Sem Dizer Adeus escrita por Jaque de Marco


Capítulo 11
Capítulo 10 - Depois do começo




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Hermione demorou alguns segundos para entender o que havia acontecido. Rony estava caído, com metade das costas no batente da porta da casa de Gina e Harry, enquanto a varinha jazia há alguns metros dele. A casa ainda estava na penumbra. Uma sombra distorcida pela meia luz aproximou-se dela e antes que pudesse ajudar Rony sentiu uma varinha ser encostada no centro de suas costas.

“Não pense em fazer nada, sangue ruim!” – o tom de selvageria na voz de Bellatrix fez o sangue de Hermione gelar – “Sua varinha!”.

Hermione tentou pensar em alguma alternativa para não ter que obedecer a ordem de Lestrange, mas não via opções. Entregou a varinha que carregava para a bruxa que estava às suas costas.

Com um empurrão, Bellatrix afastou Hermione que correu para onde Rony estava deitado. O bruxo recobrava a consciência, mas ainda movimentava-se lentamente.

“Que coisa mais linda é o amor” – Bellatrix debochava com a varinha acompanhando cada movimento que os dois faziam – “Accio varinha”.

Agora Bellatrix estava com as varinhas de Rony e Hermione em uma mão e a sua própria varinha, apontada para eles, na outra.

“Este traidor de sangue imundo” – Hermione ajudava Rony a se levantar enquanto Bellatrix falava rodeando os dois – “Era um ilusionista, nos passando a perna. Mas foi muito ingênuo ao pensar que não descobriríamos, Weasley”.

“Mas eu os fiz de bobo por dez anos, Bella” – Rony, ainda fraco, falou com um tom que deboche que fez Hermione tremer. Mais do que temer por sua vida, Hermione sabia que o grande alvo era Rony. Precisava pensar em algo antes que fosse tarde demais.

“Cale a boca! Cale a boca, seu imundo! Eu vou te matar essa noite” – Bellatrix apertava a varinha no rosto de Rony que, por sua vez, não tirava o olhar de desafio da bruxa.

Hermione sentia a tensão fluir dos dois. A bruxa pensou por um segundo o quanto Rony estava diferente. Sempre fora corajoso, mas um pouco inexperiente. Sempre teve o apoio dela e de Harry em suas aventuras na adolescência. Dez anos no terreno inimigo, tendo somente a si mesmo como proteção transformaram um jovem em um homem.

“Quero o ver ser todo corajoso quando matarmos a sua noivinha” – Apesar da escuridão da casa, Hermione reconheceu imediatamente quem estava entrando no recinto. Lúcio Malfoy deu um sorriso debochado, exatamente o mesmo que seu filho fazia quando aprontava algo na escola.

“Eu devia ter imaginado que Bellatrix não viria sozinha... traria o seu bruxo de estimação junto” – o rosto de Rony estava ligeiramente deformado devido à varinha que Bellatrix Lestrange mantinha pressionada em suas bochechas.

“Você fala demais, Weasley” – Lúcio, que agora estava quase em frente aos três, puxou Hermione pelo antebraço com violência. Hermione ainda sentiu as mãos de Rony na tentativa de segurar o seu braço livre, mas já estava fora de seu alcance.

“O teu problema é comigo, Lúcio! Vamos resolver só nós dois, como homens!!”.

“Aí que você se engana, Weasley. Apesar de ter um problema com você, é essa sangue ruim aqui que me traz dores de cabeças. É ela que pode estragar meu plano de ser Ministro”.

“Eu não vou permitir que ganhe as eleições, Malfoy!” – foi a vez de Hermione falar, mas antes que pudesse continuar foi silenciada com um forte tapa no rosto.

“Cale-se, sua sangue-ruim imunda!”.

“SEU IDIOTA!” – Rony gritava, tentando se aproximar dos dois, sendo impedido pela varinha de Lestrange, apontada para a sua cabeça – “SEU COVARDE!”.

“Weasley, aproveite para dar as últimas olhadinhas para a sua noivinha, porque logo ela estará morta. E você vai assistir a tudo” – Hermione sentia-se como uma boneca nos braços de Malfoy, estava impotente, desarmada, sem saída. – “Mas não se anime muito, por que logo depois será a sua vez de morrer, mas será uma morte bem mais lenta”.

“O seu assunto é somente comigo! EU enganei vocês todos por dez anos! EU contava tudo o que faziam para os aurores!” – Rony falava enquanto tentava se aproximar dos dois, mas cada vez que mencionava dar um passo à frente, Lestrange afundava mais a varinha na sua pele.

“Verdade. Mas sabe o que é melhor? Acabando com ela eu também me vingo de você”.

“Mate-a logo, Malfoy” – Lestrange demonstrava uma euforia louca.

“Por enquanto farei melhor”

“NÃO!”

“Crucio”

Hermione não saberia dizer se o grito de Rony fora pronunciado primeiro, pois assim que o jato de luz saído da varinha de Malfoy acertou seu peito, foi como se cada nervo do seu corpo estivesse em fogo. Os sons dos demais a sua volta pareciam ter sumido, só o que conseguia ouvir eram seus próprios gritos de dor. Seus ossos pareciam queimar por debaixo da pele e seus olhos giravam descontrolados em sua cabeça. Contorcia-se, caída no chão e gritava de dor. Queria morrer! Mas assim como começou, as dores pararam e Hermione esticou-se no chão, os músculos ainda rígidos. Tentou se levantar, mas caiu novamente. Um braço forte a puxou pelos ombros e então foi como se os sons a sua volta tivessem retornado ao ambiente. Só então Hermione se deu conta que quem a ajudava a levantar era Rony.

“Abaixe a sua varinha, Malfoy!” – Rony falava enquanto apontava a varinha de Lestrange, agora caída estuporada no chão, para Malfoy.

“Não seja idiota, Weasley. Vocês não sairão vivos daqui hoje a noite”

“Veremos! Estupefaça!”

Malfoy foi jogado para longe, batendo com as costas no chão. Hermione aproveitou o momento para ir em direção ao corpo de Lestrange, pegando as duas varinhas que estavam em suas mãos e, com um feitiço, deixou Bellatrix petrificada.

Depois de afastar uma gota de sangue que escorria do topo de sua cabeça, Hermione pôde ver que Malfoy já havia levantado e estava agora contra atacando Rony.

“Tolo!” – Malfoy falou seriamente e antes que Rony pudesse fazer qualquer coisa gritou “Estupefaça!” fazendo com que o ruivo voasse a pelo menos uns dois metros de distância, batendo fortemente as costas na parede.

Agindo por impulso, antes de Malfoy se aproximar, Hermione o estuporou para longe, assim como ele havia feito com Rony há segundos.

Rony mexia-se lentamente há uns metros de Hermione. A bruxa caminhou alguns passos para perto do noivo, mas antes de alcançá-lo ouviu Malfoy dizer.

“Me pegou desprevenido... não é tão santa. SECTUMSEMPRA!”.

“Protego!” – Hermione se defendeu a tempo.

Malfoy estava irado, provavelmente achara que o casal seria um fácil oponente. Suas pupilas estavam dilatadas, sua respiração estava ofegante. Mas então sua fisionomia mudou, ele olhou para o lado e dando um sorriso torto apontou a varinha para Rony antes de fazer um grande movimento com sua varinha.

“SILENCIO!!!”

Hermione gritou um segundo antes de um jato de luz esverdeado saída da varinha de Lúcio atravessar o peito de Rony.

“NÃOO!” – Hermione correu em direção a Rony, caído imóvel há alguns centímetros. Neste momento ouviu o barulho da porta se abrir e Malfoy fora atingido na altura do tórax por um feitiço lançado por Harry que acabara de entrar, juntamente com Gina, na casa.

“Hermione?” – Gina correu para a bruxa.

“ME AJUDA!” – Hermione batia fortemente no rosto de Rony e lhe lançava feitiços para reanimá-lo, mas o bruxo continuava imóvel. “RONY, POR FAVOR, NÃO MORRA!”.

“Hermione, precisamos levá-lo daqui. Ele precisa de cuidados” – Harry veio apressado ao encontro das duas, deixando um Lucio Malfoy inconsciente para trás.

Hermione assentiu, ainda segurando as mãos de Rony. Harry levitou o corpo do amigo com cuidado e saiu da casa sendo seguido pelas bruxas.

Tic. O chão era claro, muito claro, na verdade; era como se estivesse enfeitiçado. Tac. Algumas pessoas em robes verde-limão passavam apressadas sobre ele, mas sem a intenção de serem percebidas. Tic. Estava sentada em uma cadeira estofada. Suas mãos estavam apoiadas em um encosto gélido. Tac. O tempo não passava. Os segundos se arrastavam e o barulho do movimento do ponteiro de relógio (aparentemente trouxa) no pulso de um bruxo ao seu lado só causava mais angústia.

Hermione estava na sala de espera do Hospital St Mungus há mais de uma hora. Desde que chegara acompanhada de Harry e Gina, não tivera mais notícia de Rony. Tentara explicar o que acontecera a uma medi-bruxa, mas estava desesperada e descontrolada demais, deixara os detalhes para o casal que relataram o que Hermione lhes narrara.

Rony fora levado para a Ala de Acidentes Mágicos às pressas, ainda inconsciente. Antes de chegarem ao hospital, Hermione vira que o bruxo mantinha pulsação, mas muito fraca, além de estar extremamente pálido. Hermione, apesar do desespero, sabia que ele não poderia ter sido atingido por uma maldição imperdoável, como achara logo de início, mas sabia que havia sido acertado por algum feitiço extremamente poderoso e tinha medo das seqüelas que este poderia causar ao bruxo. Isso nas melhores das hipóteses, mas nisso ela não queria nem pensar.

Já havia sido atendida por uma medi-bruxa quando chegara, que lhe fizera um curativo na cabeça e lhe dera uma poção reanimante, mas Hermione ainda sentia seu corpo dolorido, como se tivesse sido amassada por inteira. Estava agora somente à espera de alguma notícia, qualquer coisa que pudesse lhe trazer um pouco de esperança. Bruxos e bruxas em robes verde-limão andavam para cima e para baixo nos corredores a sua frente e, a cada vez que isso acontecia, Hermione os acompanhava com o olhar, mas nunca eram para lhe dar alguma informação. O mais angustiante de tudo era a falta de informações que se encontrava. Sabia que a situação era realmente séria.

“Tome, Hermione, beba” – a bruxa levantou a cabeça e viu Gina segurando um pequeno copo plástico branco. Ao perceber que a bruxa não reagiu, Gina continuou – “É só água. Vai te fazer bem. Beba”.

Hermione obedeceu mecanicamente, não estava realmente com sede até dar o primeiro gole. Ao terminar, voltou momentaneamente ao seu estado “câmera lenta”, segurando o copinho com ambas as mãos. Nem percebera que Gina sentara ao seu lado até ouvi-la falar.

“Harry foi para o quartel de aurores. Foi resolver a prisão de Malfoy e Lestrange” – Hermione somente assentiu, ainda olhando para aparentemente nada, então Gina continuou – “A volta de Rony foi um milagre. Também não sabia que estava vivo, Harry que acabou de me explicar tudo. Hermione, espero que você entenda o sacrifício que ele fez por todos nós”.

Hermione mais uma vez somente assentiu. Entendia o que Rony fizera, não é como se não se importasse, mas entendia. Entendia que pela primeira vez Rony fizera algo dele, lutara sozinho por muitos anos, mostrara para si próprio que era capaz. Apesar de ser uma tortura ficar todos estes anos sem Rony ao seu lado, Hermione sabia que o maior sacrifício havia sido dele que abdicou de uma vida inteira por um causa, por um ideal, por um bem maior. Imaginara o grande tormento de ver, de imaginar, que todas as pessoas que amava seguiam com suas vidas... sem ele. Sim, Hermione entendia. E por entender não aceitava como a vida podia ser tão injusta. Rony merecia ser feliz. Não merecia estar à beira da morte após tantos anos de martírio.

“Ele merece ser feliz”.

Gina somente encostou a cabeça da cunhada em seu ombro. Hermione fechou os olhos, pois sabia que as lágrimas viriam mais cedo ou mais tarde e não queria que fosse agora. Por alguns instantes, Hermione lembrou-se de quando Rony a pediu em casamento. Sempre tão desajeitado, tão tímido... eram tão jovens! Parecia há séculos atrás. Hoje tão maduros, tão sofridos.

“Srta Granger?”.

Ao abrir os olhos, Hermione viu um bruxo de verde-limão a sua frente e prontamente ajeitou-se na cadeira com o coração acelerado.

“Sim, sou eu. Como Rony está?”.

“Entenda que ele deu entrada neste hospital em estado grave. Não sabemos se quer em exato qual feitiço o acertou. Mas no momento o seu estado é instável, porém ainda não está fora de perigo. Ele está na ala de observação e agora o que nos resta é esperar e torcer para que ele reaja positivamente às poções medicinais que lhe demos”.

“Será que posso vê-lo agora?”

“Sim, claro. Só pedirei que entrem uma pessoa por vez”.

“Vá primeiro, Mione. Eu espero” – Gina falou, como se estivesse lendo seus pensamentos.

Hermione agradeceu a cunhada, seguindo o medi-bruxo através de uma porta dupla e por um estreito corredor repleto de retratos com famosos medi-bruxos e iluminado por bolhas de cristais cheias de velas que flutuavam próximas ao teto, parecendo gigantes espumas de sabão.

Após caminharem por alguns minutos, chegaram a uma ala um pouco mais escura, com paredes de carvalho. O medi-bruxo deixou Hermione sozinha à porta após avisar que ela não poderia demorar mais que alguns minutos.

Hermione caminhou devagar em direção as camas. Olhou ao redor e não reconheceu Rony por entre os primeiros pacientes, então seguiu em frente, parando o olhar em um ruivo deitado na última maca do recinto.

A sala tinha um cheiro adocicado enjoativo, lamentos e gemidos vinham dos demais pacientes da ala, o que dava um ar sombrio ao lugar. Ao contrário dos demais, lá estava Rony. Parecia simplesmente dormir, dormir um sono calmo, sem sonhos. Hermione tentou imaginar por alguns segundos no que estaria pensando, mas logo se perdeu no rosto de Rony. Como era lindo! Suas sardas lhe davam um jeito angelical, faziam um contraponto com os seus lábios grossos, carnudos.

Se lhe dissessem na adolescência que um dia amaria tanto assim Rony não acreditaria, pois era como se este sentimento fosse algo concreto, algo tão grande que jamais poderia ser medido. Hermione trocaria sem pensar de posição com Rony... ele não merecia estar ali, deitado, sofrendo.

Sempre se achara o menos querido do trio na época da escola, era sem duvida o mais complexado (até mais que Harry Potter). Hermione sabia que se sentia o menos amado, o menos eficiente... desabafara com ela uma vez. Durante todo o seu relacionamento, Hermione tentara mostrar a Rony que estava errado, sempre o incentivando, o apoiando. Mas ela sabia que não o teria apoiado no plano de se infiltrar entre os comensais. Chamaria de loucura. Provavelmente por isso Rony tomara a decisão sem nem lhe consultar. Provavelmente por isso quando se viu envolvido demais na história não quis procurá-la, não quis lhe prejudicar nem colocá-la em perigo.

Hermione sentou na beira da maca, segurando carinhosamente a mão de Rony por entre as suas. Estava quente. A trouxe para perto de seu rosto e a beijou. E então, as lágrimas que tanto lutara há pouco, agora escorriam de seus olhos sem controle. Não, não aceitaria perdê-lo. Não de novo! Uma Hermione morreu quando há dez anos descobriu que o Ministério da Magia havia sido incendiado com Rony; esta Hermione, o que restou dela, não suportaria mais uma vez a perda.

“Rony... por favor... fica comigo” – Hermione dizia em voz baixa, aos soluços – “Não sei viver... sem ter você. Eu te amo... te amo tanto! Vive por mim”.

Hermione deitou sobre o corpo de Rony. Ele continuava imóvel. A respiração pesada fazia seu peito subir e descer compassadamente. Hermione fechou os olhos sentindo o gosto salgado de suas lágrimas sobre seus lábios. Tudo o que queria, tudo o que realmente desejava é que pudesse estar novamente com Rony. Saber que poderiam ser felizes. Queria uma segunda chance para que, desta vez, Rony Weasley pudesse ser o bruxo mais feliz do mundo.

Um leve movimento em sua mão direita fez Hermione abrir os olhos rapidamente. Depois de alguns segundos sem novidade, Hermione novamente sentiu um leve movimento vindo de sua mão, então levantou o corpo encarando a mão de Rony se mexendo devagar por entre a sua. Com um leve sorriso, Hermione viu um Rony sem foco, devido às lágrimas que insistiam em escorrer de seus olhos, se movimentar levemente.

Piscando várias vezes, como quem acabara de acordar de um sono tranqüilo, Rony abriu os olhos e encarou Hermione. Por um breve instante a bruxa sentiu um calafrio, não sabia ao certo se Rony estava realmente a enxergando ali, mas então ele abriu um sorriso. Simplesmente o sorriso mais lindo que Hermione já vira em vida.

“Rony!” – dizia repetidas vezes, novamente abraçando-o deitada sobre o seu peito.

Depois de alguns segundos, Rony ainda visivelmente fraco levantou gentilmente a cabeça de Hermione de seu peito e a encarou com um olhar terno.

“Eu te amo”.

E o tempo poderia parar naquele momento que Hermione não ligaria.

Botons, folders, flyers, faixas levemente rasgadas, bandeiras e diversos papéis com o nome e a foto de Hermione estavam espalhados pelo chão e colados nas paredes. Hermione estava no comitê de sua campanha há horas, na verdade passara a madrugada junto com amigos e colaboradores cuidado de alguns últimos detalhes na expectativa da apuração do resultado das eleições daquele ano.

Após a prisão de Lúcio Malfoy muitas coisas mudaram no cenário político mágico. Alguns lobbys foram desfeitos, alguns galeões desviados voltaram aos cofres da comunidade mágica e livre de ameaças muitos outros bruxos puderam concorrer ao cargo de Ministro da Magia. Hermione confiava em algumas destas pessoas, mas por fim percebera que tomara gosto com a idéia de poder ser ministra. Poderia realmente fazer algo de bom para o mundo mágico, sabia que era competente! Era angustiante ver a cara de preocupação e ansiedade de todas aquelas pessoas que passaram alguns meses de suas vidas dedicadas a sua campanha.

“Mione, quem foi trabalhar de fiscal na apuração de votos?” – Lupin aproximava-se com uma grande caixa amassada nas mãos.

“Rony, Harry e Malfoy”.

“Espero que eles ainda não tenham se matado, pois quero saber do resultado logo... Uau, quase sentei no seu rosto” – Tonks falou alarmada tirando um cartaz com a foto de Hermione, que balançava de um lado para o outro da imagem, de cima do caixote que agora sentava.

“Nervosa?” – Gina ajoelhou-se em frente a Hermione, segurando sua mão sobre a dela.

“Um pouco” – e após uma leve careta no rosto da cunhada explicou – “Está certo, muito! Mas no fundo estou com uma sensação de dever cumprido. À medida que as horas passam, mais eu percebo o quanto esta eleição é importante para mim, mas ao mesmo tempo, vejo que não é a coisa mais importante”.

“Eu compreendo, Mione” – Gina então se levantou, ainda em frente de Hermione – “Você é uma guerreira, cunhada! O mundo mágico teria uma excelente líder com você de ministra!”.

Como a última frase Gina havia dito em voz muito alta, os demais ouviram e, para total constrangimento de Hermione, concordaram com acenos de cabeças e frases curtas. Hermione sabia que não tinha sido a melhor candidata do mundo para aquelas pessoas: controlava horários, estoque, agenda... era muito perfecionista. Jamais entendera realmente a razão de ter aceito Malfoy como chefe de campanha, mas no final tornara-se muito útil, conseguindo apoio de antigos políticos e empresários do mundo da Magia.

Estava certo que não estava tão nervosa quanto devia, mas aquela apuração estava realmente demorando demais. Como se tivesse lendo sua mente, Luna falou para o vento.

“Acho que eles devem estar voltando. Já saíram há tanto tempo”.

“Verdade. Será que não é bom eu ir atrás deles? Para saber se algo aconteceu?”

“Talvez seja melhor, Neville. E eu vou com você” – Arthur Weasley já estava pegando a capa, sendo acompanhado de Neville.

Antes que os bruxos pudessem desaparatar, Hermione ouviu uma batida na janela alta do comitê. Ao longe ela viu que era a velha Pichi, a coruja que voltara a ser de Rony.

Desviou-se apressada dos bruxos que estavam a sua frente e, subindo em um caixote, abriu o vidro para que a coruja pudesse entregar-lhe o pergaminho que trazia nas patas. Após algumas voltas irritantes no local, Pichi finalmente permitiu que Hermione retirasse a carta com a letra de Rony.

Mione,

A apuração acabou, mas ainda estamos resolvendo alguns detalhes. Preferimos contar o resultado pessoalmente.

Rony

Por que afinal ele não quisera contar por carta? Ou porque não viera logo? Terminando de ler, entregou a carta para Gina, que leu o seu conteúdo em voz alta.

“Mas por que ele não dá a notícia via lareira?” – sra Weasley questionou.

“Ele disse que é melhor falar pessoalmente” – Tonks sentava agora ao lado de Lupin.

“Então a notícia deve ser ruim” – Foi a vez de Luna opinar.

“Nem brinque. No mínimo meu irmãozinho cansou de esperar a apuração e saiu com Harry e Malfoy para comer. Devem é ter perdido o resultado” – Jorge falava em um tom divertido, na clara tentativa de entreter os demais, mas de nada adiantou.

Hermione sentia-se mal em ver todas aquelas pessoas preocupadas por sua causa. E então percebera que o sonho não era só seu, mas era compartilhado por todos. Queria poder dizer que nada disso faria diferença, que todos estariam ganhando da mesma forma, mas sabia que não era verdade. Todos estavam ali, ajudando-a, porque acreditavam no potencial dela de ministrar. Acreditavam que ela era a melhor opção que tinham e Hermione lutara até o fim por isso. Agora só lhe restava esperar.

De repente o falatório da sala se silenciou e Hermione pôde ouvir o barulho de chicotada que vinham dos três bruxos que aparataram perto da porta. Malfoy e Harry estavam bem à frente, então mesmo que Hermione forçasse as vistas para enxergar Rony, não conseguia.

“Trouxemos o resultado dos votos” – Malfoy era quem trazia um longo pergaminho nas mãos, que foi desenrolado tão lentamente que Hermione chegou a achar que estava enfeitiçado – “Como eu sou o mais entendido destes assuntos estatísticos e também sou o chefe da campanha, me coloquei a cargo de dar a notícia. A apuração foi longa já que alguns bruxos cabos eleitorais desrespeitaram as regras e tentaram fazer boca de urna...”

“Ah, Malfoy, pára de enrolar” – Harry passou a frente do loiro e com o pergaminho roubado de Malfoy em mãos gritou - HERMIONE VENCEU!”

Um urro de comemoração explodiu na sala. Todos do comitê gritavam ao mesmo tempo, abraçando-se uns aos outros. Na hora foi como se a sala se enchesse ainda mais. Pessoas pulavam e atravessavam sua frente, tentando abraçar Hermione. Vários “parabéns” e “eu sabia” foram gritados nos seus ouvidos, mas Hermione não estava realmente prestando atenção. A notícia ainda não estava sendo absorvida. Desviando o olhar dos demais bruxos que se parabenizavam, Hermione encontrou Rony parada perto da porta com um leve sorriso nos lábios e as mãos para trás. Ignorando uma ou duas pessoas que atravessaram a sua frente, Hermione caminhou até Rony, parando há meio metro dele.

“Então? Não vai me parabenizar?”

“Ram-Ram” - Rony limpou a garganta antes de recomeçar a falar com um tom de voz cordial – “Parabéns, sra Ministra. E se a vossa excelência permitir, gostaria de pedir licença, pois quero entregar estas rosas para a mulher mais importante da minha vida”.

“Pode deixar que eu cuido delas” – Hermione tomou em suas mãos o enorme ramalhete de rosas vermelhas que Rony trouxera. Após encostar levemente o nariz nas flores, sentindo o perfume doce que as rosas emanavam, passou os braços sobre os ombros de Rony, ficando com o seu rosto pouco abaixo do bruxo.

“Como você pega assim as rosas da minha Hermione? Olha que ela é ciumenta, hein?”

“No caso dela, tendo você de namorado, eu também seria” – brincou Hermione.

Rony beijou levemente os lábios de Hermione e a abraçou, ficando com a boca próxima do ouvido dela.

“E se fosse marido, teria ciúmes?”.

Alguns segundos, este foi o tempo que Hermione demorou para entender o que Rony tentara dizer subliminarmente na última frase. Rony afastou-se uns centímetros de Hermione e ajoelhou-se. O coração da bruxa pulsava rapidamente, sentia como se todos pudessem vê-lo sob sua pele.

“Hermione Granger, você me daria a honra de ser seu esposo, tornando-me o homem mais feliz de todo o universo?” – Rony então abriu uma caixinha esverdeada que tinha em mãos mostrando um lindo anel de diamante dentro dele – “Casa comigo?”

Uma imensidão de sentimentos tomou o seu coração por um momento, euforia, ansiedade, gratidão, mas o maior de todos era definitivamente o amor. Hermione tinha só uma palavra a dizer. A única palavra que caberia no momento e que faria a sua vida tomar um caminho maravilhoso.

“Sim!”.

Hermione sentiu os fortes braços de Rony abraçando-a pela cintura pouco antes de receber um beijo. Com os olhos fechados, era como se o tempo e espaço não existissem naqueles segundos. O cheiro de Rony, o toque dele. De Rony, o seu futuro marido. O seu amor!

Sim, ganhara mais uma chance com ele. Esta chance não seria desperdiçada. Faria Rony o homem mais feliz do mundo! Haveria briga, sim, mas haveria também muitos beijos, muitas conversas, muitas carícias, muita cumplicidade e muito, mais muito amor.

Quando estavam terminando o beijo ouviu uma alta salva de palmas e então lembrou-se que não estavam sozinhos. Hermione sentiu sua face corar, mas não se importava, estava muito feliz.

“Eu te amo, Rony Weasley”

“Eu te amo muito, ministra da magia Hermione Granger”.


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