Visual Kei...rioca! escrita por MayonakaTV


Capítulo 2
II- God Palace (do mundo do contra).


Notas iniciais do capítulo

Capítulo monstro, aí eu dividi pra focar o churras no próximo. ;;



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Indignado, era aquela a palavra perfeita para descrever Kaya ao descer do táxi. Procurou não se afastar muito do veículo, com as costas grudadas à porta e abraçando fortemente a maletinha junto ao peito, ávido por observar tudo de olhos bem abertos enquanto o motorista tratava de tirar a enorme mala rosa do bagageiro.


– Dona - O rapaz tocou o ombro de Kaya que, desesperado, saltou para o lado soltando um gritinho que tirou do taxista um riso divertido. - Precisa que eu te leve pra mais algum lugar?


Ainda assustado, o vocalista fez que não com a cabeça, socando a mão direita no bolso em busca do dinheiro brasileiro que Masashi havia lhe dado algumas semanas antes de viajar. "A corrida é cara, estão você entrega essa nota aqui e diz 'fica com o troco' pra não perder a pose de turista rico e bem informado" foi a instrução do baixista, apontando-lhe uma nota azul com um peixe esquisito.


– Fica com o... - Procurou se concentrar, forçando-se a pronunciar a sílaba tão complicada aos japoneses, estendendo a nota ao taxista. - Tu... Troco.


Os olhos do homem saltaram de tal forma que por um segundo Kaya pensou que Masashi lhe tivesse passado uma instrução errada. O motorista teve de se conter para não abraçar Kaya, agradecendo-lhe com um forte aperto de mão e repetindo centenas de obrigados antes de entrar no veículo e partir, deixando Kaya sozinho na calçada. As pessoas que antes se agrediam do outro lado da rua vieram rolando pelo asfalto até onde ele estava, agora se batendo com ainda mais violência a pouco menos de dois metros de si. Um militar carregando um rifle no ombro passou ao lado do pequeno, olhando-o de cima a baixo com expressão de pura malícia e arqueou de leve a sobrancelha, fazendo Kaya recuar até esbarrar na mala e quase cair com ela no meio-fio. Tirou o celular do bolso às pressas, quase o derrubando pelo nervosismo.


– E aí?


– Masashi...?


– Kaya! Ah, estávamos começando a ficar preocupa-- TERU ABAIXA O SOM! Preocupados com você, onde está?


– Numa calçada, em frente ao que parece ser uma padaria mas em vez de ter gente comprando pão tem um militar com uma arma enorme sorrindo pra mim, dois loucos se espancando do meu lado e... CACETE, TEM UM MOLEQUE LIMPANDO O NARIZ NO MEU CASACO!


– E aí Sashi, onde ele tá? - Kaya reconheceu a voz de Teru.


– Deixa eu dar uma olhada... Ah, tô vendo ele ali embaixo!


– Tá me vendo como, Masashi?


– Ninguém mais andaria por aqui vestido assim, muito menos com uma mala dessa. Aguenta aí que estamos descendo pra te pegar!


O vocal olhou novamente para o alto do morro e não teve mais dúvidas. Encerrou a ligação profundamente abatido, imaginando quanto tempo levaria até que estivesse a salvo. E perto de uma lavadora potente o suficiente para tirar catarro de criança de seu casaco de pêlos.


Os quase dez minutos em que teve de esperar pelo baixista lhe pareceram eternos. Encolhido num canto da calçada, abraçado à mala como se fosse a coisa mais importante de sua vida e quase se escondendo dentro dela a cada vez que alguém se aproximava, não conseguiu ser menos escandaloso ao ver os amigos Masashi e Hizaki surgindo de bermudão e chinelo Rider por entre uma ruazinha estreita. Correu em direção a ele com os olhos cheios de lágrimas, porém, parou na metade do caminho, pensou... E voltou correndo para buscar a mala, olhando para todos os lados com extrema desconfiança antes de puxá-la o mais rápido que podia.


– Ah, Ka-chan! Que bom que está inteiro! – Sorriu-lhe Masashi, apertando-o junto ao peito num abraço carinhoso. Revoltado, Kaya cerrou os punhos e começou a esmurrar o peito do mais alto.


– INTEIRO? VOCÊ É DOIDO, MASASHI? QUE RAIO DE LUGAR É ESS--


Um barulho alto semelhante a um disparo o assustou, fazendo-o gritar e agarrar-se ao corpo do moreno, olhando de relance por cima do ombro.


– O QUE FOI ISSO?


– Ah, isso? Só um tiro.


– SÓ UM TIRO?


– É, ainda bem que foi só um. Seria bem chato estar tendo tiroteio agora que você acabou de chegar...


– TÁ BRINCANDO COMIGO, MASASHI?


– Ka-chan, está todo mundo te esperando lá em cima! - Exclamou Hizaki após abraçá-lo, sorridente e ajudando-o com a mala menor.


– E você Hizaki, por que não me ligou?


– Eu até ia fazer isso, mas roubaram meu celular ontem. Vamos lá!


Apoderando-se da mala chamativa do vocal, o baixista começou a andar ao lado de Hizaki, rindo por dentro ao ouvir os passos apressados as plataformas de Kaya atrás de si subindo cada degrau.


– Ah sim, Sashi... O que aconteceu com o carro?


– Um cara ro-- - Antes que pudesse responder, ouviu o conhecido ronco de um motor antigo a alguns metros dali. Virando-se na direção do som, viu um fusca azul estacionando ali perto. Apontou para o motorista descamisado que descia do veículo. - TU ROUBOU MEU CARRO, SEU FILHO DA PUTA! DEPOIS A GENTE SE ACERTA! Então, vem Kaya, falta pouco. E ainda é capaz de a gente chegar lá e o Kamijo ter deixado minha carne queimar!


Os olhos de Kaya não podiam estar maiores.


A subida não tinha fim – ou pelo menos Kaya não conseguia enxergá-la entre tantos empilhamentos de placas metálicas, tijolos à mostra e até caixas de cereal. Mulheres despenteadas nas janelas gritavam com os filhos (todos de nomes compostos, e ainda por cima estrangeiros) subindo e descendo nos perigosos degraus do morro, correndo atrás de pipas até um garoto alto de cabelos repicados escalando uma antena parabólica chamar a atenção do vocalista.


– Sashi - Cutucou o ombro do outro, apontando para o jovem. - Aquele ali é o...


– Aoi, é, ele mesmo. Se enturmou com a molecada querendo pegar pipa e ainda não apareceu em casa pra comer... Pronto, aqui estamos! Vai entrando, vai entrando!


– Eeh...


Kaya parou diante da porta, olhando a construção de cima a baixo. Dois andares, feita de tijolos e concreto batido, sem pintura, cercada pela fumaça e pelo horrível som que vinham da parte de cima. Era uma das casas mais razoáveis do morro, mas ainda deixava a desejar. O vocal olhou para baixo, engolindo em seco ao reparar a altura a que se encontravam. Olhou para o chão, para as construções ao redor e de novo para a casa de Masashi, apertando o lado esquerdo do peito antes de entrar. Rezava para que não chovesse, pois tinha certeza de que os barracos deslizariam morro abaixo e levariam consigo o sobrado de Masashi com todo mundo ali dentro.


O orgulhoso dono da residência encostou a mala num canto daquilo que sem dúvidas era a sala e pediu a Hizaki que apresentasse cada cômodo, correndo para a laje a fim de vistoriar o churrasco. Num sofá metade devorado pelas traças, metade queimado, Reita e alguns garotos de não mais que dez anos disputavam aos gritos uma partida de futebol num videogame emprestado de um deles. Kaya reparou que todos usavam bandanas e lenços improvisados no nariz, assim como o guitarrista.


– Arranjou novos fãs, Akira? - Brincou Hizaki, fazendo cafuné na cabeça de um dos garotos.


– Não, foi minha sugestão pro nariz deles parar de escorrer E AH, MERDA! - O loiro tornou a apertar desesperadamente todos os botões do controle em suas mãos. - CHUTA PRA MIM!


A cozinha era tão pequena que Hizaki nem se dera ao trabalho de tentar entrar, com medo de derrubar o calendário de farmácia pendurado junto à porta, a pilha de louça suja esquecida na pia ou as bacias de plástico de frango temperado deixadas em cima da mesa.


– Hn, Gackt também vinha, nee? - Indagou Kaya, agarrado à regata de Hizaki como uma criança com medo de se perder do pai, mesmo que aquele corredor não deixasse duas pessoas passarem ao mesmo tempo. - Onde ele está?


Um gemido rouco ecoou da parede atrás de si. Aproximou o ouvido dos tijolos tentando reconhecer a voz.


– Todokanai ai to-- Uhh! Shitteiru no ni... ♪


Inconfundível.


– Hiza, Hiza - Sussurrou. - Camui está com alguém?


– Com uma revista e uns três rolos de papel higiênico, acho que a feijoada não caiu muito bem. Então você já sabe que aí fica o banheiro, mas acho que depois que o Gackt sair daí ele vai ficar inutilizado pelo resto da semana. - Puxou para o lado um lençol rosa que servia de portina (cortina usada como porta) para o outro cômodo. - Olha, é aqui que a gente vai dormir!


Um único e minúsculo espelho na parede, de moldura laranja e a etiqueta do preço (R$1,99) ainda colada à ela. Mochilas e malas abertas por toda a parte. Lençóis desarrumados, sacos de dormir e roupas sujas (incluindo meias e cuecas) espalhadas em cima do único móvel que havia sido deixado ali, uma pequena cômoda, já que os outros tiveram de ser retirados para que coubessem as pessoas e suas bagagens.


– Hizaki... Onde é o “aqui”?


– A gente põe o Ruki pra dormir no outro quarto, ele cabe em qualquer canto mesmo.


– Quem está usando este quarto?


– Só eu, o Teru, o Shaura, o Kai, o Uruha, o Kengo, o Reita e agora, você! Os outros estão todos no quarto do Masashi.


– Bom, ahn... - Coçou a nuca, sorrindo um tanto sem jeito. - E cadê o resto do pessoal?


– Tirando o Aoi malocando no telhado da vizinha, o Kai no bar jogando pebolim e o Mana fazendo compras com o Kengo no Leblon, o resto tá tudo na laje esperando você chegar! Vamos pra lá, espero que esteja com fome pra se entupir com a feijoada do Masashi!


Ouvindo novos murmúrios de Gackt no banheiro e lembrando-se das palavras de Hizaki sobre aquilo ter sido causado pela tal “feijoada”, abraçou o próprio estômago enquanto caminhava atrás de Hizaki, rezando para ter barrinhas de cereais escondidas no fundo da mala.


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Notas finais do capítulo

oi galeros q