Youruichi gastou ainda um bom tempo junto ao filho, consolando-o. Quando finalmente o pranto do rapaz cessou, o mesmo estava extremamente envergonhado de seu descontrole. Sem olhar para a face da mãe, pediu licença e disse que ia dar uma caminhada, pois precisava ficar um tempo sozinho.

Youruichi não contestou o rapaz. Apenas deu-lhe um ultimo abraço apertado, e disse que o esperaria em casa. Observou-o afastar-se por um momento, e então foi embora. Estava muito preocupada com Rukia, pois embora a filha fosse forte e corajosa, abalava-se muito quando tinha de enfrentar alguém que amava. Ao chegar em casa, Youruichi dirigiu-se imediatamente para o quarto da filha:

- Rukia! Está bem? – disse, enquanto tentava abrir a porta – eu encontrei com Renji e ele me disse o que aconteceu. Podemos conversar, filha?

Rukia abriu a porta, claramente apreensiva. A vermelhidão que tomava os olhos azuis denunciava o quanto a pequena havia chorado. Mal terminou de abrir a porta, atirou-se nos braços da mãe, iniciando um choro compulsivo:

_ Eu amo o Ichigo, mãe! – disse, aflita, entre soluços – e sei que ele me ama também! Por favor, não fique contra nós! Não me afaste dele!

- Calma filha, calma! Eu não vim aqui para proibi-la de vê-lo! Eu só quero saber quem é este rapaz que roubou o coração da minha menininha – Youruichi falava calmamente, enquanto acariciava os cabelos da filha.

Ao ouvir as palavras da mãe, Rukia acalmou-se um pouco. Um pequeno sorriso apareceu por entre as lagrimas quando ela principiou a falar sobre seu amado.

- O nome dele é Ichigo. E ele é perfeito, mãe! É lindo, educado, cavalheiro, inteligente – tomou a mão da mãe, enquanto dirigia-se para a cama, sentando-se – Ele é incrivelmente especial. E não sei explicar mãe, mas parece que o conheço desde sempre... E cada vez que estou com Ichigo, é como se o resto do mundo deixasse de existir. Nós treinamos, conversamos, irritamos um ao outro, brigamos, para logo em seguida fazermos as pazes... É como um sonho...

Youruichi não pode conter um sorriso diante da evidente alegria da filha. Que terrível situação! Não sabia direito o que sentir: se ficava feliz pela alegria da filha ou entristecida pelo sofrimento do filho.

- Parece realmente um sonho, meu bem. Fico feliz que tenha encontrado alguém que te complete. E então, fale mais sobre ele. Onde ele mora? Eu e seu pai o conhecemos, ou à família dele? Quantos anos ele tem? No que ele trabalha? – Youruichi notou que a filha corou um pouco após as suas perguntas.

- Bem... – a pequena disse, desconcertada – a verdade é que sempre conversamos sobre diversos assuntos, mas não falamos muito sobre a nossa vida... Puxa! Só agora percebo o quão pouco sei sobre a vida dele – colocou um dedo no queixo, pensativa – O nome dele é Ichigo. Tem duas irmãs. Ele tem vinte e um anos... Ah, mãe! Tenho vergonha de confessar, mas isto é tudo o que sei a respeito da vida dele...

- Isso é estranho – Youruichi falou, olhando para a filha – tem certeza acerca das intenções deste rapaz, filha?

- Mãe, ele me ama. Eu sei – disse, convicta.

- Hum... E como sabe? Acaso ele se declarou – Youruichi assistiu a filha ruborizar novamente.

- Sim – Rukia virou o rosto, embaraçada. Após um momento, voltou a encarar a mãe – E eu sei que é verdade. Ninguém pode me olhar como ele olha e dizer que me ama, ou me tocar como ele me toca, ou entregar-se como ele se entrega a cada momento, sem amar de verdade. Sei disso porque quando o olho vejo um reflexo do que eu mesma sinto, na mesma proporção e intensidade... E eu sei, sem sombra de duvida, que eu o amo.

- Se você tem tanta certeza... Só não quero que se machuque filha, não gostaria de vê-la sofrendo...

- Eu sei mamãe. E agradeço. – Rukia deitou-se na cama, colocando a cabeça no colo da mãe – apenas o assunto não surgiu... Aliás, ele também não sabe quem eu sou. Sabe tão pouco sobre mim quanto sei pouco sobre ele – Rukia sentou-se repentinamente, virando-se para encarar a mãe – Mãe, você e o papai conhecem muito mais pessoas do que eu... Tem certeza deu que não o conhece, ou à sua família? Afinal, Ichigo certamente não é um nome comum...

- O único Ichigo que já ouvi falar é o príncipe Kurosaki – Youruichi olhou para a filha – acha que poderia ser...

- Não, de jeito nenhum! – Rukia interrompeu a mãe, rindo – Mãe, por favor, o príncipe certamente pode ter a princesa que ele quiser, acha mesmo que ele escolheria alguém como eu? É certo que nossa família tem prestigio, mas não somos da nobreza, e uma coisa é certa: Os príncipes se casam com princesas... e eu não sou uma princesa...E outra, Ichigo não se parece em nada com Isshin-san...

Youruichi ficou pensativa após as ultimas palavras de Rukia. Não seria este o momento de revelar à pequena quem ela realmente era? Talvez este segredo estivesse sendo guardado por tempo demais. Rukia já tinha idade para compreender a verdade. Decidiu focar-se no problema do momento... Conversaria com o marido sobre contar a verdade a filha mais tarde...

- Então não faço idéia de quem ele possa ser, meu anjo. Faremos o seguinte: Quando irá encontrar-se com ele de novo?

- Se não estiver chovendo, amanhã. – respondeu a pequena.

- Certo. Então amanhã, você o convidará para vir almoçar conosco no próximo domingo, ele e sua família. Se as intenções dele forem boas, ele certamente aceitará.

- Está bem, mãe! Tenho certeza de que ele irá aceitar! – Rukia estava animada. Este seria o primeiro passo para que ela e Ichigo ficassem juntos. – Obrigada mamãe! Eu amo você.

- Eu também amo você, anjinho – Youruichi deu um abraço apertado na filha – agora vou lá fazer o jantar. Você me ajuda? – Rukia assentiu afirmativamente – então vamos. Só mais uma coisa, meu bem: sei que está muito apaixonada por este rapaz, mas, por favor, controle por mais um tempo seus desejos. Afinal, o mundo está cheio de rapazes que só querem se aproveitar das garotas. Então, antes de entregar-se a ele, é melhor ter mais certeza dos sentimentos dele, para não se magoar. Certo?

- Sim – Rukia controlou-se, sem coragem de contar à mãe que ela e Ichigo já haviam se amado.

- E perdoe o seu irmão, meu bem... ele te ama demais, por isso cuida tanto de você... Sei que ele não agiu da melhor maneira, mas ele está muito triste por ter brigado com você...

- Ren me magoou muito, mãe... Atreveu-se a chamar-me de uma qualquer! E chamou Ichi de imundo! – suspirou, sentindo-se zangada novamente – Mas vou me esforçar... Afinal, não consigo mesmo ficar muito tempo brava com aquele baka...

- Fico feliz em ouvir isso, filha... agora vamos, que daqui a pouco seu pai já chega, e com certeza estará com muita fome.

Dito isto, ambas se dirigiram para a cozinha, onde prepararam o jantar e conversaram mais sobre Ichigo. Rukia mal podia esperar pelo próximo dia, quando convidaria seu amado para conhecer sua família.