Os Cinco Marotos escrita por Cassandra_Liars


Capítulo 98
Capítulo 3 - Casa dos Gritos


Notas iniciais do capítulo

Bom, certamente quem leu o livro vai perceber que esse capítulo é uma adaptação de uma parte de Prisioneiro de Azkaban. Eu cortei várias partes para não ficar muito longo (e mesmo assim é um dos maiores capítulo até agora) e, é claro, acrescentei a Pam, mas eu acho que dá para entender certinho. Quem quiser uma versão mais completa, eu sugiro que leia o livro, ok?
Quero aproveitar também para a agradecer a Luna Kori pela recomendação. Obrigada, minha lindinha!



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A execução de Bicuço, o hipogrifo, fora marcada para aquela tarde. Nenhum dos três amigos ficou feliz com isso e como poderia? Mas, nem Hermione nem Ron nem mesmo Harry puderam fazer qualquer coisa a respeito disso.

Enquanto voltavam para o castelo de Hogwarts, porém, Perebas pulou das mangas de Ron e começou a correr o mais rápido que podia, fugindo de Bichenta, a gata que tentava desesperadamente pegar o ratinho para acabar com isso de uma fez por todas.

Ron, porém, foi mais rápido e pegou Perebas antes de Bichenta, tentando fazer com que ela se afastasse. Hermione e Harry, que correram atrás de Ron, haviam acabado de se aproximar, ofegantes, implorando para o ruivo voltar para debaixo da Capa da Invisibilidade.

Mas antes que pudessem se cobrir outra vez, antes que pudessem sequer recuperar o fôlego, eles ouviram o ruído de patas gigantescas. Algo estava saltando da escuridão em sua direção, um enorme cão negro de olhos claros.

Harry tentou pegar a varinha, mas tarde demais, o cão investira dando um enorme salto, e suas patas dianteiras atingiram o garoto no peito; Harry caiu para trás num redemoinho de pelos; sentiu o hálito quente do animal, viu seu dente de mais de dois centímetros...

Harry se levantou de novo. Quando o cão saltou contra ele, porém, Ron, que estava do lado, empurrou o amigo para o lado. Em vez de Harry, o cão abocanhou Ron e o puxou para longe com a facilidade que faria com uma boneca…

Então, nenhum deles não viu de onde, uma coisa atingiu Hermione e derrubando-os no chão. O menino tateou à procura de sua varinha, piscando para limpar o sangue dos olhos e murmurou um feitiço quando a encontrou, fazendo uma luz surgir em sua ponta e então deixando visível que eles estavam no Salgueiro Lutador.

E ali, na base do tronco, o cão arrastava Ron para dentro de um grande buraco entre as raízes. O garoto lutava furiosamente, mas sua cabeça e seu tronco foram desaparecendo de vista...

— Ron! — gritou Harry, tentando segui-lo, mas um pesado galho chicoteou ameaçadoramente o ar e ele foi forçado a recuar.

Ron sumira dentro do buraco, quebrando a perna em um ângulo estranho ao fazê-lo.

Apesar de Hermione discordar, os dois acabaram decidindo em ir atrás de Ron e não de ajuda. Mas, não teriam conseguido vencer os galhos do Salgueiro Lutador sem a ajuda de Bichenta, que saltou à frente e usou as patas dianteiras para apertar um nó no tronco, fazendo a árvore parar como uma estátua.

Hermione ficou surpresa, mas mesmo assim acompanhou Harry até o buraco nas raízes.

Os três deslizaram pelo buraco no tronco. Os outros da gata brilhando na luz da varinha do menino.

Os amigos seguiram Bichenta por um túnel estreito e longo, em silêncio. Parecia a Harry, porém, que estavam saindo de Hogwarts e indo para Hogsmeade.

E então o túnel começou a subir e Bichenta desaparecera. Em vez da gata, Harry viu um espaço mal iluminado por meio de uma pequena abertura.

Eles encontraram um quarto muito desarrumado e poeirento. Hermione apertou o braço de Harry e disse o que os dois estavam pensando. Aquela era a Casa dos Gritos.

Naquele momento, os dois ouviram um rangido no alto. Alguma coisa se mexera no andar de cima.

Silenciosamente, os dois subiram uma escada velha e chegaram ao patamar de escuro.

Ao se esgueirarem nessa direção, ouviram um movimento atrás da porta; um gemido baixo e em seguida um ronronar alto e grave.

Eles trocaram um último olhar e um último aceno de cabeça.

A varinha empunhada com firmeza à frente, Harry escancarou a porta com um chute.

Numa cama de colunas encontrava-se Bichenta, que ronronou alto ao vê-los. No chão ao lado da gata, agarrando a perna estendida num ângulo estranho, encontrava-se Ron.

Harry e Hermione correram para o amigo, preocupados e querendo saber o que acontecera. Mas, ao invés de explicar, Ron levantou o dedo e apontou para um lugar na escuridão.

— Ele é o cão... Ele é um animago...

Ron olhava fixamente por cima do ombro de Harry. Este se virou depressa. Com um estalo, o homem nas sombras fechou a porta do quarto.

Uma massa de cabelos imundos e embaraçados caía até seus cotovelos. Se seus olhos não estivessem brilhando em órbitas fundas e escuras, ele poderia ser tomado por um cadáver. A pele macilenta estava tão esticada sobre os ossos do rosto, que ele lembrava uma caveira. Os dentes amarelos estavam arreganhados num sorriso.

Era Sirius Black.

Expelliarmus! — disse com voz rouca, apontando a varinha de Ron para os garotos.

As varinhas de Harry e Hermione saíram voando de suas mãos e Black as recolheu. Então se aproximou. Seus olhos estavam fixos em Harry.

Furioso e apesar de Hermione e Ron terem tentado detê-lo, Harry avançou para Black, apenas conseguindo pensar que o homem vendera seus pais para Voldemort.

Talvez fosse o choque de ver Harry fazer uma coisa tão idiota, mas Black não ergueu as varinhas em tempo. Uma das mãos de Harry segurou seu pulso magro, forçando as pontas das varinhas para baixo; o punho de sua outra mão atingiu o lado da cabeça de Black e os dois caíram de costas contra a parede...

Porém, quando a mão livre de Black encontrou a garganta de Harry, Hermione e Ron entraram na briga.

Hermione deu um chute em Black, que largou Harry com um gemido de dor. Ron se atirara sobre a mão com que Black segurava as varinhas.

Harry lutou para se livrar dos corpos embolados e viu sua varinha rolando pelo chão; atirou-se para ela, mas...

O par dianteiro de garras de Bichenta se enterrou fundo no braço de Harry; o garoto se soltou, mas agora corria ela para sua varinha...

— NÃO VAI NÃO! — berrou Harry, e mirou um pontapé na gata que a fez saltar para o lado, bufando; o garoto agarrou a varinha, virou-se e...

— Saiam da frente! — gritou para Ron e Hermione.

Não foi preciso falar duas vezes. Hermione atirou-se para o lado ao mesmo tempo em que recuperava as varinhas dela e de Ron. O garoto arrastou-se até a cama de colunas, as mãos segurando a perna quebrada.

Black estava esparramado junto à parede enquanto observava Harry se aproximar, a varinha apontada para o seu coração.

— Vai me matar, Harry? — murmurou ele.

O garoto parou bem em cima de Black, a varinha ainda apontada para o seu coração, encarando-o do alto. Um inchaço pálido surgia em torno do olho esquerdo do homem e seu nariz sangrava.

— Você matou meus pais — acusou-o Harry, com a voz ligeiramente trêmula, mas a mão segurando a varinha com firmeza.

Black encarou-o com aqueles olhos fundos.

— Você tem que me ouvir — disse Black, e havia agora uma urgência em sua voz. — Você vai se arrepender se não me ouvir... Você não compreende...

— Compreendo muito melhor do que você pensa — disse Harry, e sua voz tremeu mais que nunca.

Antes que qualquer dos dois pudesse dizer outra palavra, Bichenta saltou para o peito de Black e se sentou ali, bem em cima do coração. O homem pestanejou e olhou para a gata.

— Saia daí, sua estúpida. O que está fazendo?— murmurou o homem, tentando empurrar Bichenta para longe. Mas a gata enterrou as garras nas vestes de Black e não se mexeu. Vendo que ela não iria sair dali, Black se voltou para Harry: – Faça o que quiser, mas não a machuque.

Então Bichenta virou a cara para Harry e encarou-o com aqueles grandes olhos azuis e insuportável ar de superioridade...

Harry encarou Black e Bichenta, apertando com mais força a varinha na mão. E daí se tivesse que matar a gata também? Ela estava mancomunada com Black... Se estava disposta a morrer para proteger o homem, não era de sua conta...

O garoto ergueu a varinha. Agora era o momento de agir. Agora era o momento de vingar seu pai e sua mãe. Ia matar Black.

Vários segundos se passaram sem que Harry tivesse coragem de fazer qualquer coisa. Até que finalmente eles ouviram passos no andar de baixo e de repente o professor Lupin irrompeu no quarto, a varinha erguida e pronta. Seus olhos piscaram ao ver toda a cena bizarra que se desenrolava.

Expelliarmus!— ele gritou.

A varinha de Harry voou mais uma vez de sua mão; as duas que Hermione segurava também. Lupin apanhou-as agilmente e avançou pelo quarto, olhando para Black, que ainda tinha Bichenta numa atitude de proteção sobre seu peito.

Então Lupin perguntou com a voz muito tensa.

— Onde é que ele está, Sirius?

Nenhum dos três amigos entendeu o que Lupin queria dizer, mas Black sim. Ele apontou para Ron.

— Mas, então... — murmurou Lupin, encarando Black com tal intensidade que parecia estar tentando ler sua mente — Por que ele não se revelou antes? A não ser que... — os olhos de Lupin se arregalaram, como se estivesse vendo alguma coisa que mais ninguém podia ver — A não ser que ele fosse o... A não ser que vocês tivessem trocado... Sem me dizer?

Muito lentamente, com o olhar fundo cravado no rosto de Lupin, Black confirmou com um aceno de cabeça.

Lupin levantou Black, fazendo Bichenta cair ao chão, e o abraçou como a um irmão, deixando os outros três perplexos.

— EU NÃO ACREDITO! — berrou Hermione.

— Hermione se acalme... – Lupin tentou, mas ela parecia incapaz de ouvir.

— Eu não contei a ninguém! Eu confiei no senhor — esganiçou-se a garota. — Tenho encoberto o senhor... e o tempo todo o senhor era amigo dele!

— Você está enganada, Hermione, me escute, por favor! — gritou Lupin. — Posso explicar... Eu não era amigo de Sirius, mas agora sou...

— NÃO! — berrou Hermione. — Harry não confie nele, ele tem ajudado Black a entrar no castelo, ele quer ver você morto também... Ele é um lobisomem!

Houve um silêncio audível. Os olhos de todos agora estavam postos em Lupin, que parecia extraordinariamente calmo.

— O que disse não está à altura do seu padrão de acertos, Hermione. Receio que tenha acertado apenas uma afirmação em três. Eu não tenho ajudado Sirius a entrar no castelo e certamente não quero ver Harry morto... — Um estranho tremor atravessou seu rosto. — Mas não vou negar que seja um lobisomem. Há quanto tempo você sabe?

Ela explicou como verificara a tabela lunar depois de um trabalho que o Profº. Snape passara e como percebeu que ele só ficava doente na lua-cheia. Além disso, seu bicho-papão era uma lua-cheia!

Lupin forçou uma risada.

— Você é a bruxa de treze anos mais inteligente que já conheci, Hermione.

— O SENHOR ESTEVE AJUDANDO ELE O TEMPO TODO! — Harry apontou para Black, que, de repente atravessou o quarto em direção à cama de colunas e afundou nela.

Bichenta saltou para junto dele e subiu no seu colo, ronronando. Ron se afastou devagarinho dos dois, arrastando a perna.

— Eu não estive ajudando Sirius — respondeu Lupin. — Se você me der uma chance, eu explico. Olhe...

O professor separou as varinhas de Harry, Ron e Hermione e devolveu-as aos donos. Harry apanhou a dele, espantado.

— Pronto — disse Lupin, enfiando a própria varinha no cinto. — Vocês estão armados e nós, não. Agora vão me ouvir?

Lupin explicou como descobrira que eles estavam ali pelo Mapa do Maroto. Como acompanhara toda a cena sem acreditar do seu gabinete antes de decidir que era melhor interferir.

Hermione, Ron e Harry estavam confusos, e ficaram mais ainda quando Lupin pediu para ver Perebas, que se contorceu nas mãos de Ron quando este o tirou de seu bolso, tentando fugir.

Lupin prendeu o ar.

— Isto não é um rato — Sirius Black explicou para os garotos, de repente, com a voz rouca.

— Que é que você está dizendo... É claro que é um rato... – Ron replicou.

— Não, não é — confirmou Lupin calmamente. — É um bruxo.

– Um animago — disse Black — que atende pelo nome de Peter Pettigrew.

Certamente que Ron, Hermione e Harry acharam que os dois estavam enlouquecendo, mas quando Black avançou para o rato, fazendo Bichenta cair no chão, eles tiveram que rever suas teorias.

Isso porque, ao cair, Bichenta começou a se transformar. Em um minuto era uma gata, no outro fora substituída por uma mulher desconhecida.

Ela tinha a pele bem clara, mas os olhos eram do mesmo azul dos de Bichenta e o cabelo, embora embaraçados e compridos, da mesma cor do pelo da gata.

– Bichenta? – disse contorcendo o rosto em uma careta. – Francamente, menina, de onde tirou esse nome? – Ela falava de uma forma engraça, como se não usasse a voz há muito tempo. Estava olhando Hermione, que soltou um gemido baixo.

– Finalmente a madame resolveu nos dar a honra de sua companhia! – falou Black, irritado e irônico.

Mas, a mulher só conseguia olhar para Lupin, que a encarava como a um fantasma. Depois de um tempo, os dois finalmente se abraçaram, ela passando as mãos no cabelo dele como se nunca mais fosse fazê-lo.

– Você está viva, Pammy…

– Senti tanto sua falta!

Foi quando Harry reconheceu a mulher como sendo a bruxa sorridente ao lado de Black no casamento de seus pais.

Aquela era Pamela Porter.

Ela estava do lado dele. Do lado de Black e das trevas. Ajudara-o quando ele traiu seus pais. Sentiu um profundo ódio, mas então percebeu que ela devia estar morta e nada fez sentido.

Quando Ron perguntou, ela se apresentou como Pam Porter, exatamente como Harry já desconfiara.

– Você traiu meus pais! – Harry gritou.

Pamela olhou para ele como se só reparasse na sua presença naquele momento e sorriu. Harry ficou mais confuso ainda.

– Se parece tanto com James…– disse ela, calma.– Mesmo quando tentou me matar. Ah, e você tem os olhos da sua mãe.

– Pam.– falou Sirius.– Vamos matá-lo!

Sem tirar os olhos de Harry, ela lambeu os lábios e só então olhou para Black.

– Quando você quiser.

– Agora.

Ela deu de ombros e os dois avançaram para Perebas.

Ron berrou de dor ao receber o peso de Black sobre sua perna quebrada.

Lupin os impediu, entretanto, dizendo que precisavam explicar e depois de uma pequena discussão, o lobisomem ganhou. Começou a contar tudo desde o começo. Como os amigos haviam se tornado em animagos graças a sua licantropia, como Peter era o fiel do segredo e como Sirius e Pam haviam sido acusados injustamente.

Sirius então explicou como descobrira que Perebas era mesmo Peter e como fugira de Azkaban.

Por fim, Lupin contou o motivo de Snape não gostar de Remus estar Hogwarts e como talvez ele estivesse certo sobre ele, pois fora covarde e não contara a Dumbledore sobre as transformações animagas de Sirius mesmo naquele ano, enquanto achava que ele era um assassino tentando matar Harry.

— Então é por isso que Snape não gosta do senhor — disse Harry por fim —, porque achou que o senhor estava participando da brincadeira?

— Isso mesmo — zombou uma voz fria vinda da parede atrás de Lupin.

Severus Snape removeu a Capa da Invisibilidade e segurava a varinha apontada diretamente para Lupin.

Ele contou como achava a capa no pé do Salgueiro Lutador e como descobrira que eles estavam ali pelo Mapa do Maroto na sala de Lupin. Logo depois, enquanto o último tentava explicar o que acontecera na verdade, Snape faz cordas saírem de sua varinha e o amarrarem, era incapaz de ouvir qualquer um ou qualquer explicação. Estava apenas concentrado em desfrutar da vingança contra os que mais odiara durante muito tempo.

Com um rugido de cólera, Black avançou para Snape, mas este apontou a varinha entre os olhos de Black.

– É só me dar um motivo — sussurrou o professor. — É só me dar um motivo, e juro que faço.

Black se imobilizou. Teria sido impossível dizer qual dos dois rostos revelava mais ódio.

– Não seja tolo…– disse Black, cuidadosamente.

– Ele não consegue evitar, já se tornou um hábito.– disse Pam, entre os dentes, apenas alto o suficiente para Harry, Ron e Hermione, que estavam mais próximos, ouvirem.

Porter começou a se mexer atrás de Black. Preparava um ataque.

– Você também, Porter.– disse Snape, sem tirar os olhos de Black.

Snape continuou apontando a varinha para Black.

– Um passo e eu o faço.

Ela ficou imóvel.

Sem saber o que dizer ou em quem acreditar, Hermione tentou acalmar Snape, pedindo para que eles pudessem ouvir os outros três, mas o professor permanecia cego pelo ódio.

— A vingança é muito doce — sussurrou Snape para Black. — Como desejei ter o privilégio de apanhá-lo...

— Você é que vai fazer papel de tolo outra vez, Severo — rosnou Black. — Se esse garoto levar o rato dele até o castelo — e indicou Ron com a cabeça... — Eu vou sem criar caso...

— Até o castelo? — retrucou Snape, com voz insinuante. — Acho que não precisamos ir tão longe. Basta eu chamar os dementadores quando sairmos do salgueiro. Eles vão ficar muito satisfeitos em vê-lo, Black... Satisfeitos o suficiente para lhe dar um beijinho, eu me arriscaria a dizer...

A pouca cor que havia no rosto de Black desapareceu.

— Você... Você tem que ouvir o que temos a dizer — disse Porter, aparentemente fazendo enorme esforço para falar. — O rato... Olhe aquele rato...

Mas havia um brilho alucinado nos olhos de Snape que Harry nunca vira antes. O professor parecia incapaz de ouvir.

— Vamos, todos. — Snape estalou os dedos e as pontas das cordas que amarravam Lupin voaram para suas mãos. — Eu puxo o lobisomem. Talvez os dementadores tenham um beijo para ele também... E para Porter, é claro.

Porém, antes que Snape pudesse fazer qualquer coisa, Harry avançou para ele, sendo acompanhado por Hermione e Ron, os três verbalizando ao mesmo tempo o feitiço “Expelliarmus”, o que fez o professor ser atirado contra a parede e desmaiar.

Harry evitou o olhar de Black. Não tinha certeza, mesmo agora, de que agira certo.

Lupin lutava para se livrar das cordas. Porter se abaixou depressa e o desamarrou. O professor se ergueu, esfregando os braços onde as cordas o tinham machucado.

— Obrigado, Harry — agradeceu.

— Não estou dizendo com isso que já acredito no senhor — disse o garoto.

— Então está na hora de lhe apresentarmos alguma prova. Você, garoto... Me dê o Peter, por favor. Agora. Tem uma maneira de provar o que realmente aconteceu. Ron, me dê esse rato.

— Que é que o senhor vai fazer com ele se eu der? — perguntou Ron, tenso.

— Obrigá-lo a se revelar — disse Lupin. — Se ele for realmente um rato, não se machucará.

Ron hesitou. Então, finalmente estendeu a mão e entregou Perebas a Lupin. O rato começou a guinchar sem parar, se contorcendo, os olhinhos negros saltando das órbitas.

Black já apanhara a varinha de Snape na cama e Hermione emprestada a dela à Porter. Aproximaram-se de Lupin e do rato que se debatia e seus olhos úmidos pareceram, de repente, arder em seu rosto.

Lampejos branco-azulados irromperam das três varinhas; por um instante, Perebas parou no ar, o corpinho cinzento revirando-se alucinadamente, Ron berrou, o rato caiu e bateu no chão. Seguiu-se novo lampejo ofuscante e então...

Aconteceu exatamente como com Porter.

Um homem muito baixo surgira.

Tinha o aspecto flácido de um homem gorducho que perdera muito peso em pouco tempo. A pele estava enrugada, quase como a pelagem de Perebas, e havia um ar ratinheiro em volta do seu nariz fino e dos olhos muito miúdos e lacrimosos. Ele olhou para os presentes, um a um, respirando raso e depressa. Harry viu seus olhos correrem para a porta e voltarem.

— Ora, ora, olá, Peter — saudou-o Lupin educadamente, como se fosse frequente ratos virarem velhos colegas de escola à sua volta.

— Há quanto tempo! – Disse Black

— S... Sirius. P… Pam. R... Remus. — Até a voz de Pettigrew lembrava um guincho. Novamente seus olhos correram para a porta. — Meus amigos... Meus velhos amigos...

A varinha de Black se ergueu, mas Lupin agarrou-o pelo pulso, lhe lançando um olhar de censura, depois tornou a se virar para Pettigrew, com a voz leve e displicente.

— Estávamos tendo uma conversinha, Peter, sobre os acontecimentos da noite em que Lily e James morreram. Você talvez tenha perdido os detalhes enquanto guinchava na cama...

— Remus — ofegou Pettigrew, e Harry observou que se formavam gotas de suor em seu rosto lívido —, você não acredita neles, acredita...? Eles tentaram me matar, Remus... E viram tentar de novo. Eu sabia que ele fugiria de Azkaban…

— Você sabia que Sirius ia fugir de Azkaban? — perguntou Lupin, com a testa franzida. — Sabendo que ninguém jamais fez isso antes?

— Ele tem poderes das trevas com os quais a gente só consegue sonhar! — gritou Pettigrew com voz aguda. — De que outro jeito fugiria de lá? Suponho que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tenha lhe ensinado alguns truques!

Black começou a rir, uma risada horrível, sem alegria, que encheu o quarto todo.

— Voldemort me ensinou alguns truques?

Pettigrew se encolheu como se Black tivesse brandido um chicote contra ele.

— Que foi? Apavorou-se de ouvir o nome do seu velho mestre? — perguntou Black. — Não o culpo, Peter. O pessoal dele não anda muito satisfeito com você, não é mesmo?

Pettigrew respirava mais rapidamente que nunca. Todo o seu rosto brilhava de suor agora.

Black contou como ouvira os Comensais da Morte gritando em seu sono em Azkaban. Como todos eles pretendiam matar Peter por acreditarem terem sido traídos pelo traidor. Como Peter devia estar se escondendo dos que não haviam ido para Azkaban e não de Sirius.

Peter protestou, dizendo que na verdade, se algum Comensal da Morte viesse atrás dele, seria por ter mandado o melhor espião deles para Azkaban.

— Como é que você se atreve? — rosnou Black, parecendo de repente o cachorro que ele fora há pouco.— Eu, espião do Voldemort? Quando foi que andei espreitando gente mais forte e mais poderosa do que eu? Agora você, Peter, jamais vou entender por que não reparei desde o começo que você era o espião. Você costumava nos acompanhar... A mim, a Pam e ao Remus... E ao James...

Pettigrew tornou a enxugar o rosto; estava quase ofegando, sem ar.

— Lily e James só fizeram de você o fiel do segredo porque eu sugeri — sibilou Black, tão venenosamente que Pettigrew deu um passo atrás. — Achei que era o plano perfeito... Voldemort com certeza viria atrás de mim ou Pam… Deve ter sido a hora mais sublime de sua vida infeliz quando você contou a Voldemort que podia lhe entregar os Potter. ­– Então virou-se para Harry. — Acredite-me — disse, rouco. — Acredite-me, Harry. Nunca traí James e Lily. Teria preferido morrer a traí-los.

– Eu também.– disse Porter.

E, finalmente, Harry acreditou. A garganta apertada demais para falar, fez um aceno afirmativo com a cabeça.

— Não!

Pettigrew caíra de joelhos como se o aceno de Harry fosse a sua sentença de morte. Arrastou-se de joelhos procurando ajuda em Black, Porter, Ron e Hermione. Mas como todos lhe negaram, virou-se para Harry.

— Harry... Harry... Você é igualzinho ao seu pai... Igualzinho...

— COMO É QUE VOCÊ SE ATREVE A FALAR COM HARRY? — rugiu Black. — COMO TEM CORAGEM DE OLHAR PARA ELE? COMO TEM CORAGEM DE FALAR DE JAMES NA FRENTE DELE?

Black e Lupin avançaram ao mesmo tempo, agarraram Pettigrew pelos ombros e o atiraram de costas no chão. O homem ficou ali, contorcendo-se de terror, olhando fixamente para os dois.

— Você vendeu Lily e James a Voldemort — disse Porter, que tremia, mas mantinha a expressão irritante de superioridade enquanto se colocava no meio dos dois amigos. — Você nega isso?

Pettigrew prorrompeu em lágrimas.

— Pam, o que é que eu podia ter feito? O Lord das Trevas... Vocês não fazem ideia... Ele tem armas que vocês não imaginam... Tive medo, Pam, eu nunca fui corajoso como você, Sirius, Remo e James. Eu nunca desejei que isso acontecesse... Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado me forçou... Ele estava assumindo o poder em toda parte! — exclamou Pettigrew. — Que é que eu tinha a ganhar recusando o que me pedia?

— Que é que você tinha a ganhar lutando contra o bruxo mais maligno que já existiu? — perguntou Black, com uma terrível expressão de fúria no rosto. — Apenas vidas inocentes, Peter!

— Você não entende! — choramingou Pettigrew. — Ele teria me matado, Sirius!

— ENTÃO VOCÉ DEVIA TER MORRIDO! — rugiu Black. — MORRER EM VEZ DE TRAIR SEUS AMIGOS! COMO TERÍAMOS FEITO POR VOCÊ!

– Vamos fazer isso juntos? – perguntou Porter, alegremente.

Black assentiu sombriamente.

Os três ergueram as varinhas.

— Você devia ter percebido — disse Lupin com a voz controlada —, que se Voldemort não o matasse, nós o mataríamos. Adeus, Peter.

Harry, porém, impediu-os. Não concebia a ideia de que os melhores amigos dos pais virassem assassinos por causa dele. Pediu então que o levassem para o castelo e o entregassem aos dementadores.

Porter, Black e Lupin se entreolharam antes de concordar.

Lupin amarrou Peter a si mesmo e a Ron, que parecia ter levado a verdadeira identidade do outro como uma ofensa pessoal.

Black também enfeitiçou Snape para que flutuasse e assim o estranho grupo passou pela passagem do Salgueiro Lutador, de volta a superfície e os terrenos de Hogwarts.

Andavam em direção ao castelo quando uma nuvem se mexeu e o grupo foi banhado pelo luar. Snape se chocou com Lupin, Pettigrew e Ron, que pararam abruptamente. Black congelou e Porter esticou um braço para fazer Harry e Hermione pararem.

O garoto viu a silhueta de Lupin. O professor enrijecera.

Lembrando que Snape mencionara que Lupin não tomara a poção que o mantinha controlado durante a transformação naquela noite, Black ordenou que todos corressem, enquanto ele próprio e Pam se transformavam nas suas formas animagas.

Lupin se transformara na fera que era o lobisomem e empinou, batendo as longas mandíbulas. Quando ele se livrou da algema que o prendia, o cão agarrou-o pelo pescoço e puxou-o para trás, afastando-o de Ron e Pettigrew. Atracaram-se, mandíbula contra mandíbula, as garras se golpeando...

Harry parou petrificado com a visão, demasiado absorto com a batalha para prestar atenção em outra coisa. Foi o grito de Hermione que o alertou...

Pettigrew mergulhara para apanhar a varinha caída de Lupin. Ron, mal equilibrado na perna enfaixada, caiu. Houve um estampido, um clarão... e Ron ficou estirado, imóvel, no chão. Outro estampido... a gata voou pelo ar e tornou a cair na terra fofa.

E então Pettigrew se transformara. Harry viu o correr pelo gramado.

Um uivo e um rosnado prolongado e surdo ecoaram; Harry se virou e viu o lobisomem fugindo; galopando para a floresta...

— Sirius, ele fugiu, Pettigrew se transformou — berrou Harry.

Black sangrava; havia cortes profundos em seu focinho e nas costas, mas ao ouvir as palavras de Harry ele tornou a se levantar depressa, cutucando Pam com o focinho e ajudando-a a se levantar, os dois correndo para longe.

Enquanto perseguiam Peter, eles acabaram perto do lago e foi lá onde os dementadores os encontraram.

Sirius tentou latir para espantá-los, mas eram muitos. Ele caiu no chão, voltando a se transformar em pessoa e Pam ao lado, esgotada, o copiou, levando as mãos à cabeça.

O homem passou um dos braços no pescoço dela, em uma posição de proteção, mas não foi de muita utilidade.

— Não — Pam gemia —, Não... Por favor...

Ele sentia o frio de gelo seu conhecido, penetrando suas entranhas, a névoa começando a obscurecer sua visão; os dementadores não estavam somente surgindo da escuridão por todo o lado; estavam cercando-os...

Não dava para ter muita certeza, mas Sirius achou ter visto uma luz do lado oposto ao lago. Naquele momento estava fraco demais para ter certeza. Caiu no chão, pálido como a morte e Pam caiu ao seu lado, apoiando a cabeça no seu ombro, desacordada.

Era muito cedo. Muito cedo e eles não haviam conseguido fazer nada ainda. Era triste também. Mas, aparentemente era assim que tudo terminava.

As últimas forças de Sirius abandonaram-no e ele finalmente sucumbiu a escuridão.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Meu trabalho para fazer adaptação ficou bom? Espero que sim, deu mais trabalho do que escrever um capítulo normal...
BBK,
Cassie