Ao ouvir o grito, Rukia saiu de seus devaneios e, instintivamente, começou a correr em disparada na direção do som. Não parou para pensar que estava desarmada ou que era simplesmente uma garota. Sua mãe a criara como uma guerreira e era exatamente isto o que a pequena se considerava. Largou os sapatos pelo meio do caminho enquanto corria e, como o vestido também atrapalhava a sua corrida, parou por um momento e o rasgou. Abrindo assim, uma fenda que ia desde a barra na altura dos joelhos até a de suas coxas. Aí então conseguiu correr livremente.

Ao aproximar-se do local de onde viera o grito, ouviu vozes alteradas e, por precaução, ocultou-se atrás de uma árvore, observando atentamente o que acontecia. Parecia claro que a pobre moça que gritara caíra numa armadilha. O cocheiro, um rapaz magro e de cabelos negros, jazia no chão, desacordado. A bela carruagem encontrava-se com uma das rodas quebradas.

Dois homens estavam próximos à carruagem. Um alto e corpulento, com cabelos castanhos ondulados que tocavam levemente seus ombros. Parecia extremamente forte e trazia nos ombros uma jovem de longos cabelos ruivos e corpo esbelto. Já o outro, com cabelo num tom róseo, carregava em seus ombros uma jovem magra e pequena, com cabelos negros longos e espetados. As garotas gritavam e se debatiam, tentando livrar-se de seus captores e das cordas que as amarravam nas mãos e nos pés.

– Levem tudo! Minhas jóias estão num baú na carruagem! Mas, por favor, soltem-me e à minha acompanhante! – chorava a ruiva, que tinha uma voz estridente. Rukia sentiu muita pena da garota naquele momento, sentindo o desespero que a moça trazia na voz.

O homem que a carregava fez uma careta de desagrado diante do choro e da voz aguda da garota.

–Desculpe, minha cara princesa! Mas o jovem rei dos Schiffer decidiu que está na hora de se casar! Você não deveria estar lutando desta maneira! Meu rei a escolheu para se tornar a rainha de um dos reinos mais poderosos que já existiu!

– Então, deixem que ao menos minha acompanhante se vá! – implorou a ruiva, ainda mais chorosa.

– Isso não, minha princesa! – exclamou a jovem morena, e Rukia se admirou com sua lealdade – Eu jamais a abandonaria!

– Ouviu isso, princesa? Ela quer ficar com você! Mas que bela devoção! – disse o homem, com tédio em sua voz.

– Não é só devoção, seu verme! – gritou a morena. – Eu e a Princesa crescemos juntas! Somos amigas!

– Pouco importa! – gritou repentinamente o homem que trazia a morena nos ombros – Já conversou demais, Stark. Vamos retornar ao acampamento.

– Deixem a Tatsuki-chan aqui, por favor! Eu irei com vocês sem resistir, mas deixem-na em paz!- disse a jovem ruiva, tornando a chorar.

– Claro, princesa! – disse o jovem de cabelos róseos, mordaz – Nós a deixamos aqui, sua querida acompanhante corre até o castelo dos Kurosaki, para avisar de seu rapto, e nós somos caçados. Não, minha querida! E tem outra razão para que a levemos – continuou o rapaz, um sorriso maligno na face – as tropas não podem tocá-la, já que pertence ao rei. Então, sua dama será uma excelente distração para todos nós! – explodiu numa gargalhada insana.

– Como se você fosse capaz de tocar em alguma mulher, Szayel – Stark provocou o outro, um sorriso torto na face.

– Cale-se, Stark! E vocês duas também! Já demoramos demais aqui! Vamos voltar para o acampamento – dito isto, ambos viraram as costas para o local onde Rukia ainda encontrava-se escondida.

Aproveitando o momento de descuido dos dois, e percebendo ali uma oportunidade, Rukia com agilidade correu silenciosamente até ambos, escondendo-se atrás da carruagem. Observou que, ao lado do corpo do jovem desacordado, havia uma espada jogada no chão. Apoderando-se da arma, Rukia sentiu-se confiante para manifestar sua presença.

– Deixem-nas em paz! Ordeno que as soltem agora mesmo! – gritou, usando sua melhor voz de comando.

Os dois homens viraram-se, assustados com a voz repentina. Ao se depararem com a figura da morena, olharam-se e Szayel começou a gargalhar, enquanto Stark, mais contido, dava mais um de seus sorrisos tortos.

– Ora, ora, ora! – exclamou Szayel – Stark, olhe isto! Mais diversão para as tropas!

–Soltem-nas ou eu os farei soltá-las! – a morena repetiu, sem se perturbar.

Os dois homens olharam-se novamente, Szayel passou a pequena acompanhante da princesa para o ombro livre do corpulento Stark.

– Você? Você e que exército, garotinha? Sabe, não costumo me deitar com qualquer mulher, mas acho que adorarei fazer esta pequena insolente baixar a cabeça! – Szayel riu e começou a aproximar-se da morena, que depressa se pôs em posição de combate.

O homem desembainhou sua espada, indo para cima de Rukia, que se defendeu.

– Parece que você quer mesmo fazer da maneira mais difícil, não é, morena? – disse, exercendo força sobre a espada e pressionando-a.

– Eu estava pensando em dizer-lhe o mesmo, verme!

Rukia forçou num ímpeto a espada, fazendo com que Szayel se desequilibrasse, e rodopiando para ganhar impulso deu-lhe um forte chute no estômago, deixando-o sem ar e atordoado. Sem dar-lhe tempo de se recuperar, Rukia acertou com força o seu rosto, segurando a cabeça do mesmo e trazendo-a de encontro ao seu joelho ao mesmo tempo em que o impulsionava. Por último, mais uma vez rodopiou, fechando o punho e acertando a nuca do rapaz com as costas da mão.

Finalmente, o rapaz caiu fortemente de costas no chão, batendo a cabeça numa pedra ao cair. O mesmo desmaiou, sem ao menos entender o que tinha acontecido.

– Parece que você não era nem mesmo digno desta lâmina, cretino – Rukia disse olhando para o rapaz que jazia desacordado. Virando-se para Stark, que a tudo observara impassível, completou – Sua vez, grandão.

– Não poderia nos acompanhar pacificamente? Francamente, acho a idéia de ter que lutar contra uma dama repulsiva... – disse Stark, friamente.

Vendo que Rukia não saíra da posição de combate, Stark suspirou pesadamente. Abandonou a princesa e a sua dama na relva e, desembainhando sua espada, começou a ir em direção à morena:

– Está bem, faremos do jeito mais difícil. – virou-se então para a princesa, que já tentava soltar-se – Vocês duas, quietinhas aí. Não quero ter que ser violento com vocês também – observou a expressão de pânico da princesa com um contido divertimento, então se virou novamente para Rukia – Mas já alerto que não será nada fácil me derrotar, minha jovem dama. Embora claramente você lute muito bem, eu sou o número um de minha tropa. Ninguém supera minha habilidade e...

O discurso de Stark foi interrompido pelo ataque da morena, que já ficava impaciente com tanta conversa. Entretanto, diferente de Szayel, Stark não a subestimou. Com um movimento, levantou a espada, defendendo-se tranquilamente do golpe dado pela morena.

– Tsc. Estes jovens de hoje são impacientes demais – disse, enquanto forçava a espada contra a da morena, fazendo-a recuar dois passos.

– Devia evitar tanta conversa, meu caro – Rukia disse – faz parecer que está tentando ganhar tempo até que cheguem reforços. Acaso tem medo de lutar com uma simples “garotinha”? – mal disse estas palavras, viu-se obrigada a defender-se de Stark, que lhe aplicava um forte golpe com a espada.

– Ah jovem, ao ofender minha honra está me obrigando a lutar a sério, e eu não gosto disto. Por que não nos acompanha pacificamente?

Rukia teve a atenção desviada momentaneamente, ao perceber que o jovem cocheiro havia recobrado a consciência, e, sorrateiramente, se levantara e fora até as duas garotas, para solta-las.

– Jamais! – gritou Rukia e começou a atacá-lo seguidas vezes, sendo que em todas elas Stark se defendia sem esforço.

Mas o objetivo de Rukia neste momento era prender sua atenção, até que o rapaz soltasse as duas e o grupo pudesse fugir. Resolveu dar uma conferida na situação mais uma vez, olhando por sobre o ombro de Stark em direção ao local, vendo que a princesa e a sua dama já estavam soltas. Porém, o homem aproveitou este momento de distração para desferir-lhe um chute no estômago, fazendo com que Rukia caísse sentada, sem fôlego.

– O que tanto olha? – ele perguntou, virando-se a tempo de ver a princesa, a dama e o jovem cocheiro, que se punha à frente delas. – Ah, já percebi sua intenção. Mas não vai dar certo – disse, virando-se para Rukia, que estava ajoelhada, tentando ainda recobrar o fôlego. – Eles não vão fugir. Vou terminar com você, e darei um jeito no rapaz e na acompanhante. Só tenho ordens para levar a princesa mesmo.

Preparou a espada para desferir um golpe no pescoço de Rukia, porém sentiu algo atingir fortemente sua cabeça, e, ao virar-se, viu o jovem cocheiro correndo em sua direção. Tratou de desferir um golpe contra o jovem, que desviou habilmente, então o acertando com toda força no estômago e depois nas costas.

– Da primeira vez, vocês me pegaram desprevenido. Agora, não permitirei que machuque nenhuma destas damas! – disse o jovem, enquanto olhava o homem de quatro no chão, respirando pesadamente. – Deixe-me ajudá-la – disse, dando a mão para Rukia, que já se recuperava do golpe e do susto.

– Ishida-kun, cuidado! – gritou a princesa.

Rukia segurava a mão do moreno, porém, vendo que Stark se recuperara e vinha em sua direção com a espada em punho, Rukia puxou o rapaz com força, rolando com o mesmo pelo chão no momento em que Stark tentava golpeá-lo com a espada. Ambos colocaram-se de pé, lado a lado, olhando para o homem, que já não aparentava tanta tranqüilidade como antes.

– Vou acabar logo com isto! A brincadeira acabou, seus pirralhos!

– Detesto admitir, mas parece que acabar com este homem é um trabalho para dois... Ishida, certo? – disse Rukia para o moreno, sem tirar os olhos de Stark.

– Parece que sim, senhorita...?

– Rukia. Urahara Rukia.

– Urahara...? – disseram ao mesmo tempo Ishida e Stark, espantados.

– Parece que a fama de meu pai já alcançou alguns reinos, hein? – disse Rukia, com indisfarçável orgulho.

– Certamente, todos conhecem o general do esquadrão Shinigami – disse Stark, recuperado da surpresa – Parabéns, garota. Finalmente conseguiu minha atenção. – disse, indo em direção à Rukia, que desviou do golpe, atingindo-o com uma cotovelada no meio das costas.

Entretanto, Stark imediatamente virou-se, atingindo Rukia com força no rosto. Ishida veio rapidamente em seu socorro, porém Stark socou-o com força no estomago, fazendo-o cair de joelhos. Em seguida, levantou o jovem pela gola da camisa, elevando-o acima da própria cabeça.

– Será o primeiro a morrer. Mas terá uma morte muito digna, afinal, não é qualquer um que tem o privilégio de morrer pelas minhas mãos... – disse, preparando a espada para traspassá-lo, quando sentiu uma dor lancinante abaixo de seu ombro.

Soltando o rapaz, Stark olhou para baixo, vendo a ponta da lamina de uma espada atravessando-o um pouco acima do peito. Olhou para trás e viu Rukia, sem fôlego, segurando a espada. A morena retirou a lamina de uma só vez, fazendo com o que o homem soltasse um urro de dor, enquanto caía de joelhos no chão. Rukia chutou-lhe com força nas costas, fazendo-o desabar no chão.

– Nenhum sangue inocente vai ser derramado hoje, senhor Stark. – disse Rukia, apoiando o pé na cabeça do homem e forçando-o contra o chão - Esta luta termina aqui. Considere-se afortunado por estarmos mais preocupados com a vida da princesa do que com a sua, pois apenas isto permitirá que continue vivo.

– Sua maldita!

– Bons sonhos. – disse a morena, ao mesmo tempo em que se abaixava e acertava a nuca de Stark com o punho da espada, fazendo-o desmaiar.

– Você está bem? – Rukia ajudava o moreno a levantar-se.

– Estou sim. Obrigado.

– Ishida-kun!! – a princesa, sentindo-se finalmente fora de perigo, corria de encontro ao cocheiro, tendo a dama de companhia em seu encalço. – Se machucou, Ishida-kun?

– Estou bem, minha princesa. E vocês, se machucaram? – o rapaz perguntou, olhando atentamente para a princesa, como se procurasse qualquer sinal de que ela não estivesse bem.

– Nós estamos bem. Mas fiquei tão assustada! – a princesa fazia uma cara de terror extremamente infantil. Pareceu finalmente notar a presença de Rukia, e virou-se para a mesma, com uma reverência – Muito obrigada por nos ajudar, senhorita Rukia. Sou a princesa do reino Inoue, Orihime. Vim a este reino para conhecer o príncipe dos Kurosaki.

– Prazer em conhecê-la, Princesa – disse Rukia, com uma reverencia. – Mas não creio que ainda seja seguro ficarmos aqui.

– Tem razão, é melhor que retomemos nosso caminho para o castelo... – disse a princesa.

– Não acho que seja uma boa idéia, princesa – Rukia respondeu – Não conseguirão chegar ao castelo antes do anoitecer. E pode haver outra emboscada preparada para a senhorita. Por favor, acompanhem-me até a minha casa, que está mais perto, e passem a noite lá. Não tem o luxo do palácio, mas certamente é uma casa confortável. E mais importante: segura.

– Mas eu estou tão ansiosa para conhecer o meu possível futuro noivo... – disse a princesa, em duvida, sendo interrompida por Ishida.

– Desculpe, princesa, mas acho melhor seguirmos a ideia da senhorita Rukia. É melhor chegar amanhã com segurança do que continuar hoje. Além do mais, nossa carruagem está quebrada.

– Então, está decidido – Rukia tomou a frente da situação – Tirem os pertences da princesa da carruagem, que eu vou soltar os cavalos – vendo a cara de desanimo da princesa, Rukia decidiu confortá-la – Não se preocupe princesa. Eu me encarregarei pessoalmente de sua escolta até o castelo.

– É uma promessa? – disse a princesa, os olhos com lágrimas.

– Sim, é uma promessa. A levarei pessoalmente ao castelo dos Kurosaki. Não se preocupe. Amanhã mesmo, estará junto de seu “possível futuro noivo”. – respondeu a morena com um sorriso, sem sequer imaginar a surpresa que a aguardava no castelo.