Sem Dizer Adeus escrita por Jaque de Marco


Capítulo 7
Capítulo 6 - No caminho




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Hermione abriu a porta do banheiro cheio de vapor. Nada como um bom banho; já estava cansada de tomar banho com ajuda de enfermeiras. Há uma semana estava de alta, mas durante os últimos cinco dias precisava da ajuda de Gina para algumas coisas.

Secava com uma toalha branca os cabelos úmidos. Hermione estava morrendo de frio enrolada somente em uma toalha. Secou-se por completo e parou em frente ao espelho comprido do quarto. Cabelos despenteados e pele um pouco enrugada não eram características muito boas para serem analisadas, ainda mais depois de um banho demorado, mas concluiu que não era feia. "Pára de pensar nisso, Hermione", reprimiu-se mentalmente.

Hermione sabia que esta sua preocupação súbita pela aparência era por causa da viagem que faria dali a uma hora. Na verdade, Hermione sabia que não era bem a viagem em si que a deixava perturbada, mas sim a companhia. Joshua a visitara todos os dias no hospital, mas sempre de noite, quando ninguém mais estava no quarto.

As malas já estavam prontas há dois dias. Hermione se sentou na beira da cama e deu uma boa olhada em sua bagagem encostada na porta do quarto. Sentiu uma vontade louca de desfazer as malas assim que concluiu que estava eufórica demais com a viagem. "Pareço uma adolescente boba", Hermione reprimiu-se.

Levantou-se e foi em direção ao guarda roupas para se vestir. Já havia separado a roupa que usaria na viagem: calça e blusa social preta. Bem discreta. Discrição era o que Hermione mais queria; não queria que as pessoas pensassem que ela estava namorando Joshua. Ela tinha certeza que não demoraria muito para sair em todos os jornais e revistas bruxas sobre o suposto namoro dela com o moreno misterioso... Não, não. Seria horrível"Joshua odiaria isso", pensou.

Hermione arrumou-se rapidamente e fingiu não perceber o pensamento que tivera há pouco. Já tinha problemas demais, não precisava se inquietar com mais um.

Na verdade a candidatura estava mesmo lhe tirando o sono. Estava ansiosa com todos os preparativos. Tinha que admitir que, apesar de arrogante, Draco Malfoy era um bom assessor. Algumas revistas especializadas já haviam publicado sua intenção de se candidatar.

Apesar de algumas pessoas já saberem, o ponta-pé inicial da sua campanha seria a entrega do prêmio d'O Bruxo do Ano. Seria sua primeira aparição em público após o acidente. Hermione já tinha todo o seu discurso decorado há dias. Malfoy havia realmente conseguido que ela discursasse na abertura do evento, o que a deixou mais ansiosa ainda.

Ajeitou o cabelo, prendendo a maioria dos fios num coque frouxo no alto da cabeça. Caminhou até a janela do quarto e percebeu que começara a cair finos flocos de neve em sua janela. Estava realmente uma manhã muito gelada.

Colocou um casaco marrom comprido, com um grande bolso interno para por a varinha e foi até a porta. Marcara com Joshua as nove da manhã e não queria se atrasar.

Malfoy havia alugado um Porshe preto para que ela fosse até Liverpool nele porque, de acordo com suas próprias palavras, ela tinha que manter a aparência de uma futura Ministra da Magia.

Pegou as duas malas pesadas do chão e, com seu amontoado molho de chaves, abriu a porta.

- Joshua! – Hermione se espantou quando viu o bruxo exatamente do outro lado da porta.

- Eu bateria, mas já que você abriu... – o bruxo estava com um sorriso que a fez lembrar Rony. Era um sorriso infantil, um sorriso doce, envergonhado. - ... deixa eu te ajudar com as malas.

Hermione agradeceu e o seguiu escada abaixo pensativa. Jamais poderia permitir sentir algo por Joshua, ele a fazia lembrar Rony e isso não poderia nunca se tornar um relacionamento saudável. "Relacionamento? Mas é claro que não! Ele só está me acompanhando até Liverpool como amigo".

- Falou alguma, Hermione? – o moreno perguntou e, só então, Hermione percebeu que estava "pensando alto".

Ela meneou a cabeça e seguiu decidida a não falar (nem muito menos pensar) nada.

- Você está quieta hoje, o que houve? – perguntou Joshua após dez minutos de viagem com apenas uma breve conversa "monossilábica" até então.

- Não é nada. Estou apenas nervosa com meu discurso no prêmio.

Hermione, na verdade, estava apavorada com esta situação. A cada vez que Joshua ia mudar a marcha, ela sentia seu corpo arrepiar. Depois de ele ter engatado a quarta marcha, Hermione cruzou a perna em sentido contrário e procurou manter-se afastada dele o máximo possível.

Joshua dirigia muito bem o carro trouxa, o que ela achou muito estranho já que poucos bruxos já tiveram a oportunidade de dirigir automóveis.

- Onde aprendeu a dirigir? – disse puxando conversa depois de minutos calada.

- Eu? – ele pareceu um pouco hesitante antes de responder – Meu pai tinha um carro. – e completou rapidamente – Como faremos hoje? Você está pensando em chegar em Liverpool a que horas?

- A entrega do prêmio será às dez da noite, mas pretendo chegar antes disso. – e após consultar o relógio perguntou – Quanto tempo levaremos até lÿ

- Em dias normais umas duas, três horas, mas do jeito que está nevando não acho que chegaremos em menos de quatro horas.

Ela não sabia ao certo se passar quatro horas ao lado daquele bruxo seria uma boa ou má idéia, mas então percebeu que seria a oportunidade ideal de saber tudo sobre aquele bruxo misterioso. Mas ele foi mais rápido e perguntou:

- Hermione, por que você decidiu aceitar a ajuda de Malfoy e se candidatar?

Ela pensou em não responder e perguntar a ele o porquê de seu interesse tão repentino em sua vida, mas sentia como se pudesse desabafar. Sentia-se confortável em conversar com ele.

- Pra ser sincera nem eu mesma sei.

- Como assim? – perguntou Joshua desviando um pouco o olhar da direção para encaríla.

- No início achei que fosse para salvar o F.A.L.E. de suas dívidas, mas hoje em dia não estou bem certa se foi isso mesmo.

- E o que foi então?

- Minha vida tem sido uma farsa nestes últimos anos. – Hermione encarava o porta luvas enquanto falava – Todos acham que eu sou forte, que consigo encarar todos os problemas da ONG enfrentando políticos e bruxos muito poderosos, mas na verdade é que eu durmo todos os dias rezando para que eu não acorde no dia seguinte. Eu vivo por viver. Há um tempo eu achava que o F.A.L.E. era minha razão de viver, mas hoje eu tenho minhas dúvidas. – Hermione refletiu por um segundo se iria se sentir confortável em falar de Rony para Joshua, mas suas palavras saiam quase por conta própria – Há dez anos atrás eu era noiva.

- O que houve? – Joshua não desviou o olhar do painel do carro.

- Ele era auror. Estava trabalhando no Ministério da Magia quando houve o atentado. – Hermione secou discretamente a lágrima teimosa que escorreu de seus olhos – Acho que eu nunca superei a sua morte, sabe? O Rony... ah, este era o nome dele... – incrementou ela, após lembrar-se de que Joshua não conhecera seu noivo - O Rony ele sempre foi alguém em quem eu podia confiar. Alguém que eu sempre sabia que estava ali, me apoiando mesmo quando não concordava com o que eu fazia. Eu precisei tanto dele quando comecei o F.A.L.E. Fiquei sozinha desde então. Até do Harry, que era nosso melhor amigo, eu me afastei. Acho que no fundo o que eu queria era me afogar no trabalho e me afastar de tudo o que me pudesse lembrar do Rony. – Hermione respirou fundo e levantou a cabeça – Quando aceitei a proposta de Draco Malfoy o que eu tinha em mente era que seria mais trabalho para mim. Poderei ajudar as pessoas e, com isso, quem sabe, eu esqueça um pouco da minha dor.

Por um instante Hermione se arrependeu do que acabara de dizer. Nunca comentara com ninguém sobre suas angústias, mas com Joshua as palavras simplesmente saíram. Fechou mais o casaco em volta do corpo e encarou a estrada a sua frente, calada.

Joshua ficara quieto depois do que ela havia dito. Hermione xingou-se mentalmente pelo o que fez. Provavelmente chateara o bruxo com seus problemas.

- Hermione...

- Sim? – ela se assustou com o chamado repentino do bruxo, quebrando o silêncio do carro.

- Eu preciso te contar uma coisa. – Joshua a encarou.

Neste momento, Hermione viu um grande tronco de árvore, parcialmente coberto de gelo, caído na estrada bem a frente deles. Se não fosse por seu grito, Joshua provavelmente não conseguiria virar o carro bruscamente como fez. O carro derrapou para fora da estrada, fazendo com que eles batessem em um amontoado de neve.

- Ai...

- Você está bem, Mione? – perguntou Joshua passando as mãos no pequeno corte na testa da bruxa.

- Estou sim. – Hermione respondeu numa voz gemida – E você?

- Também estou. Venha, eu te ajudo. – Joshua ajudou Hermione a sair do carro por seu lado da porta, já que o outro estava literalmente dentro da neve.

O carro estava com o lado esquerdo quase todo dentro do monte de neve, mas aparentemente nenhum estrago muito grande havia acontecido com o Porshe.

- Bom, acho que estava na hora da gente parar mesmo. – disse Hermione ironicamente.

O acidente atraíra diversos curiosos que estavam agora os cercando preocupados com o estado dos dois.

- Já que não podemos proferir nenhuma magia na frente destes trouxas, vamos almoçar e depois que eles já tiverem ido embora arrumamos o carro e continuamos a viagem. – disse Joshua no ouvido de Hermione.

- Excelente idéia.

- Estamos bem, pessoal, estamos bem. Não se preocupem, chamaremos ajuda. – Joshua balançava os braços enquanto falava em alta voz com os moradores locais que já cercavam o carro.

A alguns metros de onde o carro havia se chocado, existia um pequeno centro do que parecia ser uma cidadezinha que ligava a capital com os estados mais no interior do país. Havia diversas lojinhas trouxas, todas concentradas numa mesma avenida principal que, apesar disso, não tinha muitas pessoas no local.

Hermione e Joshua caminharam até uma pequena casa onde havia uma placa ao lado da porta indicando que aquele lugar era um restaurante. Ficaram um pouco constrangidos com os olhares que estavam recebendo dos moradores locais já que, mesmo sem estarem muito elegantes, perto daquelas pessoas eles estavam extremamente bem arrumados.

Joshua abriu a porta de vidro do restaurante para Hermione. Assim que entraram notaram o quanto aquele pequeno lugar era aconchegante. O frio que fazia do lado de fora parecia, de alguma maneira, não entrar no local. Hermione tirou o comprido casaco marrom, sendo seguida por Joshua, e o pendurou em um cabideiro ao lado da entrada.

O assoalho de madeira fazia um barulho ligeiramente desagradável quando pisavam, mas nada que tirasse o encanto do lugar. Diversas mesas, cobertas com toalhas claras, estavam espalhadas no cômodo maior da casa. Ao fim das várias mesas havia um balcão pequeno de onde podia se ver a algumas pessoas cozinhando ao fundo. Poucos garçons vestidos de preto e branco que passavam pra lá e pra cá com suas bandejas prateadas. Perto do balcão havia uma televisão trouxa passando o noticiário local. Tudo aquilo lembrara Hermione de um pequeno restaurante que almoçara em uma das vezes que fora resolver assuntos do F.A.L.E. na Itália.

- Vamos nos sentar ali. – indicou Joshua, conduzindo Hermione com suas mãos quase encostando nas costas da bruxa.

Sentaram-se numa mesa perto de uma das janelas do restaurante. Mione olhou para fora e novamente notou o quanto o local em que estava era aconchegante. Sem demorar muito um dos garçons se aproximou da mesa e perguntou o que escolheriam.

- Nem olhamos o cardápio ainda. – Hermione respondeu sem-graça.

- Vou querer um cozido e uma garrafa de vinho branco, por favor. – e olhando para Hermione perguntou – Posso pedir o mesmo pra você?

Hermione fez que sim com a cabeça e viu o garçom se afastar. Por alguns segundos ficou encarando o bruxo a sua frente sem falar nada. Joshua era tão austero, mas, ao mesmo tempo, aparentava ser tão frágil. Parecia carregar o mundo nas costas, parecia esconder algo grave. Ela não entendia o porquê ela mesma não tinha investigado tudo o que pudesse sobre o bruxo, Hermione sabia que em outros tempos já teria vasculhado bibliotecas, jornais e tudo mais que fosse possível só para descobrir algo sobre ele. Mas Joshua tinha um efeito inexplicável nela.

No fundo do que Hermione tinha medo era de perdê-lo. Tinha receio de descobrir algo sobre ele e nunca mais vê-lo. Sentia uma necessidade incontrolável de estar perto de Joshua... Não entendia qual era a razão, mas tinha medo de que realmente estivesse gostando dele.

- Já estive aqui antes. – Joshua falou, tirando Hermione de seus pensamentos.

- Percebi. Onde estamos?

- Um pouco depois de Northampton, numa vila trouxa chamada Galway.

- É tão bonita.

- Às vezes, quando estava por perto, aparatava aqui. É muito bom ficar longe do povo mágico, parece que por uns instantes você esquece os problemas.

- Quais problemas? – Hermione ficara receosa de perguntílo sobre seu passado, mas estava extremamente curiosa.

- Só problemas. Todo mundo tem problemas. Não sou diferente de ninguém. – respondeu o bruxo evasivamente.

- Eu só não sei nada sobre você, Joshua.

- O que gostaria de saber? – o bruxo perguntou olhando profundamente nos olhos de Hermione.

Joshua possuía olhos tristes, muito tristes. Uma solidão que transpassa no próprio olhar. A bruxa sabia que esta era talvez a única oportunidade de conhecer melhor o bruxo. Hermione sabia que tinha que perguntar algo que não houvesse como mentir, algo que de fato explicasse porque estava ali, protegendo-a.

- Você é casado?

"O que? Não! Acabei de desperdiçar uma oportunidade única de descobrir a verdade! Agora ele vai ficar pensando o que de mim? Ai, o que está acontecendo comigo"

- Eu só amei uma pessoa em toda minha vida. – Joshua respondeu, deixando Hermione surpresa. Apesar de ter sido ela quem perguntara, não imaginava que ele responderia realmente.

- E o que houve com ela?

- Nos separamos.

- Vocês brigavam?

- Todo o tempo... – o bruxo falava olhando um ponto fixo pela janela. Estava completamente solto em seus pensamentos – Engraçado, apesar de brigarmos sempre, quando nos separamos estávamos em nossa melhor fase.

- Seu pedido, senhor. – disse o garçom ao aproximar-se da mesa trazendo pratos esfumantes em suas mãos.

O funcionário do lugar colocou a comida sobre a mesa, se retirou e Joshua continuava encarando o lado de fora da janela. Parecia tão frágil aos olhos de Hermione. O bruxo possuía uma dor amarga em seu semblante. Preocupava-se com ele. Passaria horas só visualizando aquele homem. Joshua era um ponto de interrogação que Hermione tinha ganas de revelar.

- Você ainda a ama?

Joshua desviou seu olhar da janela rapidamente. Pareceu surpreso com a pergunta. Apesar da reação do bruxo, Hermione não se arrependeu de perguntar. Gostaria realmente de saber a resposta.

- Eu amo você.

O olhar de Joshua estava novamente fixo nos olhos de Hermione. Ela não entendia porque, mas sentia-se a mulher mais bela do mundo quando o bruxo lhe encarava daquela maneira. Estava apaixonada por Joshua. Era fato inegável. Sentia um frio gostoso na barriga; uma mistura de euforia e medo.

- Eu não posso...

- O que?

- Estar apaixonada.

- É uma pena.

- O que?

- Não poder evitar.

- Eu não devia. – a bruxa baixou o olhar. Ficava embevecida quando se via presa naqueles olhos. Não podia perder o controle.

- Espere...

Hermione viu Joshua fica de pé assim que levantou seus olhos. O bruxo desviou-se rapidamente de mesas vizinhas a sua e foi em direção ao final da sala. Ela não entendeu de início, mas depois viu Joshua aumentar o volume da televisão.

"... Victor Dorough, de 42 anos e Isabelle Fow, de 40, tiveram seus corpos mutilados após terem morrido de forma estranha ontem em Northampton. O casal foi jogado neste terreno, em um bairro afastado da cidade, pouco mais das dez horas da noite. Moradores do local disseram ter ouvido gritos minutos antes de encontrarem os corpos ainda quentes.

De acordo com a polícia, o mais intrigante é o fato de não haver indícios de violência nem perfurações no corpo das vítimas.

- Estamos nos baseando que possivelmente seja envenenamento, pois não há outra explicação para mortes como estas. Só se for por mágica.

A polícia continuará as investigações, mas, até o momento, não possui suspeitos.

Emma Fielding para o Jornal de Notícias... "

- Precisamos ir! – disse Joshua assim que terminou a matéria.

- Mas o que houve?

- Eu sei quem são estas pessoas e, se bem estiver certo, estou com um problemão.


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