“—Certo, já está na hora de irmos...—Murmurei, minha voz soava distante, assim como a minha mente.”

            Hinata Hyuuga:

            Eu levantei mais cedo praticamente tive que me arrastar para sair daquela cama que sedutoramente sussurrava meu nome pedindo para que eu não a abandonasse, e sem contar com o cobertor que envolvia meu corpo num abraço macio e quentinho, o que não me ajudava muito.

            Mas juntando uma força sobrenatural vinda de Deus eu consegui sair do meu paraíso do sono e caminhei até o chuveiro, antes que eu mudasse de idéia. A ducha quente me vez acordar de vez, mas não ajudou muito a melhorar o meu ânimo, eu realmente ainda não havia engolido o fato de ter que ser a babá de um aluno, Gaara certamente vai ficar me devendo essa.

Após sair do banho, eu fiz uma trança com o meu cabelo e vesti o meu grosso sobretudo preto e branco, um dos poucos que havia trazido do clã Hyuuga. Silenciosamente eu desci até a cozinha e tomei meu café da manhã vagarosamente, eu ainda estava afetada pelo sono no fim das contas.

            O som do chuveiro sendo ligado me acordou do me transe e percebi que já deveria ir, já que Neji já acordou. Subi a escada correndo, pulando alguns degraus e tropeçando em outros, mas consegui alcançar o banheiro sem grandes ferimentos.

            Bati na porta sutilmente e como o moreno obviamente não me ouviu tive que bater novamente e mais alto.

            —Tem gente Hinata!—Exclamou meu primo, sua voz abafada por causa da parede que nos separava.

            —Bom dia, primo, eu já tomei meu banho e só gostaria de te dizer que eu já estou indo mais cedo para a escola.

            —Tão cedo?—Indagou o garoto, surpreso.

            —É que Gaara me pediu para recepcionar um aluno novo já que ninguém poderia fazê-lo.— Disse ouvindo o som do chuveiro sendo desligado.

            —Isso não é sua obrigação.— Murmurou o outro e demorei um pouco para entender o que ele havia dito.—Cadê o grêmio estudantil nessas horas?

            —É né, mas fazer o que, não posso deixar o aluno novo sozinho.—Disse.

            —Ok, eu te vejo na escola depois então.—Respondeu casualmente.

            —Até mais, Neji!—Disse já correndo para a escada novamente, eu já estava atrasada!

            A neve caia lentamente no chão e mesmo que minhas galochas afundassem no chão e o vento gélido arranhava minha pele, eu não diminui meus passos e alguns minutos depois eu já conseguia avistar o prédio da escola.

            Enquanto mais eu me aproximava, mais uma silhueta se tornava cada vez mais visível, e como não a reconheci, julguei como sendo o tal aluno novo, suspirei e coloquei o meu sorriso mais simpático na face, afinal de contas, a culpa não era do aluno novo...

            —Bom dia.—Cumprimentei ao chegar perto suficiente para que ele me ouvisse.

            O garoto usava um casaco grosso e um capuz não me deixava ver seu rosto, sua mochila pendia em seu ombro esquerdo e o coitado se encolhia de frio, certamente não estava acostumado com aquele vento gélido e a nevasca úmida.

Ao me ouvir, ele se virou e eu vi seu rosto. Ele tinha o cabelo estranhamente acinzentado que estavam presos em um rabo de cavalo frouxo, coberto pelo capuz.

—Bom dia. —Murmurou o garoto, ajeitando o grande óculos em seu rosto.

—Eu vim aqui para te mostrar a escola, prazer sou Hinata Hyuuga.—Disse sorridente, mas o garoto não devolveu o meu entusiasmo, mas exibiu um sorriso que eu não soube interpretar se era bom ou ruim.

—Eu sou Kabuto Yakushi, prazer em conhecê-la, senhorita Hyuuga.

Neji Hyuuga:

Penteei meus cabelos de frente ao espelho, mas minha mente vagava novamente para Tenten, eu já havia pensado tanto nela que não tinha nem mais forças nem vontade de arrancá-la de minha mente.

Era automático, tudo me lembrava da morena, e minhas lembranças se ilustravam na minha mente como em um filme sem fim. Seus sorrisos divertidos, seus olhos cativantes, seus gestos exagerados, sua postura confiante, suas roupas absurdas, sua fala casualmente misteriosa, cheia de ambigüidade e charadas, tudo nela era quente e aconchegante, tão contrário da neve, que ironicamente também me lembrava a garota.

Prendi meu cabelo como o de costume e foi então que um ruído me tirou dos meus pensamentos. Era um som agudo e irritava meus ouvidos, como se alguém arranhasse algo e foi então que eu percebi que esse som vinha da janela, como se alguém arranhasse o vidro.

Sem me importar com a nevasca lá fora eu abri a janela, na esperança de que aquele som horrível parasse, e parou, mas em compensação a nevasca se tornou mais forte, e neve e vento invadiram o recinto, mas isso nem de longe foi o mais estranho.

Num piscar de olhos a neve formou uma figura enevoada que poucos instantes depois tomou forma... humana, se é que posso dizer algo assim. Arregalei meus olhos a reconhecer aquela silhueta feminina.

Seja lá quem for usava um kimono branco como a neve e tinha desenhos de flocos de neve decorando as barras e as mangas. Como da outra vez que nós nos vimos, ela também usava o véu rendado, não me deixando ver sua face, mas eu sentia seus olhos cravados em mim.

A energia macabra pulsava ao seu redor e eu sei que ela é um monstro, mas ao mesmo tempo, assim como da outra vez, eu me vi hipnotizado pela delicadeza e pela amabilidade que também emanavam dela.

Ela estava calma e não fez menção de fugir e muito menos de me atacar. E lentamente ela falou:

—Hyuuga Hinata.—Eu reconhecia aquela voz melodiosa, mas não sabia de onde, eu estava encantado demais com o timbre de sua voz, e como um verdadeiro idiota, eu não falei nada.

—Hyuuga Hinata.—Repetiu em um tom mais urgente e dessa vez eu respondi.

—O que tem ela?

—Morte.—Aquela palavra me fez arrepiar e meu coração começou a bater descompassado contra as minhas costelas ao imaginar Hinata correndo perigo.

E antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, a estranha mulher a minha frente começou a se desfazer em neve novamente e foi embora pela janela que antes arranhava.

Eu me mantive durante alguns instantes ali, estático, minha mente ainda tentava digerir o que havia acontecido ali. Um monstro entrara no meu quarto... Um monstro que não... Era um monstro... E Hinata.

De súbito, o aviso misterioso do monstro voltou a minha mente, e o medo assolou meu coração novamente e poucos instantes depois eu já estava correndo até meu carro, indo atrás de minha prima e ver se estava tudo bem.

Naruto Uzumaki:

            A escola estava aberta, mas os corredores estavam vazios, o diretor e os professores provavelmente estavam tomando seus cafés e arrumando seus últimos detalhes para darem suas respectivas aulas.

            O salto da bota de Sakura fazia um som alto enquanto ela caminhava, mas eu não prendia muito a minha atenção na rosada, já que eu estava procurando por Hinata. Realmente não gostei muito dessa idéia da morena ter que recepcionar um garoto, ainda mais sozinha, eu sei que ela sabe se cuidar muito bem sozinha, mas é que...

            Automaticamente meus pés começaram a caminhar mais rápido e quando eu já estava quase correndo, ouvi Sasuke assoviar alto e eu o encarei:

            —O que foi, pirralho?—Perguntei entre-dentes.

            —Porque você está correndo?—Indagou a Haruno, cortando a fala mal-educada que certamente o Uchiha ia falar.

            —Eu não estou correndo.—Retruquei, e enfiei minhas mãos no bolso, voltando a caminhar.

            De súbito uma porta foi aberta há alguns metros e de lá de dentro saiu quem eu queria ver naquele momento. A Hyuuga tinha seu longo cabelo preso em um coque moderno e desleixado, como se ela tivesse feito ali mesmo, de última hora.

            Seu corpo delicado estava lindo dentro daquele sobretudo preto e branco, ela estava linda, muito mais bela que muitas mulheres que já vi, e olha que eu já vivi muito tempo e vi várias mulheres, desde rainhas delicadas até revolucionárias vibrantes, e nenhuma se igualava a garota.

            Ela sorria livremente, como um anjo, um sorriso terno e amável e sem perceber, um sorriso bobo se desenhou em minha face. Mas da mesma maneira rápida como surgiu, esse meu sorriso desapareceu com a mesma rapidez quando vi um garoto que a acompanhava.

            Fechei meus punhos com força ao perceber que todos aqueles risos e todas aquelas palavras doces eram dirigidas a ele.

            —E agora o nosso passeio acabou. Espero que tenha gostado de nossa escola. Se você tiver alguma dúvida ou algum problema você pode falar comigo.—Disse com aquela voz doce e amigável.

            —Muito obrigada pela ajuda, senhorita Hyuuga.—Disse fazendo uma reverencia antiquada e ela ficou sem graça, e sua face alva como porcelana começou um degrade feminino e natural, ficando corada.

            Segurei-me para não bufar, eu não queria que ninguém mais visse a humana corar daquele jeito, é... Adorável demais.

            —Hinata!—Chamei e Hinata voltou seus olhos perolados para mim e sorriu abertamente ao me ver, e confesso que me senti um pouco mais aliviado.

            O aluno novo se virou e eu pude ver aquela cara azeda e impassível, eu já decidi: Eu realmente não gostei dele.

            —Ah, Kabuto-kun, esses são meus amigos... Sasuke, Naruto e uma colega, a Sakura.

            Não me importei com o tom usado pela a azulada ao se portar com a vampira e me importei menos ainda em como minha protegida iria reagir, tudo o que ocupava meus pensamentos era o maldito sufixo “kun” no final do nome desse nerd chato.

            Ao contrário de mim, o alquimista o cumprimentou com um leve assentir de cabeça, como se estivesse com pressa, e realmente estava:

            —Hinata, já que estamos todos aqui, vamos “conversar”.

            A Hyuuga logo entendeu o que Sasuke quis dizer com aquilo e assentiu, e exibiu um sorriso sem graça para Kabuto, afinal, ela teria que despachá-lo mesmo sendo a responsável pela adaptação dele na escola e cá entre nós, todo mundo sabe que ela é gentil demais para fazer essas coisas.

            Antes que eu pudesse fazer algo, a imperatriz dos vampiros passou por mim a passos largos, dignos de sua nobreza e ignorando completamente a humana ela falou:

            Sakura Haruno:

             —Kabuto-kun, desculpe-me, mas você poderia nos dar licença?—Falei, usando meu poder de hipnotizar as pessoas.— é que nós precisamos conversar sobre umas coisas que certamente você não vai entender. Que tal você ficar na diretoria, tirando algumas dúvidas que eu sei que você tem.

            Pronto, a minha fala estava completa, mas... Porque ele não parecia ter caído completamente? Eu ainda podia ver um brilho em seu olhar, algo que eu não conseguia discernir e antes que eu pudesse fazer algo o garoto balbuciou um “Sim, você tem razão...” e saiu andando.

           —Porque fez isso? Kabuto-kun entenderia se falássemos normalmente com ele...—Lamentou Hinata, como sempre, ela era inocente demais.

            —Hmft!—Bufou Naruto, apoiando seus braços atrás da cabeça. —Eu não gostei dele não... Parece-me ser um nerd idiota e pé no saco. Não acho que seja uma boa companhia para você, Hinata, a não ser que você queria cola!—Zombou o loiro dando risada.

            —Ei, não fale assim dele...—Repreendeu a morena, fazendo um biquinho nada intimidador.

            —Hinata.—Chamei em alto e bom som e todos ficaram quietos, surpresos por me ouvir falar o nome da garota.

            —S-Sim?—Gaguejou a humana, no mesmo tom que a minha voz, educada e séria.

            —Naruto tem razão, não se aproxime desse garoto.