Imprinting escrita por Mila


Capítulo 44
Nunca mais


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito, eu sei, mas é reta final... eu tenho que juntar um monte de ponta solta, e... alguém aí está com pressa de terminar a história?

Boa leitura!



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LUKE

Lembrei de algo que aconteceu aos meus seis anos:

Eu estava brincando com Drake, ele com seus quatro anos e meio de idade, e Kluke estava empurrando um carrinho de boneca com seus passos vacilantes - ela tinha apenas um ano. Mamãe, tia Violet e tio Daniel estavam apoiados no balcão, conversando e rindo de alguma coisa.

Então meu pai entrara em casa com uma expressão afobada no rosto.

—Daniel! - ele dissera, chamando o irmão. - Ele está aqui. O pai está com ele.

Meu tio se pusera de pé num salto.

—Quem, Gui? - minha mãe perguntara.

—Christian. Aquele vampiro que papai arranjou briga. - ele respondera rapidamente antes de sair para fora de casa, com o irmão seguindo bem de perto.

—O que eles vão fazer lá? - tia Violet exclamara, nervosa. - Não tem nada que eles possam fa...

Então sua voz sumira quando ouvimos três coisas: Um uivo, um "Pai!" e um "Não!".

— Daniel! - tia Violet gritara, olhara para Kluke por um segundo hesitante e depois correra para fora de casa antes que mamãe pudesse impedi-la.

Kluke começara a empurrar o carrinho de boneca em direção a porta com seus passinhos lentos. Minha mãe parara ela, pegando-a no colo com um amedrontado "Não, por aí não".

Minha mãe nunca parecera tão assustada e aterrorizada em toda a sua vida. Seu rosto estivera pálido, suas mãos tremiam e seus olhos mal sequer piscavam, sempre alertas.

—Luke, Drake. - ela dissera devagar. - Meninos, vamos.

Ela nos guiara para as portas do fundo de casa, e saímos de fininho.

Kluke ia em seu colo e ela segurava Drake com a mão livre enquanto eu seguia-os de perto, tentando acompanhar seus passos rápidos.

Ficáramos andando por entre as casas da aldeia e depois nos enfiamos entre várias árvore. Eu ficava lhe perguntando para onde estávamos indo e ela me pedia para fazer silêncio, mas eu era criança, ficara insistindo.

—Vamos naquela caverna. Lembra, Luke? Sabe qual é?

—Por que vamos lá?

—Porque vai chover. - ela respondera.

Uma criança não perceberia como aquela resposta fora ruim.

Então chegáramos a caverna. Ela nos empurrara para dentro o mais rapidamente que pode, porém nada pareceu adiantar quando seu olhar assustado voltou assim que um homem alto, moreno e com sangue na boca apareceu.

—Luke. - ela disse, sussurrando nervosa - Entra na caverna.

Mas eu não entrara. Sinceramente, eu não lembrei o por quê, mas eu fiquei lá fora. Isso deixou minha mãe ainda mais apavorada.

—Tsc. Tsc. Tsc. - o homem fizera com um sorriso na boca. - Que bagunça, que bagunça, que bagunça. Onde você pensa que vai com esses pirralinhos todos, senhora Hunt?

—Luke. - minha mãe dissera novamente, e eu permaneci onde estava.

—Fugir é muito feio. - ele voltara a dizer. - Eu deveria te punir...

—Eu acho que não. - fora quando minha mãe finalmente abrira a boca, mesmo que ainda nervosa.

—Mas eu não vou. - ele dissera e depois abaixara o olhar e sorrira. - Por que... De que adianta tanta bagunça, se não vai ter alguém para limpá-la?

Então, ele fora embora.

***

Nunca senti tanta raiva.

Christian, o vampiro a minha frente, ergueu uma sobrancelha apenas, me provocando.

—É. - ele disse. - Você se lembra de mim.

Ele destruiu minha família uma vez... Não iria destruir uma segunda. Nunca mais.

Uivei alto e avancei em sua direção.

***

MADSON

Pela janela, via os moradores da aldeia correndo e gritando.

Então ouvimos um barulho alto. Algo, provavelmente alguma casa, foi destruída.

—Certo. Vamos sair daqui. - eu digo. - Sobre o que você estava dizendo antes, Sally, sobre enfiar Kluke num avião? É para ver Tyler, certo?

Ela olhava pela janela com apreensão e estava tremendo.

—Sally. - eu disse carinhosamente.

—Oi. Oi... - ela olhou para mim de repente, colando uma mecha de cabelo atrás da orelha, e depois voltou seu olhar para Kluke. - Sim, era o que eu estava pensando, mas sinceramente... Mandar Kluke nesse estado sozinha num avião é muito arriscado.

—Vamos, pelo menos, levá-la para a minha casa. - eu sugiro.

—Isso é uma boa ideia. - ela balança os indicadores nervosamente. - Kluke, o que você acha? Está se sentindo um pouco melhor?

A garota começa a tossir loucamente.

—É não. - Sally concluiu por si mesma.

—Acho que aquilo ali no chão é o seu pulmão, Kluke. - eu disse, tentando aliviar a tensão.

Kluke ergueu um dedo para mim:

—Não... Não é engraçado, Madson.

—Eu sei. - respondi imediatamente enquanto coçava o meu braço. - É que vocês estão muito nervosas, talvez vocês ficassem mais calmas, e vocês estão me deixando nervosa porque vocês estão nervosas... Vamos, Sally?

Ela amparou Kluke com o braço, apoiando-a enquanto elas me seguiam porta afora.

Assim que saí uma pessoa esbarrou em mim ao passar correndo e quase me derrubou. Equilibrei-me o mais rapidamente que pude, e arrumei Nathan em meus braços.

Olhei para o sentido oposto que a pessoa corria, procurando saber se o motivo de tanta pressa estaria próximo, e eu estava certa: Bem ali ao lado havia uma vampira morena, furiosa, chutando e jogando para cima tudo que via em seu caminho.

—Para o carro! - eu gritei.

Abri porta de trás do carro de Tyler para Kluke entrar. Eu coloquei Nathan na cadeirinha ao lado dela. Estava quase entrando no carro, no banco do motorista, quando percebi que Sally continuava parada sob a fina neve que caia do céu.

—Sally, vamos. Vai dar tudo certo. - tentei dizer com convicção. - Logo voltamos. Venha!

Seus olhos estavam arregalados e seu corpo tremia.

—Não... Não. - ela disse lentamente, então fixou seu olhar em mim e segurou meu braço com tanta força que doeu, mas eu não disse nada. - Madson, me escute. Leve Kluke para a sua casa, mande uma mensagem para o Tyler, peça para ele vir para cá... Se... Se algo acontecer com nós, com todos nós... Você me entende? - Ela tinha um olhar assustado. Eu entendi o que ela dizia, e isso me apavorava. Ela voltou a falar depois que percebeu que eu havia compreendido: - Eu sei. Eu sei que você vai tentar salvar Nathan de qualquer forma, e ah, como eu sei disso! Mas se nada mais der certo, você tem que deixar Kluke em um lugar a salvo. Ela pode ser a última esperança da alcateia.

Meus olhos estavam ardendo.

—Eu prometo, Sally. - eu disse, porque entendia.

—Ótimo. - ela disse e balançou a cabeça algumas poucas vezes, ainda continuava assustada.

Ela fechou a porta do carro e me empurrou para o banco do motorista.

—Ei, espere! - reagi. - Onde você vai? Sally!

Ela se afastou de mim e caminhou na direção da vampira lentamente, antes que eu pudesse fazer alguma coisa para impedi-la.

—Ninguém mexe com a minha família. De novo não. - ela disse, e então, se transformou num deles, em um Lobo!

—Uau. - Arfei, assustada. Isso era possível? Quer dizer... aquela é a minha sogra?!

Parei, estática no lugar, ao ver a minha sogra travar uma briga mortal com uma vampira enlouquecida.

Saí do transe de repente. Entrei dentro do carro e tirei-o dali.

Sally é um Lobo! Ai, cara! Será que eu era a única a saber disso?

—Kluke. - disse em voz alta. - Tudo bem aí?

Ela estava pálida e com profundas olheiras escuras, mas balançou a cabeça confirmando.

—Você viu o que eu vi? - perguntei para saciar a minha curiosidade e também tentar distrair Kluke por um tempo. - Sabia que Sally era um Lobo?

—Não... Argh! Fui muito burra de não ter percebido isso antes!

Então ela começou a tossir de novo.

—Vamos contar até dez. - eu decidi.

Mantenha a calma, Madson, disse para mim mesma, não é porque a sua sogra acabou de se transformar em um Lobo super foda e a fez cumprir uma promessa para salvar a linhagem da alcateia, que significa que esse é o fim do mundo. Humpf, é claro que não é.

—O que você quer fazer? -Kluke grunhiu entre uma tossida e outra. - Ensinar seu filho recém-nascido a contar de um a dez?

—Um... - comecei, soltando o ar lentamente. - Dois...

Consegui sair da floresta e caí no asfalto da rua.

—Três... Quatro...

Eu ia além do limite de velocidade e ultrapassava outros carros pela pista da outra mão. Será que eu podia ser presa? OK. Essa não é a maior das minhas preocupações no momento.

—Cinco...

Peguei o meu celular de dentro da minha bolsa.

—Seis...

Disquei o número do celular de Tyler e encaixei o celular entre a orelha direita e o ombro.

—Sete...

Dei uma olhada em Kluke e em Nathan pelo retrovisor.

—Oito...

A chamada caiu na caixa postar. Desliguei o celular e joguei-o no banco ao meu lado.

—Nove... - Virei na rua de casa e reduzi a velocidade para parar na garagem. -De... Puta que pariu! - exclamei, esquecendo toda a calma de antes, ao ver alguém sentado nos degraus da minha varanda. - Aquele é o Tyler?

Kluke deu um salto tão alto - não sei se foi por causa de meu berro ou da menção do nome de meu irmão - que quase bateu a cabeça no teto.

—O QUE? - ela gritou.

Abri a porta violentamente e saí apontando um dedo para a cara de Tyler.

—Que diabos você está fazendo aqui?

Ele soltou um palavrão quando viu o carro dele todo amassado.

—O que aconteceu com meu carro?

—Eu... Eu atropelei um vampiro com ele!

Então ele parou, ficou em silêncio por um instante depois começou a pular, feliz:

—O meu carro atropelou um vampiro? Demais! Ele é tipo... tipo... a van do Scooby-Doo agora?

—Tyler, que diabos você está fazendo aqui?! - eu perguntei mais uma vez, ainda nervosa.

—Vim pegar o meu carro. Ah, é! Como vai o meu sobrinho?

Ai que moleque insano!

Fiquei com vontade de agarrar o pescoço dele com minhas duas mãos, apertá-lo e chacoalhá-lo. Ao invés disso, cerrei as mãos em punho e cravei minhas unhas nas palmas.

—Tyler... Deixa quieto. Tome. - joguei a chave de casa para ele. - Entra aí.

Voltei para o carro e ajudei Kluke a sair.

—O que? Ele está bem? - ela perguntou.

—Defina "bem". - resmunguei.

—Bem, tipo, vivo?

—É. Sim. Até demais.

Ajudei ela a entrar em casa e se sentar no sofá, abraçada a uma almofada.

—Ei, Kluke. - Tyler a comprimentou. - Ué... Está tudo bem aí?

—O que?! - ela gritou, olhando para ele e reparando em seu mindinho engessado. Eu também não havia reparado nisso. - Você quebrou o dedinho?! O dedinho?!

—Ahn... É. Jogando basquete.

—Eu não acredito nisso! - Kluke levou as mãos a testa e a massageou. Ela começou a murmurar baixinho coisas sem sentido.

—O que aconteceu com ela? - Tyler perguntou a mim, um tanto assustado.

—Ela está se sentindo mal. - eu respondi bruscamente. - Abrace-a para reconfortá-la. Abrace-a, Tyler!

Ele se sentou ao lado dela no sofá e, sem jeito, passou um braço sobre o ombro dela e depois o outro em sua frente. A cabeça dela caiu no peito dele. Ele fez um cara assustada e começou a bater no ombro dela e fazer carinho em seu cabelo, mas depois começou a se acalmar também.

Balanço a cabeça para os lados. Eu mereço!

—Hm, é, então. Eu preciso ir, Nathan está no carro e... Tyler? Vou usar a sua "Máquina do Mistério" mais um pouco, ok?

Ele balançou a cabeça várias vezes, como um periquito. Ele ainda estava atrapalhado com as novas e repentinas informações e com a garota aninhada em seus braços - é, principalmente com isso.

Eu não consegui evitar um sorriso e por pouco não ri alto.

—Ok... - disse lentamente. - Boa sorte aí, Tyler.

***

LUKE

Depois de olhar para aquele sorriso desprezível de Christian, não me importei com mais nada além de "não quero ver esse sorriso nunca mais".

Assim que pulei sobre ele, meu peso o pegou desprevenido, e ele caiu.

De algum modo, rápido demais para eu acompanhar, ele conseguiu se livrar de mim e deu um soco bem forte em meu maxilar. Minha mandíbula tremeu com o impacto. Todo mundo ia socar meu maxilar agora?

Meu sangue ferveu ainda mais.

Desviei de seu outro soco por pouco.

Avancei meus caninos afiados na direção do ombro dele, porém Christian foi mais rápido e saiu do caminho com um rodopio.

Aquele frio não era velho demais para ser tão rápido assim?

Eu podia ouvir os pensamentos dos outros Lobos e resumindo em uma única palavra o que eles sentiam era "dificuldade".

A cada movimento que ele ou eu fazia, eu tentava cravar meus dentes em alguma parte de seu corpo. Devo ter conseguido roça-los nele uma vez ou outra, nada fundo o suficiente para fazer estrago. Ele, por outro lado, era incrivelmente ágil e rápido, difícil de acompanhar, e já tinha me machucado em vários lugares.

Minha visão estava um tanto curva.

Eu mirei meus dentes no ombro dele, e ele rapidamente se abaixou e desferiu uma cotovelada em meu abdômen. Doeu tanto que a dor teria me feito parar. Em qualquer outra circunstância eu teria parado, mas eu aproveitei quando ele se abaixou para agarrar sua nuca entre minhas presas.

Christian arfou, irado, porém conseguiu se livrar rápido o suficiente para não morrer. Ele me girou, fazendo-o soltar sua nuca, e cair com força no chão. Minhas vértebras estalaram com o impacto.

Uivei de dor.

Quando vi a sombra dele vindo de trás de mim, fiquei de pé num pulo, um tanto cambaleante. Eu não conseguia dizer com clareza em que lugar doía, pois meu corpo inteiro latejava e estava quase amortecido com a dor.

Ele pulou, numa tentativa de ficar mais alto do que eu e atacar onde eu já estava fraco: Nas costas. Porém eu agarrei sua perna em pleno ar e o puxei para baixo com força e raiva, como se ele fosse um chicote. Sua cabeça bateu no chão.

Senti o gosto de meu próprio sangue na minha boca, e isso me lembrou de não desistir agora.

O vampiro sentou, mesmo machucado, e pronto para me atacar. Entretanto dessa vez eu fui mais rápido. Caí sobre ele e já cravei meus dentes em seu ombro. O corte se abriu até o outro em sua nuca, e então ele parou de se mexer.

Só para ter certeza de que estava morto, arranquei sua cabeça.

Dei poucos passos para longe dele, quando percebi que não aguentava mais. Estava completamente sem forças, esgotado. Caí no chão, e enquanto minha consciência ia sumindo, juro que ouvi alguém gritar meu nome. Acho que era Madson.


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Notas finais do capítulo

Hm, agora vocês sabem o que aconteceu com o pai do Luke e os pais da Kluke, não é mesmo?
O que acharam?
Vocês tem mais dois capítulos ainda.
Por favor, comentem
Beijos!



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