Antagônicos escrita por StrawK


Capítulo 4
Lobo Mau e Chapeuzinho


Notas iniciais do capítulo

Mais um! o/
Os capítulos POR ENQUANTO são curtos, mas as atualizações são freqüentes, viu?
Boa leiturinha.



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Despedi-me da pessoa com quem marquei meu encontro secreto com um aceno de cabeça discreto e voltei caminhando lentamente pela calçada. Parei em frente a uma tenda de frutas e comprei algumas maçãs que me foram entregues em um saco de papel. Meus movimentos não costumavam ser descoordenados, mas eu temia que alguém conhecido estivesse por perto, — e eu não queria mentir sobre o que me levou a marcar aquele encontro numa manhã de domingo — então, desconfiado e preocupado em olhar à minha volta, acabei me atrapalhando um pouco com o embrulho das maçãs.

Tentei guardar minha carteira, mas ela passou direto pelo meu bolso, deslizou por minha perna e quicou até o meio-fio.

Praguejei em voz baixa, para não ofender a senhora que me vendera as maçãs, desci da calçada e abaixei-me para recuperar a carteira. Antes de endireitar o corpo totalmente, levantei o rosto e quase enfartei ao dar de cara com uma louca de cabelo rosa — rosa! — guiando uma bicicleta verde-limão em minha direção.

E a imbecil ainda estava de olhos fechados. Olhos fechados! Que tipo de pessoa pedala em uma avenida — mesmo que em uma manhã tranqüila — de olhos fechados?

Ah, sim.

O tipo que te atropela, faz a carteira voar da sua mão sabe-se lá para onde, se embola com você no chão de concreto, te fazendo bater a cabeça duas vezes e meia e que te deixa atordoado e todo torto em cima dela em plena calçada.

Eu só poderia estar sonhando. Trapalhadas não costumavam acontecer comigo, mas ser atropelado por uma bicicleta? Era ridículo, de tão absurdo.

Ficamos naquela posição constrangedora algum tempo e enquanto me recuperava do meu estado de semi-consciência, a garota parecia também recobrar seus sentidos. Ela abriu os olhos devagar, o rosto perto do meu, e notei que seus olhos eram verdes.

A maluca piscou diversas vezes, como que para conseguir recuperar o foco da visão.

— Sai? — Ela levantou uma sobrancelha, como se duvidasse de si mesma.

Que abuso!  Além de me atropelar, exigia que saísse de cima dela como se eu fosse o culpado! Nem lhe passou pela cabeça pedir desculpas?

— Já estou saindo, oras – resmunguei, me preparando para levantar.

Porém, a pequena corrente de prata em meu pescoço acabou se enroscando em um dos botões da camisa dela, e quando me movimentei, automaticamente acabei erguendo sua camisa e abrindo dois botões deixando a lingerie um pouco à mostra. Lingerie com estampa de ursinhos. Que infantil.

— Hum... Não é o Sai — ela murmurou para si, em um tom tão baixo que eu nem puder saber se a frase foi essa mesma. — Ah, hei! Pode soltar a minha camisa? — Dessa vez, falou em um tom mais alto, como se eu estivesse do outro lado da rua e ela precisasse gritar. Meu tímpano doeu levemente.

Minha indignação deu lugar a um leve embaraço. Naquela cena, eu estava parecendo o Lobo-Mau pronto para atacar a garota, e a imagem dela quase tendo a camisa arrancada por mim — na verdade, pela minha corrente — só reforçou a ideia quando três senhoras que passavam no local resolveram interferir e transformar o caso em uma tragédia bem maior.

— Olha, um tarado! — Gritou uma delas, apontando. — Solte a moça, seu tarado!

Já prevendo uma série de explicações, me pus a tentar soltar minha corrente do botão da camisa dela afobadamente, mas fui interrompido pelas senhoras que começaram a arremessar maçãs — as MINHAS maçãs — contra mim, até que uma delas acertou em cheio minha cabeça.

Vi as imagens dançarem em círculos por um momento, e antes de tudo se apagar, caí novamente sobre a garota, fazendo-a bater a cabeça no chão com o impacto.

_______________oOo_______________

— Hum... Então, seu delegado. Posso te chamar de seu delegado? — Como quem cala consente, eu não me retratei, apesar da cara feia do homem à minha frente. — Foi um acidente... O moço não é tarado, não. Pode soltar ele!

Eu estava em uma das saletas da delegacia, com aquele senhor gordo e suado com um enorme bigode seboso. Ganhei um pequeno curativo acima da sobrancelha e alguns band-aids nos cotovelos e joelhos.

Fui do hospital à delegacia ainda zonza, — o raio-x acusou estar tudo bem com a minha cabeça, o que eu não acreditava ser possível, devido à minha incrível falta de coordenação — mesmo depois de tomar um analgésico, e me perguntei se levaram o cara que eu atropelei para o hospital também.

— Não precisa ter receio, pequena — o delegado me direcionava agora, um olhar complacente. — Sabemos que isso acontece com freqüência. Se o seu namorado queria te forçar a algo, é só dizer.  

— Ele não é meu namorado! — Caramba, era a sexta vez que eu repetia isso. — Já disse que foi um mal entendido!

Claro que eu não expliquei exatamente qual foi o mal entendido. Não ia dizer ao delegado que quase matei o cara porque perdi a direção enquanto pedalava de olhos fechados, agradecendo pela morte de minha tia-que-eu-nem-sabia-quem-era.

— Mas as três testemunhas afirmam que o viram tentando abusar da senhorita. O delinqüente estava sem documentos.

Eu queria soltar um palavrão e fazê-lo entender que as três senhoras eram piradas, mas me contive para não ser presa por desacato. Vai saber.

Escute — suspirei, impaciente. — Não conheço esse cara.  Eu estava pedalando, quando fechei os olhos porque... Porque não... Tomei café da manhã, senti uma tontura e perdi o controle. Acabei o atropelando sem querer.

Fiz questão de dar uma entonação forte ao “sem querer” para deixar bem claro que não era nenhum tipo de irresponsável que pedalava de olhos fechados por causa de uma prece. Pensando bem, uma bicicleta em movimento não é mesmo o lugar ideal para se fazer uma prece. Hum... Vou anotar isso.

Nesse momento um policial irrompeu porta adentro e depositou calmamente uma carteira de couro preta em cima da mesa do delegado.

— Essa é a carteira do agressor — ele disse. — A senhora da tenda de frutas encontrou do outro lado da rua.

O delegado não pareceu se incomodar com a intromissão e abriu a carteira, para identificar seu suposto agressor de garotas indefesas.

— Uchiha Sasuke — ele leu e depois se dirigiu ao policial que acabara de entrar. — Já entrou em contato com a família do rapaz?

— Ele não quis ligar para ninguém da família. Preferiu chamar um amigo — O policial respondeu.

O delegado se voltou para mim.

— Pois bem, mocinha... Supondo que a sua versão dos fatos seja verdadeira, e eu acredito que não seja e só esteja com medo de uma retaliação, eu poderia deixá-lo livrar-se solto, mas não posso ignorar o fato de que o flagrante possui três testemunhas idôneas. Não há motivos para desacreditar daquelas senhoras.

Também não há motivos para desacreditar no mendigo da minha rua que jura ser um Power Ranger.

— Então este me dizendo que vai deixá-lo preso?

— Estou dizendo que o que posso fazer, é tentar pedir ao juiz responsável um relaxamento da prisão em flagrante para que ele responda ao processo em liberdade.

Hum... Tá bom, então. Melhor que nada, eu acho. Tomara que esse cara seja uma boa pessoa. Vai que de repente ele é mesmo algum tipo de desequilibrado e eu o estou ajudando a ficar livre?

Levantei-me apressada, ignorando a dor do meu joelho ralado raspando no meu jeans e segurei a mão do delegado entre as minhas, chacoalhando-as num pseudocumprimento.

— Ah, então... Muito obrigada! Será... Que eu posso vê-lo?

— Tem certeza?

Confirmei com a cabeça e o delegado pediu para o policial me acompanhar até a cela da minúscula delegacia.

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CONTINUA...

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Notas finais do capítulo

Não está betado, viu?
Ah, não manjo NADA de direito penal. Desculpa aí. *foge*
Prometo que a partir do próximo capítulo, a interação entre eles irá acontecer.
Obrigadíssima pelas Reviews fofas!
Digam o que acharam!
Besitows,
StrawK.