Kenta e Brownnie correm pela rua de Kugoya que leva à estrada, onde o sítio de Azumi Koji se encontra, perto da cidade.

                - E se ele não tiver cogumelos no sítio, Brownnie? - Kenta pergunta, correndo com as perninhas curtas.

                - Se ele não tiver, eu terei que ir atrás de uns na base da Tribo Verde. - Brownnie responde, seco. - E eu não quero ter que ir tão longe só pra comer.

                - Mas... - Kenta faz uma cara engraçada, como se fosse pedir algo.

                Brownnie dá um sorrisinho maligno.

                - Você não pode entrar na base, não é da Tribo Verde.

                - Mas... - Kenta faz uma cara de choro.

                - Você quer discutir comigo? - Brownnie tira a luva de ferro do bolso e coloca na mão direita.

                - N-Não! Acalme-se! - Kenta consegue fazer Brownnie guardar a luva.

                “Espero que as vaquinhas do Koji-san não me decepcionem!”, pensa Kenta. Ambos continuam correndo, finalmente chegando na estrada que leva para as cidades vizinhas. Eles correm em passadas pequenas, mas logo já vêem o sítio de Azumi Koji.

                - Chegamos... - Kenta e Brownnie páram de correr, ofegantes.

                - Vamos logo, Kenta. - Brownnie manda, entrando no sítio. Kenta sorri.

                - Ele não me chama mais de ex-humano...

                Mas uma voz chama do sítio.

                - Vem logo, ex-humano tolo!

                - Maldito...

                Azumi Koji serve leite aos dois.

                - A que devo a presença de ocês hoje, sô?

                - Esse leite é industrializado? - Kenta pergunta, olhando para o leite com interesse.

                - Precisamos de mais cogumelos, Koji-san. - Brownnie responde, fazendo uma carinha fofa.

                - Fingido... - Kenta murmura baixinho, enquanto Brownnie sorri.

                - Ocês podem ir procurar no pasto à vontade, sô! - Koji sorri, enquanto os dois pegam as luvas e vão à caçada.

                Brownnie e Kenta vão ao pasto e se separam para procurar cogumelos. O sítio é grande e rodeado por um riacho ao lado do galinheiro. Há algumas árvores silvestres e plantações mais para longe do pasto, onde os bovinos ficam.

                Kenta procura perto do riacho, onde o mal-cheiro impera.

                - Eca, que fedor de bosta. - Ele tampa o nariz com a mão direita. - Pena que só poderei fazer isso agora. - Ele fala, com a voz ainda mais fina.

                Ele localiza alguns montes de estrumes perto do galinheiro e corre até lá para ver.

                - Droga, ou as galinhas estão cagando muito, ou as vaquinhas gostam de cagar longe do pasto. - Reclama Kenta, estranhando o mau-cheiro. - Aliás, que tipo de coisa pode...

                Ele pára de falar na mesma hora que nota uma sombra enorme o cobrir.

                - Kirashi... Toshiko? - Kenta vira, com a mão no nariz e uma cara de assustado.

                Não era Kirashi Toshiko.

                Brownnie procurava cogumelos perto das árvores, onde a umidade era alta. Ele caminha entre as raízes, procurando estrumes. Ele até achou alguns, mas notou que não haviam cogumelos maduros.

                - Pelo que parece, não está na época mesmo... - Ele ouve um barulho de galho quebrando e imediatamente troca a luva de coleta para a luva de ferro.

                O barulho vinha de uma região onde as árvores eram mais próximas e a luz do sol quase não chegava por culpa dos galhos e das folhas.

                - Quem está aí? - Brownnie estreita os olhos, vendo uma figura alta atirada no chão.

                A figura se mexe, aparentemente fraca e incapaz de se levantar.

                - Socorro... - A figura geme, tentando se levantar e caindo.

                Brownnie corre até a figura, virando-a de barriga para cima com esforço. Era um adolescente, um pouco mais velho que Kenta e Shiro, alto e comprido. Era magro e vestia roupas pretas: camiseta e casaco, além de uma calça colada. Tinha longos cabelos brancos e olhos vermelhos que olhavam para Brownnie com cansaço. Por fim, carregava algo comprido nas costas.

                - Socorro... - A figura gemeu pela última vez e fechou os olhos.

                - Tome. Você precisa disso. - Brownnie tira a touca verde e mexe em algo dentro dela.

                Ele tira um cogumelo pequenino e rosa, com pequenos corações vermelhos por todo o chapéu, que era muito maior que o comum. Quase não havia caule, apenas um pequeno saindo do chapéu.

                - Tome esse Heal-shroom, você vai melhorar. - Brownnie empurra o cogumelo para dentro da boca da figura, que mastiga com dificuldade.

                Poucos segundos depois, a figura abre os olhos e se senta repentinamente, com surpreendente rapidez.

                - Melhorou. - Brownnie comenta, colocando a touca na cabeça.

                - Estou me sentindo muito melhor. Não sei o que aconteceu, mas quero saber seu nome. - A figura olha Brownnie com um olhar sério.

                - Brownnie. Sou um gnomo e você ingeriu um cogumelo com propriedades curativas. Qual o seu nome?

                - Daisuke Tomoko. Eu estava com sede e resolvi tomar uma água no riacho, quando fui atacado.

                Brownnie estreita os olhos.

                - Algo o atacou? Dentro do sítio? O quê?

                - Uma vaca enorme com um sino dourado.

                Kenta parece completamente horrorizado, encarando algo que nunca pensou que pudesse existir. Uma vaca enorme, mais ou menos do tamanho de um carro, com um sino dourado com lacinhos vermelhos, estava parada atrás dele, bufando e parecendo irritada.

                Ele nota que ela usava uma gravatinha borboleta dourada, com duas letras “M” vermelhas. Ela também tinha um anel dourado no nariz, como os minotauros dos mitos gregos.

                - Calminha vaquinha... calminha... - Kenta recua, completamente horrorizado.

                Mas a vaca ruge, parecendo muito irritada.

                - Calmi... TÔ DANDO NO PÉ! - Kenta grita e sai correndo. A vaca ruge e corre atrás dele.

                O sino balança, produzindo uma canção completamente calma, que relaxa Kenta.

                - Droga suas perninhas curtas! Não é hora de relaxarem e ficarem moles!

                Kenta corre até uma parte onde havia bastante árvores, se infiltrando no meio delas.

                - Isso! Essa vaca enorme não conseguirá atravessar com todas essas árvores no caminho! - Kenta começa uma dancinha de triunfo, saindo da região com árvores juntas e parando perto da estrada.

                Mas a vaca não ia desistir. Uma por uma, as árvores foram sendo arrancadas pela fúria da vaca, que corria na direção de Kenta. Kenta a olha com espanto.

                - MEU DEUS!

                Ele corre e pula a cerca do sítio, caindo na estrada de cara. A vaca finalmente sai da área das árvores e pula a cerca também, encarando Kenta com olhos vermelhos e furiosos.

                Kenta tenta recuar, mas cai de costas no chão. A vaca dá um passo lento, ainda de olho nele.

                - Nenhum carro vai passar pra me salvar? Socorro! - Kenta olha para os dois lados, mas a estrada estava deserta. - Ninguém vem visitar Kugoya?

                A vaca finalmente tem Kenta na mira. Ela se prepara e avança sobre ele.

                - ESTOU MORTO! - Kenta tapa os olhos e grita, sem ver algo impedir a vaca de perfurá-lo com os chifres. Lentamente, Kenta coloca o dedo para cima e espia. Ele arregala os olhos.

                Um adolescente um pouco mais velho que ele bloqueava os enormes chifres com uma espada comprida. Ele notou os longos cabelos brancos do estranho e...

                - Parece que você está mal, Kenta.

                - Brownnie!

                Brownnie se aproxima, enquanto Daisuke e a vaca ainda disputavam terreno.

                - Esse com a espada é Daisuke Tomoko. Eu o encontrei no sítio, ele havia sido atacado por esta vaca. Eu o curei.

                - Ainda bem que chegaram a tempo.

                Daisuke se desvencilha da vaca, fazendo ela espetar os chifres no chão por culpa da força acumulada durante a disputa. Ela não consegue tirar os chifres, ficando presa. Ela chora.

                - Chorando? - Kenta diz, com uma cara de espanto.

                - Tá tudo bem, sô!

                Koji surge do sítio, pulando a cerca. Ele vai até a vaca e acaricia a cabeça dela, que pára de chorar e sorri.

                - Ocê tá só com fome, sô! - Koji tira um saquinho de comida de vaca do bolso e despeja na  boca da vaca, que fica agradecida. - Depois nós entramos e te dou uma bela refeição!

                Daisuke guarda sua espada e a coloca nas costas. Ele se vira para Brownnie.

                - Obrigado, Brownnie-dono. Fico te devendo uma.

                Sem dizer mais nada, ele anda pela estrada e desaparece no horizonte.

                - Mas o que aconteceu...? - Kenta se levanta, com ar de dúvida.

                Koji, com impressionante força, tira os chifres da vaca do chão e a guia para dentro. Quando nota que Brownnie e Kenta ainda esperavam na estrada, ele se vira.

                - Entrem! Devo explicações pra ocês, sô!

                Os dois seguem Koji, que guia a vaca pelo sítio.

                - Essa grandona aqui é a Moo-Moo! Ela é minha vaquinha mais estimada. Desculpem por hoje, mas acho que ela tava com fome, sô! - Koji sorri para os dois, com a mão na cabeça da vaca.

                - Tudo bem, tudo bem. Mas não conseguimos os cogumelos e eu estou morrendo de fome. - Kenta diz, ouvindo o estômago roncar.

                - Ah, eu guardei uns cogumelinhos procês! Não se preocupem, minha esposa tá preparando a janta: cogumelos ao molho branco!

                - Que delícia! - Os olhinhos de Kenta brilham, quando eles chegam finalmente em um grande celeiro, exclusivo para Moo-Moo.

                Koji pega um grande saco de comida especial para vacas e coloca em um prato enorme, para Moo-Moo comer. Os três se despedem da vaca e vão andando até a casa, enquanto o céu fica escuro.

                - Ela não come grama, então preciso comprar essas rações! - Koji diz, sorrindo.

                Após os três entrarem e degustarem a janta, eles ganham um saquinho de Koji, quando iam saindo.

                - Tomem, tem uns cogumelinhos colhidos por mim procês! Voltem mais, as vacas dão mais leite com ocês por perto! E a Moo-Moo também gostou de vocês.

                - Ah claro, gostou. - Kenta faz uma cara de espanto ao lembrar do encontro com a vaca mais cedo.

                - Até logo, Koji-san.

                - Até! - Diz Koji, sorrindo.

                Brownnie e Kenta vão caminhando pela estrada escura, enquanto conversam.

                - Foi um longo dia, não acha? - Kenta comenta, sorrindo. Mas Brownnie não responde. Kenta fica sério. - Quem era aquele Daisuke Tomoko?

                - Eu salvei a vida dele com um Magic-shroom, ele tinha entrado no sítio para beber água no riacho e foi atacado pela Moo-Moo esfomeada. Então, ele ficou muito agradecido.

                - Tudo bem, mas quem é ele? E daonde ele veio?

                - Pelo pouco que conversamos, ele é um espadachim andarilho que anda pelas estradas de Kugoya. Disse que poderia o encontrar nessa mesma estrada aos sábados.

                - Carinha misterioso.

                Quando os dois chegam em casa, dispensam a janta de Nanao e sobem para o quarto.

                - Você não vai pra casa? - Kenta pergunta.

                - Não. Tenho algo para falar.

                - Diga.

                Kenta se senta na cama e Brownnie na cadeira.

                - Aquela vaca, Moo-Moo era enorme. Percebeu? - Brownnie começa.

                - Sim. Nunca ouvi falar de uma vaca daquele tamanho...

                - Ela deve ter ingerido um Magic-shroom.

                - O QUÊ!?

                - É comum que gnomos desavisados deixem cair Magic-shrooms no mundo humano. Ela deve ter comido o Grow-shroom, que é marrom, comprido e fino. Ele faz algo crescer e é um tipo raro de Long-shroom.

                - Puxa, coitadinha da Moo-Moo.

                Kenta pega no armário a caixinha com as palhetas e a abre.

                - SANTO DEUS! - Ele grita, caindo para trás.

                Brownnie desvia o olhar ao ver Kenta se levantar furioso e o encarar.

                - VOCÊ ROUBOU TODAS!? NÃO TEM MAIS NENHUMA PALHETA!

                - Não se preocupe, apenas levei para a base. Amanhã pegamos mais com o Shiro. - É tudo que Brownnie diz.

                - Desgraçado, sorte que eu já tinha comido a minha diária!

                E, por fim, Brownnie foi dormir na base e Kenta se preparar para um domingo ensolarado e cheio de problemas, pois isso era comum depois que Brownnie surgiu na vida dele.