O Conto da Torta de Maçã escrita por Lucy Holmes


Capítulo 3
É difícil ser pai




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Cap. 3 - É difícil ser pai

O que se sucedeu após a chegada de Gina não foi nem um pouco parecido com o que as crianças haviam imaginado. Pensaram que os pais ficariam felizes e se abraçariam, mas foi o oposto.
Gina ficou com raiva ao ver Harry decorando a torta, pensou que foi ele quem cozinhara. Ao desmentir o fato, Harry brigou com Gina por ela não ter prestado atenção às crianças, que poderiam ter sofrido algum tipo de acidente se ele não tivesse chegado a tempo.
Lílian e Paul acompanharam a briga do quarto, onde foram postos de castigo até a hora da festa. Ainda podiam ouvir os berros vindo da cozinha.
— Eu não ia adivinhar que eles fariam uma torta, ou qualquer que fosse o prato! Nunca fizeram isso antes e sabiam das regras! - Gina gritou - Eu estava banhando o John.
— Então pare de reclamar sobre a torta ter sido ou não feita por você! Eles tiveram uma boa idéia, aliás, muito melhor que a nossa, só que você não podia tê-los deixados sozinhos!
— Ah, agora talvez você diga que sou uma péssima mãe e que deveria seguir o exemplo da Fleuma, que não sabe sequer trocar uma fralda e contratou um elfo como babá!
— Não venha com essa história de novo! A Fleur não tem nada a ver com nossos problemas, mas pelo visto precisamos mesmo de uma babá!
— Não venha dizer que não agüento tomar conta dos meus filhos só porque eles preferiram a sua ajuda!
— Talvez eles não precisassem da minha ajuda se você estivesse com eles, mas pelo visto estava tão distraída com um simples banho que sequer notou o cheiro de fumaça quando Lílian explodiu a manteiga!
— Tente tirar manchas de tinta do rosto de um bebê sem magia e verá que isso pode distrair qualquer um por muito tempo, principalmente com a quantidade de sabonete que tive de usar! Além disso, foi você que simplesmente fugiu e me deixou sozinha com os três!
— Ótimo, agora a culpa é minha! - Harry bufou, vermelho de nervoso.
— A culpa é tão sua quanto minha! Se não fosse, você teria entrado e devolvido a minha varinha assim que chegou e não incentivado aos dois a continuarem!
Harry se calou. De certa forma, Gina tinha razão. Mas ela também estava errada, mais que errada até, e não queria admitir o erro. Gina sabia disso, tinha consciência do erro, só que nunca suspeitaria que os filhos seriam tão ousados a esse ponto. É como sua mãe dizia: "filho cega qualquer mãe". Mas Harry não precisava ter saído naquela hora, parecia sempre querer fugir de uma discussão com ela.
Como nenhum dos dois ia abrir mão e se desculpar primeiro, Harry decidiu quebrar o silêncio.
— Eu limpo a cozinha.
— Não, Harry. Eu limpo. - Gina ficou de costas e pegou um avental, já o vestindo - Vá olhar as crianças. Vai que desta vez elas queiram que John participe de seus planos mirabolantes.
Harry sabia que Gina estava quase chorando, por isso concordou e subiu as escadas, ao mesmo tempo em que os dois, que escutavam tudo dos degraus, correram para o quarto e fecharam a porta.
Entrando no quarto, Harry viu John brincando num tatame com blocos de montar, mas ao invés de montá-los, os espalhava pelo chão. Lílian e Paul estavam sentados na cama, os dois sérios e amuados, como quem acaba de ser condenado à cadeira elétrica - algo totalmente trouxa, mas que lembrou a Harry um filme sobre Alcatraz, uma Azkaban trouxa. Sentou-se ao lado dos filhos.
— Vocês sabem por que estão de castigo?
— Porque usamos a varinha da mamãe sem permissão - Lílian respondeu, num muxoxo.
— E porque sujamos a cozinha toda, além de nos sujar - concluiu Paul, triste.
— Exato. - Harry respondeu, sério. Era difícil dar sermão aos filhos - Mas não nos importamos com a bagunça na cozinha, não é tão difícil de limpar.
— Então estamos de castigo só por um motivo? - perguntou Paul.
— Não. Vocês estão de castigo por terem usado a varinha de sua mãe sem permissão e por terem sido imprudentes na cozinha. E se tivessem sofrido algum acidente?
— Estávamos usando a varinha muito bem, papai. - disse Lílian - Não acho que teria acontecido nenhum acidente.
— Talvez. Mas podia ter acontecido. Você não tem prática em usar uma varinha, nem conhecimento suficiente. Seus poderes mal se manifestaram, Lily.
— Pensamos em usar o fogão... - disse Paul.
— Se tivessem usado o fogão, talvez fosse ainda pior. - disse Harry, sério - E se tivessem se queimado? Poderiam os dois ter se machucado. E quanto à varinha, Lílian poderia ter acertado um feitiço em você sem querer, não aconteceu, o que é bom, mas foi um risco que não queremos que se repita.
— Desculpe, papai... - disseram os dois ao mesmo tempo, abaixando a cabeça.
— Acho que já conversei com vocês sobre não usar a varinha, não foi? Não devemos usar a varinha de modo tão... tão...
— Levianamente? - perguntou Lílian.
— Hein? - Harry ficou surpreso que Lílian conhecesse esse vocabulário.
— É! - disse Lílian, mais animada por se mostrar inteligente - Foi tia Hermione quem falou, ela disse isso quando a Michelle usou a varinha dela sem permissão e sem querer ateou fogo no rabo do Bichento...
— Ah... - Harry coçou a cabeça, constrangido. Só mesmo Hermione para usar esse palavreado para uma criança. Ficou imaginando se Michelle já sabia o que era algo leviano. - De certo modo, Hermione está certa, talvez tenha exagerado um pouco, mas...
— E o que quer dizer levianamente? - perguntou Paul.
— Acho que Hermione quis dizer era que Michelle foi "desajuizada" - respondeu Harry, tentando usar o sinônimo mais simples possível para leviano. As crianças tendem a fazer perguntas difíceis. - Mas enfim, vocês usaram a varinha e perderam o controle da situação, não foi?
— Sim, quando derretemos a manteiga... - respondeu Lílian.
— Ela explodiu! - disse Paul, como se tivesse visto fogos de artifício.
— Mais uma razão para não usarem a varinha de ninguém sem permissão. A idéia de vocês foi boa, mas deviam ter nos consultado, ou pelo menos pedido nossa ajuda. - Harry olhou para os filhos, tentou descontrair a situação - Aí seremos nós seus ajudantes, o que acham? Combinado?
— Combinado! - disseram os dois. A visão dos pais como ajudantes, quando sempre era o oposto devia ser muito engraçado.
— Então... Que tal brincarem de algo aqui no quarto mesmo? - sugeriu Harry.
— Eba! - gritou Paul, que se levantou da cama - Eu quero brincar de cavaleiro e vou duelar com um monstro! Lily, você é o monstro!
— Ah não! - Lílian cruzou os braços, indignada. - Eu quero ser a bruxa-fada da floresta que ajuda o cavaleiro a lutar contra o monstro!
— Por que uma bruxa-fada? - perguntou Harry, franzindo a testa.
— Porque assim eu serei muito poderosa e ainda poderei voar! - Lílian falou alegremente.
— Hm... 'Tá bom! - disse Paul, e ficou pensativo - Então... Então... O John vai ser o monstro! Vou pegar minha espada.
— E eu minhas asas!
Harry riu enquanto os filhos foram buscar seus apetrechos no guarda roupa e baú. Lembrou que há muito ele mesmo tivera uma aventura parecida com a dos filhos, mas com um final nem um pouco feliz.

"Amanhã é dia das mães... Será que se eu der algum presente, ela acabe gostando de mim?" - Harry, com cinco anos de idade, pensou saindo de dentro de seu armário.
Lá estava ela, tia Petúnia. Ela sempre enchia Duda de beijos e abraços e olhava zangada para Harry. Ele nunca entendeu o motivo, mas seja lá o que for, ele deve ter feito algo muito grave para que ela sempre ficasse zangada com sua presença.
— Vamos sair, Duda - era tio Valter, sempre gordo e grande. Naquela época metia muito medo em Harry, principalmente porque ele também não gostava do menino, sem motivo aparente - Comprar uma surpresa para a mamãe.
— Oba! - respondeu Duda, já com uma barriga proeminente. Petúnia beijou o filho mais uma vez antes que ele corresse para o pai.
— Mas tem que prometer não contar a ela! - disse o pai, risonho. Harry não conseguia gostar do tio e isso não tinha nada a ver com medo.
— Só se você comprar um sorvete pra mim! - Duda respondeu, entrando no carro.
— Tudo o que quiser, tudo o que quiser, filhão!
— Posso ir também? - Harry perguntou, esperançoso. Quase nunca o levavam para passear, seria uma boa oportunidade. E se ajudasse a escolher o presente, talvez recebesse algum mérito.
Tio Valter encarou o garoto como se ele fosse um bicho qualquer.
— Você não vai entrar no meu carro desse jeito, moleque. Vá se trocar primeiro.
Harry entrou correndo e colocou a melhor camisa que antes pertencera a Duda e a calça menos surrada que Duda usou poucas vezes antes de engordar demais, e voltou para a garagem. O carro já havia partido.
Ainda conseguiu ver o carro, que percorria a rua. Duda fazia uma careta e o carro dobrou na esquina, sumindo.
— Entre logo, moleque! Não vou segurar a porta o dia inteiro pra você! - era tia Petúnia. Harry queria muito saber o que a deixava com tanta raiva dele.
Será que tinha quebrado algo de muito valioso e não se lembrava? Se fosse isso, eles poderiam lhe contar e ele pediria desculpas, com toda a certeza.
Quando Duda chegou, com um pacote enorme, Harry foi logo ao seu encontro.
— O que você vai dar de presente para a tia Petúnia?
— Não interessa - respondeu, sorrindo de modo maldoso, com a boca toda suja de cobertura de chocolate.
— Isso mesmo, filho. - disse tio Valter, atrás dele e encarou Harry - Não interessa, Potter. E sai da nossa frente, não queremos que estrague a surpresa de Petúnia.
"Isso mesmo! Uma surpresa!", pensou Harry. "Mas o quê?"
— Petúnia, deixe aí! - tio Valter exclamou - Sempre tão organizada essa minha esposa... Amanhã teremos um dia especial, não precisa antecipar a mesa para o café.
"É isso!", pensou Harry, "Vou fazer o café da manhã para ela!"
Ele quase não dormiu aquela noite. Tinha tudo planejado, não tinha como falhar. Acordaria cedo, prepararia o café e tia Petúnia ficaria feliz, quem sabe ele até recebesse um abraço ou um beijo em agradecimento. Ou pelo menos um sorriso, já era o bastante para ele.
No dia seguinte, Harry acordou cedo, ainda de madrugada, e foi até a cozinha. Sabia onde a tia guardava os ovos e o bacon já fatiado. Encheu uma chaleira com água e acendeu o fogo. Não foi tão difícil assim, só teve dificuldade em riscar os fósforos, conseqüentemente queimando a ponta dos dedos em algumas tentativas.
Acendeu mais uma boca do fogão, colocando a frigideira para esquentar. Sabia que estava esquecendo de algo... Sim! Faltava derreter um pouco de manteiga, para não grudar.
Correu para a geladeira, procurando. Não percebeu que durante esse tempo a frigideira estava queimando. Quando encontrou, voltou para o banquinho e tirou um pouco da manteiga com uma colher. Ao colocar na frigideira, o vapor subiu rapidamente e Harry que tinha o rosto quase dentro da frigideira, além de se queimar, se assustou.
Com o susto, ele se desequilibrou e caiu com tudo na mesa, próxima ao fogão. Deslizou para o chão se agarrando à toalha, que conseqüentemente arrastou os objetos, consistindo em um vaso de flores e alguns jogos de xícara de café, fazendo com que caíssem no chão e se quebrassem.
Houve um alvoroço no andar de cima e seus tios, acompanhados de Duda, apareceram na porta. Ao ver toda aquela bagunça, desde a frigideira queimada, a chaleira apitando, até a toalha esparramada no chão, a louça espatifada e Harry, caído no chão no meio de tudo aquilo, tia Petúnia quase teve um desmaio.
— Mas que diabos está acontecendo? - esbravejou tio Valter.
— Eu... - Harry tentou se levantar e sua mão foi cortada por um pedaço da louça.
— Seu... Moleque! - tia Petúnia esperneou - Olha só o que você fez na minha cozinha!
— Eu... Desculpa, eu... só queria fazer uma surpresa... - Harry murmurava, sentia as lágrimas nos olhos, mas não queria chorar. Estava mais assustado do que sentindo dor. Duda ria, apontando para ele como se fosse um palhaço de algum espetáculo de circo de horrores.
— Surpresa? - tia Petúnia exclamou - Mas veja que bela surpresa você me fez! Vou passar o dia das mães limpando tudo! Veja, Valter! Até as paredes ficaram engorduradas com toda essa fumaça!
— Não me admira que tenha feito isso, sendo filho de quem é... - disse tio Valter, com desprezo. - Mande o moleque limpar, querida.
— O quê? E arriscar que minha cozinha exploda por completo? Não... Esse pivete vai ficar de castigo, trancado naquele armário!
— Tia... - Harry murmurou, mostrando a mão machucada.
Petúnia o encarou com nojo, foi até o armário e pegou uma caixa de primeiros socorros. Atirou a caixa nos braços de Harry.
— Agora você se vira, seu idiota! - e o agarrou pelo braço, levando-o para o armário e o trancando do lado de fora.
Foi nesse dia que Harry percebeu que nunca seria amado por sua tia e decidiu parar de tentar.


— Papai? - Harry saiu de seu devaneio e viu Lílian na sua frente, já com as asas e uma coroa de fada.
— Sim, querida.
— Vem brincar com a gente? - ela perguntou, timidamente. Harry sorriu.
— Claro.


Enquanto Harry brincava, Gina limpava a cozinha resignada. Estava muito chateada, devia ter deduzido que seus filhos poderiam se aventurar na cozinha.
Quando Harry contou que foram as crianças que prepararam a torta, ela teve certeza das intenções delas. Mas se sentiu uma irresponsável ao notar os riscos que elas correram, além de ter se sentido muito pior quando Harry jogou tudo isso na cara dela.
Não que não fosse merecido, mas isso a fez se sentir a pior mãe do mundo. Será que sua mãe já se sentiu assim? Talvez ela pense que falhou em alguma parte com os gêmeos, por serem peraltas até depois de adultos, ou mesmo com o Percy, por ter sido um grande idiota quando a guerra recomeçou. O que sua mãe diria se soubesse do que acontecera?
— Mamãe? - era Paul, vestido de cavaleiro, com um capacete grande demais para sua cabeça e a espada na mão. - Está triste?
— Tudo bem, querido - ela se virou, tentando sorrir. Paul foi até ela e a abraçou.
— Desculpa, mamãe, prometo que não faço mais. Papai explicou que era errado.
— Que bom - ela respondeu, desanimada.
— Eu sou um cavaleiro que está lutando contra um monstro terrível, para salvar o rei e ajudar a bruxa-fada a libertar a floresta!
— E quem é o monstro?
— John. Papai é o rei, mas ele precisa de uma rainha! Quer brincar?
Gina suspirou.
— Eu... Vou terminar de arrumar a cozinha e se der tempo, eu vou.
Gina não ia dar o braço a torcer a Harry. Sabia que ele não faria o mesmo.

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