Eu estava tonta. Era tudo um clarão. Eu estava deitada no chão, com a minha roupa dos Jogos. A mesma roupa, mas limpas. Eu não tinha machucados, não havia ferimento na perna. Levanto do chão. Havia um sofá vermelho no canto da enorme sala. No sofá, havia uma pessoa sentada. Só falta ser o Felix, veio me matar. Ou eu estou morta?

A pessoa se levanta do sofá e caminha calmamente em minha direção. Não consigo ver a pessoa. Ela já está perto de mim. Sim, agora eu consigo ver a pessoa. A pessoa em que eu confiei desde pequenininha, a pessoa em quem eu confiei minha vida. A pessoa em que eu entreguei meu coração.

Ele anda até a mim e me abraça. Seus braços calorosos me envolvem. Ele me dá um beijo na testa, e a sensação que eu sempre sinto quando estou com ele volta.

Proteção.

Eu não estou morta. A Capital me resgatou nos Jogos. Eu tenho certeza. A Capital é a única que pode deixar a minha pele lisa. Eu estou em uma sala de visitas, e obviamente, Cato foi o primeiro a me visitar. Meu corpo relaxa. Estou segura. Não estou mais nos Jogos.

–Ouça. Não temos tempo. -ele diz segurando meu queixo.

–Porque? O tempo de visita é curto? -pergunto sorrindo.

–Bem, digamos que sim. –ele me abraça. –vamos apenas aproveitar esse tempinho antes que a visita acabe. –ele me beija. –eu te amo, Clove. Não se esqueça disso. –ele sussurra, enquanto me dá um abraço apertado. Nos braços de Cato, eu desapareço.

–Também te amo. –sussurro. Sinto algo escorrendo e caindo em meus ombros. –Porque está chorando? –pergunto.

–Clove... Você não está na Capital. Isso é um sonho. Felix Craster te deu uma facada em um ponto vital em sua perna. Você perdeu muito sangue - ele dizia entre lágrimas –Brutus te achou, ouviu seu grito e te resgatou, mas não dá para fazer nada. Você está morrendo.

Choque. A sensação de segurança some.

–COMO ASSIM ESTOU MORTA?! VOCÊ TAMBEM MORREU?!

–Não. Isso é da sua mente. Você me quer ver de novo antes de morrer. Você tem esperanças que eu consiga te salvar. Você quer se agarrar em algo, para que possa viver. Mas eu não estou na arena. Não posso te salvar.

Começo a chorar. Eu apenas quero acordar desse pesadelo, e que quando eu acordasse que eu esteja em meu quarto, com meu pai e minha mãe sorrindo, dando sensação de segurança e felicidade. Quero ver novamente Barker, correndo e abanando o rabinho e latindo de felicidade quando chego em casa. Quero ver novamente o meu irmão, falando piadas, fazendo palhaçadas, tudo para ver um sorriso em meu rosto.

Mas isso não é possível, porque a Capital é cruel. Porque Cato não estava na arena quando ouvi os seus gritos falsos, porque eu cai na armadilha. Porque Felix Craster me encontrou. Porque estou morrendo.