O dia estava razoavelmente tranqüilo. Talvez fosse o fato de Kira Izuru ainda estar afastado devido ao golpe que lhe dera no outro dia. Talvez fosse o fato de que, finalmente, conseguira melhorar sua atitude para com sua equipe, e parecia haver uma trégua entre ela e seus alunos. Ou talvez fosse pela sua recente amizade com Kaien.

Flashback on

Após a morena acalmar-se, Kaien a acompanhara até a sua casa, dizendo que era perigoso, até mesmo para uma sensei do esquadrão, ficar andando sozinha por aí de noite.

Rukia não tinha forças para relutar, e então se deixou ser acompanhada pelo rapaz. Fizeram o caminho todo em silencio. Há poucos metros da casa de Rukia, o rapaz havia parado e segurado o seu braço.

– É melhor você ir sozinha daqui. Não quero que seus pais pensem alguma besteira, afinal, já está bem tarde. Vá logo, que vou esperar você entrar. – o moreno dissera.

– Não precisa Kaien, pode ir... – a morena respondera um tanto apática ainda. Detestava chorar, principalmente na presença de outra pessoa.

– Não senhorita. Não vou ficar tranqüilo se não esperar que entre em casa. – o moreno respondera. Repentinamente a puxara para um rápido abraço, dando-lhe um beijo no topo da cabeça – Vê se melhora. Vemos-nos amanhã.

Tão rápido quanto a havia abraçado, ele a soltou e Rukia com um ultimo aceno de cabeça, andou em direção à casa. Diante de sua cara de desanimo, ninguém se atreveu a perguntar onde a morena estivera até aquela hora. Era evidente que havia chorado.

Flashback off

– Hei, baixinha – uma voz despertou Rukia de suas lembranças – vai ficar dormindo aí em cima agora? – Kaien perguntou, impaciente.

Rukia suspirou, e pulou do alto galho de arvore onde se encontrava sentada, aterrissando graciosamente no chão, com a agilidade de um gato.

– Baixinha é a vó – disse, bufando – você tem que ser sempre tão mala, Kaien? – perguntou. Mas sua voz já não era mais agressiva quando falava com o rapaz. Fazia uma semana desde o ocorrido na praia, e a amizade dos dois estava se fortalecendo a cada dia.

– E você tem que ser sempre tão rabugenta, Rukia? – o moreno devolveu – não entendo porque fica subindo nestas arvores tão altas, quando já está no alto de um morro. Ah, já sei! Deve ser complexo por causa de ser uma nanica, não é? Ai!! – o rapaz gritou, após receber um soco no estomago.

– Às vezes não sei porque virei sua amiga... – disse com um suspiro, sentando-se no chão. O moreno sentou-se ao seu lado.

– É porque ninguém resiste ao carisma de Shiba Kaien. Eu sou o máximo...

– Francamente... – disse a pequena enquanto revirava os olhos, e então ambos ficaram em silencio, admirando o final da tarde.

– O por do sol está bonito, não é? – Kaien puxou assunto.

– Sim... Mas devo confessar que não gosto muito dele...

– Por que?

– É essa cor alaranjada que ele deixa no céu... me traz... recordações.

Kaien entendeu imediatamente a que a morena se referia.

– Já te contei tudo sobre Ichigo, Kaien... me fale mais sobre sua esposa.

– Ela era três anos mais jovem do que eu... Bela, forte e doce, uma das mulheres mais incríveis que já conheci... Apaixonamos-nos a primeira vista. Assim que a vi, soube que queria casar-me com ela. Quando fomos á oficina de seu pai, a minha irmã estava encomendando meu presente de casamento... por que está rindo? – perguntou, curioso.

– Nada demais... – a morena respondeu, ainda sorrindo, um tanto encabulada.

– Agora eu quero saber... Você está vermelha! Vamos, por que está rindo?

– Nada... é que... – Rukia hesitou, sem graça – é que, naquela época eu tinha só quinze anos... tinha ficado encantada com você...

– Natural, ninguém resiste ao meu charme avassalador...

– Obviamente, eu não te conhecia... senão jamais teria ficado encantada... mas prossiga...

– Muito obrigada!! – ele disse, sarcástico – Bem, nos casamos ainda naquele ano. Foi o ano mais feliz de minha vida. Ela era mais do que eu poderia ter esperado de uma esposa. Ela era perfeita... – nesse momento, Kaien perdeu um pouco de sua tão comum vivacidade, apoiando o queixo numa das mãos, deixando o olhar vagar pela paisagem à frente – então, ela começou a se sentir mal... pensamos a principio que poderia tratar-se de uma gravidez, e por alguns dias, fui o homem mais feliz da face da terra. Estava casado com a mulher que amava, e provavelmente íamos ter um filho. Fomos imediatamente visitar Unohana-san, mas ela disse que Myiako não estava grávida – abaixou a cabeça – nunca descobrimos sua doença. Apenas assisti a minha tão amada esposa definhar, até que, após um ano de nosso casamento, ela se foi... – o moreno estava tão imerso em suas lembranças que se assustou ao sentir um leve toque em sua mão.

– Sinto muito – disse Rukia, segurando a mão do moreno, apertando-a levemente – só posso imaginar o quão difícil deve ter sido esta situação. Pelo menos, vocês se amaram até o final. Isto é lindo, e muito difícil de acontecer...

Ver a dor dele a fez parar de pensar no próprio sofrimento por um tempo. Talvez fosse isso que ele tivesse querido dizer com “Um ajuda o outro a ir em frente”, pensou.

– Sim. Pelo menos, ficamos juntos até o fim...

– Mas chega de falar disso! Nunca tive a oportunidade de apreciar a espada que papai lhe fez. Posso ver?

– Sim! – Kaien desembainhou a espada, mostrando-a para Rukia, que a admirou por alguns momentos, enquanto Kaien a observava.

– É muito bonita!- disse, devolvendo-a então para o dono - Hum... lembro que sua irmã foi quem fez toda a negociação. Por que você e seu irmão não voltaram mais à oficina?

– Bem... isso... – Kaien hesitou – Deixa para lá...

– Agora eu quero saber!! – Rukia não perderia uma chance de ver Kaien sem graça. Aquilo era tão raro! – Shiba Kaien está vermelho! O que de tão embaraçoso poderá ter acontecido? – deu uma sonora risada.

– Quer mesmo saber? – ele perguntou, fitando os olhos da pequena.

– Claro!

– Minha irmã não permitiu que eu voltasse lá. Myiako e minha irmã eram grandes amigas... E eu... Estava com o casamento marcado, mas durante toda a viagem de volta, tudo o que eu conseguia pensar e falar era acerca da bela filha de Urahara Kisuke. De como ela era bonita, simpática e encantadora. Isso deixou minha irmã desconfortável, e temendo pelo meu casamento, minha irmã não me deixou mais acompanhá-la na viagem. – Kaien terminou seu relato, satisfeito ao ver que agora quem estava vermelha e extremamente embaraçada era Rukia. Ela era mesmo muito bonitinha, pensou.

Rukia soltou a mão de Kaien rapidamente, como se ela queimasse, e levantou de um salto:

– Tenho que ir, ou minha mãe se preocupará. Até mais, Kaien. – não esperou resposta, e saiu apressada em direção à estrada que levaria à sua casa.

– Até mais – Kaien falou mais consigo mesmo, enquanto continuava a observar o por do sol. Pela primeira vez em dois anos, uma mulher que não era sua falecida esposa ocupou os seus pensamentos.

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Ichigo estava deitado sossegadamente em seu quarto, o olhar perdido no teto. Estava lembrando do primeiro dia de treinamento que teve com Rukia. Como ela o derrubara e dominara com tanta facilidade. Ela era tão forte... Poderia ter sucumbido à dor a ponto de dar um fim à própria vida? Não poderia haver engano? Talvez ela estivesse viva... Perguntava-se se não deveria voltar a freqüentar aquela praia na qual a conhecera, quando a porta do quarto se abriu repentinamente, e o rei e a rainha entraram.

– Ichigo, você tem sido um filho um tanto rebelde. – disse Isshin, zangado - Está na hora de amadurecer e compreender que a vida não é só fazer o que queremos. Principalmente quando se está destinado a governar um reino. Portanto, sua mãe e eu decidimos que está na hora de começar a ter responsabilidades, e que passara a me acompanhar nos compromissos do reino.

– Eu não sou rebelde! Só não quero me casar.

– Nosso primeiro compromisso será com o esquadrão Shinigami. – Isshin ignorou a interrupção do filho - Amanhã, você me acompanhará na visita ao esquadrão e na reunião com Urahara Kisuke.

– Ok – Ichigo disse, sem entusiasmo. Em outros tempos, teria ficado entusiasmado em ir conhecer o líder do esquadrão Shinigami e sua família. Mas ultimamente nada mais tinha graça para ele...

– Ótimo. Agora, tenho uma boa notícia!

– Sim? – Ichigo tentava imaginar o que seria.

– Já encontrei a esposa perfeita para você. Dentro de um mês, aproximadamente, você terá a oportunidade de conhecê-la.

– Já falei que não vou me casar, pai.

– E eu já falei que vai. Tenha em mente isto: irá encontrar sua futura esposa dentro de aproximadamente um mês.

Isshin e Masaki saíram do quarto, deixando para trás um Ichigo extremamente irritado. Deixaria bem claro à tal princesa que não a amava. E que, se ainda assim ela insistisse no casamento, tornaria sua vida infernal.

– Meu rei, tem certeza de que isto é o certo? – Masaki perguntou enquanto caminhavam, soltando um pesado suspiro.

– Sim – disse Isshin, depois começando a falar em tom baixo – na verdade, eu ainda não pedi a mão dela ao pai. Ela está vindo na mesma condição de todas as outras. Mas preciso fazer com que ele pense que já está tudo arranjado. Assim, quem sabe, ele não se esforça para conhecer a garota? – aproximou-se da esposa, envolvendo-a em um abraço – não se preocupe, minha amada, eu jamais iria obrigar nosso filho a se casar sem estar apaixonado. – olhou nos olhos da rainha, dando-lhe uma piscadela – mas ele não precisa saber disso, não é?

– Francamente, meu querido... você e suas idéias malucas – disse Masaki, com um sorriso.

– Tenho um pressentimento, minha rainha... Dentro de aproximadamente um mês, conheceremos a nossa nora. A futura rainha dos Kurosaki.