“—Não se preocupe querida,—Disse com um sarcasmo evidente.—aqui você não precisa mentir. Ou será que você já se enganou com sua própria mentira, minha cara mulher da neve?”

Hinata Hyuuga:

Após a fala de Sakura, o ar pareceu ficar mais pesado e frio. Ninguém ousara se mover, era como se tudo pudesse vir a desabar se fizermos algo além de respirar. A única que não parecia estar desconfortável era a rosada, que por sua vez, sorria cínica e maléficamente, como se fosse uma dessas personagens nojentas e chatas de seriados adolescentes.O riso cresceu em minha garganta ao ver que Sakura se encaixava quase que perfeitamente no papel de “patricinha-do-mal”, mas meu riso murchou ao ver a morena, alvo das alfinetadas da rosada, a encarar com a mesma intensidade e ódio.

—Eu já descobri tudo, minha cara.—Declarou a Haruno, com uma ponta de orgulho de si mesma.— Você é a culpada de toda essa neve ridícula, você trouxe a neve consigo.

A garota, fechou a mão em punhos cerrados que tremiam com a latente vontade de enterrá-los no rosto de Sakura.

            De repente o ar pareceu ficar rarefeito, a sensação era tão agradável como escalar o monte Everest em uma tempestade, o ar gélido queimava em minhas vias respiratórias e parecia não suprir a quantidade de ar que o meu pulmão precisava, eu me sentia como se estivesse sufocando aos poucos. Há poucos metros longe de mim, Neji colocou a mão contra o pescoço, e começou a respirar pela boca, sofrendo da mesma falta respiratória que eu. Mas o que me chamou a atenção era que por entre os seus lábios arroxeados, saiu uma fumaça branca, típica dos dias gélidos.

Estremeci de frio, meus dentes batiam violentamente, fazendo um barulho semelhante ao de um roedor, meus lábios estavam roxos, assim como minhas orelhas e o meu nariz. Segui o exemplo de meu primo e comecei a puxar o ar pela boca, esperando que assim, aquela sensação mórbida e desesperadora passasse, em vão. Sasuke também sentia o efeito do frio, se encolhendo dentro de seu casaco, tentando com todas as suas forças, não desabar. Os únicos que não sentiam o efeito do frio eram três, a rosada, Naruto e a desconhecida sinistra.

            —Você não é bem vinda aqui.—Anunciou a Haruno, sua voz era autoritária como a uma rainha e fria como a de uma vampira. A vampira levantou o dedo, apontando para a garota, como se pudesse matá-la apenas encostando nela com a ponta de sua longa unha.— Eu, Sakura Haruno, Sétima Imperatriz Vampiríca, ordeno que você deixe meu território imediatamente, ou eu mesma arrancarei sua cabeça e a transformarei em meu troféu enquanto seu corpo apodrece no inferno.

            Eu engoli a seco, aquela ameaça cruel mostrava que mesmo parecendo um patricinha ridícula, o sangue de Vlad Tepes ,o empalador, corria em suas veias, fazendo jus a seus ancestrais sanguinolentos. Ao invés de se encolher ou correr para longe dali, a desconhecida deu um passo a frente e algo bizarro aconteceu. Onde seu pé estava antes, havia uma fina, porém visível camada de gelo, no lugar de suas pegadas. Naruto rosnou ao ver a aproximação da morena, mas quando ele iria se colocar na frente de Sakura, a desconhecida pisou com força contra o piso, e o chão automaticamente congelou, rapidamente capturando nossos pés até os nossos joelhos.

            Assustada, eu tentei me libertar, mas era como se estivesse presa no concreto, assim como todos os outros, até Naruto que mesmo saltando, acabou sendo pego pelo gelo. A morena estendeu a mão para o lado, e o gelo do chão se estendeu para cima, alcançando a mão da garota na forma de uma ameaçadora lança de gelo, que se assemelhava a cristal. Após manejar habilmente a arma por entre seus longos dedos, a morena se aproximou da rosada, ignorando os protestos do Uzumaki. O frio ali era tanto que eu não tinha mais forças para falar mais nada e meus membros já estavam ficando dormentes, eu fazia um esforço e tanto para me manter acordada.

            A Haruno a encarava com seriedade, como se temesse pelo o que estava por vir, ação que certamente aumentava ainda mais a sede de morte da morena. Meus olhos começaram a pesar e meus esforços já não surtiam mais o mesmo efeito, e minha visão estava tão embaçada que tudo que eu via eram borrões coloridos. Num piscar de olhos, o gelo derreteu com a mesmo velocidade que havia nos aprisionado e eu, não tendo mais controle de meu corpo, caí ruidosamente contra o chão molhado, e me lembro de que o meu último pensamento antes que me entregar a escuridão foi a dúvida de se aquele sangue que se misturava com a água era mesmo meu...

Naruto Uzumaki:

            Suspirei e passei a mão pelo meu rosto, angustiado. Subitamente a porta da enfermaria da escola foi aberta, e ainda em alerta, eu me virei para ver quem havia acabado de entrar, e se fosse preciso, atacando dependendo da pessoa.

            —Acalme-se Naruto, sou eu.—Disse Sakura levantando as mãos em um gesto de quem se rendia.

            —Acharam algum sinal dela?—Indaguei, soando até um pouco mal-educado, mas eu não me importei, eu não tirava os olhos de Hinata, que estava adormecida naquela maca, tudo por culpa daquela yuki-onna maldita.

            —Não deu para rastrear nada.—Falou Sasuke, frustrado.—Se ela é mesmo isso que vocês falam, ela facilmente vai conseguir nos despistar na neve.

            —Ela é uma yuki-onna, Sasuke.—Falou a rosada e pela expressão que o moreno fez, ele nitidamente não sabia o que era uma yuki-onna.

            —Yuki-onnas são youkais da neve.—Falei, começando a monótona explicação.— estavam em extinção, geralmente porque traziam a morte a quem a visse. Não é fácil de te explicar de onde elas vieram já que são monstros isolados e centenários, tome cuidado com elas, essas mulheres da neve são tão fatais e silenciosas quanto a neve.

            Eu olhei para a morena ali deitada e senti o alivio invadir o meu corpo enquanto vi o rosto angelical da Hyuuga voltar a ter cor. Acariciei a mão ainda gelada da menina enquanto Sakura “seduzia” a doce enfermeira Shizune para que ela não falasse nada para ninguém sobre uma garota que havia ido a enfermaria da escola hoje antes da aula. Não havia sido nada de muito grave, a queda só abriu um ferimento na cabeça da garota que após sete pontos juntamente com os poderes de cura da Haruno, já estava bem melhor. Lentamente, as pálpebras dela tremeram com graça e feminilidade e eu não contive o meu sorriso ao ver aquelas orbes claras como a água se focando em mim.