Sem Dizer Adeus escrita por Jaque de Marco


Capítulo 9
Capítulo 8 - Outra metade




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Uma brisa gelada fez Hermione estremecer. Sentiu alguém cobri-la com um cobertor com leve cheiro de amônia, mas não olhou quem era. Na verdade, Hermione não sabia há quanto tempo estava encarando a rua asfaltada, talvez minutos, horas... Quem sabe dias? Ouvia vagamente uma agitação ao redor, mas ela sabia que se levantasse os olhos veria pequenas chamas consumindo uma carcaça preta do que antes era um prédio. A sede de sua Ong, o lugar onde morava.

“Hermione?”

Não, não queria atender quem quer que fosse. Por que não a deixavam simplesmente em paz? Não viam que no momento ela só queria ficar ali, quietinha? Não viam que ela não agüentava mais sofrer e ver que sua vida estava definitivamente acabada? Não viam que ela não queria encarar a realidade para não chorar desesperadamente, como uma criança?

“Hermione?” a bruxa ouviu novamente alguém chamar seu nome. A voz estava tão carregada de pena que fez encher seus olhos de lágrimas. Não adiantava continuar fingindo que nada havia acontecido. Hermione levantou os olhos e viu Harry curvado, com o rosto na altura ao dela.

“Tome este copo d’água, vai te fazer sentir melhor”, disse ele entregando um copo plástico cheio. Hermione não sentia sede, nem frio, mas as pessoas ao redor pareciam sentir por ela. Olhando em volta, viu que estava sentada no degrau da porta traseira de uma ambulância trouxa que estava parada, com as portas abertas, em frente à sede do FALE.

Passando os olhos na rua, Hermione pôde ver que havia ainda alguns bombeiros trouxas espirrando água nas pequenas labaredas que ainda restavam no local e, além dos trouxas, ela percebeu que haviam bruxos do Quartel de Aurores espalhados pelo local também. Harry agora conversava com seus subordinados com uma expressão preocupada no rosto. Mesmo com a presença de aurores, nada poderiam ter feito com tantos trouxas em volta, provavelmente Harry devia ter usado algum feitiço para que os bombeiros acreditassem que eram policiais trouxas investigando o caso. Por um instante Hermione se arrependeu de ter escolhido viver em um bairro quase completamente trouxa. Se houvesse mais bruxos, quem sabe o fogo não teria consumido sua sede de trabalho.

Hermione levantou-se da ambulância e caminhou enlaçada em seus próprios braços. O local estava se acalmando aos poucos; os bombeiros já haviam contido as chamas que tomaram parcialmente as casas vizinhas também.

Sua casa estava irreconhecível. Tudo se transformara em brasa. Algumas paredes ao fundo ainda permaneciam em pé, parcialmente escuras, mas, de resto, não sobrara nada. Um dos bombeiros, ao vê-la, falou sobre o perigo de ficar ali e a conduziu novamente para perto da ambulância.

“Srta Granger?”

Hermione reconheceu Marcus Belby ao atender o chamado. O bruxo estava parado ao seu lado, vestido de maneira que poderia ser passado facilmente por um trouxa trajado elegantemente, mas Hermione sabia que essa era uma das roupas oficiais de Aurores.

“Sou Marcus Belby. Preciso que a senhorita me acompanhe até o ministério. Há algumas perguntas que precisam ser feitas” depois de um momento de hesitação o bruxo continuou “Uma grande quantidade de magia foi usada nesse incêndio. O Quartel dos Aurores é encarregado de investigar casos assim”.

Não queria ir, pelo menos não para qualquer lugar que fosse interrogada a falar qualquer coisa sobre o que acontecera nessa noite. Sabia que Harry não deixaria que tomassem mais tempo que o necessário, mas ela queria mesmo era esquecer... Quem sabe deitar e chorar escondido, como já fazia há anos.

“Não agora, Sr Belby. Hermione precisa descansar. Depois me encarrego de levá-la ao Quartel de Aurores”. Joshua estava parado há alguns passos dela. Hermione nunca ficara tão satisfeita em ver alguém. “Como você está?”.

“Bem”, embora sua resposta não lhe soou verdadeira, como já imaginava.

“Desculpe, mas quem é o senhor?” Belby perguntou visivelmente intrigado.

“O noivo dela”.

Hermione não quis saber de mais nada. Estava perturbada o bastante para esperar e ouvir o que Belby diria, aproximou-se de Joshua e deixou ser abraçada pelo bruxo enquanto caminhavam lado a lado. Todos seus esforços no momento eram para caminhar. Agora só o que pensava era ir com Joshua onde quer que fosse, qualquer lugar longe dali. Não agüentava mais desviar os olhos da carcaça de sua casa. Teria que resolver toda aquela situação, sim, mas não agora.

“Me abrace forte”. Joshua falou assim que se afastaram do prédio “Eu te conduzo”.

Hermione abraçou Joshua como há tempos não fazia. Sentiu-se protegida novamente. Parecia que nada poderia fazer-lhe mal, nem mesmo quando sentiu seu corpo ser comprimido, como se estivesse entrando em um cilindro invisível, quando eles aparataram. Simplesmente fechou os olhos e encostou sua cabeça no peito do bruxo.

Sabia que tinham chegado a algum lugar, mas não quis abrir os olhos. Simplesmente deixou seu rosto ser erguido pelas mãos carinhosas de Joshua. Ele segurou o queixo de Hermione e a fez olhar seu rosto.

“Vai ficar tudo bem, eu prometo”.

Enfim, as lágrimas caíram de seus olhos. Não poderia mais segurar seu choro. Novamente abraçado a Joshua, Hermione chorou. Por que tudo aquilo estava acontecendo com ela? Por que a felicidade não gostava dela, não gostava de sua vida e vivia fugindo? Sentiu quando Joshua a tomou pelos braços, carregando-a no colo. Hermione passou seus braços pelo ombro do bruxo e, com o rosto afogado em seu ombro, chorou.

Joshua a deitou muito suavemente em uma cama encostada a uma parede. Ele tirou com cuidado os braços de Hermione em volta de si. Sentia as lágrimas escorrendo em seu rosto molhado com menos intensidade. Sua respiração estava se normalizando aos poucos enquanto assistia o quão cuidadosamente Joshua desdobrava um grosso lençol claro e a cobria. Após ajeitá-la na cama, como somente alguém que realmente se importa faria, ele sentou-se na beira, encarando-a da maneira mais gentil possível. Hermione não mais chorava. Joshua passou delicadamente a mão no rosto dela, que fechou os olhos. Sentiu um leve beijo em seus lábios e ainda ouviu um “boa noite, meu amor” antes de cair completamente no sono.

Hermione acordou com um cheiro gostoso de café. Dormira um sono pesado, sem sonhos. Sentia seu corpo ligeiramente dolorido, mas sua mente estava mais clara.

Sentou-se na cama, após espreguiçar-se preguiçosamente, e olhou ao redor. Viu-se em um cômodo pouco iluminado. Hermione sabia que era dia devido às frestas de luz que entravam pelas janelas de madeiras pregadas umas nas outras. Ao lado da cama havia uma cômoda baixa, meio torta, de madeira, que apoiava um abajur em cima. O quarto era pequeno, mas havia duas portas opostas nele. Hermione ajeitou os cabelos como pôde e, ainda sonolenta, caminhou até a porta a sua frente. A casa possuía outro cômodo. Após dar uma rápida olhada Hermione presumiu que era uma cozinha. Havia apenas uma mesa de madeira com três cadeiras, uma pequena pia e uma “caixa” (literalmente) que Hermione acreditava ser a geladeira.

Caminhou até a pia e examinou o conteúdo dentro de uma garrafa que estava lá em cima. Era café. Tudo que Hermione precisava no momento. Tomou alguns goles usando a tampa da garrafa. Não havia sinal de Joshua; ele provavelmente havia lhe preparado o café e saído.

Voltou para o cômodo onde havia dormido. Não queria mesmo ir para o Quartel de Aurores com Joshua. Era muito grata a ele, mas, agora, com a cabeça no lugar, estava decidida que precisava resolver essa situação sozinha, de uma vez por todas. Pensou em um lugar bem reservado perto da cabine telefônica do Ministério da Magia que sempre usava e, contrariando qualquer recomendação médica, desaparatou sozinha.

“Não notou nada de estranho esta semana, Srta Granger?”

“Não passei muito tempo na minha casa nesses últimos meses. Estava internada no St Mungus”, Hermione não saberia dizer com quantos bruxos ela já havia conversado sobre isso. Desde que aceitara ser candidata à ministra da magia já tivera que conversar com aurores diversas vezes.

Não havia muito tempo que Hermione chegara ao Quartel de Aurores. Assim que se identificou na entrada já logo a chamaram para prestar depoimento. Harry ainda não havia chegado. Uma pena, pois Hermione sabia que ele seria muito mais objetivo que aquele auror novato.

“Ficou internada no St Mungus?”

“Sim. Sofri um atentado”

“Que tipo de atentado?”

Hermione teve vontade de desistir de conversar com o auror. Como ele podia pegar seu depoimento sem saber nada sobre sua vida? Tinha quase certeza que o bruxo a sua frente não sabia nem que ela era candidata à ministra da Magia. Ele não lia jornal?

Antes que o auror pudesse lhe fazer qualquer outra pergunta a bruxa que trabalhava na recepção abriu uma fresta da porta.

“Sr Willians, desculpa entrar assim, mas tem aqui um bruxo que diz que a Srta Granger não pode dar o depoimento sem a presença dele” ela falava só com a cabeça para dentro da sala.

“Não pode dar o depoimento sem ele?”

Antes mesmo de Hermione poder presumir quem era, a bruxa que estava na porta foi empurrada, dando espaço para um bruxo loiro entrar. Draco Malfoy era realmente um abusado, Hermione concluiu, mesmo com o passar do tempo ele continuava o mesmo. “Tomara que prendam-no por desacato a autoridade”, pensou ela.

“Que absurdo é esse, sr Malfoy?” o auror parecia sem saber o que dizer ou fazer. Era evidente que era novato na profissão e Malfoy pareceu perceber isso.

“Sou assessor, agente e advogado da Srta Granger. Ela não pode ser interrogada sem a minha presença” enquanto falava Malfoy ia depositando sua maleta em cima da mesa do auror.

“Meu advogado? Malfoy, não estou sendo acusada de nada”

“Não imaginou como essa sua visita ao quartel de aurores pode ser prejudicial à campanha?” o bruxo falava quase num sussuro, perto de Hermione “Daqui a pouco terá vários jornalistas no lado de fora, inventando matérias sobre o motivo de estar aqui”

Hermione estava começando a se irritar. Sua casa e seu trabalho foram queimados num incêndio criminoso e Malfoy só pensava naquela maldita campanha.

“Vou pedir que o senhor se retire” o auror falava, mas sem pulso firme.

“Você não vai querer ir contra a constituição bruxa, vai?”.

Hermione sabia que na constituição não havia nada escrito sobre a obrigatoriedade da presença de advogados em depoimentos de testemunhas, mas o auror pareceu extremamente confuso com a pergunta.

“Willians, pode deixar que eu resolvo isso”. Harry Potter apareceu inesperadamente à porta. Parecia tão imponente como antes, vestindo sua capa preta com um grande bolso nas laterais de onde se via o formato da lendária varinha que matara Voldemort há anos. Ele tomou o lugar de Willians que rapidamente saiu da sala, visivelmente aliviado. Harry estava agitado, como se estivesse chegando de um árduo serviço. Hermione pensou em perguntar a ele o que estava acontecendo, mas achou melhor deixar para depois já que Malfoy estava com eles na sala.

“Para que está aqui, Malfoy?”

“Prefiro acompanhar o depoimento da minha cliente, Potter. Se não se incomodar, é claro”

“Hermione?” Harry perguntou querendo a confirmação da bruxa.

“Por mim tudo bem, Harry”.

Visivelmente a contragosto Harry pegou os papéis do inquérito do incêndio e começou a examiná-los.

“Como já dissemos, Hermione, foi constatada uma grande quantidade de magia no incêndio do ontem. Além da magia usada no início do fogo, provavelmente fora usado o feitiço ‘chama sem fim’, pois as labaredas estavam visivelmente incontroláveis”.

“Não usaram o detector de magia?” Malfoy falava como se quisesse achar falhas em Harry. Era claro que a rixa entre os dois ia muito além da escola. Hermione sempre suspeitava algo sobre um namorico de Malfoy com Gina, mas nunca teve suas suspeitas confirmadas.

“Somos profissionais, Malfoy, é claro que usamos! Mas, infelizmente, não encontramos muita coisa. O detector de magia conseguiu captar alguns sinais nos arredores. Como na região onde você mora, Hermione, não há muitos bruxos, estamos esperançosos de encontrarmos algo relevante. Estou para receber o resultado da perícia”.

“Pelo visto os profissionais não são vocês” Malfoy falou com a voz ligeiramente baixa, mas alta o suficiente para Harry ouvir.

“Se você veio aqui somente para atrapalhar eu vou ter que pedir que saia, Malfoy” Harry havia se levantado da cadeira e estava agora com as duas mãos apoiadas na mesa.

“Por favor, será que podíamos continuar o depoimento e terminar logo com isso?” Hermione estava cansada daquela situação. Apesar de ainda estar abalada com o incêndio da noite anterior, estava lúcida o suficiente para saber que aquela discussão não levaria a nada.

“Está certa” disse Harry depois de sentar-se novamente, embora fosse visível que ainda estava irritado.

“Senhor” o auror novato estava agora à porta “Chegou o resultado da perícia no caso do incêndio de ontem”

Harry pegou o envelope pardo das mãos do auror e retirou de lá alguns pergaminhos. O bruxo lia atentamente cada linha e Hermione imaginava o que podia estar escrito nelas. Não tinha esperança de descobrir muita coisa.

“Temos aqui a lista de alguns bruxos que usaram algum tipo de magia nos arredores de sua casa nas cinco horas antes do atentado. Ninguém muito suspeito até agora. Todos limpos, sem ficha no quartel”.

“Incompetência”

Antes que Harry pudesse comentar algo sobre a provocação feita por Draco Malfoy ele parou em uma linha específica no segundo pergaminho da perícia.

“Hugh Callis tem ficha no quartel de aurores.”

“Quais acusações, Harry?”.

“Uso de maldições imperdoáveis”

“Deixe-me ver” Harry entregou a ela a ficha que estava em suas mãos. Havia nomes, fotografias e pequenos detalhes sobre a vida de cada um na lista. Hugh Callis era um homem alto e robusto.

“Já vi esse bruxo antes” Draco falava enquanto tomava o pergaminho de Hermione “Eu o vi conversando com meu pai durante a entrega do prêmio ontem”.

“Tem certeza do que está dizendo, Malfoy?”.

“Potter, eu ando de olho nos passos do meu pai esses últimos meses por causa da campanha”.

“Ah, claro, a campanha. Hermione, eu te disse que isso não era boa idéia. Olha o resultado, você está sem casa e sem trabalho” Harry falava em um tom reprovador.

“Sem trabalho não. Uma candidata como ela tem muito trabalho pra fazer”.

“Essa candidatura só está colocando ela em perigo, você não está vendo!”.

“Então Hugh Callis é nosso principal suspeito?” disse Hermione tentando fazer com que os bruxos retomassem o assunto principal.

“Pelo visto sim. Mandarei agora mesmo uma coruja com um pedido de busca para ele. Se Malfoy estiver certo...” Harry falava com uma evidente cara de insatisfação “... acredito sim que encontramos nosso elo para colocar Lucio Malfoy na cadeia”.

“E assim acabar com a candidatura dele. Perfeito!” Malfoy falou entusiasmado.

“Mas vocês têm certeza que esse tal Callis pode ter incendiado o F.A.L.E. a mando de Malfoy?” Hermione sabia que havia grande possibilidade de ter sido Lucio o autor do atentado, mas não havia provas efetivas contra ele até agora.

“Certeza não temos, por isso mesmo preciso conversar com esse bruxo para, quem sabe, conseguirmos evidências”.

“Acho uma excelente idéia.” Malfoy falava enquanto pegava sua pasta em cima da mesa e se levantava, encaminhando-se para a porta. “Granger, não desapareça, teremos muito trabalho de agora em diante. Mandarei corujas com as boas-novas da campanha assim que puder”.

Hermione nesse instante se perguntava porque aceitou Draco Malfoy como assessor de campanha. Nada lhe vinha à mente; talvez estivesse desesperada demais.

“Não entendo como você agüenta esse Malfoy”, Harry falava calmamente, como se estivesse somente divagando sobre algum assunto.

Mesmo com suas suspeitas, era difícil para Hermione acreditar que por causa de uma concorrência com Lúcio Malfoy, perdera toda sua vida. Como aquele bruxo poderia ser tão baixo? Não bastara alguns meses em Azkaban para aprender? Não, raça de Malfoy não aprende nunca, são ruins por natureza.

“Como você está, Mione?” Harry perguntou em um tom ameno, bem diferente do tom de voz que usara quando Draco estava na sala.

“Cansada”. Esta era a melhor definição para o que estava sentindo. Sentia-se cansada, sem ter no que se apoiar. Quando perdera Rony, o F.A.L.E. fora sua válvula de escape, uma maneira de se ocupar e não enlouquecer. Mas e agora? O que seria dela?

“Conta comigo. Você não está não, ainda mais agora” Harry falou muito rapidamente e, sem dar tempo de Hermione comentar qualquer coisa sobre o que havia dito, completou “Mione, eu te prometo que vamos pegar quem está fazendo isso com você. Pode ter a certeza de que o culpado não ficará impune. Confie em mim”.

Harry sempre fora seu amigo, sempre confiara nele, mas, agora, era difícil acreditar em algo bom quando tudo que lhe acontecia era desgraças.

“Acho melhor ir, Harry”

“Tem para onde ir?”

Mesmo não querendo, o único lugar que lhe veio à mente foi àquela casa escura, toda trancada em que estava mais cedo.

“Tenho!”

“Que lugar é esse?”

Hermione viu Joshua sentado de costas quando ela aparatou de volta ao apartamento. O bruxo tinha ombros tão largos, tão viris.

“Bom, não posso chamar de casa, muito menos de lar, mas tem me servido de abrigo e refugio há alguns anos” o bruxo respondeu virando para vê-la.

“Obrigada por ontem” Hermione disse de repente, sem encará-lo. “Você ter cuidado de mim, mesmo depois de eu ter dito todas aquelas coisas pra você no hotel”.

“Não por isso”.

“Eu tenho sido grossa com você. Achava que era porque você sempre é tão misterioso, nunca entendo suas atitudes. Sempre odiei não entender algo, mas, na verdade, hoje eu vejo que fui grossa com você por outro motivo”

“Qual?” Joshua perguntou se aproximando de Hermione.

“Na vida agente encontra só um amor. Desde que somos gerados, nosso destino é encontrarmos a nossa outra metade para nos completarmos. Eu encontrei a minha metade quando comecei a estudar em Hogwarts. Quando o Rony entrou na minha vida eu percebi que nunca fora eu até aquele momento, nunca estivera completa. Quando fecho meus olhos e penso nos melhores momentos da minha só me vem à mente situações em que estive com ele. Nosso namoro, nossos beijos e até nossos desentendimentos sempre foram minha razão de ser feliz. Ele sempre esteve ali, sempre fora minha força quando eu não podia me erguer, fora minhas asas para que eu pudesse voar e, ah, eu voei. Fui ao céu de tanta felicidade! Éramos um casal perfeito dentre tantas controvérsias. Mas quando ele morreu, me vi sozinha como nunca. Não tinha mais razão para ser feliz. Na verdade eu me proibia de ser feliz. A minha outra metade tinha sido arrancada de mim, a minha metade mais alegre, mais bonita, mais positiva. Fiquei oca. Vivi simplesmente porque não tinha coragem de morrer, mas pedia aos céus que me levassem de encontro a ele de alguma forma. Então apareceu você, Joshua. De alguma maneira você me tocou. No início não entendi porque comecei a te amar, mas hoje vejo que te amei desde a primeira vez que o vi. Isso me assustou porque, como disse, na vida só encontramos um amor e o meu era Rony, mas você é meu amor. Inexplicavelmente, eu te amo, como Rony. Da mesma maneira, da exata maneira que amava ele, eu te amo. Como se fossem um só, a mesma pessoa”.

Joshua levou suas mãos em direção do rosto de Hermione, tocando levemente seus lábios, depois acariciando a lateral do seu rosto beijou seus lábios.

O beijo, que começou lento, se intensificava ao passo que os dois se aproximavam cada vez mais um do outro. Hermione nem se lembrava quando fora a última vez em que beijara assim, com tanta paixão, com tanto amor. O bruxo alisava fortemente as costas dela que se jogava em sua direção na ânsia de mais. Hermione se perdia naquela sensação de prazer, de felicidade não sentida há anos. Passava as mãos naquele cabelo de fios finos que aos poucos ganhavam a cor de um vermelho vivo, aquela boca carnuda tinha gosto de beijo, não queria parar nunca. Foram um só ser durante toda a noite. Esqueceram candidatura, F.A.L.E., comensais da morte, metamorfomagia naquela noite... Tudo, esqueceram tudo, só por uma noite.

O fim de tarde se transformou em noite estrelada e a noite em um dia ensolarado. Hermione Granger estava meio acordada. A sensação do beijo dele era tão real em sua boca que teve que passar a língua nos lábios tentando sentir seu gosto, para se assegurar que tudo não passara de um sonho. Escorregou sua mão pelos lençóis da cama, mas seus dedos nada tocaram além do tecido das cobertas, só então acordou por completo. Sentou-se na cama, cobrindo sua nudez com o lençol branco todo amassado. Levantou os olhos e o viu, sentado em uma cadeira de fronte a cama. Suas mãos apoiavam sua cabeça abaixada, emaranhando os dedos naquele cabelo outrora moreno. A figura a sua frente não era mais o Joshua que conhecia. Tinha os cabelos ruivos, pele branquinha e cicatrizes espalhadas no peito descoberto.

Hermione engatinhou até o fim da cama, ficando de frente àquele homem. O peito apertado, o coração batendo depressa. Sentia uma dor profunda, constante, em seu íntimo. Com suas mãos, levantou o rosto molhado do ruivo. Aqueles olhos castanhos, tão cheios de lágrimas por cair, não podiam ser de outra pessoa. O abraçou tão forte como se assim jamais o deixasse partir novamente. A saudade era tanta que lhe deixava sem ar. Não sabia se ria ou chorava, então fazia os dois. Ele estava ali, sempre estivera. Sabia, sabia desde o início. Era ele, era ele o tempo todo. Tinha medo de admitir para si mesmo, mas o coração sabia e a mente a enganava. Ele voltara, voltara para ela.

“Rony...” Hermione engasgava em suas próprias palavras enquanto soluçava de tanto chorar “... você está aqui. Aqui!”.


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