Três anos depois...

O rapaz de cabelos alaranjados andava sorrateiramente pelos corredores do castelo. Não queria que ninguém o visse saindo. Estava cansado de ser eternamente tratado como um bebe, com guardas todo o tempo à sua volta. Onde já se viu o príncipe não poder sair sozinho do castelo? Afinal, dali a alguns meses faria 21 anos. Deu um sorriso irônico. Não podia nem sair sozinho do castelo, mas seus pais já estavam muito empenhados em lhe arrumar uma noiva... não podia sair sozinho, mas podia casar e ter uma esposa pra cuidar?

No ultimo ano, seus pais lhe fizeram conhecer um numero sem par de princesas. Todas tinham algum encanto aos olhos do rei e da rainha, mas para o príncipe, faltava algo. Devido a um pedido de sua mãe – uma das únicas três mulheres que amava (as outras duas eram suas irmãs), tentara encontrar algo em comum com as garotas, algo que o fizesse gostar delas, mas fora impossível. Não tinha nem vontade de chegar perto daquelas princesinhas enjoadas, cheias de caras e bocas, muito chatas. A paciência de seu pai estava se esgotando, assim como as princesas que Ichigo não conhecia.

Alcançou com sorte os portões do castelo e saiu para o jardim. Enquanto andava esgueirando-se entre arvores e arbustos, bufou zangado. Por que seu pai achava que não poderia ser um bom rei sem uma esposa? Um homem solteiro era muito capaz de governar! Não fazia sentido aquela idéia de seu pai, de que os súditos são como uma família que precisa ser protegida e amada; e que, sem ter uma esposa, ele jamais aprenderia a cuidar e amar. Era, em sua opinião, um modo muito idiota de ver as coisas, pois, afinal, ele aprendera a cuidar e amar com a sua mãe.

O príncipe mal pode acreditar quando, finalmente, se viu nos portões da propriedade. Conseguira! “He, com meu intelecto superior, enganei a todos!” – pensava o já animado príncipe enquanto saía, até que ouviu uma voz que conhecia muito bem dizer-lhe:

- Bom passeio, querido. Tente não chegar tarde, sim?

Olhou para trás, e não se surpreendeu a encontrar o rosto sereno e sorridente de sua mãe.

- Com o que, então a senhora sabia que eu estava saindo?

- Ichigo, meu querido filho, todo mundo sabia que você estava saindo. Se olhar para o palácio, verá todos os guardas de prontidão. Seu pai não nos deixaria com um bando de idiotas. Os guardas responsáveis pela família fazem parte do esquadrão formado e treinado pelo grande Urahara Kisuke. Não seja ingênuo.

- Então, por que eles não me detiveram, como sempre?

- Por que eu pedi. Tenho percebido o quanto você tem andado inquieto ultimamente. Sei que seu pai o está pressionando demais para encontrar uma noiva, e que você não foi capaz de amar qualquer uma das princesas que aqui esteve. Sei que o seu coração é jovem, e anseia pelas descobertas e aventuras que o mundo pode lhe proporcionar. Por isso, de agora em diante, não haverá mais guardas.

 - O que te fez decidir isto? – perguntou surpreso.

- Não quero que meu filho sinta que está em uma prisão. E quero muito ver o sorriso do meu garotinho de volta a face deste marmanjo – disse a rainha Masaki, aproximando-se do filho e tocando seu rosto. – Agora vá, mas, como eu disse, não volte muito tarde.

- Esta bem, minha mãe. – disse enquanto saía – nos vemos mais tarde!

Olhava para trás enquanto acenava, e viu que sua mãe retribuía o aceno. Então, ela deu-lhe as costas e entrou no castelo. Ichigo sentiu-se muito mais feliz. Saber que sua mãe se importara com ele ao ponto de retirar aquele excesso de proteção que o sufocava era muito bom. Fez sentir que ela confiava na maturidade dele.

Continuou andando pela estrada, indo em direção à praia que sabia haver ali perto. Para sua saída, colocara roupas normais, afinal, sua intenção era passar despercebido pelos outros, e os trajes reais não o ajudariam muito. Deixara mesmo a sua fiel katana em casa e trazia consigo uma katana comum. Afinal, a espada era uma maneira muito fácil de identificá-lo, uma vez que todos sabiam da bela espada negra forjada para o príncipe por ninguém menos do que Urahara Kisuke, o capitão do esquadrão Shinigami.

Como vivia superprotegido, Ichigo nunca tivera chance de conhecer o famoso Urahara e sua não menos famosa esposa, Youruichi. Eles nunca iam ao castelo, seu pai dizia que não se sentiam muito bem lá, o que fazia com que sempre que houvesse necessidade ou vontade de conversarem, Isshin era quem ia até a casa deles ou ao campo de treinamento.

Ichigo despertou de seus devaneios, notando que finalmente chegara à praia. Respirou profundamente o cheiro salgado que se espalhava pelo ar. Sentiu a brisa marinha atingir-lhe o rosto e sentiu-se mais em paz do que se sentira nos últimos três anos. Passou a praia em revista, olhando demoradamente para o horizonte em direção ao mar e depois olhou para o lado oposto da praia. Seu coração deu um estranho salto diante do que viu.

Sentada na areia da praia estava uma bela morena. Olhando-a, Ichigo supôs que não devia ter mais do que quinze ou dezesseis anos. Demorou seu olhar sobre a menina. Tinha uma pele alva que contrastava belamente com os cabelos sobremaneira negros e curtos, que tocavam suavemente os ombros da garota. Trajava um vestido longo e branco, sendo que a barra estava molhada, como se a garota tivesse passeado por muito tempo pela beirada da praia, tendo as pernas atingidas pelas incessantes ondas. Era pequena, tanto que a um observador mais desatento, poderia parecer uma criança. Entretanto, Ichigo não deixara de notar as curvas que juravam que ali estava não uma menina, e sim uma bela mulher.

Como se sentisse o olhar de Ichigo sobre si, a garota virou-se, permitindo que ele visse além do seu perfil e conhecesse aquele par de olhos azuis que tanto encantavam a todos que a conheciam. A garota olhou para ele com o que Ichigo julgou ser a expressão mais serena e bela que já vira. Seu coração bateu mais forte quando seus olhos encontraram com os da morena, aqueles olhos que o convidavam a afogar-se no seu profundo azul.

Ichigo começou a andar em direção à morena, sentindo que ali estava uma garota que valia a pena conhecer.