11 anos depois

Renji ergueu os olhos e observou o sol que começara a sumir no horizonte. Fora um dia muito cansativo, trabalhando o dia inteiro, treinando com o pai e agüentando Rukia pedindo pra que treinasse com ela. Lembrou-se por um instante da garotinha calada de quatro anos e com um suspiro lembrou que ela nunca mais ficou quieta daquele jeito. Era difícil acreditar que mais de dez anos já haviam passado...

Urahara e Youruichi mostraram ser ótimas pessoas, e, acima de tudo, ótimos pais. Demorou ainda um tempo para que Renji confiasse o suficiente em seus “novos pais” para contar-lhes a verdade sobre ele e Rukia. Entretanto, o amor que os dois davam às crianças acabou por atravessar a barreira que Renji erguera, e ele lhes contou tudo: a fuga, a morte da rainha e a identidade de Rukia. Todos concordaram que não havia razão para contar a verdade à pequena, pelo menos por enquanto. Ela tinha apenas quatro anos quando os tenebrosos fatos ocorreram, e não se lembrava de nada: da irmã, ou do castelo, ou da fuga. Agia como se sempre tivesse morado naquela casa simples, e como se Youruichi e Urahara fossem seus pais, e Renji, o seu irmão.

O tempo passara razoavelmente rápido, e fora generoso com as duas crianças. Renji, agora um jovem de vinte anos, tinha cabelos vermelhos, que deixara crescer e usava amarrados num rabo-de-cavalo, exibia um físico impecável, adquirido a duras penas no trabalho na oficina com o pai, forjando espadas e, ocasionalmente, testando-as. Urahara era um exímio espadachim, e ensinou a Renji os segredos da luta.

Rukia tinha agora quinze anos, e se tornara uma bela jovem. Renji sempre se espantava com a incrível semelhança entre Rukia e a rainha Hisana. A pele alva e os cabelos negros, que a garota costuma manter sempre acima dos ombros. A única diferença entre as duas continuava a ser aqueles incríveis olhos azuis que Rukia possuía, que mudavam de acordo com seu humor, sendo que algumas vezes pareciam o céu de uma manhã ensolarada, outras o de um dia tempestuoso, outras como as safiras daquele colar que Renji ainda trazia consigo, aguardando o momento certo para devolvê-lo.

- Oe, cabeção! – disse Rukia, enquanto dava um “pedala” em Renji – para de ficar viajando, não ouviu que a mamãe está chamando para o jantar!

- Eu não estou viajando – retrucou – acontece que estou cansado. Diferente de certas pessoas por aqui, eu dou um duro danado seis dias por semana, no mínimo.

- Ei, eu e a mamãe trabalhamos bastante também! Pensa que é fácil deixar esse lugar limpinho, as roupas dos senhores limpas, fazer a comida, treinar e ainda agüentar o seu mau humor? – falou, com voz zangada, mas sorrindo. Adorava implicar com o irmão.

- Que historia é essa de treinar?! Já falei que espada não é coisa pra moças. Você pode acabar se machucando!

- Espero que não esteja com aquela historia de que lutar não e pra moças, Renji.  – Youruichi surgiu repentinamente – Senão vou ter que ser obrigada a te mostrar como se luta de verdade.

- Só não quero que Rukia se machuque, Youruichi-san – disse Renji, encabulado, dando a Rukia um olhar de “essa conversa não acabou”, o que fez a pequena amarrar a cara – e então, vamos jantar?

- Sim, vamos. – disse Youruichi, colocando-se entre os dois e passando os braços por seus ombros.