Meu pesadelo em carne e osso. Félix Craster. Meu pesadelo não. A minha morte. Ele estava com um facão e um machado na mão. Uma lança presa na mochila. E eu, sem nada, praticamente. Ele me vê, me analisa, sorri e fala:

–Ora, ora. Vejo que a menininha agora irá morrer. Agora você sabe o que as pessoas que você matou sentiram. O medo. Medo de nunca mais ver a sua família, seus amigos, de ver a grama verde, de respirar. Não se arrepende dos seus assassinatos? Eu não me arrependo. Não me arrependi de quando tive que matar meu amigo na arena. De quando tive que matar uma pessoa que me salvou na Cornucópia. E agora, não terei medo de te matar.

Pego a minha faca, que parecia uma faca de borracha perto da faca dele, e tento encravar a faca nas suas costas. Ele segura meu braço.

–Tentando cair sem lutar? Uma bela escolha. Mas uma escolha errada. -ele gira meu braço para trás e sinto uma dor extrema. Grito.

–Não sou desses de torturar, sabe. Vamos acabar logo com isso. -ele pega o facão e encrava na minha perna. A dor vem na hora. -Ok, retiro o que eu disse. -ele me solta e me deixa com a minha perna sangrenta no chão. -mofa aí! -ele diz e sai correndo. Filho da p***! Tento estancar o sangue que sai. O importante nessa hora é estancar o sangue, se não morro de hemorragia. Tiro um pedaço da minha blusa e tento amarrar na minha coxa. Dói muito. Começo a chorar. Não é bobeira quando as pessoas que eu conheço que foram para os Jogos, que quando quase morreram, viram as suas vidas passarem diante de seus olhos.

Cato e eu no treinamento, meu primeiro dia na escola, Cato me chamando para sentar no lado dele no recreio, minha mãe me abraçando, meu pai e eu conversando sobre os Jogos, Jason me batendo...

A maioria das lembranças são de Cato. De meu primeiro amor.

Cato me salvando nos Jogos. Cato dizendo que iria morrer para me salvar. Pena que ninguém pode me salvar agora. O pedaço de blusa já estava encharcado de sangue. Provavelmente tenho meia hora de vida. O ferimento é fundo. Eu só queria o abraço protetor de minha mãe agora. Da proteção de Cato. Eu só queria olhar pela última vez naqueles olhos calorosos, cheios de alegria e de vida. Espero que Cato não esteja me vendo agora, chorando.

Acho que seria melhor eu morresse com o pescoço quebrado, rolando o morro. Na verdade, seria melhor eu não morrer.

Sim, eu me arrependo de ter matado Katniss. Não por ela, mas sim pela sua irmã. Sua irmã, de aparentemente, uns doze anos.

Meus olhos começam a se fechar. Tudo começa a ficar preto. Sinto a vida se esvaindo do meu corpo. Meu olho está quase se fechando, quando chega alguém. "Tarde demais" penso. Já estou morrendo. Não tenho salvação.