez presente no ar, acompanhadas e palmas secas e sarcásticas que ecoaram pelo cômodo, o que só fez com que a minha raiva aumentasse ainda mais.

—Nossa, que honrada caçadora de youkais você é... Se juntando aqueles monstros para um bem maior...

—Argh! Você nunca vai me entender, seu idiota!—Berrei, apontando meu dedo indicador contra a face do garoto, em cólera.—E você então, o que você estava fazendo com aquela garota que eu nunca vi na minha vida?! Afinal de contas, acho mais apropriado perguntar “o que ela era” já que duvido que seja humana. Quero explicações suas agora, eu pelo menos já tenho as minhas...

Ele trincou o maxilar, furioso, mas se manteve em silencio assim como eu. Por alguns segundos nós nos mantivemos assim, um encarando o outro, um lendo a raiva nos olhos no outro, esperando que um argumentasse ou xingasse para que uma próxima rodada de lutas verbais começasse novamente, mas de repente, me surpreendendo e quebrando todo o meu roteiro de possíveis falas, ele suspirou, derrotado e frustrado e se sentou na poltrona em que estava desde o começo. Pegou a caneca que ainda estava um pouco fumegante e encarou o líquido quando disse, em tom de desabafo e auto frustração:

—É, você tem razão, eu sou um verdadeiro e legítimo idiota.