Acordo com meu pai gritando. Presto atenção nos gritos. Na verdade, ele está torcendo. Percebo que a televisão está ligada, os Jogos começaram. Meu pai, como um bom morador do distrito 2, adora os Jogos Vorazes. Troco de roupa e vou para a sala. Sento no sofá. Ele grita na esperança de que o tributo do distrito 4, Finnick, morra.

–Porque você quer que ele morra? -tudo bem, eu também deveria torcer para que ele morresse, mas não vejo motivos.

–Porque sua mãe acha ele um deus grego. -ele responde, sem tirar os olhos da tela. Começo a rir. Meu pai com ciúmes? Fala sério. Finncick joga um tridente que ele achou na Cornucópia no peito de um homem. Ele pega umas armas e uma mochila e vai em direção a uma selva. Observo a arena. Água. Parece que ninguém vai morrer de sede nessa edição dos Jogos. Depois da água, uma praia. Depois da praia, uma selva. Olho para a Cornucópia e um tributo é decepado. Quase vomito. Saio da sala e vou para o banheiro. Lavo o rosto. Vou para a cozinha e pego a ração para alimentar Barker.

Vou para a lavanderia e lá estava ele, abanando o rabinho e latindo. Coloco a ração no seu pote e ele corre para comer. Troco a água do outro pote dele. Barker acaba de comer e bebe água. Saio da lavanderia e guardo o pacote de ração. Olho para trás, e vejo que Barker me seguia. Pego ele e vou para a sala. Sento no sofá e começo a brincar com Barker. Olho para a televisão e vejo que agora as câmeras estavam focadas na mulher do 12. Ela estava com um ferimento na perna, e tinha apenas uma mochila e estava sozinha. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo, e ela fazia uma cara de dor e colocava a mão na cabeça. Ela caminha pela selva. Ela senta debaixo de uma árvore e abre a mochila. Uma corda, um pacote de biscoitos, um pacote de carne seca, uma garrafa e um saco de dormir. As câmeras mudam e vão para Finnick. Ele está com uma senhora e uma garota, reconheço a garota, Johanna, distrito 7. Não reconheço a senhora. A câmera muda e aparece um homem no chão com uma poça de sangue, e com uma faca nas costas. Uma mulher do lado dele estava falando sem parar: "Tick tock". Barker roda no meu colo e deita. Dou carinho para ele. Minha mãe chega e senta do meu lado.

–Finnick morreu. -meu pai diz. Nesse momento as câmeras voltam a mostrar Finnick e Johanna e a senhora. Minha mãe olha para o meu pai com cara de "aham, tá, ele tá tão morto que tá andando e falando". Meu pai revira os olhos e minha mãe beija ele.

–Eca. -sussurro

–Eu ouvi isso. -minha mãe diz. As câmeras mudam e aparece o homem do 12, Haymitch, andando pela selva, sem nada. Ele estava com vários arranhões no rosto, talvez por causa da corrida na selva pela sobrevivência. Ele continua andando e vê pingos de sangue no chão. Eu iria me afastar, mas ele continua andando em direção dos pingos. Até que ele encontra a mulher do 12.

–Ora ora, estava acostumada com o bom e do melhor no distrito 12, e agora olha como está! -Haymitch diz com sarcasmo

–Mesmo eu sendo mulher do prefeito, não quer dizer que eu tenha uma ótima vida. Perdi minha irmã no Massacre Quartenário, e parece que eu terei o mesmo fim. E por culpa sua ela morreu!

–Culpa minha?! Ela que quis desfazer a aliança! -ele se defende

–Maysilee não teve nenhuma culpa! Se talvez você tivesse seguido caminho com ela, ela não estaria morta! -ela fala

–Se eu tivesse seguido caminho com sua irmã, eu poderia ter protegido ela, sim, mas como eu iria saber que ela iria ser atacada por um bando de pássaros?! Como eu iria defender ela?!

–A gente defende quem ama! -a mulher acusa. A expressão de Haymitch fica séria.

–Você não sabe de nada. Nada! -ele diz bravo. A mulher começa a falar, mas ela se interrompe colocando a mão na testa, ela reclama, e do nada, desmaia.