Antagônicos escrita por StrawK


Capítulo 14
Jantares e Fechaduras


Notas iniciais do capítulo

Aaaaaaaah! Que saudade de vocês!
Sim, eu voltei! =)
Leiam as notas finais!
Não betado (me avisem quando encontrarem os erros, para que eu possa arrumá-los).
Boa leitura! XD



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Já era noite, e eu ainda me perguntava se não estaria usando o meu "plano B" precipitadamente; mas sentado em meu carro, parado à alguns metros da casa de Karin, me lembrei da cena bizarra que presenciei meia hora atrás, antes de sair – e que a protagonista, obviamente, era aquela maluca de cabelo rosa – e isso foi o suficiente para que eu resolvesse deixar o veículo.

Quando Karin saiu, pude admirar seu discreto e elegante vestido preto, com um decote em "v" nas costas. Os cabelos ruivos estavam presos num coque frouxo e os óculos de aro grosso lhe davam uma aparência inteligente e respeitável.

Percebi que também me admirava a silhueta e que por educação, preferiu ignorar o tom arroxeado em meu olho.

— Você está... Muito bem – me esforcei para que o melhor elogio que poderia dar a alguém, depois de "você não é tão imbecil, afinal", parecesse sincero.

Ela agradeceu com um sorriso tímido e depois entramos no carro. O percurso até o fino restaurante que a levei foi repleto de silêncios constrangedores e percebi que vez ou outra, retorcia as mãos apoiadas em seu colo, tão desconfortável quanto eu mesmo não admitia estar.

Quando chegamos ao ambiente requintado do Laguna's, e o som da banda de jazz que tocava num canto conseguiu envolver-me um pouco, me animei com a possibilidade de uma inteligente e instigante conversa de adultos, já que o clima contribuía para tal. O garçom saiu com nossos pedidos e Karin me surpreendeu a ser ela a tomar a iniciativa da conversa.

— Meu pai fala muito de você — sorriu, ainda tímida. — Disse que se surpreendeu com sua rápida ascensão como um dos melhores da Companhia. Por que escolheu essa profissão?

— Sinceramente, no começo foi apenas para afrontar meu pai. Ele queria que eu seguisse os passos de meu irmão na empresa da família, mas depois acabei me envolvendo com esse trabalho de verdade.

— Entendo — ela assentiu.

E depois disso, o silêncio constrangedor voltou e eu não conseguia olhar para outra coisa a não ser um ponto invisível na parede às costas de minha acompanhante. Por alguns instantes, o garçom nos salvou do fiasco total, trazendo nossos pratos, que nos pusemos a saborear imediatamente, para manter a boca ocupada.

— Se não me engano, você estuda arquitetura — arrisquei. — Por que se decidiu por esse curso?

Então, ela se pôs a divagar sobre como gostava de edificações, e em como andava na contramão da arquitetura moderna, preferindo a classe dos antigos edifícios assimétricos. Pareci prestar a atenção em tudo o que dizia, e vez ou outra assentia com a cabeça, mas num ponto de seu rápido monólogo, a imagem de Karin começou a desfocar e comecei a pintar mentalmente seu cabelo de rosa.

Hn.

— O que você acha? — Sua pergunta me pegou de surpresa. Do que ela falava, mesmo? Ah, sim. Perguntou se eu preferia as estruturas arquitetônicas modernas e cheias de curvas ou a classe dos antigos edifícios assimétricos.

— Assimetria, com certeza — respondi, certo de que se Sakura ouvisse, me chamaria de psicótico com transtorno obsessivo compulsivo.

— Temos tantos gostos em comum! — Mais uma vez, ela sorriu.

Ok.

Karin sabia se portar, era inteligente e uma companhia até que agradável, mas... Talvez esse fosse o problema. Ela... Lembrava-me muito alguém.

Eu.

Inferno.

Não acredito que pensei isso. Eu praticamente assinei meu atestado de chatice.

Conversar com uma quase versão feminina de mim mesmo poderia ser interessante e intelectualmente estimulante, porém, nunca divertido. Mas, droga! Não era isso mesmo que eu queria? Por que então estou louco para ter uma conversa animada ou até mesmo me deixar atormentar por certa garota de olhos verdes?

Certo. Não poderia ser tão mal assim. Karin deveria possuir algum tipo de senso de humor escondido em algum lugar, mesmo que fosse um senso de humor sarcástico, como o meu.

— Você conhece o Capitão Dunha? — E eu me vi ali, interrompendo sua fala inteligente para perguntar esse absurdo.

— Capitão quem?

Ótimo. Explique essa agora, Uchiha.

— Esqueça.

— É algum arquiteto?

Óbvio que uma pessoa aparentemente mais séria que eu não conheceria as histórias babacas de um super-herói tão esdrúxulo quanto o Capitão Dunha. Não posso perder o foco. Karin não é Sakura.

Não é.

E isso deveria me dar um alívio imenso.

— Você me falou muito de sua profissão, mas pouco de você — minha pergunta só mostrou a que ponto cheguei, para ter de fazer esse tipo de observação que certamente não era do meu feitio.

— Não costumo falar muito sobre mim mesma... — Ela soltou um riso nervoso. — O curioso é que uma amiga minha sempre me chama atenção sobe esse bloqueio que tenho. Confesso que sempre quis ser uma pouco mais extrovertida, assim como ela.

Senti naquele riso uma ponta de recatada inveja, embora não conseguisse imaginar uma mulher como ela – tão elegante e discreta – querendo ser como alguma amiga supostamente extrovertida, mas que na verdade não devia passar de mais uma garota escandalosa e retardada, como a maioria por aí.

— Capitão Dunha! — De repente, Karin estalou os dedos, como se acabasse de se lembrar de algo. — Eu sabia que já havia escutado esse nome em algum lugar. É o tal do super-herói esquisito que essa minha amiga gosta, inclusive!

E a probabilidade de isso acontecer é a mesma que eu deixar acumular a louça do café com a do almoço: zero.

Comecei a imaginar o círculo de amizades de Karin; saber que uma de suas amigas extrovertidas gostava de Capitão Dunha me deixou completamente intrigado. Eu forçava minha mente a não conjecturar quem era essa tal amiga, porque seria doentio demais e eu não poderia estar em um encontro com minha futura noiva e pensar em como seria conhecer a garota que gosta do Capitão Dunha.

Quando terminamos o jantar, ainda permanecemos um pouco mais no restaurante ouvindo a banda de jazz sem trocar mais nenhuma palavra. Eu deveria apreciar isso. Silêncio, concentração, seriedade... Realmente deveria.

Despedimo-nos na porta da casa dela, - onde a deixei com promessas de um novo encontro – e depois, cheguei em meu apartamento com a cabeça um tanto confusa.

Embora a última parte daquela frase de minha mãe ainda ecoasse, trataria de esquecê-la. Apoiar-se em pelo menos três qualidades essências em alguém que julgo adequada para mim é bem mais seguro do que se render a uma paixonite louca por achar que não há para onde fugir.

Sempre há uma fuga.

Karin era a minha.

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_______________oOo_______________

.

Algumas horas depois que Sai me telefonou, avisando sobre o prazo da entrega do formulário para a viagem da universidade, eu já me encontrava reunida com alguns amigos no campus.

Estávamos perto da sala do conselho estudantil quando percebi que Sasuke – o gato – havia me seguido; provavelmente saíra pela janela com pensamentos sanguinários a respeito de sua pobre dona, que lhe negou uns petiscos a mais quando ele não obedeceu a ordem de parar de arranhar o sofá.

Aquela bola de pelo começou a ziguezaguear por entre as pernas do Naruto, como se quisesse queixar-se de maus-tratos. Quando percebi, todos – Karin, Sai, Temari e o próprio Naruto – haviam parado de andar e se puseram a paparicar aquele gato safado que parecia gostar até do Hitler, menos de mim.

— Então esse é o seu gato, Sakura-chan? — Sai se pronunciou. — Ele não parece tão terrível como você descreveu. Parece bem carinhoso, até.

— Você só diz isso... — respondi — Porque ele não arranha seu sofá nem detona sua pelúcia do InuYasha.

Sim, eu tenho uma pelúcia do InuYasha e ainda durmo abraçada com ela.

— Já escolheu um nome para ele? — Karin perguntou, enquanto acariciava Sasuke – o gato –, que estava deitado no chão de barriga para cima e pernas arreganhadas.

Avaliei minha amiga ruiva por um momento e lancei-lhe um olhar ameaçador antes de rebater.

— Sabe que eu não vou responder nada até você me contar quem foi o cara que te convidou para jantar hoje.

— Eu não quero apressar as coisas — ela ajeitou os óculos no nariz. — Ainda corro o risco de ele telefonar dizendo que se enganou e convidou a pessoa errada.

É, tipo... Ela falava isso na maior seriedade. Sempre me perguntei quando Karin deixaria o sangue Uzumaki — ela é prima do Naruto — falar mais alto e finalmente assumir seu lado impulsivo.

— Que seja. Esse gato mal agradecido nem merecia ter um nom-

Antes que eu pudesse terminar minha frase depreciativa em relação ao felino, Sasuke – o gato – pulou em cima de mim, fazendo o maior escândalo, derrubando minha pasta de documentos e minha pequena bolsa, que ele fez questão de abocanhar e carregar para longe de mim, correndo desesperadamente, como nos dias em que eu o forçava a tomar banho. De água, não de língua.

Eu realmente pensei em contar até noventa e sete, mas não daria tempo de correr atrás do gato, que entrou na sala do conselho estudantil. Se ele conseguisse abrir a bolsa e comer meu dinheiro, eu juro que o doaria para aquela vizinha que era dona de três pitbulls.

Quando percebi, eu já estava gritando para meus amigos me ajudarem a capturar o gato e recuperar minha bolsa. Corremos para a sala do conselho estudantil e tentamos cercá-lo, mas Sasuke – o gato –, apesar de gordo, era rápido e anda conseguiu derrubar o Naruto duas vezes.

— Vou fechar a porta para ele não sair! — Avisei, enquanto fechava a porta bruscamente, provocando um estrondo.

Então ficamos lá, os cinco palhaços levando um baile de um gato gordo, naquela sala abafada, sem janelas e com o ar-condicionado quebrado, até que Naruto finalmente conseguiu pegar minha bolsa babada de volta e Sasuke – o gato – decidiu que já havia conseguido se vingar de mim.

— Treze e trinta e oito — Sai verificou o relógio, enquanto limpava o suor da testa. — É melhor irmos logo ou perderemos o prazo de entrega.

Bom, acho que vinte e dois minutos eram suficientes para chegar até a administração e garantirmos nossa vaga na viagem; obviamente, se não fosse pelo fato de eu tentar abrir a porta – a mesma que eu fechei delicadamente – e descobrir que estava emperrada.

É isso aí. Empurrei e nada de abrir.

Senti quatro pares de olhos sobre mim.

— Gente... — Engoli em seco, pensando em já começar a contar até noventa e sete. — Eu acho que estamos presos.

— Deixa eu tentar, Sakura-chan! — Naruto começou a apoiar o pé na porta e a puxar a maçaneta violentamente. — Garotas não têm força para esse tipo de coisa.

Bem, nem ele, porque em menos de dez segundos, já estava reclamando de ter machucado as mãos e a Temari acabou lhe dando um safanão, ameaçando arrancar suas cutículas com um alicate enferrujado, caso ele quebrasse a maçaneta.

Cada um tentou a seu modo, mas a pesada porta de madeira não se movia nem um centímetro. Quando chegou minha vez de tentar novamente, agarrei a maçaneta com força, girando e empurrando-a freneticamente, até que...

KATLEC.

Ela saiu em minha mão.

E aí, todos começaram a se desesperar.

Menos eu, porque já havia contado até noventa e oito, e já estava flutuando.

— Sua... Sua... COISA DESASTRADA! — Temari não esperou nem um minuto para se exaltar. — SUA SONSA, LESADA, CABELO DE CHICLETE MASTIGADO, EU VOU TE MATAR!

É.

Bem assim.

Meu espírito flutuava livre, só observando essa pobre alma me insultar e ameaçar de morte. Bacana.

— Agora só precisamos arrombar a porta — Simplificou Sai. Ele era mesmo um fofo.

— Ah, é? Então vai lá, se atirar contra essa porta de madeira maciça, HULK! — Temari gritando era mais chata que o Naruto bêbado.

Karin, sempre prática, pegou o celular e avisou que tentaria ligar para a zeladoria ou a administração ou o que quer que fosse que pudesse nos tirar daquela sala que ficava cada vez mais abafada; mas o mais legal de tudo foi que nenhum celular tinha sinal naquele lugar.

— É melhor a gente gritar e bater. Ah, caramba! A gente não vai conseguir fazer as reservas! E é sua culpa, Sakura! E PARE DE ARREGALAR ESSE OLHÃO E PENSA EM ALGUMA COISA! – Eu já falei que Temari gritando era mais chata que o Naruto bêbado e faminto?

— Mas bem que você poderia gritar longe do meu ouvido, 'ttebayo!

— OLHA QUEM FALA! O SER MAIS ESCANDALOSO DESSE UNIVERSO!

Começamos a bater na porta e a gritar, ainda que quase sem esperança de sermos ouvidos, pois a sala do conselho estudantil ficava em um prédio bem afastado. E não tinha janelas. E o ar condicionado estava quebrado. E eu estava com vontade de ir ao banheiro fazer o número um.

Temari continuava a gritar, dizendo não ter dinheiro extra para a passagem, já que o valor era incluso no pacote da viagem, e sem as reservas não teriamos como viajar. Foi então que Sai olhou novamente o relógio em seu pulso e murmurou:

— Treze e cinqüenta e oito.

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Spin-Off

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No período de férias, era normal encontrar a Universidade quase vazia, a não ser pelos funcionários da zeladoria e administração e alguns estudantes que decidiram começar algum curso no segundo semestre e eventualmente apareciam para preencher formulários ou fazer inscrições.

Não muito longe da saleta em que os cinco estudantes se encontravam presos e desesperados, três senhoras conversavam enquanto caminhavam.

— Só vocês, para inventarem de voltar a estudar com essa idade - uma das mulheres, encurvada e com uns enormes óculos de aros escuros reclamava para as companheiras.

— Está falando de você, já que eu sou mais nova – a outra, obesa e com um vestido estampado com pequenos pássaros coloridos, retrucou.

— Três anos mais nova. Você tem 78. E chega de reclamar. Já fizemos as matrículas– a última, sem os dentes da frente, intrometeu-se.

— Oh! Vocês estão ouvindo isso? Parecem gritos! Será que essa Universidade é mal-assombrada e estamos escutando as vozes do além? – A primeira arrepiou-se.

— Deixa de ser besta, mulher. Que vozes do além, o quê! São as vozes do ali.

— Ali, aonde?

— Ali, naquela sala.

As três se dirigiram à porta da sala de onde ouviam os gritos e batidas.

— Uia! Parece que esses estudantes estão fazendo uma orgia! – A velha gorda encostou o ouvido na porta.

As outras duas a imitaram, porém o que conseguiram ouvir foram somente frases entrecortadas.

— AH! NÃO! POR FAVOR!

— ... e o Sai se machucou tentando arrombar! Tá doendo?

— PÁRA COM ISSO TEMARI! ASSIM EU NÃO AGUENTO, 'TTEBAYO!

— SHHH! CALADOS! Parece que tem alguém ai fora!

A velha de óculos gritou em resposta ao comentário:

— Oh, não se preocupem! Podem continuar o que estavam fazendo! Não queremos atrapalhar!

— Não vá embora! Precisamos de ajuda! – Alguém gritou de volta de dentro da sala.

— Desculpem, meus filhos, mas acho que não somos tão modernas assim para participar com vocês aí! – Disse a senhora banguela, e depois se virou para as outras duas – É melhor irmos embora, meninas.

— NÃO! Escutem! Nós estamos trancados!

— O que ele disse? – A senhora de óculos perguntou às outras, já que diante da gritaria de ambos os lados não conseguia distinguir muita coisa.

— Disse que eles são tarados! — A senhora gorda respondeu à amiga.

— TARADOS, NÃO! EU DISSE: TRANCADOS! TRAN-CA-DOS! – Sai gritou de volta.

— Ah, sim... Eles estão trancados.

— Ora, quem diria...

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CONTINUA


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, desculpem o sumiço, mas eu realmente tirei umas férias. Depois de todo o stress com os preparativos do casamento, e curtir bastante meus primeiros meses de casada (já são 8 meses!) volto ao fanfiction pronta para continuar acompanhando minhas fics preferidas e claro, postar mais capítulos de Antagônicos e Distopia. XD
E o pior, com a cabeça fervilhando de idéias para novas fics, que não me atrevo a começar sem terminar Antagônicos antes, mas seja o que Deus quiser.
Segundamente (-q), quero agradecer por todos os REVIEWS lindos e motivadores que vocês me deixaram, que são uma das causas de eu voltar a escrever. Leio todos com muito carinho. Obrigada mesmo, pessoal.
Obrigada, leitoras antigas, que não desistiram de acompanhar, e obrigada, leitoras novas, que não viam a hora de um novo capítulo. E aqui está.
Sei que não teve interação do casal, mas como vocês sabem, esse capítulo é importante para o desenrolar da história. =)
Quando puder, respondo os reviews!
Besitows,
StrawK!