City of Delusion escrita por Ctrl 98


Capítulo 1
Car Radio


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente!
Três anos atrás publiquei o primeiro capítulo da minha primeira fanfic, com promessas de atualizações semanais, uma banda alemã e muito drama.
Parece que não sou boa com promessas.
Estou reescrevendo o pouco que havia postado e decidi continuar de verdade essa história, principalmente agora que já sei qual será seu rumo.
Espero que gostem ♡



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A viagem estava intediante; minha cabeça latejava pela música alta e pelo rabo-de-cavalo apertado, sem falar nas pernas, que estavam dormentes depois de duas horas sentada no carro usando calça skinny. Mesmo sem estar ouvindo, via minha mãe e meu pai conversando, tão empenhados em fazer o percurso parecer mais rápido quanto eu ou minha irmã mais nova, que lia para sua boneca, sentada na outra lateral do carro.
Havíamos passado a semana do ano novo com nossos avós, e agora voltávamos para nossa casa na capital. A volta era sempre a pior parte, considerando que a pista era mais próxima do declive do morro do que a de ida. E meu pai ainda insistia em acelerar em algumas partes, especialmente quando era fechado por algum outro motorista inconsequente... Mas o caminho familiar afastava qualquer receio bobo que pudesse passar pela minha mente; mesmo arrumado nossas coisas pela manhã, só partimos a noite, sendo o horário meu único motivo de preocupação.
Haviam se passado apenas duas das quatro horas de viagem, então acabei pegando no sono enquanto ouvia música. Não sei como alguém pode ser capaz de dormir ouvindo rock "paulera" como diz minha mãe, apesar de ela mesma ser capaz de tal proeza. Deve ser a genética.

Talvez pela musica alta ou pelo movimento brusco do carro, acordei com um solavanco, ouvindo o som da buzina ecoando pela estrada. O barulho me deixou desnorteada, e, nem que quisesse conseguiria entender o que aconteceu. Quando tentei olhar pela janela, já era tarde. Tudo parecia em câmera lenta; a carreta a nossa frente, o carro em uma curva brusca... Também não havia mais som nenhum, como se tivessem apertado o mute de um controle remoto. Então o carro parou. Mas, como assim? Levei certo tempo para processar a situação. Eu estava tonta, e por um momento estranhei o fato de que tudo parecia ao contrário. Pisquei, tentando entender o que acontecera; uma carreta, uma curva forçada, eu tonta, nós quatro de cabeça para baixo... devo ter sonhado, não faz sentido.
Então tudo se encaixou, e flashes invadiram minha mente: a carreta vinha no sentido contrário, e meu pai, em uma velocidade um pouco acima da média, tentou desviar, quase acertando o carro do lado ( o que explicava o som da buzina que se juntou com a do carro em que eu estava) meu pai deve ter tentado fazar uma curva para desviar da carreta, que nos levou a sair da estrada; rolamos barranco abaixo então.
Minha cabeça latejava, e a janela ao meu lado estava trincada com alguns estilhaços; olhei para frente e vi minha mãe com a cabeça encostada na janela, que estava estraçalhada; e meu pai, com a cabeça no volante. Mais havia algo errado, eu conseguia sentir isso.
– Mãe? Mãe, acorda – eu repetia, tentando alcançar seu ombro. O cinto se mantinha firme, assim como as ferragens que prendiam minhas pernas. – Mãe? Mãe, por favor, acorda!
Finalmente mexi em seu ombro, e sua cabeça tombou para o outro lado. Fiquei horrorizada ao vê-la: o lado direito do seu rosto estava todo cortado e deformado, com cacos de vidro, e sangrava tanto quanto uma hemorragia. Eu comecei a soluçar, sufocando um pouco por causa das lágrimas e do aperto em meu pescoço. Meu pai, que eu desejava que estivesse apenas com a cabeça recostada no volante, sangrava, com o rosto fincado na direção. Aquilo não poderia estar acontecendo, não comigo, não agora, nem com eles. Fui, desesperada, olhar minha irmã. Minha pequena não podia tem se machucado, eu não aguentaria. Mas quando eu a vi, já era tarde. Ela havia sufocado por causa do cinto, que travara com o impacto. Sua bela pele branca estava agora em um tom roxo mórbido. Minha cabeça ainda latejava, mais agora parecia que algo quente escorria por ela. Não precisei tocar para saber que eu estava sangrando. Meu corpo inteiro deve ter sido esmagado, pensei, não entendia como ainda estava presa, ou porque não sentia dor. Olhei novamente para frente e vi que o carro começara a pegar fogo. Mais de que importava? Eles estavam mortos... me permiti fechar os olhos e esperei pela inconsciência.

Meu ouvido zunia e meu corpo era balançado de um lado para o outro. Notei que ainda estava zonza; um som de alarme ecoava no fundo da minha mente. O resto seguiu como em um sonho: a ambulância, a dor, tudo apenas um sonho. Fechei os olhos e, novamente, fiquei inconsciente.

Acordei com a voz de alguém me chamando. Tentei abrir meus olhos, mas havia muita luz. Me concentrei alguns instantes para me livrar da tontura que insistia em me apagar e tentei abrir os olhos novamente, me deparando com duas mulheres que me encarando, preocupadas. Uma senhora por volta dos sessenta anos com um uniforme azul, provavelmente a enfermeira, e outra de idade indecifrável por conta da sua postura e expressão, que parecia ser uma advogada. Mas, o que uma advogada estava fazendo aqui? Não era apenas um acidente?
Mas não havia mais nada de ponta cabeça. Não havia mais fogo, ou destroços, ou sangue, nem nada. Só um barulho incomodo que não conseguia distinguir e uma luz muito forte; minha visão continuava borrada.
– Querida? Está se sentindo bem? - A advogada perguntou. Tinha uma voz aguda, mas a seriedade a tornava profunda, quase ecoando na minha cabeça. Ou talvez fosse a tontura distorcendo minha percepção de realidade.
– Eu... não sei, acho que sim... Onde eu estou? Onde... Onde estão eles? - minha cabeça latejava, metade pela dor, metade de preocupação.
– Você consegue se lembrar do que aconteceu? - seu tom me desconcentrou da minha própria pergunta, que estava sendo provavelmente ignorada.
– Sim. Bom, o carro capotou, e depois eu... Eu vi minha mãe, mas eu... Eu não sei, eu estava meio tonta... - lembrava da minha mãe. Da sua pele branca e macia desfigurada pelo vidro e tingida em vermelho. Da forma grotesca como o volante se encaixava no crânio do meu pai, ao ponto de nem mesmo a força da gravidade separa-los. Da minha irmã com os lábios azulados. O choque era tamanho que não percebi que chorava até as lágrimas se misturarem com soluços, me sufocando. Não conseguia me mover, aumentando meu pânico e piorando meu estado. Mal sentia meu corpo...
– Calma querida - ela falou enquanto me ajudava, levantando minha cabeça - Eu preciso que você me fale o telefone de alguém da sua família...
– Eles não aguentaram, não é? Meus pais. - aquilo doía demais, e mesmo sabendo a resposta, senti meu corpo gelar quando afirmou com a cabeça.
– Meus pêsames, querida.
– Sinto muito pelo que aconteceu, criança– falou a enfermeira. Parecia uma senhora muito carinhosa, com seu cabelo grisalho preso em um coque, e sua pele morena, bem delicada.
– Querida, se lembra do seu nome?
– Meu nome é... é Clara Martins...
– Martins? - mesmo que fugaz, certo choque e reconhecimento atravessaram o semblante da enfermeira, de sorriu como se nada tivesse acontecido.
–Sim, por quê?
–Nada criança, não se preocupe; acho que conheci sua mãe...
– Minha mãe?
– Sim, na maternidade de campinas. meu deus, já fazem tantos anos...
– Deve ser só uma coincidência Amanda - então a enfermeira se chama Amanda... um nome tão agradável - qual o nome da sua mãe, querida?
– Lilian, Lillian Salgueiro Martins - decidi dizer também o sobrenome, quanto mais os segundos passavam, maior se tornava o mau pressentimento que aquela situação me passava
– ah sim, Lilian, me lembro dela... - sorriu ternamente para mim - mas me referia à sua mãe biológica.
– mãe biológica? Não, Lillian é sim minha mãe. Você deve estar confundindo com outra pessoa. Minha mãe é... era Lilian, ruiva, olhos cor de mel...
– Sim, ela mesma, que te criou; pobrezinha, havia acabado de perder a bebê... mas você apenas apareceu para ela. Foi a única coisa que acalmou sua mãe, saber que sua filha seria amada e cuidada, coisa que ela não poderia lhe dar... - a realização do que estava me sendo dito aumentava a sensação de que algo muito errado estava acontecendo; o choque na minha expressão preocupava a advogada.
– Amanda pare! Não está vendo o quanto essas coisas estão confundindo a menina? Você deve estar enganada, deixe ela descansar, depois pensamos nisso.
– Não, eu estou bem - uma grande mentira que nenhuma das duas comprou. Minha voz tremia e minha respiração estava descompassada, o choque anestésico se transformando em confusão e luto, irradiando um frio maior do que antes. - Quem é essa mulher? Onde ela está? Porque faria isso comigo?
– Se acalme criança, não vamos conseguir resolver nada assim.
–Onde ela está? Ela precisa saber do que aconteceu, quem eu sou! Eu preciso perguntar para ela... - mas não sabia mais o que perguntaria. Minha exaltação era tamanha que em algum momento administraram um sedativo na minha veia sem que eu percebesse, e me xinguei mentalmente por ser tão fraca para medicamentos.
A medida que ia perdendo a consciência novamente, tive ecoando como placas de néon aquelas palavras que não faziam o menor sentido. Mas a escuridão me chamava e eu estava cansada; tudo não deve ter passado de um pesadelo, tentava me convencer, quando acordar nada disso importará mais, não é?

"Sim, Lilian, me lembro dela... mas me referia à sua mãe biológica"

Apenas um pesadelo...


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Notas finais do capítulo

Introdução levemente explicativa, talvez um pouco confusa... mas meu suspense está impecável kkkk
Deixem comentários para eu saber o que acham!
Kisses xo



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