Morning Light escrita por Dani


Capítulo 6
V - Be careful


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap, com muitos diálogos para vocês, espero que gostem *-*



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Depois da nossa apresentação ao Distrito 11 e de uma noite em um baile, quando chegamos ao trem estou exausta. A primeira coisa que faço ao chegar na sala-vagão é tirar os sapatos de salto que Effie me fez usar e sento no sofá.

A sala está cheia, todos estão ali, até as várias Equipes de Preparação existentes. E todos falam muito alto. Minha cabeça começa a doer.

– Qual o problema? – levanto os olhos e vejo Lucca Odair falando comigo, parecendo muito distraído.

– Muito barulho me dá dor de cabeça. – respondo.

Ele me analisa por alguns segundo e diz: - Vem comigo.

Andamos por um bom tempo em silêncio por vários corredores que se assemelham ao que leva ao meu quarto.

Chegamos a um compartimento no fundo do trem lá tem uma enorme janela aberta e como é bastante afastado é bem silencioso.

– Obrigado. – digo por fim.

– Lugares muito cheios também me perturbam, foi assim que acabei descobrindo esse pequeno refugio.

Encaro o céu lá fora.

– Odair me parece familiar, mas eu não me lembro o porquê. – digo para ele a fim de facilitar as coisas para tio Haymitch.

– Finnick Odair – ele diz apenas. – Vitorioso e meu pai. – ele faz o que parece ser uma mensura teatral, como se acabássemos de nos conhecer.

– Finnick. – digo pensando no nome. – foi alguém importante para minha mãe.

– Espero que sim, ele se sacrificou por ela.

Olho para ele.

– Pela rebelião. – ele completa.

Abaixo os olhos.

– Sinto muito. – me desculpo inutilmente.

– Seus pais também foram uma peça no jogo deles, nenhum de nós precisa se sentir mal um pelo outro. – ele diz sem emoção.

– Deles?

– No jogo da Capital, você sabe, sacrificando os jovens de cada Distrito ano após ano por pura diversão.

Percebo que ele sabe muito mais sobre os Anos de Opressão do que eu.

– Não sei quase nada sobre os Jogos. – comento.

Ele me analisa um pouco e então volta a encarar o céu.

– Eu os estudo desde que pude escolher meu talento. Sempre que posso viajo para a Capital e passo horas na Academia, a enorme escola de especializações da Capital. Acho fascinantes todas as histórias, tirando o fato de meu pai ter sido um brinquedinho descartável para eles. – ele diz. – Assim como seu pai. Já li historias sobre seu pai que o admiro por ainda ser tão cheio de vida.

– Olhe nos olhos dele. – digo. – Ele carrega muita coisa, e os olhos dele não conseguem esconder tudo, assim como faz seu sorriso.

– São as cicatrizes. No meu Distrito todos chamam minha mãe de louca. – ele ri sem humor.

O assunto me incomoda.

– O que mais você faz? – pergunto. – Além de estudar os Anos de Opressão?

– Eu fico muito na praia quando não estou na Academia, muitas crianças que não sabem nadar ficam por lá e eu fico de olho nelas. – ele diz. – E você?

Imagino a cena. O forte e grande Lucca Odair cuidando de crianças.

– Eu ajudo minha mãe na escola do Distrito, ela dá aulas de arco e flecha, e eu de desenho.

Ele sorri.

– Seu pai é um padeiro, sua mãe uma caçadora e você uma desenhista. – ele diz conclusivamente. – Uma família de talentos bem diferentes. E seu irmão?

Quando Lucca me faz todas essas perguntas sobre minha família não consigo parar de pensar no fato de que boa parte de minha vida é muito pública em Panem. Isso me incomoda.

Qualquer livro sobre o país fala de meus pais. Quando cheguei no 11 haviam fotos deles em grandes painéis quase que na entrada da cidade. Eu sempre os vi como apenas meus pais, minha proteção, mas eles são como celebridades para toda a Nação.

Olho para a fascinação que os olhos de Lucca não escondem quando falo de minha família e tento me conformar com isso.

– Meu irmão é o pequeno cúmplice de minha mãe. – eu sorrio quando falo isso por ser algo que meu pai sempre diz, e é a mais pura verdade. – Eles fazem quase tudo juntos.

Ao longo dos anos aprendi que uma garota tem suas necessidades e pais presentes é uma delas. Meus pais sempre estiveram por perto, cuidando de mim e às vezes deixando que eu cometesse meus próprios erros e levantasse sozinha de minhas próprias quedas. Mas eu tive meus momentos de insegurança sobre minha relação com minha mãe, então um dia quando minha mãe e Finn estavam na floresta eu disse para meu pai:

– Às vezes sinto que ela gosta mais dele.

Meu pai me olhou triste e sorriu.

– Eu nunca te contei isso, mas...- ele pensou por um tempo, ponderando se dizia ou não, mas então começou: - Desde criança sua mãe tinha um amigo, aqui do Distrito, e eles faziam muita coisa juntos. Passavam muito tempo na floresta, e se não fossem os Jogos talvez eles tivessem se tornado um casal.

Arregalei os olhos tentando imaginar minha mãe com alguém que não fosse meu pai.

Não consegui, e ainda não consigo.

– Mas pelo menos uma coisa boa aconteceu com os Jogos. – ele me disse. – Quando sua mãe foi escolhida para participar dos Jogos, se eles aceitassem dois tributos masculinos, eu provavelmente teria me oferecido como tributo. Em segundos eu havia me sentido o ser mais inútil do mundo por nunca ter ao menos falado com ela. E eu fiz uma espécie de prece, para poder voltar no tempo ou inverter as coisas e ter ao menos me apresentado formalmente a ela.

Ele olhava para o rumo da floresta e encarava lá fora, pensativo.

– Mas então haviam falado meu nome e estávamos naquilo juntos. Eu me senti a pior pessoa do mundo por ter ficado feliz por aquilo por alguns segundos. Mas então encarei os fatos. Pelo menos um teria que morrer, se tivéssemos sorte.

Meus pelos do braço ficaram eriçados quando ouvi aquelas palavras.

– Mas fomos nos conhecendo, e depois de muita coisa acho que ela começou a ter sentimentos por mim também. Por algum tempo ela ficou confusa entre mim e esse amigo, mas ele acabou fazendo algo que ela nunca perdoou.

– Se ele não tivesse feito isso, você acha que eles estariam juntos? – pergunto e depois me arrependo, com medo de tê-lo magoado.

– Prefiro acreditar que não. – ele responde sincero. – Mas existem algumas coisas que podem comprovar que ela no fundo teria me escolhido. – ele sorri. – Para me separar de sua mãe, digamos que a Capital esmagou um pouco dos meus sentimentos por ela, e por algum tempo eu apenas a temia e a odiava completamente.

Franzi a testa e ele sorriu como se quisesse me acalmar: - Mas ela nunca desistiu de mim. – seu sorriso nesse momento se tornou radiante. – Foi assim que eu soube e ainda sei que ela realmente me ama.

Dei um sorriso, mas ainda não entendendo o propósito desta história até que ele finalizou: - Depois que sua mãe perdeu aquele amigo ela se tornou muito sozinha, eu e Haymitch estávamos sempre com ela, mas apenas quando Finnick nasceu que ela sentiu que havia um pequeno companheiro sempre consigo...Eles têm muito em comum, você sabe.

Confirmei com a cabeça.

– Ela se sentiu compreendida assim que ele disse pela primeira vez que queria ir à floresta.

Lembro-me de como ela ficou fingindo que não estava lacrimejando quando Finn com apenas 4 anos disse que queria ir a floresta. Na verdade ele se sentou perto da janela que dava para a floresta e ficou batendo a mão no vidro e gritando o nome de minha mãe.

– Eles realmente têm muito em comum. – concordo.

– Assim como eu e você temos.

Assimilei aquilo e fiquei um pouco mais contente.

Saio das lembranças e olho para Lucca.

– E é assim que eu e meu pai também somos. – digo isso contente, mas vejo que aquilo desperta certa tristeza em seus olhos azuis.

Bocejo involuntariamente e percebo que está tarde.

– Tenho que ir. – digo e ele para por um momento de fitar o nada, seus olhos se esforçam para de focar em mim.

Como ele não responde, começo a sair e quando estou na pequena porta do compartimento ele me interrompe.

– Você disse que não sabe quase nada sobre os Jogos. Você provavelmente nunca saiu do seu Distrito. – não é uma pergunta, mas ele espera uma resposta.

Afirmo com a cabeça.

– Tenha cuidado. Nem todo mundo é quem diz ser. – ele me diz sério e depois começa a fitar o céu novamente.

Olho para ele uma ultima vez e saio sem entender muito.

Quando estou perto meu corredor eu ouço uma voz grogue gritando.

– Quero ir pra casa. – a voz grita. – É isso mesmo, eu quero ir pra casa agora.

Começo a sorrir quando reconheço a voz bêbada de Haymitch no corredor e o encontro meio deitado no chão com uma garrafa de algo alcoólico na mão. Ele continua gritando e esmurrando o ar quando me aproximo.

– Tio Haymitch? – digo fazendo ele se calar.

– Primrose, me deixa em paz. – ele diz e volta a gritaria.

Ajudo-o a se levantar com pouco esforço já que ele faz boa parte do trabalho eu só o ajudo com o equilibro que não está sob seu controle desde que a bebida subiu a cabeça.

– Vamos pra casa de uma vez. – ele diz agora mais baixo, se dirigindo a mim, mas ainda falando engraçado. – Por favor, eu não quero ir para Capital.

Olho para seus olhos e vejo que há seriedade neles quando ele fala isso mesmo no meio de toda a embriaguez.

– Amanhã conversamos. – digo e estou prestes a consolá-lo quando chegamos perto de seu quarto e ouço vozes vindas do quarto do lado que está com a porta aberta.

É o quarto de meus pais.

– Ela que quis assim. Ela está crescendo! – ouço uma voz falando e reconheço ser a de meu pai.

– Mas Peeta, ela não sabe, ela não entende. – minha mãe diz com a voz um tanto desesperada.

– Você acha que ela nunca irá querer saber das coisas, ou conhecer nosso passado? Até mesmo Finn, logo ele não apenas achará a Capital atraente pelas coisas que há nela, mas pelas coisas que um dia estiveram lá. Primrose foi muito paciente, temos de dar algum credito a ela.

Tio Haymitch está pesado e começa a ficar semi-desperto, mas continuo ouvindo ainda com mais interesse após ter certeza que a conversa é sobre mim.

– Não é apenas sobre Primrose. – minha mãe diz mais baixo e tenho que virar o ouvido cada vez mais para o rumo deles para ouvir. – Não temos realmente certeza se tudo está sobre controle.

Ela diz hesita antes de dizer mais alguma coisa e tio Haymitch começa a tossir então entro com ele em seu quarto da forma mais rápida e desajeitada possível.

– Vamos para casa, Primrose. – tio Haymitch sussurra e em seguida desmaia em sua cama. E me deixa sozinha no enorme quarto tentando assimilar todas essas coisas que acabei de ouvir.






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Notas finais do capítulo

Quero saber tudinho que vocês acharam então deixe um review :D xo



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