—O que houve com você?...—Indagou Hinata de forma dolorida. —O que você está fazendo?! Sou eu... A Hinata, a sua pirralha, a sua criança irritante, por favor... Fale comigo... —Suplicou, mas de repente a raposa pulou sobre o corpo da Hyuuga a chocando contra o chão, e a ultima coisa que vi, foi o sangue da morena tingindo de vermelho o pelo da fera...

Hinata Hyuuga:

                O dia começaria quente se não fosse pela neve da ultima tempestade de neve, noite passada. Suspirei e me levantei preguiçosamente da cama, mais um dia estava começando. Enquanto caminhava para o banheiro, pisei sem querer em uma das minhas fotografias com o Kiba. “Não pense que vou ficar mal por sua causa Inuzuka, pensei, você não merece minhas lágrimas”

                Caminhei até o banheiro, onde tomei um breve banho. Vesti as primeiras peças de roupa que encontrei e coloquei a minha pesada mochila nas costas. A cozinha estava vazia e a casa estava silenciosa demais para duas pessoas morarem juntas, Neji certamente ainda estava dormindo. Pensei seriamente em ir acordá-lo, mas o meu primo parecia estar cansado ultimamente e uma falta do “gênio Hyuuga” no colégio, não o reprovaria de ano.

                Deixe-o descansar um pouquinho... Suspirei, e saí de casa sem comer nada, estava completamente sem fome. Infelizmente, Naruto não apareceu para me acompanhar até a escola, o que me deixou pensando no que havia acontecido com a raposa para que ele não viesse. Estava perdida em pensamentos quando cheguei na escola. Felizmente eu não vi Ino pelos corredores, mas não tive tanta sorte quando se tratava do meu ex-namorado.

                Infelizmente eu o vi passar com os amigos idiotas do time de futebol, eu realmente sabia que ele era capaz de vir atrás de mim mesmo com a nossa discussão de ontem, e o que eu menos quero agora é ter que lidar com um idiota. Caminhei para trás, tentando sair do campo de visão de Kiba sem chamar muita atenção e acabei esbarrando em alguém.

                —Hinata?—Indagou a voz atrás de mim e nunca fiquei tão feliz em saber que a pessoa era Sasuke.

                Sem dizer nada eu me coloquei atrás dele, me escondendo.

                —Por favor, me deixa ficar aqui só por um tempinho. —Pedi.

                —Por quê? Você está se escondendo de quem?— Disparou o Uchiha, se corpo ficou tenso e seus olhos varreram o corredor a procura de algum suspeito oponente.

Felizmente o time de futebol americano logo desapareceu, gritando e dando risada, como verdadeiros idiotas.

                Suspirei, aliviada e saí detrás do moreno.

                —Me desculpe por isso, mas é que eu estava me escondendo do Kiba. —Falei fazendo uma careta e o garoto assentiu parecendo um pouco confuso.

                —Ok, vamos a nossa aula já vai começar. Ei, Neji não veio com você?

                —Não ele está cansado, acabou por ficar dormindo mesmo. —Respondi entrando na sala e me sentei do lado de Sasuke, não queria ficar sozinha hoje.

Naruto Uzumaki:

                —O que disse?!—Esbravejei, não acreditando no que Sakura havia acabado de me dizer.

                A rosada revirou os olhos e se sentou em um sofá, fazendo com que seu vestido vermelho se estufasse como um air-bag.

                —Você entendeu muito bem o que eu disse, Naruto!—Retrucou a Haruno começando a se abanar com seu elegante leque. —Não se faça de bobo...

                —Qual o seu interesse neste garoto?— Perguntei entre dentes.

                —Ele é poderoso, este é meu interesse nele. —Falou a garota com a voz um pouco trêmula, estava mentindo.

                —Espero que seja só isso mesmo, “majestade”. —Falei ironizando a ultima palavra e a vampira fechou o leque com força.

                —Para que tanta irritabilidade, Naruto?—Disparou se esforçando para não se alterar.

                —Você não quer que eu me irrite quando a minha protegida sai às escondidas quase toda noite para velar o sono de um humano?! Ah Sakura! Faça-me o favor, tá bom?!

                —Basta, Naruto!—Cortou Sakura, elevando a voz. — Queria saber se você vai acompanhar para vê-lo essa noite, você já disse que não, pronto, acabou.

                Bufei alto e saí da sala do trono, caminhando para fora de casa. Precisava levar a Hinata para escola, me surpreendi com o sol quase a pino no céu. Droga, perdi o horário, agora só vou poder buscá-la! Ela já deve estar no intervalo ou algo assim na escola. Argh, a Sakura conseguiu azedar o meu dia com esse papo de visitinha ao alquimista idiota, olha a minha cara de quem vai lá ficar vendo o pirralho dormindo, ai, a rosada às vezes você é tão ingênua.

                Quando deu o horário da Hyuuga sair da escola, eu me apressei para não me atrasar novamente, certamente a morena deve estar querendo me matar. Suspirei e comecei a correr pela neve a procura de Hinata. Quando cheguei na escola, o sinal havia acabado de tocar e o estacionamento estava cheio de alunos tagarelas, mas nada da Hyuuga aparecer. Ela foi uma das ultimas pessoas a sair e estava acompanhada de um rapaz, até pensei ser o idiota do Kiba, mas percebi que a morena sorria para o garoto que não tinha nenhuma semelhança com o Inuzuka.

                Deixei um rosnado escapar por minha boca quando eu reconheci o garoto que conversava com a Hinata. Meu Deus, esse garoto está me perseguido não é? Uchiha Sasuke o que você está fazendo com ela? Vi Hinata se despedir formalmente do rapaz e se virando para ir embora, mas o moreno a chamou e perguntou alguma coisa, já que a Hyuuga agradeceu e negou com a cabeça.

                E finalmente ela saiu de perto daquele alquimista irritante.

Hinata Hyuuga:

                —Oi Naruto. —Cumprimentei ao ver a raposa aparecer na neve, mas ele não me respondeu, devia estar de mau humor. —Aconteceu alguma coisa? É que você não apareceu hoje de manh-

                —Vamos ao que interessa certo? O que você sabe sobre o garoto?—Retrucou Naruto, sua voz estava séria com uma notável irritabilidade.

                —Garoto? Que garoto?—Indaguei, mas Naruto estreitou seus olhos sobre mim.

                —Pela última vez eu serei simpático, garotinha, e então começarei a dar ordens. E você não quer que isso aconteça, Hinata. Acredite em mim. —Retrucou a raposa, me deixando confusa.

                Realmente não sabia de quem ele queria dizer, mas se eu não tivesse uma resposta, pelo jeito transtornado em que estava, a fera me forçaria.  Com garras, com dentes. Com o que quer que fosse necessário. O animal andou na minha direção, calmo e seguro, diminuindo a distancia entre nós.

                —O que você sabe sobre o garoto?—Perguntou sem mudar o tom de voz ameaçador.

                —Que garoto?—Repeti.

                —Acredito que o nome dele seja Sasuke. —Respondeu, o nome foi pronunciado com acidez.

                —O Sasuke? Porque quer saber sobre ele?—Devolvi a pergunta, franzindo o cenho, mas Naruto me ignorou.

                —Você conversou com ele agora pouco. Sobre o que conversaram?—Exigiu.

                —Nada demais, eu juro. Somos amigos. Você não vai feri-lo,vai?

                De repente a raposa soltou um som que lembrava um rosnado, mais um daqueles baixos e ameaçadores ruídos que me faziam arrepiar. Logo, eu ouvi passos apressados na neve e a fera se enrijeceu e se virou, pronto para atacar quem quer que esteja vindo.  Sasuke abruptamente surgiu em meio a paisagem branca.

                —Hinata, o que há de errado?—O Uchiha suspirou e então avistou a raposa, os olhos negros do moreno faiscaram de raiva, uma raiva que eu não sabia que ele nutria. —Mova-se lentamente. —Disse o garoto, sem tirar os olhos do inimigo, ele se abaixou e sacou duas adagas de seus sapatos.

                Naruto recuou e se apoiou em suas patas traseiras, pronto para atacar.

                —Não, por favor, não. Não briguem!—Gritei.

Jamais em minha vida, imaginei que aquilo podia acontecer.

Naruto Uzumaki:

                —Vá para casa, Hinata!—Ordenou Sasuke, se agachando determinado. —Agora!

                —Diga para ele nos deixar. —Rosnei para Hinata, sem tirar os olhos do Uchiha.

                —S-Sasuke. —Começou a Hyuuga, hesitante e um pouco assustada. —Não lute contra ele. —Implorou a morena. —Por favor, não brigue com ele. Eu estou bem, de verdade. Todos nós estávamos bem. Vamos cada um seguir o seu caminho, está bem? Por favor.

                Felizmente ou infelizmente o moreno não a ouviu. Ah, para mim tanto faz se eu ter que matá-lo ou não, esse cara já está começando a me deixar furioso!

                —Pare com isso, Yusuke!—Ralhou ele, sua voz áspera estourando em meio ao silêncio. —Preciso de tranqüilidade.  

                —Com quem você está falando?—Perguntou a morena, parecia mais confusa do que nunca.

                —Chega!—Rosnei. —Mande-o... Ir... Embora!

                —Ele quer que você se vá. —A garota disse a frase tão rápido e tão embolada que eu fiquei surpreso quando Sasuke perguntou calmamente:

                —Você consegue falar com a raposa?

                —Eu... —Balbuciou Hinata.

                —Não diga nenhuma palavra a ele, ou serei obrigado a rasgar a garganta do garoto. Entendeu?—Ameacei e ela selou os lábios, deixando um leve choramingo passar.

                Realmente não gostava de vê-la tão assustada e desamparada desse jeito, mas não posso deixar que Hinata fique perto desse projeto de alquimista metido a besta.

                —Ele está ameaçando você?—Perguntou o Uchiha, seu tom estava macio e feroz ao mesmo tempo me despertando ainda mais vontade de rasgar a garganta dele.

                Sem esperar por resposta da Hyuuga, o moreno levantou suas adagas. A ponta prateada do instrumento brilhava, tornando-se ameaçadora sob a luz do sol.

                —Chega mais garotão, vamos ver se você gosta de brincar com alguém mais do seu tamanho. —Provocou o garoto e eu sorri internamente, aquela era a brecha que eu queria.

                —Pois não. —Retruquei.

                —Não!—Gritou a morena enquanto eu atacava.

Sasuke Uchiha:

                —Você vai morrer. —Falou Yusuke assistindo a discussão. —Ah, que tal testarmos uma coisa diferente? —Resmungou se aproximando de mim, mas eu o ignorava, o que eu queria naquele momento era livrar a Hinata daquela fera pulguenta!

                —Chega mais garotão, vamos ver se você gosta de brincar com alguém mais do seu tamanho. —Provoquei.

                Em resposta a raposa rosnou ferozmente e eu entendi aquilo como um “Sim”.

                —Não!—Gritou a Hyuuga enquanto a raposa pulou para me atacar.

Na hora em que eu saltei para atacá-lo, Yusuke pôs a sua mão me minhas costas, mas como o moreno é um fantasma, sua pálida mão atravessou o meu corpo e confesso que aquilo não era muito confortável apesar de eu não sentir dor ou incomodo algum com aquilo.

                —Ok, isso vai ser divertido. —Murmurou Yusuke sombriamente.

                De súbito eu senti como se alguém apertasse o vaso sanitário dentro de minha mente e eu me senti obrigado a fechar os olhos, e senti o impacto do chão em mim.

                —Você está bem?—Perguntou uma feminina, trêmula pelo medo.

Abri meus olhos e eu me surpreendi com o que havia acontecido, eu... Eu... Via tudo do ponto de vista da raposa, como... Se eu fosse uma raposa! Olhei para mim mesmo e percebi que estava no corpo da fera que antes ameaçava me atacar, meu Deus, como isso é possível?! Eu sacudi as “minhas” patas, instável e cambaleante e lentamente eu me afastei da morena que parecia mais confusa do que eu se isso for possível.   

                Eu queria gritar. Havia tanto barulho em minha cabeça que não consigo processar tudo isso! O deslizar do vento, o gorjear agudo dos pássaros ao redor, o zunido dos insetos, incrivelmente e infelizmente eu escutava muita coisa ao meu redor, o que não me ajudava nada em minha concentração. Mas mesmo assim, eu forcei o enorme corpo da raposa a se mover.

                Era extremamente difícil movimentar em sincronia as patas dianteiras e as traseiras, mas com eu esforço e muita força de vontade, eu fui pegando o jeito, tropeçando algumas vezes.

                —Como você fez isso?!—Rosnou a voz do lobo. Sua voz parecia fazer eco em minha mente, dando uma sensação desconfortável. —Saia da minha acbeça! Do meu corpo!

                Então a criatura sabia que eu estava ali. Podia me sentir. Não sabia que a mente primitiva de um animal fosse capaz de processar a linguagem humana.

                —Não sou um animal caramba!—Gritou a voz, ofendida.

                —O que você é, então?!—Retruquei.

                —Lobo. Homem. Lobisomem. Pronto, agora saia de mim seu maldito!