Gnome Days escrita por John Vendetta


Capítulo 5
Hideki Yori




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/202022/chapter/5

O dia vai amanhecendo na cidade de Kugoya. Satoru Kenta dorme profundamente na cama que fica no quarto bagunçado. Passos ecoam pela escada e pelo piso de madeira e a porta do quarto é aberta ligeiramente.

                - Hora de acordar, Ken-kun. - Diz uma voz suave. Kenta se mexe ligeiramente.

                - Já vou. - Responde, com a voz sonolenta.

                - Venha logo comer seu café!

                Após alguns torturantes minutos batalhando para levantar, Kenta se levanta e vai até o banheiro. Ele pega uma cadeirinha para subir na pia e escovar os dentes. Após terminar, ele encara sua imagem no espelho e desce as escadas até a cozinha.

                - Bom-dia, mãe! - Ele desce falando, mas pára ao ver a cena na cozinha. - Meu Deus!

                Brownnie espera sentado na mesa,que tem dois pratos e talheres limpos. A mãe de Kenta, Nanao, frita cogumelos picados na manteiga. Ela vira e sorri para Kenta.

                - Bom-dia, Ken-kun!

                - É incrível o quanto ela muda ao pensar que estou trabalhando... - Murmura baixinho Kenta, antes de apontar para Brownnie. - O que ele faz aqui, mãe?

                Nanao faz uma cara horrorizada, enquanto Brownnie apenas espera o café.

                - Não é assim que se fala com seu chefe, Ken-kun! - Ela o adverte e se vira sorrindo para Brownnie. - Perdão, Brownnie-san. O Kenta não se acostumou ainda.

                - Não tem problema, humana. - Brownnie continua impassível.

                Nanao cantarola, enquanto serve os pratos.

                - Fiz algo que Brownnie-san disse que você gosta muito Kenta: cogumelos na manteiga! Bom apetite!

                Kenta estreita os olhos e olha para Brownnie. Ele assente como se agradecesse e depois se senta para comer.

                Minutos mais tarde, Kenta se despede da mãe e segue com Brownnie pela rua. Kenta mexe em algo no bolso e tira uma palheta esverdeada. Ele a coloca na boca e engole com dificuldade. Depois, ele solta um arroto e faz uma cara de satisfação.

                - Como é bom não ter mais obrigações! - Kenta comenta alegremente. Brownnie o olha com censura.

                - Graças à quem? - Pergunta, emburrado.

                - Gnomo de merda, não ouse falar isso. - Kenta se vira sorrindo para Brownnie. - Afinal, só estou assim porque...

                Kenta leva um soco da luva de ferro de Brownnie, voando longe e batendo em um muro. Brownnie guarda a luva em baixo da toca.

                - POR QUE FEZ ISSO, GNOMO DE MERDA!? - Pergunta Kenta, furioso e massageando o cocoruto da cabeça.

                - Só vou completar a frase: “Só estou assim porque fui muito burro e invadi uma base de gnomos”. Assim está melhor. Kenta parece furioso, ele fica mais vermelho ainda. Após um tempo encarando Brownnie, ele parece se conter e continua a andar.

                Na rua da escola, Kenta se vira e observa Brownnie andando ao lado.

                - Por que está me seguindo? - Ele pergunta, com os bracinhos atrás da cabeça.

                - Sou obrigado. - É tudo que Brownnie responde.

                - Não me diga que vai entrar na escola assim... - Kenta parece desesperado.

                - Irei. - É tudo que Brownnie diz.

                Chegando na frente da escola, a multidão se vira ao ver Kenta chegando. Todos riem.

                - É o fadinha!

                - E aí, Kenta! Vai limpar o vômito do Professor Yukio hoje?

                - O seu namorado do violão tá te procurando, Kenta!

                Kenta faz uma cara de nojo, mas continua andando ao lado de Brownnie. Ele localiza Shiro um pouco distante. Ele passa pela multidão, mas um outro aluno continua com as ofensas.

                - E quem é esse seu amigo fada? Andou pedindo... - Mas ele nunca terminou a frase.

                Com um só movimento, Brownnie calçou a luva de ferro na mão direita e deu um soco na bochecha do insultor. O garoto vôou longe.

                - Hibari-san! - Gritam amigos dele. Todos se calam e encaram Brownnie. Kenta fica parado, olhando horrorizado.

                - Ele não pode se controlar...? - Kenta diz. Shiro aparece, com o violão nas costas.

                - E aí, Kenta! - Mas Kenta não responde, pois todos estão calados olhando para Brownnie.

                O gnomo rompe o silêncio.

                - Quem insultar gente da minha altura, eu irei espancar. Grato. - Todos parecem ficar com medo de Brownnie. Eles se afastam, sussurrando aflitos.

                Kenta e Shiro se aproximam de Brownnie.

                - E aí, baixinho! - Shiro cumprimenta Brownnie alegremente, mas o gnomo se vira com um olhar perverso.

                - Está insultando gente da minha altura, Ryogaku? - É tudo que ele pergunta, a luva tremendo.

                Kenta se desespera.

                - Não, não! Ele não está! Ele só... ele só...! - Brownnie tira a luva da mão e a guarda. Ele sai andando.

                - Esperarei aqui fora. - É tudo que ele diz, entrando em um arbusto e desaparecendo.

                Kenta encolhe os ombros e segue com Shiro para dentro da escola.

                - Não temos aula com o Yukio-san hoje, Shiro? - Pergunta Kenta, desinteressado.

                - Não. Só amanhã. Por que gosta tanto dele, Kenta?

                - Acho ele legal... - Mas Kenta é interrompido por uma voz nas costas dele.

                - Tirando o fato dele estar bêbado toda aula!

                - Ah não... - Geme baixinho Kenta, ao se virar. Naomi e Midori estão paradas atrás dele, com as mãos na cintura.

                - “Ah não”? É o que você é, né Satoru Kenta? Um anão! - Diz Midori. Ela e Naomi começam a gargalhar.

                - Mas eu gosto de anões. - Diz Naomi, contrafeita, parando no meio da risada. Midori a olha e ambas continuam a rir.

                - Até mais Satoru Kenta, Ryo-kun... - Naomi se despede e vai embora. Midori a segue.

                - Essas vadias... - Murmura Kenta, baixinho.

                Horas mais tarde, Kenta e Shiro estão sentados na sala de aula.

                - Que aula chata. - Comenta Kenta, olhando para o caderno de Shiro, distraído. O amigo escreve acordes no caderno. - Vem cá, Shiro... - Shiro o ignora, continuando a escrever. - ... Por que você só fica escrevendo acordes e notas musicais nas aulas? Desse jeito você não vai aprender!

                Shiro nem o ouve, continuando escrevendo.

                - Shiro! - Adverte Kenta, fazendo o colega olhar pra ele.

                - Falou algo, Kenta?

                - Esquece. - Shiro volta a escrever acordes. - Maníaco da música... - Murmura baixinho.

                O sinal toca e ambos pegam suas mochilas (A de Kenta sendo uma bolsinha pequena) e saem.

                - Reparou que aquelas duas não estão mais rindo tanto de nós? - Comenta Shiro, ao ver Naomi e Midori passarem os ignorando.

                - Efeito Brownnie. - É tudo que Kenta comenta, lembrando que Brownnie amedrontou o colégio todo.

                Por onde passavam, as pessoas cochichavam aflitas.

                - É ele, o Satoru Kenta baixinho! Ele tem um outro amigo anão que é violento e vai bater em quem zoar o Kenta!

                - Eu tenho medo dessa gente pequenina!

                - Sim, sim. E aquele ali do lado dele é o famoso Ryogaku Shiro, que não tem amigos pois só fala de música. Carinha chato.

                Kenta parece se irritar ao passar pelas pessoas e ouvir os comentários.

                - Calma, Kenta. Ignora... - Shiro o avisa.

                - Não... consigo... bando de babacas... - Kenta fechas os punhos, mas não diz nada em voz alta.

                Já fora da escola e longe das pessoas, Shiro se despede de Kenta.

                - Até logo, Shiro-chan! - Shiro vira a rua e Kenta fica parado, procurando algo na bolsinha. Ele tira um pequeno saquinho com um único cogumelo empanado. - Te amo, mamãe!

                Ele começa a andar, comendo o cogumelo alegremente. Sem notar, ele é seguido por alguém. Kenta cantarola, terminando de comer o cogumelo, até que percebe uma sombra o encobrir. “Tem alguém logo atrás... Ah não, não pode ser o Toshi...”, pensa Kenta. Mas seus pensamentos são interrompidos por uma voz calma e tranquila.

                - Você é... Satoru Kenta... - Kenta se vira e arregala os olhos.

                Um estudante da mesma escola, com o mesmo uniforme apático, está parado próximo dele. Ele é ligeiramente moreno e tem olhos negros. Tem dreadlocks no cabelo, que é castanho-sujo. Tem uma pulseirinha do Bob Marley e cheira estranho.

                - Sou. E você é...? - Pergunta Kenta, recuando ao ver a figura. Ele nota que os olhos são ligeiramente avermelhados.

                - Meu nome é... Hideki Yori... - Kenta estreita os olhos estreitos ao notar que Yori fala pausadamente. - ... Somos da mesma escola...

                - Percebi pelo uniforme. Mas por que veio falar comigo? - Kenta começa a se preocupar, ao lembrar de Kirashi Toshiko.

                - Eu vi você comendo... um cogumelo... - Kenta faz uma cara de desconfiado.

                - Sim e daí?

                - Minha marofa acabou... - Yori parece lamentar algo.

                - Desculpe, mas não sei o que é maro... - Kenta é interrompido.

                - Preciso de uma brisa, sacas... preciso dos seus cogumelos...

                - Ok, isso está ficando...

                Yori se abaixa com uma supreendente rapidez para uma pessoa que fala tão tranquilamente. Ele pega Kenta pela gola da camisa (Que foi encolhida na máquina de lavar para caber nele) e o ergue fácilmente. Kenta se assusta e se debate.

                - Desculpe, não tenho mais cogumelos! Socorro! - Kenta se debate, mas Yori o segura com firmeza.

                - Me dá um cogumelo aí... se não der vou ficar... magoado... - Yori faz uma ligeira cara de choro, mas volta depressa para sua expressão de tranquilidade.

                - Não tenho! Acabou! Me solta! - Kenta grita por socorro, mas ninguém o atende.

                - Quem não me deixa ter uma brisa... faz eu perder a calma... - Yori, surpreentemente, joga Kenta no chão com força, mas tanta força, que Kenta fica parado incapaz de se mexer.

                - Ai ai, essa doeu... MEU DEUS! ME DEIXE! - Yori o encara, nervoso.

                - ME DÁ SEU COGUMELO! - Ele grita, cuspindo saliva em Kenta, que continua deitado no chão.

                - EU NÃO TENHO! - Kenta se levanta e fica de pé, olhando para cima para encarar Yori. Os olhos de Yori ficam encobertos pela sombra e sua boca se abre em um sorriso maligno.

                - Então tá... - Yori age rápidamente, dando um chute baixo na cara de Kenta, que sai rolando pelo chão e caindo perto de um gramado. - Isso é por não deixar eu brisar... me dá logo seu cogumelo... - Yori caminha até Kenta. Ele tira uma garrafinha pequena do tamanho de um vidrinho de perfume do bolso. Algo parecido com álcool puro preenche a garrafinha.

                - Desculpe, mas eu... mas eu... - Kenta faz um esforço para ficar de pé. - ... NÃO TENHO MAIS COGUMELOS!

                - Então você vai... - Yori começa a falar, já perdendo a calma... Mas algo se mexe no arbusto perto de Kenta.

                - ... Ser morto por mim. - Uma voz sai do arbusto, completando a frase de Yori.

                - Não pode ser... - Kenta começa a recuar para longe do arbusto.

                Kirashi Toshiko pula do arbusto, com uma faca de prata na mão e um sorriso maligno.

                - Desculpe, Hideki Yori do 2º ano, mas Satoru Kenta é a minha vítima, keke. Só eu posso matá-lo. - Toshiko encara Yori perversamente.

                - Não há limites para uma brisa... - É tudo que Yori diz. Toshiko sorri.

                - Então vou te matar e depois matar o Gnomo-san, keke.

                Toshiko avança correndo em direção à Yori, com a faca girando no dedo. Ele maneja a faca habilidosamente e tenta cortar Yori, que desvia para o lado com o corpo alto. Toshiko faz consecutivos ataques com a faca, mas Yori desvia de todos.

                - Você é rápido! - Fala Toshiko, sem um traço de sorriso no rosto, que está completamente furioso.

                - É o poder... da marofa...

                Yori segura o braço direito de Toshiko, que segurava a faca, e o torce fazendo Toshiko largar a faca e gritar de dor.

                - Ah! Seu desgraçado! - Yori força mais, fazendo Toshiko se ajoelhar.

                Yori dá um soco com a outra mão, fazendo Toshiko cair de costas no chão. Ele pega a mesma garrafinha de antes, cheia de álcool, e joga na direção de Toshiko, que ergue o braço direito para se proteger.

                A garrafinha se quebra no braço de Toshiko, fazendo-o gritar. O alcóol vaza e inunda o corpo do garotinho, deixando-o ensopado de álcool.

                - Você está atrapalhando... na obtenção da minha brisa... - Yori parece irritado, ele mexe no bolso, procurando algo.

                - Meu Deus, eu tenho que sair daqui! Mas minhas pernas não se movem, droga! Estão moles! - Kenta parece desesperado, assistindo tudo.

                Yori finalmente parece achar algo, pois faz um sorriso de satisfação. Ele tira um isqueiro do bolso e o acende. Ele deixa o isqueiro aceso e olha para Toshiko.

                - Adeus... interrompedor de obtenção de brisa...

                - Não! Poupe minha vida, por favor! - Toshiko ergue os dois braços para se defender, mas está ensopado de álcool e irá pegar fogo.

                Yori joga o isqueiro aceso em Toshiko, que grita.

                - Kirashi Toshiko! - Kenta grita, mas algo soca o isqueiro no ar, fazendo-o voar, bater em uma árvore e apagar. - É o.. é o...

                Brownnie deu um soco no ar no isqueiro, salvando Toshiko. Ele calça a luva de ferro na mão direita. Toshiko se levanta, sorrindo inesperadamente.

                - Óra se não é o Gnomo-kun! - Ele sauda Brownnie, que apenas se vira para ele, sério.

                - Vá, Kirashi Toshiko. - Ele diz, inesperadamente sério.

                - Então vou indo. - Toshiko caminha, ensopado de alcóol, e pega a faca de prata no chão, guardando-a no bolso. Ele caminha para o arbusto, virando para Kenta antes.

                - Até logo, Gnomo-san, keke. Te corto amanhã, kekeke. - Toshiko entra no arbusto e desaparece.

                Yori parece ter ficado ainda mais irritado.

                - Mais um... pra interromper minha brisa... - Ele mexe no bolso e tira outra garrafinha de alcóol, mas Brownnie ergue a mão para fazê-lo parar.

                - Pare, Hideki Yori. Kenta não tem nenhum cogumelo consigo e os poucos que tem ele usa para não morrer. Ele não apenas “brisa” com os cogumelos, ele sobrevive. - Brownnie o encara friamente.

                Yori parece ficar arrependido, ele guarda a garrafinha no bolso.

                - Eu não sabia... achei que era mais um drogadinho... como eu! - É tudo que Yori diz, mas Brownnie balança a cabeça negativamente.

                - Não, não. E você tem que parar com esse vício. - Brownnie o olha com desprezo.

                - Tentarei... - Yori caminha e pega seu isqueiro. Ele se vira para Kenta.

                - Foi mal aí... Satoru Kenta...

                Yori anda até virar a esquina e sumir.

                - Cara estranho. - É tudo que Kenta comenta, ainda nervoso.

                - Ele é interessante, no mínimo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Qualquer comentário, crítica, sugestão, elogio, xingamento pode e deve ser dito no espaço de reviews. Obrigado!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gnome Days" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.