Destino escrita por Fe Neac


Capítulo 48
Capítulo 48 - Verdades libertam... Verdades ferem


Notas iniciais do capítulo

Yo minna!! Quero agradecer do fundo do meu kokoro a todos os lindos que me deixaram review. Amo vocês! Senti falta de alguns leitores, mas eu entendo, afinal é fim de ano, hora de festejar com os amigos e curtir a família.
Mas, a partir do dia 2, quero ver todo mundo aqui firme e forte, e comentando a história... É, vocês me deixaram mal acostumada... XD
O capítulo ainda não está betado, mas assim que a Lara-chan betar, eu corrijo!
Aqui vai o último capítulo de 2012!
Vejo vocês nas notas finais!



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Hanatarou examinava a morena atentamente, medindo sua temperatura e checando seus sinais vitais. Já fazia uma hora que ela estava acordada, e depois de avisar aos pais da pequena, Ichigo finalmente lembrara de que era importante informar o médico, que então pegou sua maleta e foi até o quarto da jovem, pedindo que todos saíssem. Estava aliviado por ela ter acordado rapidamente, afinal, a inconsciência era um estado perigoso, bem como angustiante para todos aqueles que a amavam. Após confirmar que seu coração e pulmão funcionavam normalmente, que não havia sinal de amarelo no branco dos seus olhos – o que mostrava que as funções hepáticas estavam normais –, e que a febre havia cedido, o jovem se afastou e sorriu:

– Os sinais vitais estão normais, e não tem mais febre – baixou cuidadosamente as cobertas, verificando o aspecto do machucado. – Também não há sinal de infecção no ferimento.

– Então ela está bem? Já está fora de perigo? – Ichigo, que se recusara a deixar o quarto, perguntou com ansiedade.

– Isso depende de Rukia-san – disse, e o príncipe imediatamente franziu o cenho, irritado.

Detestava esta história de “depende de Rukia-san”, odiava o fato de Hanatarou não lhe dar qualquer garantia de que sua amada ficaria bem.

– Isso não responde a minha pergunta, Hanatarou. Seja mais direto!

– Bem, apesar da gravidade do ferimento, Rukia-san está reagindo muito bem. Vamos cuidar para que a febre não volte, trocar os curativos e higienizar a área atingida, evitando infecções e inflamações – voltou-se para a paciente, que se encontrava calada e pensativa. – Entretanto, houve uma perda significativa de sangue, e é essencial que Rukia-san se alimente bem e faça repouso absoluto.

Ao ouvir a expressão “repouso absoluto”, Rukia saiu temporariamente de seu torpor, voltando-se para o jovem médico.

– Por quanto tempo terei que fazer este “repouso absoluto”, Hanatarou? – perguntou, apreensiva.

– Até que o processo de cicatrização se conclua, o que deve acontecer em aproximadamente quinze dias, você não deve fazer nenhum esforço físico. Depois, você poderá começar a fazer atividades leves, como curtas caminhadas. Se tudo correr tranquilamente, você poderá retomar suas atividades normais em aproximadamente um mês.

– Um mês?! Mas... Há uma guerra se aproximando, Hanatarou! Não posso ficar sem praticar por um mês! Não há possibilidade de reduzir este período de repouso?

– Não podemos nos arriscar a que os pontos se rompam, ou uma hemorragia interna tenha início. Isso poria sua vida em risco. É melhor prevenir e guardar repouso conforme lhe orientei, e então dentro de um mês poderá retomar seus treinamentos. Tenho certeza que um mês de repouso não será o suficiente para enferrujar as habilidades que desenvolveu por toda uma vida.

– Mas...

– Nada de “mas”, Rukia. Hanatarou é o médico aqui, e você deve obedecê-lo – Ichigo disse, categórico. – E, além do mais, quem disse que você irá tomar parte na batalha que se aproxima?

– Como é que é? – Rukia o olhou surpreendida.

– Hanatarou, se já terminou os exames, gostaria que me deixasse a sós com minha noiva – pediu, firme mas educadamente.

– Sim, eu já acabei. Voltarei mais tarde para trocar os curativos – voltou-se para a morena. – Não se exalte, Rukia-san. Isso pode prejudicar sua saúde.

Assim que Hanatarou saiu do quarto, o príncipe olhou para a pequena mulher que ainda o encarava com seriedade. Voltando a sentar ao lado da cama, puxou a cadeira para mais perto e, tomando a mão delicada entre as suas, disse seriamente:

– Rukia, eu quero que me prometa que não tomará parte nesta luta.

– Como assim, Ichigo? Que história é esta? O reino está em perigo, e para vencermos esta ameaça, vamos precisar de todos os guerreiros disponíveis!

– Não importa! Eu quero que me prometa que não irá tomar lugar nesta batalha.

– Eu tenho muito mais experiências lutando do que metade dos soldados do esquadrão!

– Não importa. Apenas prometa! – repetiu, irredutível.

– Desculpe, mas isso eu não posso prometer. Você só pode estar brincando! Você acha que sou dispensável numa luta tão importante? – perguntou, começando a se irritar com a insistência do ruivo.

– Não, eu não acho que você seja dispensável! – gritou, em seguida se inclinando sobre a cama, unindo suas testas e fechando os olhos. – Por acaso você tem ideia do que passei quando você se feriu, Rukia? Você sabe o que é ver uma dúzia de soldados sacando espadas e se preparando para atacar o seu bem mais precioso?

– Ichigo... – sussurrou.

– Você sabe como é ter a pessoa que você mais ama se esvaindo em sangue e perdendo as forças em seus braços? – prosseguiu. – Como é ver essa pessoa desmaiar, ficando com o corpo mais frio a cada instante? Como é ouvir alguém dizer que não pode dar certeza de que o amor da sua vida vai sobreviver? – abriu os olhos e toda a angustia pela qual havia passado estava ali espelhada. – Não, você não sabe. Mas eu sei. Eu não posso suportar a ideia de te ver em perigo novamente...

Emocionada com suas palavras, olhou-o profundamente nos olhos e levou uma das mãos até a face máscula, acariciando o rosto bonito. Escorregou lentamente a mão aos cabelos revoltos, acariciando-os enquanto o aproximava para unir suavemente seus lábios. Ao sentir o toque suave, Ichigo a beijou com paixão, levando uma de suas mãos à nuca da morena. Inicialmente, suas bocas acariciavam-se com lentidão, mas a velocidade e a intensidade aumentaram gradativamente à medida que o beijo se tornava mais passional.

Abandonando sua cadeira, o jovem se sentou na beirada da cama. Rukia inclinou levemente a cabeça e entreabriu os lábios, permitindo que a carícia se aprofundasse. Todo o amor, desespero e saudade que sentiram permeavam a carícia, entretanto, de alguma maneira, o toque era suave e carinhoso. Ichigo invadiu sua boca, e suas línguas se tocaram com volúpia, executando aquela dança única, que somente eles conheciam. Perderam-se um no outro por diversos minutos, deliciando-se com o sabor que possuíam e que tanto os inebriava.

Mas, infelizmente, respirar ainda era necessário e tiveram que se afastar quando a falta de ar os acometeu. Encerraram o beijo, e o ruivo mordeu levemente os lábios femininos, fazendo com que um arrepio percorresse o corpo delicado. Arrebatada, a morena arqueou o corpo. O movimento brusco fez com que seu ferimento reclamasse, e um gemido que não era de prazer – e sim de dor – abandonou os seus lábios.

Ao sentir o corpo delicado enrijecer, o príncipe, que mantinha a testa encostada à dela, levantou a cabeça para encará-la. Pequenas gotas de suor surgiam em sua fronte devido à intensidade da dor que sentia. Vendo a preocupação estampada na face do amado, Rukia sorriu fracamente.

– Acho que isto está incluído nos “esforços físicos” à que Hanatarou se referia – brincou.

– Desculpe, eu me descontrolei – o ruivo sussurrou.

– Tudo bem – ela lhe sorriu, tocando seu rosto e beijando-o levemente nos lábios.

– Ei, vocês dois – Yoruichi disse bem humorada enquanto entrava no quarto. – Rukia não deveria estar repousando?

Corando, o casal se afastou, e Ichigo voltou a sentar na cadeira próxima a cama.

– Mas eu estou repousando! – respondeu, desviando os olhos. – Estou deitada, não estou?

– Bem, tem algumas coisas que se faz deitado que não são nada, hum... Repousantes – brincou, fazendo com que o rubor ambos se acentuasse ainda mais.

– Mãe! – exclamou, enquanto o rosto queimava. – Masaki-sama – balbuciou quando notou a mulher, que estava parada na entrada do quarto.

– Olá, Rukia-san... Como e-está? – perguntou hesitante.

– Eu estou b-bem – Rukia gaguejou, nervosa ao recordar seu último encontro com a rainha. – Hanatarou disse que ficarei bem, desde que faça repouso... – suspirou. – Desculpe por impor minha presença aqui. Assim que estiver bem o suficiente para suportar a viagem, voltarei para minha casa.

– De jeito nenhum! – Ichigo exclamou, alterado.

– Ichigo...

– Ele tem razão, Rukia-san – Masaki disse, abaixando o olhar. – Não permitiremos que vá a lugar algum... Você é muito bem vinda aqui neste castelo.

Diante da surpresa da jovem, a rainha prosseguiu:

– Eu vim aqui para lhe falar. Mais precisamente, para pedir seu perdão – sentiu os olhos encherem de lágrimas. – Tudo o que eu lhe disse, não era o que sentia no meu coração. Não me importo se meu filho não se casar com uma princesa. Eu quero que ele se case com alguém que ele ame.

– Então por que me disse aquelas coisas terríveis? – perguntou, num fio de voz.

– Inoue-san e Renji-san haviam me dito coisas horríveis sobre você! – disse, após breve hesitação. – Sobre como você não amava meu filho, e sempre foi obcecada com a ideia de pertencer à realeza. E que você pretendia usá-lo para atingir seu objetivo e, uma vez que entrasse na família real, poderia fazer coisas horríveis... Como matá-lo!

– Renji? – Rukia balbuciou, e não pode evitar um estremecimento ao pensar no irmão. – Eu não entendo... Por que Renji e Inoue-san diriam coisas como estas?

– Inoue – o príncipe disse. – De alguma forma, descobriu sobre nós.

– Sim – a rainha prosseguiu. – E ela e seu irmão se uniram para fazer com que se separassem. Quanto aos motivos, Inoue-san desejava se casar com meu filho. E, bem, agora você já sabe... Como seu irmão se sente a seu respeito, não é?

Rukia abriu os olhos desmesuradamente, enquanto Ichigo crispava as mãos. Ambos se recordando dos momentos em que Renji a mantinha sob seu corpo e tratava de tentar beijá-la.

– Eu quase me esqueci... Passei por tanta coisa depois daquilo!

– Rukia-san. Você pode me perdoar?

Masaki se aproximou, estendendo a mão, que a morena aceitou após uma breve hesitação.

– Claro que sim, Masaki-sama. Eles a manipularam, disseram que eu queria fazer mal ao seu filho. Como eu poderia lhe culpar por querer defendê-lo?

Para surpresa de todos, a rainha envolveu a jovem num cálido abraço.

– Obrigada – sussurrou. – Bem vinda à nossa família.

– Chega disto – Yoruichi disse, visivelmente emocionada. – Eu lamento tanto que tudo isto tenha acontecido, filha!

– Eu sei mãe, eu sei...

– Se, ao menos, eu tivesse conseguido fazer com que Renji esquecesse ente sentimento!

– Você sabia?! – Rukia e Ichigo perguntaram ao mesmo tempo, surpresos.

– Sim – respondeu. – Eu sei há muitos anos. Pensei que fosse algo passageiro, algo de adolescente. Mas parece que eu estava enganada. Renji cultivou este amor até um ponto em que ele deixou de pensar nas consequências de seus atos, fazendo de tudo para ter Rukia para si. Eu sinto muito, filha, mas... – engasgou.

– Mas? – a morena a incentivou a prosseguir.

– Mas a verdade é que, como seu irmão está, representa um perigo à sua segurança. Ele já mostrou que é capaz de fazer qualquer coisa para ter você, está mesmo disposto a te sequestrar!

– Quando visitei o esquadrão – Ichigo disse, de repente. – Eu te vi de relance, enquanto treinava. Depois, quando estava a sós com seu irmão, contei pra ele nossa história e perguntei se acaso a moça que eu amava era você. E ele me disse que não.

Rukia fechou os olhos fortemente, e recostou nas almofadas, levando as mãos ao rosto. Estava atordoada com tanta informação. O cansaço do dia anterior ainda a abatia, e a descoberta de que Renji tramara de maneira tão covarde contra a sua felicidade fazia com que se sentisse ainda pior. E mais estranho era descobrir que sua mãe sempre soube mas nunca havia lhe contado acerca dos sentimentos nada fraternais de seu irmão.

Ao pensar na palavra “irmão”, as imagens de seu tão vívido sonho vieram novamente à sua cabeça. O que significara tudo aquilo? Aquele casal realmente existia, ou fora apenas uma alucinação? As lembranças que tivera durante aquele sonho pareciam tão reais... E aquela moça, tão parecida com ela...

Rukia jamais contara a ninguém, mas desde sua infância, tinha constantemente um sonho estranho: Ela estava ao lado de Renji, num barco. E, à sua frente, via a si mesma, mais velha, com uma flecha atravessada em seu peito.

– Eu acho melhor permitirmos que Rukia-san descanse – disse Masaki. – É muita informação para processar, e ela ainda está debilitada.

– Sim – Yoruichi disse, hesitante.

– Eu vou ficar – Ichigo disse, e as duas mulheres assentiram.

– Descanse, meu bem.

Sentiu os lábios de sua mãe tocando sua testa, e antes que ela pudesse se afastar, segurou com força o seu pulso.

– Rukia..?

– Eu queria lhe perguntar – seus olhos se encontraram. – Sobre a minha... Outra família.

– Outra família? –balbuciou, surpresa.

– Sim. Eu queria saber se, além de Renji, eu... Eu tenho outros irmãos?

Suspirando, Yoruichi compreendeu que o momento que sempre temera havia chegado: a hora de dizer a Rukia quem era na realidade. Olhou para Masaki, num silencioso pedido, que esta imediatamente compreendeu.

– Ichigo, vamos deixar que elas conversem a sós.

– Mas...

– É sério, venha. Você pode voltar depois.

Enquanto ambos saiam, a morena se sentou na cadeira próxima à cama da filha.

– Eu estava me perguntando se seria este o momento certo, e pra ser sincera já estava desistindo de lhe contar.

– De me contar?

– Chegou o momento de eu lhe falar. Sobre sua outra família... E sobre quem você realmente é.

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A princesa Inoue olhava pensativa pela janela de sua carruagem. Desde que Ishida e Tatsuki trocaram aquele olhar cúmplice, no momento em que partiam do castelo Kurosaki, sentia-se extremamente aborrecida, embora não entendesse a razão de tal aborrecimento. Eles eram apenas dois servos e, não importava o tipo de relação que tinha ou tivera com ambos, a vida particular dos dois não devia lhe interessar.

Suspirou desanimada, pensando no fiasco que fora toda esta viagem. Mal podia esperar para chegar em casa. O pior seria explicar ao seu irmão que não haveria casamento, muito menos aliança com os Kurosaki. Não depois de tudo o que acontecera ali. Se ela pudesse encontrar o idiota que a colocara naquela situação, não sabia o que seria capaz de fazer.

Como se tivesse lido seus pensamentos – ou não lido, já que não eram nada amistosos – repentinamente o jovem de cabelos vermelhos, irmão de Rukia, apareceu por entre as árvores que margeavam a estrada.

– Parem! Parem a carruagem! – a princesa gritou e, assim que Ishida a obedeceu, saltou da mesma, gritando. – Você! A culpa é toda sua! Renji-san! Estou falando com você!

Ao ouvir a estridente voz lhe chamando, o rapaz parou seu cavalo e, fazendo a volta, foi até a o local onde a comitiva estava parada.

– O que você quer? – perguntou, sem paciência. – Não tenho tempo a perder com você. Rukia está correndo perigo, preciso encontrá-la!

– Ah, agora está todo preocupado? – perguntou, ácida. – Pois vou aliviar sua consciência: Kurosaki-kun já encontrou a Urahara-san. Não é romântico como eles sempre se encontram? – finalizou com ironia.

– Como ela está? – o rapaz a interrompeu, angustiado.

– Ferida, mas aquela coisa que eles chamam de médico já a “tratou”. Ainda estava desacordada quando saí de lá – completou. – Mas deixemos de falar dela! Tem ideia do problema que me arranjou?

– Eu não lhe obriguei a nada. Você fez o que você queria fazer, portanto, pare de agir como se fosse uma vítima.

– Você se aproveitou do meu desespero! Me usou pra atingir seu objetivo asqueroso! Sério, Renji-san... Sua própria irmã? Isso é bem doentio...

– Cale a boca! – se irritou. – Você não sabe de nada! – suspirou. – Não sei porque estou perdendo meu tempo com você.

Renji começava a se retirar, quando foi surpreendido pelas palavras de Inoue, que se recusava a perder a discussão:

– Eu sei muito mais do que você pensa, sobre você e sobre a Kuchiki-san também... – disse com um sorriso.

– O quê?

– Sim, eu já sei de tudo... E em breve ela vai saber também. E mais: vai saber tudo o que fizemos, tudo o que você fez! Mas eu não vou estar aqui pra suportar sua ira... O que ela sentirá ao saber que você mentiu pra rainha? Ou quando souber que deixou a rainha humilha-la, sabendo que ela era uma princesa?

Apreensivo, Renji a deixou para trás sem dizer mais nenhuma palavra. Ansiava mais do que tudo chegar ao castelo antes que a verdade fosse revelada, e perdesse Rukia para sempre.


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– Eu e seu pai voltávamos de nossa ultima visita à corte, quando encontramos vocês – Yoruichi não conteve um sorriso. – Você tinha apenas quatro anos, e Renji, dez. Eram tão bonitinhos! Eu perguntei se vocês precisavam de ajuda. Ele disse que não, estava preocupado com você... Mas seu pai o convenceu a ir conosco. Renji nos disse que vocês eram do reino Kuchiki. Que eram vizinhos e que, durante a ocupação, os Schiffer mataram suas famílias.

– Então... Nós éramos vizinhos no reino Kuchiki... – sussurrou, pensando no casal de seu sonho. – E eu tinha irmãos?

– Sim, você tinha uma irmã... – suspirou. – Sua mãe morreu quando você nasceu, e seu pai morreu uma semana depois. Sua irmã, que era bem mais velha e já estava casada, cuidou de você. Ela e o marido a adotaram como se fosse sua filha.

– E eles... Foram mortos? – perguntou hesitante, sentindo que os olhos ardiam enquanto se enchiam de lágrimas.

– Sim. Rukia... Eu tenho que lhe dar algo... Algo que era de sua irmã – remexeu a bolsa que sempre trazia consigo, e dela retirou um belo colar, entregando-o em seguida à filha.

Rukia aceitou a joia, olhando-a espantada. Era linda, feita de ouro branco e tinha belas safiras espalhadas. Um pingente dourado pendia graciosamente, exibindo o que parecia uma espécie de insígnia, contendo no meio a letra “K”.

– É lindo... Isso era da minha irmã? – perguntou, e sua mãe assentiu. – Mas é de ouro! E cheio de safiras! Minha família tinha posses?

– Filha... Um tempo depois que lhes encontramos, Renji nos disse que a história que nos contara inicialmente era mentira – hesitou por um momento. – A verdade é que ele era um jovem pajem de armas... Servo do capitão da guarda do reino Kuchiki. Quando os Schiffer invadiram o reino, o rei ordenou que os dois levassem sua esposa e a irmã para um lugar seguro. O capitão foi morto na metade do caminho, e somente ele, a rainha e a princesa chegaram ao barco que os levaria ao reino Ukitake. Quando pensou que haviam logrado êxito em sua fuga, uma flecha atravessou o peito da rainha, e ela morreu, fazendo a Renji um último pedido: proteja a minha irmã. Rukia... A irmã da rainha, a princesa do reino Kuchiki... É você.

A revelação deveria ser bombástica, entretanto, enquanto Yoruichi ainda narrava os fatos, as memórias começaram a voltar. É verdade que era jovem demais quando tudo ocorrera, mas quem iria esquecer acontecimentos tão traumáticos? Enquanto a mãe falava, as imagens eram reconstruídas em sua mente, culminando por fim com aquela que sempre a perseguia em sonhos. Compreendeu que, ao contrario do que sempre pensava, a moça atravessada pelas flechas não era ela mesma, e sim a sua irmã.

– Por que nunca me contaram? – perguntou.

– Bem, primeiro esperamos que o reino Kuchiki se reerguesse... O que não aconteceu. Depois, tivemos medo de que se os Schiffer soubessem que você havia sobrevivido, decidissem persegui-la. E não havia sentido em revelar algo tão doloroso a uma criança. Então, seu pai e eu concordamos em aguardar até que você crescesse, e quando estivesse pronta, lhe diríamos a verdade – suspirou. – Nós guardamos este segredo para protegê-la. Não tenha raiva de nós.

– Eu jamais poderia ter raiva de vocês. Vocês são meus pais, e sempre tentaram me proteger. Mas é muito difícil descobrir tudo isto tão repentinamente, saber que toda minha família escondeu de mim um segredo tão grande. Eu me sinto... Traída.

– Rukia...

– Eu queria ficar um pouco sozinha – deitou, lembrando-se da imagem dos irmãos enquanto olhava fixamente para o colar em suas mãos.

Sem dizer nada, Yoruichi se levantou e saiu do quarto. Foi só então que Rukia permitiu que as lágrimas, que a todo custo controlava, por fim abandonassem seus olhos.


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Após cerca de meia hora, Ichigo apareceu no quarto.

– Posso entrar? – perguntou, hesitante.

– Claro – ela respondeu num fio de voz.

Tentou enxugar as lágrimas disfarçadamente, num inútil esforço de parecer bem, já que a vermelhidão em seus olhos denunciava que havia chorado.

O jovem se aproximou lentamente e deu a volta na cama, sentando do lado contrário ao ferimento. Passou um dos braços em volta de seus ombros, apoiando a cabeça delicada em seu peito, enquanto ele apoiava o queixo nos cabelos sedosos.

– Sua mãe disse que você queria ficar sozinha, então eu não entrei logo que ela saiu... Mas não consegui ficar mais tempo longe.

Rukia sorriu timidamente, enquanto tentava se aconchegar mais a ele. Subiu uma mão ao peito do rapaz, acariciando-o levemente sobre a camisa.

– O que aconteceu? O que sua mãe te disse sobre o seu passado pra te deixar assim?

Ela não respondeu de imediato. Apenas fechou os olhos com mais força, tentando impedir que as lágrimas voltassem a cair. Não queria falar sobre aquilo agora. Entretanto, Ichigo era a pessoa que mais confiava neste mundo. Era o seu noivo, o homem com quem queria passar o resto de sua vida. Não podia fazer segredo de um fato tão importante.

– Ichigo, eu... – começou a falar, mas o som da porta sendo aberta a interrompeu, fazendo com que o nome do inesperado visitante saísse de seus lábios: - Renji!



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Após o encontro com a princesa, Renji levou o cavalo até seu limite, cavalgando velozmente para o castelo. Não sabia porque corria daquela maneira, não era como se pudesse evitar que ela descobrisse a verdade. Mas ele sentia que, assim que ela tomasse consciência de quem realmente era, sofreria, e ele era quem deveria estar ao seu lado para enxugar suas lágrimas. Protegê-la era sua razão de viver.

Chegando ao castelo, atravessou velozmente os portões, sem dar atenção aos guardas que tentavam fazer com que se identificasse. Alcançou as portas e as abriu, por sorte encontrando o saguão vazio. Subiu velozmente as escadas, enquanto tentava recordar qual era o quarto que Rukia ocupava. Assim que reconheceu o corredor, lançou-se em direção à porta, abrindo-a impetuosamente.

Para sua alegria, encontrou-a acordada e parecia que, apesar dos pesares, ela estava bem. Para sua tristeza, ela se encontrava com os olhos vermelhos e aconchegada no peito daquele que considerava seu único rival.

– Renji... – ele a ouviu dizer, afastando-se lentamente do abraço que o outro lhe dava.

– Rukia... Você está bem? Está ferida?

– O que está fazendo aqui? Quem permitiu que entrasse? – Ichigo se exaltou, levantando-se da cama para se interpor entre o rapaz e Rukia.

– Isso não te interessa! Eu vim aqui pra ver a minha irmã, então não atrapalhe!

– Ah, agora ela é sua irmã? Seu monte de...

– Ichigo! – Rukia chamou, e o príncipe se voltou para ela. – Deixe-me cuidar disto.

– Mas Rukia...

– Por favor. Sente aqui ao meu lado, e não interfira. Renji e eu precisamos conversar – com um suspiro, Ichigo a atendeu e sentou ao seu lado.

– Rukia... – o ruivo começou, mas Rukia levantou a mão, fazendo-o calar.

– Eu acho que sou eu quem deve falar primeiro – disse, e o rapaz se surpreendeu ao ver sua irmã, sempre tão doce, autoritária. – Sei que ainda sou jovem, mas posso dizer, com toda a certeza, que você foi e sempre será a maior decepção da minha vida.

Os olhos de Renji abriram desmesuradamente, enquanto ouvia aquelas palavras tão cruéis saindo dos lábios de sua amada.

– Você era o meu herói. Meu irmão. Era uma das pessoas que eu mais admirava, mais tomava por exemplo. Mas então... Você mudou. Bastou que nos mudássemos para este lugar, que viéssemos para perto do castelo, e você se tornou outra pessoa. Minha felicidade não lhe importava mais. Eu era tão somente seu brinquedo, seu fantoche, que você manipulava ao seu bel prazer. Eu me tornei cativa dentro de minha própria casa, o que me levou a mentir e sair sem o conhecimento de vocês.

– Eu só queria... – tentou se justificar, mas Rukia ainda não havia acabado.

– Eu encontrei a minha felicidade – sua mão desceu, tocando na de Ichigo, que a apertou. – Eu fui feliz como jamais pensei que poderia ser. E você tentou se interpor no meu caminho. Enquanto eu estava sofrendo, você via ali uma oportunidade de me ter. E, quando soube toda a verdade acerca do que aconteceu com Ichigo, escondeu essa verdade de mim, permitindo que eu continuasse com a minha dor.

– Rukia, eu...

– Você não permitia que eu seguisse em frente. Você detestava qualquer um que se aproximasse de mim, ainda que esta pessoa me fizesse bem. Por isso sempre odiou Kaien. Enquanto você queria me manter pra sempre prisioneira de meu medo de sofrer, Kaien me incentivava a seguir em frente, a não deixar a tristeza me consumir.

– Rukia – disse com desespero. – Eu só queria o seu bem! Eu... Te amo.

– Quem ama não faz o que você fez, Renji! Até agora, seu amor não me fez nenhum bem. Só me fez sofrer!

– Não é verdade...

– Como não? Quando voltou de sua viagem e descobriu que eu havia reencontrado minha felicidade, qual foi a primeira coisa que fez? Usou de meios sujos para me separar de Ichigo novamente, mesmo sabendo como eu havia sofrido quando me afastei dele pela primeira vez. Atiçou a ira da rainha contra mim, ouviu quando ela me expulsava por eu ser uma plebeia, e se calou... Quando sempre teve consciência disto – exibiu o colar.

– O colar... Então você...

– Sim, eu já sei de tudo. Sei quem eu sou, e sei que você é. Meu protetor! Quando você me protegeu nestes últimos anos, Renji? Quando pensou em mim ao invés de pensar em você? Você teve a coragem de me deixar inconsciente e me sequestrou... Tentou me afastar de todos que eu amava, tentou me beijar a força... Lutou contra o homem que me faz feliz! Eu te amava, Renji...

– Amava? No passado? – perguntou, entristecido. – Não me ama mais?

– Eu não sei – desabafou. – Como eu posso amar alguém que nem sei se realmente conheci? É como eu disse, Renji... Você é minha mais amarga decepção.

Acuado, Renji começou a andar para trás. Virou-se para a porta, e se surpreendeu ao encontrar seu pai e sua mãe ali, olhando-o com tristeza e desapontamento. Sem poder suportar ficar mais um minuto sob os olhares frios de todos aqueles que lhe eram importantes, Renji se voltou mais uma vez para encarar o rosto daquela que mais amava.

– Se é assim que se sente... Eu a deixarei em paz. Sairei de sua vida... Para sempre!

E, sem esperar resposta, sem notar o quanto todas aquelas palavras também machucaram sua princesa, sem ver que ela se encolhia e chorava no ombro de Ichigo, Renji saiu em disparada, empurrando os pais de seu caminho.

E em nenhum momento olhou para trás.


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Notas finais do capítulo

E isso é tudo, pessoas! Finalmente, a Kia está ciente sobre o seu passado. Espero que tenham gostado do capítulo!
Como sempre, estarei esperando seus lindos, amados e vitaminados reviews! Façam esta autora mais-que-baka ficar com os olhinhos brilhando, comentem onegai!
Quero agradecer por me acompanharem durante 2012, e espero que continuem ao meu lado no novo ano e nos meus próximos projetos! Fiz amigos através desta fic, e encontrei muitas pessoas maravilhosas. Ainda que não nos conheçamos pessoalmente, vocês tem um lugar especial no meu kokoro!
Eu sei, eu sei... Estou piegas e pedante... rsrsrs
Então, me despeço por aqui. Até o ano que vem!!
Akemashite omedetōgozaimasu! Feliz Ano Novo! ^.^