O Salão Principal estava diferente do que costumava estar. As quatro mesas das casas tinham sumido, e no lugar delas havia mais de uma centena de mesinhas, todas voltadas para o mesmo lugar e, em cada uma delas, estava sentado um estudante, cabeça baixa, escrevendo num rolo de pergaminho. O único som que se podia ouvir no local era o das penas arranhando e um ou outro sussurro de alguém ajustando o pergaminho. Era claramente hora de exame.

Raios de sol fluíam pelas janelas mais altas atingindo as cabeças inclinadas, que resplandeciam o castanho, o cobre e o dourado na luz brilhante.

Severus estava sentando em uma dessas mesinhas. Seu nariz em forma de gancho distante menos de um dedo da superfície do pergaminho em que escrevia. No papel em que escrevia era possível ler o título do exame: DEFESA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS - NÍVEL ORDINÁRIO DE MAGIA.

A mão dele voava pelo pergaminho; já tinha escrito pelo menos uns 50 centímetros a mais que seus colegas mais próximos e sua letra era miúda.

– Mais cinco minutos!

O professor Flitwick estava passando ao lado de um garoto de cabelo negro e despenteado. James estava se levantando agora, guardando sua pena, abrindo o rolo de pergaminho à sua frente para reler o que tinha escrito...

Ele deu um bocejo demorado e amarrotou os cabelos, deixando-os mais bagunçados do que já eram. Então, depois de olhar para o professor Flitwick, se virou para trás na cadeira e sorriu para um garoto sentado quatro carteiras atrás dele.

Sirius fez um sinal de ok para James. Ele estava largado em sua cadeira, equilibrando-a apenas nas pernas traseiras. Amy, sentada atrás dele, lançava olhares esperançosos, quase implorando por uma noite igual à passada, mas Sirius não tinha reparado os olhares da garota, ou estaria flertando com ela.

E duas cadeiras ao lado de Amy estava Remus. Ele parecia bastante absorto em seu exame. Conforme relia suas respostas, arranhava a testa com a ponta da pena, franzindo-a de leve.

Não muito longe, Pam olhava para Sirius e James. Os dois estavam olhando para ela agora e ela fez sinal de positivo com a mão. Seus cabelos castanho-escuros estavam levemente arrepiados e ela parecia não se importar nenhum pouco com isso. Ela usava roupas largas, bem diferentes das outras garotas.

Peter roia as unhas, olhando para seu teste, arranhando o chão com os dedos do pé. A todo instante dava olhadas furtivas nos exames dos colegas a seu lado.

James, perto dele, começara a rabiscava um pedaço qualquer de pergaminho. Ele tinha desenhado um pomo-de-ouro e agora estava escrevendo as letras 'L.E.'. Lily, mesmo sentada perto, parecia absurda demais em sua prova para ligar para isso.

– Guardem suas penas, por favor! - Berrou o professor Flitwick. - Isso inclui você também, Stebbins! Por favor, continuem sentados enquanto eu recolho seus exames! Accio!

Mais de uma centena de rolos de pergaminho flutuou no ar na direção dos braços escancarados do professor Flitwick, derrubando-o no chão. Muita gente riu. Alguns dos alunos que estavam nas carteiras da frente se levantaram, seguraram o professor pelos cotovelos e o puseram de pé.

– Obrigado... Obrigado - O professor Flitwick disse ofegante. - Muito bem, já podem ir embora!

James riscou apressadamente o 'L.E.' que há pouco se preocupava em embelezar; ele se pôs de pé, enfiou a pena e o papel do exame dentro da mochila, que jogou sobre as costas. Sirius logo se juntou a ele e os dois ficaram esperando Pam vir encontrá-los.

Os cinco amigos caminharam lado a lado para fora do Salão Principal, indo para fora do castelo.

– Gostou da pergunta dez, Aluado? - Perguntou Sirius.

– Amei – Respondeu Remus animado. - Dê cinco sinais que permitem identificar o lobisomem. Ótima pergunta.

– Você acha que conseguiu lembrar de todos? - James falou em tom de gozação.

– Acho que sim - Disse Remus seriamente quando se juntaram à multidão que se aglomerava perto das portas de entrada, afoitas para ir para fora aproveitar a luz do sol. - Um: ele está sentado na minha cadeira. Dois: ele está usando as minhas roupas. Três: o nome dele é Remus Lupin.

Peter foi o único que não riu.

– Eu lembrei do formato do focinho, das pupilas dilatadas e da cauda em escovinha - Disse ansiosamente - Mas eu não consegui pensar em mais nada.

– Como você consegue ser tão tapado, Rabicho? - Pam rebateu impaciente. - Você dá voltinhas com um lobisomem uma vez por mês...

– Fala baixo - Lupin implorou.

Severus estava logo trás deles, embora os amigos não soubessem isso. Ele os seguia, ainda estudando a prova e, aparentemente, sem se dar conta de onde estava indo.

– Bom, eu achei essa prova fácil - Sirius que andava mais na frente dizia. - Duvido que eu não consiga no mínimo um "Excelente".

– Eu também - Disse James. Ele guardou a varinha no bolso e pegou um inquieto pomo-de-ouro.

– Onde você conseguiu isso? – Perguntou Pam, seus olhos brilhando malignamente.

– Roubei - James respondeu com descaso. – Acho que é melhor você não roubar uma goles para praticar como goleira, seria difícil esconder uma bola daquele tamanho.

Pam, contrariada, deu de ombros, aparentemente estava pensando nisso um segundo atrás.

James começou a brincar com o pomo, deixando que voasse uns 50 centímetros no ar antes de agarrá-lo outra vez; seus reflexos eram excelentes.

Peter o contemplava admirado. Pararam debaixo da sombra da mesma faia de sempre. Severus tinha se ajeitado na grama também, debaixo da sombra densa de um amontoado de arbustos. Ele continuava profundamente imerso na prova do N.O.M. A luz do sol resplandecia sobre a superfície lisa do lago, na beirinha em que o grupo de garotas risonhas que eram Dory, Lene, Alice e Lily, de pés descalços, refrescavam-nos na água.

Remus tinha aberto um livro e estava lendo.

Sirius observava a confusão de estudantes pelo gramado, parecendo bastante aborrecido e desdenhoso, mas de uma maneira muito charmosa também.

Pam parecia estar imersas em seus próprios pensamentos e uma vez ou outra resmungava “Não, não vai dar certo” ou “Não, já fizemos isso uma vez”.

James continuava brincando com o pomo, deixando-o ir cada vez mais longe, quase escapando, mas sempre o agarrando no último segundo.

Peter o observava de boca aberta.

A cada pegada particularmente difícil de James, Peter ofegava e aplaudia. O de óculos continuava a bagunçar ainda mais o cabelo como se para evitar que ficasse arrumado, e, volta e meia, olhava para as garotas na beira do lago. Mais especificamente para Lily.

– Melhor você guardar isso logo, - Disse Sirius finalmente, após James fazer uma ótima pegada e Peter deixar escapar um assobio - Antes que o Rabicho se molhe de tanta excitação.

Peter ficou levemente vermelho, mas James riu.

– Se isso te incomoda - Ele disse, enfiando o pomo dentro do bolso.

– Isso aqui ta muito chato - Disse Sirius. - Queria que fosse lua cheia.

– Só você - Remus retorquiu sombriamente detrás do livro. – Sei que os exames de História da Magia, Adivinhações, Herbologia e Feitiços já foram, mas nós ainda temos os exames de Transfiguração. Se você não tem nada pra fazer podia me testar. Aqui... - E ele ofereceu o livro.

Mas Sirius fez pouco caso.

– Eu não preciso nem olhar para esse lixo. Sei tudo de cor.

– Isso vai te animar, Almofadinhas - Disse James calmamente. - Olha quem está aqui - Sirius virou a cabeça.

De repente ele estava aceso como um cachorro que farejou um coelho.

– Excelente - Disse suavemente. - Ranhoso.

Severus estava de pé novamente e guardava o teste em sua mochila. Sirius cutucou Pam, que pareceu acordar de um sonho e ao olhar para onde os outros olharam, sorriu travessa. Assim que Severus deixou a sombra dos arbustos e começou a andar pela grama, Pam, Sirius e James se colocaram em seu caminho.

Remus e Peter continuaram sentados. O primeiro ainda tinha os olhos presos no livro, apesar de que eles não se moviam, sua testa tinha se franzido demarcando uma linha entre suas sobrancelhas. Peter olhava de Sirius, Pam e James para Severus com um semblante ávido de antecipação.

– Tudo bem, Ranhoso? - James perguntou em voz bem audível.

Ranhoso reagiu tão rapidamente que era como se estivesse esperando para ser atacado: derrubando sua mochila, tirou a mão de dentro das vestes e sua varinha já estava a meio caminho no ar quando Pam gritou:

– Expelliarmus!

A varinha de Ranhoso voou uns seis metros no ar e caiu com um pequeno estrondo na grama atrás dele. Sirius soltou uma gargalhada.

– Impedimenta! - Ele disse, apontando sua varinha na direção de Ranhoso, que foi jogado longe enquanto ia em busca de sua varinha.

Os estudantes em volta se viraram para assistir. Alguns deles tinham se levantado e estavam se aproximando. Alguns pareciam apreensivos, outros divertidos.

Ranhoso estava caído arquejante no solo. James, Pam e Sirius avançaram em sua direção, varinhas erguidas, James dando olhares furtivos por sobre o ombro na direção das garotas na beira do lago. Peter estava de pé agora, consumindo a cena com o olhar, perambulando ao redor de Remus para conseguir uma visão melhor.

– Como você foi no exame, Ranhoso? - Perguntou James.

– Eu estava observando, o nariz dele estava quase tocando o pergaminho - Disse Sirius maldosamente. - Deve ter marcas enormes de óleo no pergaminho inteiro, eles não vão conseguir ler uma palavra.

Muita gente que estava em volta riu. Peter gargalhou. Ranhoso tentava se levantar, mas a azaração ainda estava funcionando; estava preso, como se estivesse amarrado por cordas invisíveis.

– Vocês... Vocês não perdem por esperar - Ele resmungou ofegante, fitando James com uma expressão da mais pura aversão. - Não perdem por esperar!

– Esperar pelo quê? – Disse Pam, irônica. - O que você vai fazer, Ranhoso, assoar o nariz na gente?

Ranhoso soltou uma mistura de palavras encantadas e maldições, mas com sua varinha tão longe nada aconteceu.

– Olhe como fala com ela. Lave essa boca - Disse James, friamente. - Esfregaça!

Bolhas cor de rosa de sabão saíram da boca de Ranhoso de uma vez; a espuma estava cobrindo seus lábios, como uma mordaça, sufocando-o...

– Deixe-o em PAZ!

James, Sirius e Pam olharam ao redor. A mão de James que não segurava a varinha voou em direção ao cabelo.

Lily se aproximava com um ar irritante de superioridade.

– Tudo bom, Evans? - Disse James, e o tom de sua voz mudou subitamente. Estava mais profundo, mais maduro.

– Deixe-o em paz - Lily repetiu. Ela encarava James com todos os sinais de uma grande antipatia. - O que ele fez pra você?

– Bem - Disse James, aparentando pensar sobre o caso -, é mais o fato de que ele existe, se é que você me entende...

Muitos dos alunos ao redor riram Sirius, Pam e Peter também, mas Remus, aparentemente ainda concentrado em seu livro, não riu, e Lily também não.

– Você se acha muito engraçado - Ela retorquiu friamente. - Mas você é só um piadista infame e arrogante, Potter. Deixe-o em paz.

– Eu deixo se você sair comigo, Evans - James respondeu rapidamente. - Vamos... Saia comigo e eu nunca mais encosto a varinha no velho Ranhoso outra vez.

Atrás dele, o efeito do feitiço Impedimenta estava se acabando. Ranhoso estava começando a engatinhar para junto de sua varinha, deixando escapar bolhas de sabão enquanto se movia.

– Eu não sairia com você nem se eu só pudesse escolher entre você e a lula gigante - Disse Lily.

– Deu azar, Pontas - Disse Sirius marotamente e se virou para Ranhoso. - EI!

Tarde demais, Ranhoso tinha a varinha apontada exatamente na direção de James. Um feixe de luz e um corte apareceu num dos lados do rosto de James, manchando suas vestes com sangue. James revidou, um segundo feixe de luz e Ranhoso estava pendurado de cabeça para baixo no ar, suas vestes descendo e revelando um par de pernas pálidos e esqueléticos e cuecas de cor cinza.

Muitas das pessoas naquela pequena multidão aplaudiam; Sirius, Pam, James e Peter se fartavam de rir; Lily, cuja expressão de fúria hesitou por um instante como se fosse se render ao riso, disse:

– Coloque-o no chão!

– Com certeza - James respondeu baixando a varinha; Ranhoso caiu como uma pilha de roupas amontoada no chão. Desenroscando-se de suas próprias vestes, ele se levantou rapidamente, varinha em punho, mas Sirius bradou.

– Petrificus Totalus!

Ranhoso caiu outra vez, rígido como uma tábua.

– DEIXE-O EM PAZ! - Lily gritou. Ela tinha sua própria varinha empunhada agora. James, Pam e Sirius se olharam cautelosos.

– Ah, Evans, não me faça azarar você - Disse James sério.

– Então retire o feitiço.

James respirou fundo e então se voltou para Ranhoso e murmurou o contra-feitiço.

– Prontinho - Disse quando Ranhoso se colocou de pé novamente. - Você teve sorte de a Evans estar aqui, Ranhoso...

– Eu não preciso da ajuda de sangue-ruins imundos como ela!

Lily piscou.

– Bem - Ela respondeu friamente. - Não vou me incomodar no futuro. E eu lavaria suas cuecas se eu fosse você, Ranhoso.

– Peça desculpas para Evans! - James rugiu na direção de Ranhoso, a varinha apontada ameaçadoramente para ele.

– Eu não quero que você o faça se desculpar - Lily gritou para James. - Você é tão desprezível quanto ele.

– Quê? - Ganiu James. - Eu NUNCA chamei você de... Você-sabe-o-quê!

– Despenteando os cabelos só porque acha legal parecer que acabou de descer da sua vassoura, se exibindo com aquele pomo idiota, andando pelos corredores e azarando quem quer que seja só porque você é capaz... Estou surpresa que sua vassoura consiga sair do chão com o peso da sua cabeça cheia de titica. Você me dá NOJO.

Ela se virou e correu dali.

– Evans! - James gritou por ela. - EI, EVANS!

Mas ela nem olhou para trás.

– O que é que deu nela? - Disse James, tentado e fracassando em parecer que esta não era uma questão de grande importância para ele.

Sirius e Pam se entreolharam. Ela mordeu o lábio inferior, provavelmente segurando uma risada.

– Lendo nas entrelinhas eu diria que ela acha você um pouquinho convencido, cara - Respondeu Sirius.

– Certo - Disse James, que parecia furioso agora -, certo...

Houve um novo feixe de luz e Ranhoso estava novamente suspendo de ponta-cabeça no ar.

– Quem quer me ver tirar as cuecas do Ranhoso?

Mas, nesse momento a Professora McGonagall chegou e dispersou os alunos. Depois de ver o que estava acontecendo e de Severus ter explicado o que tinha acontecido, ela disse:

_Sr. Black, Sr. Potter, Srta. Porter… Menos dez pontos de cada um e me encontrem na minha sala no sábado à noite para sua detenção.

E ela foi embora. Ranhoso pegou suas coisas e foi embora logo em seguida, parecendo preocupado demais e com pressa demais para dizer alguma ironia para os três Marotos.

_Sr. Black, isso. Sr. Black aquilo. – Resmungou Sirius, irônico. – Ela só vê quando nós aprontamos alguma coisa não é?

_Verdade. É sempre Srta. Porter, faça isso; Srta. Porter, faça aquilo.

Sirius riu da imitação da amiga.

_Srta. Porter, detenção! – Gritou Sirius, brincando.

_Sr. Black, menos mil pontos! – Pam entrou na brincadeira.

James riu também dos dois.

Nesse momento Remus e Peter chegaram ao lado deles, o primeiro dizendo:

_Eu disse que não ia dar certo…

_Ah, dá um tempo, por favor! – Disse Sirius irritado.