Ignore escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
ignore


Notas iniciais do capítulo

Na, ouça as sábias palavras do Sr. Riddle. -Q



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“Ele é bolsista.”

“O pai é contador em Londres e a mãe é professora.”

“Pelo menos ele serve para passar matéria...”

“Melhor que o Riddle nesse ponto!”

Tom revirou os olhos, ouvindo as risadas altas dos colegas sentados na mesa atrás de si, antes de voltar a prestar atenção no o qual estava lendo, ação que parecia meio difícil de ser realizada com toda a conversa que ocorria entre os outros garotos. Aparentemente seus companheiros de casa haviam achado outra pessoa com quem implicar. Dessa vez era um garoto do seu ano e que vinha de Londres, o primeiro da sua família a estudar em Eton, família a qual, aliás, parecia ser bem diferente de todas as outras dos alunos do colégio. O menino – alguma coisa Campbell – não vinha de uma família muito rica ou nobre, o que o colocava para baixo em comparação com os outros alunos.

“Cale a boca, Rathbone, ele está ali.”

O garoto riu baixinho, antes de se levantar, fechando o seu livro e saindo da sala de estar, deixando para trás os colegas. Ele já não se importava tanto com o que falavam, não depois de passar um ano ouvindo comentários um tanto maldosos sobre si mesmo e seus pais. Havia se acostumado e aprendido a ficar surdo cada vez que algum infeliz decidia que seria legal insultá-lo usando o fato de ele vir do interior, não ter nenhum título de nobreza na família ou qualquer coisa do gênero... Era por isso que, na maior parte do tempo, ficava em seu quarto ao invés de na sala de estar da casa onde morava em Eton, longe dos colegas. Era melhor o isolamento – que o lembrava tanto de sua casa em Little Hangleton – do que uma interação forçada que somente o irritava.

“Desculpe-me,” um garoto um mais baixo do que ele falou ao esbarrar em si sem querer.

“Não se preocu...” Tom observou o outro, reconhecendo o rosto gentil e os cabelos castanhos claros bem arrumados. “Campbell?”

“Ahm, sim.” O menino o encarou, segurando os livros que carregava contra o peito.

“Está muito tumultuado lá embaixo,” disse Riddle, tentando convencer o outro de não ir até o local onde seus colegas estavam falando mal dele. “Se você quer estudar, é melhor ficar no seu quarto.”

“Obrigado por avisar, mas é que Paul Rathbone e eu combinamos de estud...”

“Você vai passar toda a matéria que ele não consegue copiar?” Tom suspirou.

“Bom, estou tentando ajudá-lo...”

“E ele o está usando.”

“O que?”

“Ele e os amigos estão sempre em busca de algum...” o rapaz mais alto parou de falar abruptamente, tentando encontrar outra palavra para ‘idiota’, algo menos ofensivo.

“Algum o que?” O menor estreitou os olhos.

“Algum idiota a quem eles possam usar para conseguirem méritos,” sussurrou Riddle, desviando o olhar do rosto do outro.

“Um idiota.” Campbell riu, balançando a cabeça. “E depois você se pergunta a razão dos outros...”

“Dos outros não gostarem de mim? Eu não me pergunto isso.” Tom deu um sorriso sem graça. “Já sei a resposta. E, não se preocupe, eu também já fui um desses idiotas.”

O garoto menor bufou baixinho, antes de se virar e voltar a andar na direção da sala. Riddle suspirou.

***

Tom Riddle tinha uma regra simples quando estava estudando: não se distrair. O menino tentava ao máximo não se distrair, manter o foco, e, por isso, irritava-se com facilidade quando alguém o tirava desse seu estado de concentração... E foi exatamente o que aconteceu quando ouviu uma batida rápida e quase tímida na porta do seu quarto naquela noite.

“Oi.”

O garoto encarou o outro aluno parado à sua frente, encarando-o como se estivesse quase com medo da sua reação.

“Oi.”

“Peço desculpas se estiver incomodando ou...”

“Não se preocupe,” disse Tom, dando um passo para o lado, deixando o caminho livre para o outro entrar. Campbell o encarou por alguns segundos, antes de adiantar-se para dentro do quarto.

“Como foi que você descobriu? Quero dizer, que estava sendo feito de idiota.”

“Logo no começo.” Ele deu de ombros. “Mas acho que fui bem mais idiota do que você. Tentei ignorar por um bom tempo e continuei perto deles.”

O menino mais baixinho olhou em volta e respirou fundo.

“Sabe, meus pais não são ricos como os seus,” ele falou. “E não são nobres como os de alguns outros rapazes, mas não significa que eles não sejam boas pessoas e também não significa que eu não tenho o direito de estar aqui.”

“Não precisa me falar isso, eu sei.”

“E não é só porque meu pai não tem um maldito título de conde ou uma conta forrada de dinheiro que eu tenho que ser considerado um tipo de burro de carga para os filhos daqueles que tem...” O garoto o encarou.

“O fato de eu morar no fim do mundo e ter um sotaque idiota também não significa que eu seja um.” Riddle riu. “Mas tem gente que é idiota o suficiente para confundir essas coisas, Campbell.”

“Charles. Pare de me chamar de Campbell, é estranho,” o menino falou.

“Certo... Charles. Aliás, conseguiu estudar alguma coisa desde que desceu?”

“É claro que não.”

“Se quiser.” Tom indicou os livros abertos sobre a escrivaninha. “Eu normalmente não estudo com outra pessoa, mas pode ser que ajude.”

“É, pode ser.” Charles sorriu.

E assim, até o início da noite, ambos os garotos já haviam perdido a estranheza inicial de conhecer alguém novo e agora já conversavam como se fossem velhos conhecidos, o que era uma certa surpresa para Riddle, que sempre achara meio complicado perder a timidez ao falar com alguém novo.

“Percebe que, até amanhã, é muito provável que nós dois nos tornemos os dois alunos mais isolados de toda a casa?” perguntou Charles, rindo, enquanto terminava de resolver um exercício de latim.

“Não é uma novidade.” Tom riu. “Aliás, Charles?”

“Hum?”

“Ignore o que eles falaram, quero dizer, sobre o fato de você ter bolsa ou seus pais não terem tanto dinheiro.” O mais alto deu um sorriso meio sem graça. “Meu pai sempre diz que existem certas pessoas as quais não se deve dar ouvido, simplesmente porque elas são dignas de serem ouvidas. Aposto que ele não pensaria duas vezes antes de ignorar completamente aqueles rapazes lá debaixo.”


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