Imprinting escrita por Mila


Capítulo 6
Entre a lenda e a pintura


Notas iniciais do capítulo

Volteiiii
dessa vez o cap ficou maior, simplesmente surgiu-me inspiração de repente.
Nos vemos lá em baixo.



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LUKE

–Tem algum problema se for no seu quarto? - perguntei.

Madson começou e respondeu de costas para mim:

–Se não quebrar nenhum móvel.

Já deveria ter esperado essa reação dela, afinal ela marcos os cinco dedos no meu rosto. Não deveria dizer a ela todos os segredos da minha alcateia, principalmente não sabendo se ela me amava do mesmo jeito que eu a amava. Tinha medo da reação de Madson, ela poderia ligar para a policia, me matar com algum salto alto, poderia rir da minha cara e me dar alguns outros tapas mesmo se suas mãos começarem a formigar e o sangue parar de circular por elas.

Tinha que arriscar.

–Seja o que você for fazer, saiba que ainda estou pagando o aluguel. - explicou ela sentando-se na ponta da cama.

O quarto tinha uma janela com cortina ao lado esquerdo da cama e uma cômoda do direito, um armário de madeira na frente e uma portinha que dava para o banheiro.

Sentei-me na ponta da cama na frente de Madson, imediatamente ela se afastou um pouco. Fiquei com medo dela não aceitar nada disso tudo.

–Olha... - comecei em voz baixa. - antes que você me bata ou me ataque com uma faca deixe-me explicar tudo.

Ela fechou os olhos e suspirou.

–Estou pronta. Pode falar.

–Tem algum problema de coração? - perguntei repentinamente.

–Ahn... não. - respondeu ela.

–Tudo bem. - engoli em seco. - Não sei por onde eu começo...

–Tente pelo começo. - sugeriu ela num sussurro.

Madson tomou coragem e se aproximou um pouco mais de mim e segurou minhas mãos, coisa que eu não tive coragem de fazer até tal momento. Seu toque imediatamente me acalmou.

–Você é quente, Luke.

Tentei puxar minhas mãos de volta, mas acabei deixando quando Madosn brincou de entrelaçar nossos dedos.

–Acho que esse é um bom começo. É uma longa geração de homens com o poder de transformar-se em lobos, e eu faço parte dessa família. Não era bem um lobo. Tinha o tamanho de um leão, mas era um lobo. Não era feroz, era muito feroz, as presas eram dez vezes maiores e os olhos não tinham um olhar tão humano quanto os lobos de verdade tinham. Aquilo não era um lobo qualquer, na língua dos humanos, eram lobisomens.

–Sabe, você tem muita imaginação... - comentou Madson num tom de voz baixa. Era sarcástico, mas percebi o medo em seu olhar.

Segurei as mãos dela com vontade para que ela não se soltasse.

–Espere, deixe-me continuar. - pedi. - É pulado de geração em geração. Os lobos só se transformam pela primeira vez quando veem os cara pálidas. - engoli em seco e tremi com a menção do nome. - quis dizer vampiros, criaturas...

–Vampiros? - a voz de Madson tremeu e seus olhos não esconderam o medo.

–Criaturas das quais nascemos para matar. Depois da primeira transformação nos transformamos toda vez que estamos com raiva ou que encontramos esses seres novamente.

–Como... como são esses v-vampiros? - Madson perguntou se aproximando mais um pouco de mim, quase sentando no meu colo, como se estivesse com medo de algum deles aparecerem de repente e a atacassem.

–São pálidos, não envelhecem ou mudam de forma, brilham quando tem contato com o sol, são fortes e rápidos e alimentam-se de sangue humano.

Ela estremeceu.

Afaguei as mãos dela.

–A-Aquele casal que eu vi na floresta... - tentou ela.

–Sim, era vampiros e se não tivéssemos aparecido você estaria...

–Vocês?!

–Sim, eu, Drake, Mark, Kluke... todos fazem parte da alcateia. Lobos, todos.

–Tem mais alguma coisa que eu preciso saber? - Madson perguntou num fio de voz. - Você não se aproximou de mim porque come carne humana, certo?

Instantaneamente ela se afastou bastante.

–É claro que não. Madson o que eu sinto por você é mais do que amor.

Ela não deu as mãos para mim quando estendi as minhas como um convite.

Imprinting.– expliquei.

–Como? - perguntou ela voltando a se aproximar devagar.

–É uma das coisas mais estranhas que os lobisomens precisam lidar. É algo mais forte do que amor. Não acontece com todo mundo. Na verdade é uma exeção rara, não a regra. Tinhamos ouvido falar de IMPRINTING, mas nunca tinhamos imaginado que era algo tão assustador e perpétuo.

–Você... é o primeiro dessa geração a ter?

Confirmei com a cabeça.

Sem jeito ela foi, devagar, brincando com a ponta dos meus dedos.

–Seria como um amor a primeira vista?

–Um só amor por toda a vida. - falei brincando com os dedos dela também.

Ela suspirou quando tomei coragem e entrelacei nossos dedos.

–E... Eu sou o seu alvo? - Madson perguntou mantendo a cabeça baixa e o olhar longe do meu.

Como resposta beijei sua mão.

–Desculpa pelo tapa. - ela passou a mão que eu tinha beijado no meu rosto. - E por que tão quente?

–É a diferença, entre nós e os vampiros. Os lobos são quentes e os caras pálidas gelados.

Devagar, cheguei mais perto e hesitante encostei meus lábios com os dela e tivemos um breve beijo.

–Eu sei que é muita informação para você, mas além de te pedir para guardar segredo quero que pense sobre nós. - afaguei o rosto dela. - Será que eu posso ter um pouquinho de esperança?

–Depende... - provocou ela roçando seus lábios nos meus. - Quando vou conhecer o lobo?

–Amanhã, depois da aula, se parar de me ignorar, e quanto a minha esperança?

–É claro que pode, seu bobo.

Ela sorriu e me beijou fazendo-me sentir ondas de esperança.

Meu bobo.

*****

MADSON

Já tinha jantado, tomado banho, assistido um filme, terminado a lição de física e matemática, checado meus email e ainda não conseguia dormir. Olhei para o relógio que marcavam cinco e meia da manhã. Ótimo, não dormi até agora, então não durmo mais.

Estava sendo difícil para mim encaixar tudo. Como existia um mundo de baixo da minha realidade? Era a modernidade versus a magia. Geralmente algum deles sempre vencia, mas eu não queria tramar uma guerra contra os dois, muito menos que se destruíssem, queria a paz, a união delas. Nunca fui muito de separar brigas, mas não havia briga alguma.

Talvez estivesse sendo enganada, tudo não passava de uma pegadinha de mal gosto. Parecia tão real e eu não queria acreditar que não era. Se tudo isso for uma pegadinha, eu posso aprender com isso, contar essa história toda num livro, e ganhar muito com isso.

Parecia um dos romances proibidos de Shakespeare, mas moderno. Era uma completa rivalidade entre essas duas, a Magia e a Modernidade, novamente, eu entre elas, apartando brigas.

Sabe, Luke com toda aquele papo sobre sua origem, sobre o que realmente é e sobre seus mais íntimos sentimentos por mim, ele sim poderia ser o Romeu de qualquer garota. Aquele cavalheiro filho da p*ta que conquistava e jogava no esgoto, esse era um Romeu moderno, um Uemor, como eu gostava de chamar. Percebendo uma coisa, eu poderia ser a princesa dessa história, a donzela em perigo, a sortuda que ganhou na loteria, seja como for descobri que eu não nasci para ser Julieta. Isso nada significava que não aceitaria Luke, era ao contrário, se ele não me aceitasse, se fosse toda essa magia realmente uma modernidade, além da guerra entra as duas já haveria finalizado, eu não me mataria por causa de uma mágica história. Não, eu não era Julieta.

Escutei algo batendo na minha janela e interrompendo meus filosóficos pensamentos. Deveria ser galhos batendo por causa do vento. O barulho voltou a me incomodar e percebi que era forte demais para ser apenas um galho. Por mais que não estivesse com sono fiquei com preguiça de levantar e olhar para ver o que era.

Talvez algum bichinho.

Então:

–Madson...! Madson! - ouvi os sussurros me chamando.

Dei um pulo e fui olhar na janela, e adivinha:

–Você não consegue ficar umas horinhas longe de mim, Luke? - brinquei.

Ele sorriu.

–Queria mostrar para você antes da aula. - pediu ele. - Vamos?

–Só vou trocar de roupa. - percebi que corei quando lembrei que vestia pijama.

Depois de me trocar no banheiro, peguei minhas coisas e saí pela porta da frente e ri quando vi Luke apoiado em cima de uma árvore ainda me esperando.

–Hey, aqui em baixo!

Era eu que fazia as piadas, mas me fiquei abismada quando ele deu alguns pulos que me pareceram bem leves, se apoiando na casa, na árvore novamente e no chão com uma enorme facilidade. Nem dublês fazem isso com equipamento.

Luke chegou perto de mim e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

–Tem outra coisa que eu quero te mostrar.

Ele segurou minha mão e seguimos correndo pela estrada até uma floresta perto da escola e me guiou por entre algumas árvores cheias de musgo, enormes rochas e uma grama úmida. O único som da floresta eram dos grilos.

Parei, estática.

Tudo pareceu mudar. Era aquela sensação estranha de saber o que vai acontecer e a sintonia do lugar, da paisagem como um quadro. Uma lenda e uma pintura, são combinações interessantes, que são tanto admiráveis quanto amedrontáveis. Fiquei arrepiada. Prendi a respiração e tive a sensação de ter caído de cabeça num mundo em que pouco conhecia, que estava muito bem escondido da minha realidade, até a paisagem parecia ser tirada de um livro de contos de fadas.

–Madson, tudo bem? - perguntou Luke visivelmente preocupado tocando o meu braço.

Balancei a cabeça num sim.

Outra lenda, ele, Luke, que era difícil aceitar como real, como um homem que estava perdidamente apaixonado por mim, quase como um feitiço.

Concentrei-me nos grilos e aquilo me acalmou. Fechei os olhos.

–Sally, a sua mãe, também é um Lobo? - perguntei recusando-me a abrir os olhos.

–Não... Pula uma geração. Meu avô era, eu sou. Meu pai não era, meus filhos... - enquanto ele explicava senti-me corar. - e os de Drake não serão.

–Quem é da geração de Lobos? Sua mãe ou seu pai?

–Meu pai.

Os grilos continuavam com a sinfonia.

–Existem... Lobos mulheres? Lobas? - quis saber, ainda de olhos fechados.

Escutei o som de folhas secas sendo esmagadas, Luke deveria ter pisado em algumas.

–Sim. Lembra da Kluke?

–Ela é uma Loba? - abri os olhos e o olhei rapidamente.

–É. - respondeu Luke e confirmou com a cabeça.

–Apenas ela?

Ele fez que sim.

Voltei a me arrepiar.

Tornei a fechar os olhos.

–Já nascem Lobos?

–Não. - explicou. Senti sua aproximação e pus um pé para trás pisando em folhas secas. Engoli em seco.

Luke pigarreou e senti ele se afastar, depois voltou a falar:

–Nos transformamos quando nos deparamos pela primeira vez com os caras-pálidas. Acho que já te disse isso, Madson. - ouvi o som da sua risada.

Suspirei.

–Vocês... Lobos, tem algum tipo de poderes? Adquirem poderes? Nascem com eles?

Imaginei Luke sorrindo.

–Não. Somos rápidos, quando transformados, fora isso nada. Trabalhamos sempre em equipe, é o nosso poder contra eles.

Já estava quase decorando a música dos grilos.

Abri os olhos quando percebi que as perguntas difíceis já tinham se esgotado.

–Por que se misturam com os humanos, por exemplo... indo para a escola?

–Não nos misturamos. Eu quis vir estudar na escola por sua causa, e os outros não quiserem me deixar vir sozinho, então vieram juntos.

Senti vontade de voltar a fechar os olhos, mas tentei pelo menos uma vez ser mais forte do que o medo.

–Vai sair da escola agora?

–No final do semestre. Não vejo mais motivos por querer continuar na escola, e com certeza os outros da alcateia vão querer sair imediatamente da escola.

Ficamos em silêncio. Eu não tinha mais perguntas e ele não sabia o que dizer. Eram apenas sentimentos entre o lenda e a pintura.

Luke deu alguns passou para trás e ficou à uns 10 metros de distância de mim.

Prendi a respiração.

No segundo seguinte, pelos cobriram negros cobriram o seu corpo inteiro, ele ficou de quatro, um fucinho com dentes afiados maior que o meu pé, rabo, uns dois metros de altura... e como ele disse: Lobo, mas com olhos humanos. Os mesmos olhos negros que expressavam tantos sentimentos que eu conseguia decifrar.

Entre a lenda verdadeiro sobre o Lobo e a pintura de paisagem estava eu. Uma humana.


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Notas finais do capítulo

O que acharam meus queridos leitores, beta, Petra??
Comentem !!!! ;D
Dê sugestões.
Beijocas, até o próximo!!!!!!!!!!!!!!!!
—---Petra comente, sim, é uma ameaça de morte!!!