Idiota! Como não pensei nisso? Eu estava tão preocupado com o fato de que eu seria um mentor esse ano, e simplesmente não lembrei que eu poderia ser mentor dos meus filhos. Mas simplesmente, o pior não é isso. O pior é ter que ver eles dentro daquela arena.

“Eles”? Como assim eles? E se o Lucca e o Christopher forem sorteados? Como fica? Eu terei que escolher um para deixar vivo, e simplesmente deixar o outro morrer?

Não. Eu jamais faria isso com os meus filhos.

–Não pense nisso. Isso não vai acontecer. –digo, tentando acalmá-lo, mas parece que eu estou tentando me acalmar.

–Ah, claro. Com a sorte que a gente tem, não vou ser escolhido. –ele diz, em tom de ironia. –Você e mamãe foram escolhidos para os Jogos. Saíram de lá vivos por sorte, muita sorte. Lembrando que você quase morreu. No ano seguinte, mamãe foi escolhida novamente. No mesmo ano, meu tio-avô morreu envenenado, o que pode ter sido uma armação. Tudo é culpa da Capital! –tapo a boca dele no mesmo instante.

Ás vezes vemos pessoas do nosso distrito sendo executadas por traição. Até aqui, no Distrito 2. E não é porque Chris é filho de um vitorioso que ele não vai ser executado.

–Bem... Isso foi culpa do destino. Veja só: Se eu e sua mãe não tivéssemos ido aos Jogos, não estaríamos casados! E você não iria existir! –digo, tentando animá-lo.

–Grande coisa. Você e mamãe já se falavam. –ele responde, voltando a lavar a louça. Tento esquecer a ignorância dele e respondo calmamente.

–Olhe, eu sei que você está nervoso. É normal, eu também ficava. Mas se você ficar pensando em coisa ruim vai atrair essa coisa ruim. Minha mãe sempre me falava isso.

Vou até onde Clarisse e Lucca estavam e os ajudo na tarefa de casa. Ao acabar, pergunto:

–Vocês não tinham que se arrumar para o treino?

Lucca olha para mim, pensa um pouco e sai correndo. Clarisse pergunta:

–Eu também vou? –eu sei que ela estava doida para ir.

–Sim! E agora! –pego ela no colo e levo até a Clove, que vai levar eles para o treino.

–Papai, você também vai, né? –ela pergunta. –Por favor!

Sorrio e confirmo com a cabeça.

Christopher e Lucca avisam que já estavam prontos e vamos todos para o treino.

Chegando lá, os meninos vão começar a treinar enquanto eu faço a matrícula de Clarisse. Clove fica do meu lado com Clarisse. Um homem chega e conversa com outro que estava do seu lado. O cara que estava falando com o outro vai embora. O homem que restou chega, nos observa, e sua expressão muda para alguém que se lembra de algo.

–Ei! Você é a Clove, certo? –ele diz sorrindo.

–Sou eu, sim. –ela responde, como se também se lembrasse de algo.

–Lembra de mim? Sou eu, o Jonathan.

–Aaah, sim! Eu me lembro de você! Éramos amigos no jardim de infância!

–Isso mesmo! Quanto tempo, né? Crescemos tanto, mudamos tanto... E você ficou tão bonita! –ele diz isso na maior cara-de-pau, como se ele não visse a Clarisse nos braços de Clove, e como se eu não existisse.

Tudo bem, está certo que minha esposa é linda, mas só eu posso falar dela assim. Uma onda de fúria cresce em mim, tento me controlar, mas o último cara que elogiou a Clove na arena acabou com uma lança nas costas.

Dou um soco bem dado na cara dele. Ele cai no chão e se recompõe.

–QUE ISSO CARA, TÁ DOIDO?

–EU TO DOIDO, EU TO DOIDO?! VOCÊ QUE TÁ DOIDO! –Digo em resposta.

–Cato, que isso! Calma! –Clove diz desesperadamente. –Ele é só um velho amigo!

–Amigo, né, aham! Esse cara ta querendo ser mais que um amigo! Você não vê?!

–Claro que não! Eu só tenho olhos para você!

–Espera. Ela é sua esposa? –ele pergunta sonsamente.

–Não, claro que não! É minha irmã! –digo em tom de ironia. –Óbvio que é né!

–Eu não sabia!

Dou um olhar mortal para ele, e ele sai do centro de treinamento com a mão na boca, que estava sangrando.

–Cato! Nunca mais faça isso! Que vergonha! –Clove sussurra brava para mim. Ela coloca Clarisse no chão, sai brava e vai atrás do Jonathan.