Antagônicos escrita por StrawK


Capítulo 8
Adulto imaturo e Criança oportunista


Notas iniciais do capítulo

Yo! Mais um capítulo não betado! Me desculpem eventuais erros!
Esse capítulo sofreu muuuuitas modificações, então a parte da Sakura acabou ficando enorme. XD
Tenham paciência com a história, hein?
Não deixem de ler as notas finais. =*
Boa leitura.



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Era começo de dezembro e há exatos oito dias eu desfrutava de minhas merecidas férias da Companhia onde trabalhava; e também há exatos oito dias que eu fugia ou me escondia sempre que avistava minha nova vizinha no elevador ou nos arredores do edifício.

Às vezes, quando abria a janela do meu quarto, a via no pátio lateral, se atrapalhando com sua maldita bicicleta verde-limão. De alguma forma, ela sempre parecia saber que estava sendo observada, porque sempre levantava a cabeça e sorria para mim, acenando e desejando um “bom dia, senhor Uchiha”, ao que eu respondia simplesmente fechando a cortina.

Ainda não entendia o motivo de me chamar de senhor Uchiha; nossa diferença de idade não devia ser mais de quatro anos e eu também não aparentava ter muito mais de vinte e seis.

A segunda-feira chegou selando definitivamente o início do inverno, e quando abri a janela, pude vislumbrar os galhos das cerejeiras cobertos por uma fina camada de neve, que reluziam vez ou outra, formando prismas, diante de tímidos raios de sol. O vento frio me atingiu em cheio, fazendo minha pele se arrepiar e fechei a janela antes mesmo de verificar se a maluca da bicicleta se encontrava lá embaixo.

Depois do almoço, comecei a me arrumar para me encontrar com a mesma pessoa que geralmente eu encontrava discretamente aos domingos. Meu fornecedor secreto adoecera e ainda estava se recuperando, por isso não fora possível me encontrar no dia anterior, mas ligou-me avisando que poderia fazê-lo na segunda.

Apesar do frio, decidi ir à pé novamente. Gostava das ruas no inverno; eram vazias e silenciosas, seus tons calmos sempre me relaxando durante minhas caminhadas. Era a estação preferida de minha mãe, também.

Avistei Shino parado em uma esquina, as mãos nos bolsos e a enorme gola da roupa a cobrir-lhe a parte inferior do rosto. Os óculos escuros refletiam o nome Doutor Coffee¹, escrito na placa da cafeteria que ficava do outro lado da rua.

Aproximei-me olhando para os lados, certificando-me de não ser visto por algum conhecido.

— O que tem para mim? — Perguntei, me aproximando.

Ele abriu a enorme japona cinza que vestia e analisou rapidamente os bolsos internos, retirando de dentro de um deles, um envelope pardo.

— Número vinte e sete. Quatro mil e duzentos ienes².

Esse cara estava cobrando cada dia mais caro, mas como o dinheiro que separei era justamente para isso, abri minha carteira.

— Vou querer — confirmei, enquanto retirava as notas devidamente organizadas.

Entreguei a quantia e em troca recebi o envelope, que também guardei no bolso interno do meu casaco marrom. Fechei o zíper, dei às costas sem dizer mais nenhuma palavra e me dirigi à cafeteria.

A Doutor Coffee fora reformada recentemente, então agora o espaço era pelo menos duas vezes mais amplo e ocupado com assentos que ficavam um de costas para o outro; em minha opinião, muito pior, pois agora se assemelhava mais à uma rede de fast food — incluindo o cardápio — do que com a cafeteria calma e saudável de antes.

Outra piora foi a escolha dos novos funcionários não ser tão criteriosa. A prova disso era aquela Tenten se aproximando com um sorriso cínico para me atender. Diabos.

— Boa tarde, Senhor Vizinh... Digo, o que vai querer?

Eu tinha quase certeza de que ela ia me chamar de senhor vizinho. Eu ainda tentava entender o que o Neji viu nela além da beleza bronzeada e dos bonitos cabelos castanhos.

— Um duplo sem açúcar.

— Um duplo sem açúcar saindo — ela piscou e se retirou.

Eu estava concentrado no saleiro à minha frente quando uma voz me surpreendeu:

— Agora eu gosto de você. Uma pessoa que é fã do Capitão Dunha³ não pode ser tão má assim.

Virei-me lentamente em direção à voz — o banco de costas para o meu — e dei de cara com um par de olhos verdes divertidos, me encarando.

          — Você — não esbocei reação, embora por dentro eu estivesse morrendo de vontade de sair correndo.

Suspirei, encarando-a quando se dirigiu até minha mesa.

Até que hoje estava mais apresentável.  Embora o coturno, a saia e a meia de lã não fossem exatamente um exemplo de feminilidade, ainda era melhor do que encontrá-la em completa desordem, descabelada ou suja de tinta. Eu só não a desprezava por completo porque não era atirada como algumas mulheres fúteis com quem eu convivia. Ainda assim, Haruno Sakura passava longe de meu ideal de mulher.

E depois, ainda tinha aquela touca estranha que ela estava usando que me fez sentir vontade de alinhá-la, pois a costura estava um pouco para o lado.

Inconscientemente, comecei a levantar a mão para fazê-lo.

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_______________oOo_______________

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Assim que cheguei à cafeteria naquela tarde de segunda-feira, Chouji, o gerente, me cumprimentou:

— Boa tarde, Sakura. Vou chamar a Tenten — ele sorriu. — Olha, se você consumisse a mesma quantidade de vezes que vem aqui para fofocar, estaria falida.

— Eu estou falida, Chouji.

Sentei próxima a uma das enormes janelas e minutos depois, Tenten chegou com um café irlandês — feito com whisky e creme batido — e sentou-se a meu lado.

— Aproveite. Estou no final do meu intervalo — disse, me empurrando o copo. — Por conta da casa.

Eu tinha mesmo uma amiga muito legal. Eu deveria andar mais com a Tenten, já que a única coisa que a Temari tem me dado ultimamente são sermões.

— E desde quando você pode passar seu intervalo sentada com uma freguesa? — perguntei, aceitando o café.

— Desde quando eu descobri que o Chouji dá café de graça para uma moça bonita que vem aqui há pelo menos um mês — ela riu. — Além disso, agora o movimento está fraco.

Olhei em volta e contei onze clientes. Era pouco para o tamanho que o estabelecimento tinha agora.

— Hum... — Saboreei minha bebida enquanto pela janela, avistava Shino, um conhecido, parado na esquina do outro lado da rua. — Delicioso.

Eu me referia ao café irlandês, não ao Shino, só para deixar claro. Ele fazia mais o tipo estranho, sempre encapotado daquele jeito, mesmo em dias de calor e com aquele ar de agente secreto.

— Sakura, não tinha estágio hoje? ­— Tenten perguntou, quase que já adivinhando a resposta. — Não me diga que deu um soco em alguém outra vez.

Revirei os olhos. Eu queria saber de onde as pessoas tiram que eu saio por aí esmurrando os outros. Será que elas não sabem que agora eu ajo leve e suavemente? Quer dizer, não na maior parte do tempo, mas eu me esforço, poxa.

Nah. Hoje eu inventei uma dor de barriga, porque o professor que eu teria que acompanhar hoje era o Kabuto, e ele é muito bizarro. E não adianta me olhar desse jeito! Ele é realmente estranho!

— Estranho como Marilyn Manson ou estranho como aquele Senhor Probleminha? — Sua expressão se tornou mais travessa. — Aliás, qual é a sua com o bonitão?

Quase engasguei com o café.

— Estranho como Hannibal Lecter.  E a minha com aquele senhor nada atraente, é que ele me odeia e despreza, e eu... — Parei um momento. Ainda não tinha decidido qual sentimento manter a respeito daquele cara. ­— E eu o acho um arrogante. Eu já te contei como ignora meus cumprimentos toda vez que me encontra no condomínio, não?

— Sim, contou — ela riu da minha negação e balançou a cabeça como se ele não fosse mesmo um feio. Pff... — Ah, já conseguiu resolver aquele caso da bicicleta?

         — Quase. Chegou um telegrama há alguns dias e iremos nos apresentar no fórum depois de amanhã. Mas acredito que não teremos problemas.

Chouji apareceu e cruzou os braços, pigarreando. Tenten lhe mostrou a língua, brincalhona, e se retirou, voltando ao trabalho.


Ajeitei minha touca na cabeça e voltei a observar a rua pela vidraça, lembrando que a viagem com a universidade seria em uma semana. Suspirei aliviada ao saber que quase não ia viajar, mas graças ao dinheiro que recebi inesperadamente com a triste, desgostosa e trágica morte de minha bondosa, maravilhosa e altruísta tia-avó que eu nem sabia quem era, eu poderia fazê-lo sem maiores problemas.

Eh. Agora eu aprendi. Nunca mais pensaria nisso como uma coisa boa, ou da próxima vez, ao invés de atropelar alguém com uma bicicleta, eu poderia ser atropelada por um ônibus.

Shino ainda estava lá na esquina, parado feito bocó no frio, como uma estátua. Eu ia acenar, mas ele teve a atenção desviada pela chegada de um de seus compradores. Um cara alto, de cabelos pretos que-

Espera.

Espera aí.

Caramba! Nem em um milhão de anos eu poderia imaginar que Uchiha Sasuke também seria um comprador do material do Shino!

Esperei pacientemente ele terminar a compra e adentrar a cafeteria. Quando Tenten se retirou, com seu pedido sem graça de café duplo sem açúcar, não pude mais me conter e me revelei.

— Agora eu gosto de você. Uma pessoa que é fã do Capitão Dunha não pode ser tão má assim.

Sério! Quem poderia dizer que o circunspecto, compenetrado, classudo e marmanjo Uchiha Sasuke comprava exemplares raros de uma HQ tão esdrúxula quanto Capitão Dunha de um cara com negócios escusos? O senhor Uchiha não passava de um Sasuke-kun enrustido!

O Capitão Dunha era um herói tão ridículo e engraçado, com suas roupas berrantes, que Temari dizia que eu era a única pessoa no mundo que colecionava aquela porcaria e que eu deveria me envergonhar e gastar meu dinheiro com coisas mais interessantes, como por exemplo, lingeries novas.


           — Você — ele não esboçou reação, e toda vez que fazia isso, Poker Face, da Lady Gaga tocava em minha cabeça.

Levantei-me e dei a volta na mesa, me dirigindo ao seu cubículo e sentando à sua frente. Ele começou a levantar a mão, e antes que ele pudesse me dar um tapa ou algo assim, resolvi começar:

— Hei, eu sei que você quer distância de mim e tal, e provavelmente me odeia e neste momento quer me mandar ao inferno, mas-

— Não odeio você — ele interrompeu calmamente, me surpreendendo. — Apenas não quero que da próxima vez que nos encontrarmos um piano caia na minha cabeça. Coisas anormais acontecem quando você está por perto.


           — Uou. Um a menos para a lista dos prováveis assassinos de Haruno Sakura ­— falei teatralmente e percebi que ele deixou escapar um meio-sorriso discreto; era a primeira vez que eu o via sorrindo. Era um sorriso feio, aliás.

Ele desviou o rosto para a janela. Acho que percebeu que estava começando a ser amigável e se arrependeu; talvez me achasse maluca o suficiente para imaginar que estava flertando comigo. Resolvi me antecipar:

— Antes que você diga algo arrogante, não acho que esteja flertando comigo, só para esclarecer. E não ficarei no seu pé, não se preocupe. Apenas me interessei pelo o que você tem aí no casaco — cutuquei o peito dele com o indicador do lado que eu sabia estar guardada a revista.

Engoliu em seco. Estaria envergonhado? Será que percebeu que eu ficava feliz em deixa-lo desconcertado?

— Eu sei o seu segredo, u-hu... — falei musicalmente.

— Não tenho segredo algum — cortou, ríspido.

— Ah, não? Então, além de nós dois e daquele traficante de HQ’S raras, quem mais sabe que o sério e maduro Uchiha Sasuke paga uma nota cara por exemplares perdidos de algo tão imbecil quanto Ca-pi-tão Du-nha? — Sibilei as últimas palavras de propósito. — Vamos lá, me mostre. Que edição é?

— O Capitão Dunha não é imbecil — ele respondeu tão rápido que tive que rir.

Tenten chegou com o café ruim dele, mas se retirou logo.

O Uchiha suspirou pesadamente e me encarou:

— Diga-me quanto quer.

Sério, será que eu tinha cara de golpista e chantagista? Era a segunda vez que ele me oferecia dinheiro em troca de favores. Mas que droga.

— Eu não quero nada, seu idiota ­­— fingi que não vi a carranca que me lançou ante a ofensa. — Apenas fiquei empolgada por encontrar alguém que gosta do Capitão.

— E você quer que eu acredite que se aproximou somente para bater um papo sobre isso — o Sasuke-kun aparentou ceticismo. Sim, agora eu o chamaria de Sasuke-kun, porque ninguém que lê Capitão Dunha merece ser chamado de senhor.

— E porque não? Sou uma criança alegre e impressionável, tá bom? — Lhe mostrei a língua. — Além disso, acho deveria selecionar melhor suas companhias femininas. É muito feio achar que todas as garotas são aproveitadoras só porque você vive cercado de oportunistas.

— Isso é irônico vindo de alguém que não perde uma oportunidade para fazer os outros ficarem lhe “devendo uma”.

Ele estava me ofendendo? Era isso mesmo? Estava me chamando de oportunista? E inferno, qual o motivo de eu me ofender tanto?

Oras.

Calmamente, abri minha bolsa e despejei parte do conteúdo na mesa; costumava colocar notas e moedas por todos os cantos dela. Separei dinheiro suficiente para pagar aquele café duplo sem açúcar ruim dele e terminei de beber minha bebida que era um milhão de vezes mais legal, fazendo barulho ao sugar o finzinho, de propósito.

— Estou pagando seu café ­ — eu disse, séria. — Com isso, já são quatro.

— Do que está falando?

— Sobre ficar devendo uma.

— Quatro? ­— Atônito e cético, bem do jeito que eu imaginei que ficaria.

— E... Cinco, por não espalhar por aí que você compra Capitão Dunha — Me levantei e fiz minha melhor cara de menina ofendida. — Tenha uma boa tarde... Sasuke-kun.

Eu não estava flutuando, só pra constar.

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CONTINUA

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Notas finais do capítulo

*Doutor Coffee¹ : é realmente uma rede de cafeterias famosa no Japão.
*Quatro mil e duzentos ienes²: Aproximadamente R$ 100,00.
*Capitão Dunha³: Esse super-herói não existe. É fruto de minha mente doentia. Abaixo, o link de como eu o imagino. É só juntar o link XD
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