Eles aproveitam o feriado na praia e Larissa esquece a briga que teve com a avó. No domingo quando voltam pra casa Alice não se sente bem.

– O que foi moranguinho? – pergunta Daniel enquanto dirige.

– To com vontade de vomitar Daniel. Para o carro, por favor.

Daniel para o carro e Alice corre para vomitar. Volta para o carro pouco depois.

– Tudo bem Li, se sente melhor? – pergunta Larissa.

– Tudo bem gente, deve ser virose. Sempre que vou pra praia acabo ficando assim.

– Vou passar em um posto e comprar uma água de coco pra você, ajuda. – diz Daniel.

Quando chega à cidade Daniel deixa os amigos em casa e leva Alice para a sua.

– Ta tudo bem mesmo moranguinho? Quer que te leve ao médico?

– Não precisa amor, to bem. Acho que comi algo na praia que não me fez bem e acabei colocando pra fora, já estou melhor, sério.

– Posso ir pra casa tranqüilo então?

– Pode sim, qualquer coisa eu grito você.

– Ta bom então. Até amanhã. – diz se despedindo com um beijo.

Cerca de uma hora depois que já estavam em casa Larissa liga para Alice. Ela também está passando mal.

– Deve ter sido alguma coisa que comemos Lari, amanhã estamos melhores. Qualquer coisa me liga.

No dia seguinte Larissa não vai à escola e deixa Alice e Bernardo preocupados.

– Ontem ela me ligou dizendo que também passou mal, não deve ter melhorado.

– Quando sair daqui vou a casa dela.

– Vai sim Bê, diz que não fui por causa do estágio.

À tarde Bernardo vai visitar Larissa. Ele toca a campainha, mas ninguém atende. Depois de insistir muito ele vê que Larissa está indo atendê-lo. Está branca como um papel.

– Meu Deus gatinha, o que você tem?

– Não paro de vomitar desde ontem à noite. Acho que comi algo na praia que atacou meu fígado. A Alice também estava assim ontem lembra?

– Lembro, mas hoje ela foi pra escola. Você piorou então.

– Deve ter sido.

– E a sua avó, cadê?

– Lá dentro vendo TV.

– Ela ta vendo seu estado e nem liga?

– Bernardo, é da minha avó que estamos falando. – diz com ironia.

– Vamos, vou te levar ao médico.

– Não precisa, amanhã vou estar melhor.

– Fica quieta, você vai querendo ou não.

Bernardo leva Larissa a um hospital não muito longe dali. Eles ficam horas até ela ser atendida. Quando finalmente passa pelo médico ele diz o que ela já desconfiava. Virose.

Ela toma soro na veia e volta pra casa. Bernardo entra e a deixa no quarto. A avó dela não está em casa.

– Pronto, agora descansa. Se amanhã não melhorar me liga e a gente volta no hospital.

– Obrigada Bê.

– Não tem do que me agradecer. Além de minha amiga você é minha namorada agora esqueceu? Tenho que cuidar de você em dobro.

Larissa dá um riso fraco e dorme. Bernardo vai embora trancando a porta e jogando a chave pela janela como quando faziam quando Larissa ficava de castigo quando eram crianças.

No dia seguinte Larissa vai à escola, mas ainda está fraca.

– Ta tudo bem gatinha? Porque não ficou em casa?

– To melhor Bê, obrigada, só to meio fraca ainda.

– Você comeu alguma coisa?

– Tomei um copo de vitamina antes de sair.

– Bom qualquer coisa pede pra Alice me chamar ta? Agora tenho prova, tenho que ir.

Bernardo a beija e sai. Alice vê a amiga entrar na sala e vai falar com ela.

– Oi Lari, o Bê me falou de ontem. Você está melhor?

– To sim Li, valeu.

Durante as aulas Larissa não parece nada bem. No fim das aulas Alice vai com ela até o banheiro e ela vomita mais uma vez. Assustada Alice manda um torpedo pra Bernardo que assim que termina a prova vai até elas.

– O que aconteceu? – diz ele ao chegar e ir direto à direção de Larissa.

– Ela ta mal Bê, dormiu a aula toda e agora vomitou de novo. Melhor voltar no médico.

Eles levam Larissa até a diretoria e eles ligam para a casa dela. Ninguém atende.

– Onde está essa velha quando se precisa dela? – diz Bernardo nervoso.

– Deixa Bê, hoje eu to de folga no serviço, vou levar ela no médico.

– Você pode me fazer esse favor Alice? Tenho jogo hoje e não posso faltar.

– Fica tranqüilo, eu cuido dela.

Elas saem da escola e Alice chama um táxi. Por sorte ela havia recebido seu salário no dia anterior.

Chegando ao hospital Alice leva a amiga para a emergência e explica o quadro. Depois de um tempo, não tão longo quanto da primeira vez Larissa é atendida. A médica que a atende pede alguns exames, entre eles um de sangue. Depois de algumas horas esperando, a médica as chama pra conversar.

– Minha jovem, qual a sua idade? – pergunta a Larissa enquanto faz algumas anotações.

– Tenho 16.

– Tem vida sexual ativa?

Meio sem graça Larissa confirma com a cabeça.

– Bem, isso me dá mais certeza ainda. Larissa, você está grávida.

– Grávida? A senhora tem certeza? – pergunta Alice.

– Praticamente, só estou no aguardo do resultado do exame de sangue que pedi.

– Meu Deus Alice, eu não posso estar grávida, não posso.

– Calma Lari, fica calma, ainda não é certeza.

Batem à porta da sala da médica e lhe entregam o exame. Ela não estava errada.

– Pois é Larissa, você está grávida, sem dúvida alguma, só não posso precisar o tempo de gestação sem um ultra-som.

– O Bernardo vai me odiar Alice, vai me odiar.

– Não vai claro que não vai. – diz tentando acalmar a amiga.

– Minha avó vai me matar, ela vai me matar.

– Calma Larissa, calma. – diz Alice com um tom nervoso na voz. – Vou ligar pro Daniel vir buscar a gente.

Algum tempo depois Daniel chega e encontra Larissa chorando. Alice explica tudo o que aconteceu.

– O Bernardo já sabe? – pergunta Daniel.

– Ainda não, ela ta com medo de falar, acha que ele vai ficar com raiva dela.

– Ele não pode ter raiva dela, ele também vacilou e agora tem que se responsabilizar.

– Eu também acho, mas ela não quer falar ainda. Vamos comprar um teste de farmácia pra confirmar. Vou ligar pra avó dela e dizer que temos um trabalho pra fazer e dizer que hoje ela vai dormir em casa. Com isso ganhamos tempo.

– Certo, vamos agora, passamos em uma farmácia no caminho.

Já na casa de Alice eles conseguem distrair os pais dela. Não falam nada sobre a gravidez de Larissa.

– Vai ao banheiro e faz o teste. Vou ligar pro Bernardo e pedir pra ele vir pra cá.

– Ele vai me odiar Alice, não chama ele não.

– Não vai te odiar coisa nenhuma, vou ligar pra ele agora.

– Espera, deixa eu fazer o teste primeiro.

– Ta bom, quando sair o resultado me fala e eu ligo.

Poucos minutos depois Larissa sai do banheiro com o resultado do teste nas mãos. Positivo. Ela abraça Alice e chora. Era hora de ligar pra Bernardo.

Daniel o espera no portão, para que ele não faça com que os pais de Alice desconfiem do que está acontecendo.

– O que foi Daniel, a Larissa piorou? – pergunta Bernardo ao chegar.

– Relaxa cara, ela ta no quarto com a Alice, estão te esperando, vai lá.

Bernardo bate na porta entrando em seguida. Vê Larissa chorando com a cabeça no ombro de Alice e se assusta.

– O que foi o que aconteceu? – diz se sentando o lado de Larissa.

– Vou deixar vocês sozinhos, qualquer coisa me chame. – diz Alice saindo do quarto.

Larissa continua chorando e Bernardo não entende nada. Ele levanta seu rosto e pergunta o que houve. Ela chorando mostra o teste de gravidez pra ele.

– De quem é isso Larissa? – pergunta surpreso.

– Meu Bernardo, eu to grávida. – diz aos prantos.

Ele levanta e fica andando pelo quarto desnorteado. Olha o teste a todo o momento, como que na esperança de ter visto o resultado errado.

– Grávida. Meu Deus Larissa, você tem 16 anos e eu 17, como isso aconteceu? Como, como, como? – dizia por diversas vezes.

– Você sabe tão bem quanto eu, foi naquele dia que você insistiu pra gente transar sem camisinha.

– Mas foi só aquela vez. – diz parecendo ainda não entender a gravidade da situação.

– Mas foi o suficiente. – diz ainda chorando.

Bernardo senta ao lado dela ainda com o resultado nas mãos. Coloca a cabeça entre os joelhos e fica assim por algum tempo. Larissa ainda chora, mas está mais tranqüila. Ele levanta a cabeça e olha pra ela.

– Como você soube?

Hoje à tarde quando a Alice me levou no hospital. A médica desconfiou, e pediu um exame de sangue pra ter certeza. Deu positivo, mas eu quis fazer o teste de farmácia pra ter certeza. Deu positivo também.

– Isso eu já vi. – diz seco.

– Não fala assim comigo Bernardo, não tive culpa.

– Não teve? Se tivesse tomado a pílula do dia seguinte como eu falei não estaríamos assim agora Larissa. Isso tudo só aconteceu por uma frescura sua. Ta feliz? – diz com a voz alterada.

– Não foi frescura, era minha saúde.

– Sua saúde, de que adiantou pensar na sua saúde agora?

Ao ouvir as vozes alteradas Alice e Daniel entram no quarto.

– O que está acontecendo aqui? Ainda bem que meus pais foram ao mercado.

– Eu disse que ele ia me odiar não disse Li? O Bernardo me odeia. – diz chorando ao abraçar a amiga.

– Bernardo, o que deu em você? – pergunta Alice consolando a amiga.

– Não sei Alice, não sei. – diz saindo sem olhar pra trás.

– Vou atrás dele, acalma a Larissa. – diz Daniel saindo atrás de Bernardo.