Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 5
First Date


Notas iniciais do capítulo

Olá, seus lindos! :3 E obrigada, Orphelin, meu carneiro-beta, pela betagem /o/

Fanart por とりのえりと



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Capítulo V

Eu tenho medo de pensar em nosso primeiro beijo
Um objetivo que eu provavelmente não alcançarei
First Date - Blink 182

Afrodite achou que fosse morrer de tanto rir quando soube da nova aposta. Incrível! Milo e Aiolia eram tão bobos assim? Era sério? Achavam que conseguiriam mesmo? De verdade?

– Não enche o saco, Afrodite! – reclamaram ao mesmo tempo, com mau humor.

Se possível, o pisciano riu mais ainda. Depois, os lembrou de algo muito importante: o prazo para aquela aposta. Sim, pois se fossem considerar só o fato de quem conseguiria primeiro, a aposta poderia durar longos anos.

– Um mês – Afrodite propôs, deslizando a ponta do dedo sobre a pintinha que possuía sob um dos olhos. – Se nenhum dos dois conseguir, ambos serão considerados perdedores, que tal?

Aiolia e Milo se entreolharam. O pisciano tinha razão, mas... Eles, no fundo, não achavam sinceramente que fossem conseguir. Iam ficar enrolando naquela aposta e, um dia, deixariam para lá. Nunca lhes ocorrera terem que cumprir com o papel do perdedor de qualquer forma. Discordaram então.

– Concordo que tenha um prazo, que precisa ser maior do que um mês, pois nós só a vemos uma vez por semana... – o escorpiano falou, ressabiado. – Mas acho que se nenhum de nós conseguir, devemos deixar pra lá...

O leonino concordou, mas Afrodite retrucou:

– Que sem graça! – enrolou uma longa mecha do cabelo, por um instante, sorrindo para eles. – Certo, eu aposto que nenhum de vocês vai conseguir selinho algum num prazo de dois meses! E, se eu ganhar, vocês vão ter que cumprir com o acordo do perdedor. Aiolia vai dar um selinho em Mu e Milo vai dar um selinho em Camus.

Os garotos fizeram caretas frente à nova proposta pisciano. Assim as coisas ficavam mais sérias. O orgulho não lhes permitia recusar uma aposta, mas era preocupante aceitar uma coisa que sabiam ser arriscada.

– E se você perder, hein? – Aiolia quis saber.

– Dou um selinho em quem vocês quiserem também. Qualquer pessoa ficaria extremamente honrada em receber um selinho meu.

– ...

– Eu sou lindo, né?

– ...

Milo protestou que aquilo não era justo, pois, ganhando ou perdendo, Afrodite não ficaria frustrado. Precisavam pensar em algo que o amigo realmente se incomodasse em fazer, caso perdesse.

Afrodite deu de ombros, levantou-se e voltou para a sala de aula, dizendo que pouco importava o que escolhessem, pois tinha certeza absoluta de que os dois iriam perder mesmo.

***

Após sair da escola, Aiolia rumou direto para a casa de Mu, onde sabia que encontraria Dohko naquele horário. Precisava trocar alguns pokémons com o libriano. Seguiu o caminho bastante pensativo, tentando encontrar um meio para conseguir dar um selinho em Pandora. Por mais que pensasse, só conseguia chegar à conclusão de que havia apenas duas opções: pedir ou roubar um selinho dela.

Não conseguia ver esperanças para a primeira opção. Se pedisse um selinho, com certeza Pandora riria da sua cara. E não daria o que ele queria, claro! Já a segunda opção era complicada. Como se aproximar o bastante para roubar um selinho? E ela era mais alta do que ele, teria que ficar nas pontas dos pés se ela não estivesse sentada. Além disso, Pandora podia ficar brava!

Estava andando tão devagar, tão absorto em pensamentos, que nem notou quando Shaka o ultrapassou. Por isso, ficou surpreso quando o ariano abriu a porta da casa, pois o loiro já estava lá. Olhou feio para ele e, imediatamente, abraçou Mu como da vez anterior.

O virginiano estreitou os olhos para o leonino, exatamente como fizera da outra vez. E, mais uma vez, Mu o abraçou de volta automaticamente, sem entender nada. Demoraria um tempo ainda para que o ariano começasse a desconfiar daqueles abraços, que, obviamente, tinham alguma coisa a ver com a presença de Shaka.

O leonino não estava nada feliz. O que raios Shaka estava fazendo ali, de novo? Não fazia nem duas semanas desde a outra vez! Era amiguinho de Mu agora, é? Com certeza deviam estar maquinando alguma coisa! De alguma forma estranha, o ariano pareceu entender as acusações no olhar do menor, pois explicou num tom preocupado:

– Shaka veio me visitar... Trouxe outro livro...

Aiolia só não protestou porque Dohko apareceu naquele instante e o chamou para jogarem. O leonino percebeu que ainda estava abraçado a Mu e o soltou lentamente, fazendo questão de demonstrar todo o seu descontentamento no olhar fixo que dirigiu ao rosto do rapaz.

Quando ele sumiu casa adentro, Mu inspirou fundo e expirou devagar. Para alguém tão novo – pouco mais do que uma criança! –, Aiolia já possuía um olhar bem intimidador quando queria. Antigamente, Mu achava graça. Conforme o tempo passava, porém, aquele olhar começou a deixá-lo um pouquinho nervoso... Porque... Bem, o garoto parecia uma bomba prestes a explodir a qualquer momento. E o ariano ainda se lembrava de como tinha sido horrível da última vez.

– Ele é um tolo – Shaka sentenciou solenemente, estendendo-lhe o livro que trouxera daquela vez.

Mu sorriu para o virginiano, voltando à sua expressão plácida de sempre. Sentou-se ao lado de Shaka no sofá, aceitando o livro e começando a folheá-lo distraidamente. Seu pensamento estava muito distante dali.

***

Enquanto isso, ainda na escola, Camus fechou o livro que estava lendo na biblioteca e abriu outro. No meio tempo entre as duas ações, sentiu-se observado e olhou ao redor. A duas mesas de distância, Milo imediatamente desviou o olhar e fingiu que estava lendo também. Camus arqueou uma sobrancelha ao notá-lo aparentemente concentrado. Que surpresa ver, logo ali, alguém que sempre reclamava sobre os livros!

Na verdade, o escorpiano não tinha nada contra os livros e, inclusive, até gostava de ler. Só que não considerava a leitura uma prática divertida para se fazer o tempo todo, como Camus fazia. Não, para Milo era legal ler, mas também era legal jogar videogame; praticar esportes; tocar um instrumento musical – estava se tornando muito bom na guitarra –; observar lindas garotas mais velhas de saias curtas... Ah sim, aproveitar aqueles dias pré-adolescentes ao máximo. Ficar sempre com a cara enfiada nos livros mais antigos da biblioteca não dava!

E pensar que a tia de Aiolia dissera que pessoas de Aquário – como descobrira, com a ajuda de Afrodite, ser o caso de Camus – eram imprevisíveis e gostavam de liberdade. Não dava para acreditar. Afinal, sempre era possível encontrar o colega preso, por vontade própria, na biblioteca!

O aquariano, por sua vez, não dava atenção aos argumentos de Milo. Mesmo porque, o colega não sabia expô-los direito, dando a impressão de que achava os livros desnecessários e chatos perto de todas as coisas supostamente divertidas que havia pra fazer. Ora! Sim, Camus passava a maior parte de seu tempo livre lendo, mas não era só isso. É que prezava as coisas inteligentes, que o fizessem pensar, calcular, imaginar... Milo era muito infantil, não poderia entender algo assim.

Para Camus, as pessoas de sua idade, em geral, eram muito infantis ainda e viviam sobrepujadas por diversos sentimentos inexplicáveis. O aquariano era uma pessoa que não gostava de demonstrar emoções e era muito mais racional do que o esperado de alguém de doze anos. Assim, não tinha disposição para interagir com os colegas e preferia voltar-se para uma atividade solitária, como a leitura.

Não que não tivesse amigos. Até era possível dizer que tinha alguns sim, mas...

Ainda que possuísse alguma maturidade, Shaka tinha seus momentos de infantilidade quando ficava naquelas discussões com Milo e Aiolia. Este último era explosivo e infantil como o escorpiano, mas ao menos não implicava com Camus. Pelo contrário, se davam bem. Assim como se dava bem com Afrodite, que, por sua vez, era um mistério. Apesar de seu ego gigantesco, parecia uma pessoa meio distante, meio alheia, difícil definir...

– O que você tá lendo? – perguntou Milo, sentando-se no lugar de frente para o colega e interrompendo-lhe os pensamentos.

– Mitologia grega.

– Ah, acho que conheço a maioria dos mitos de cor – comentou e, diante do olhar duvidoso de Camus, continuou: – O quê? Nada mais natural pra um grego como eu... – justificou e piscou curioso: – Você não é daqui, né?

Não parecia ser, ao menos. O aquariano possuía um leve sotaque. Seu rosto era fino e a pele muito branca – características que lembravam Afrodite, embora o pisciano fosse mais rosado do que pálido daquele jeito. E havia os cabelos lisos, que desciam pouco abaixo dos ombros e eram de um vermelho forte que contrastava com a pele tão clara. Por algum motivo, para Milo, aquela cor quente parecia deslocada em Camus.

– Não, nasci na França... – o aquariano informou com sua voz monótona, notando o livro que o outro trazia. – E o que você está lendo aí? Não deveria estar fazendo algo mais divertido?

Milo deu de ombros, mostrando a capa do livro onde estava escrito "Ilíada". Obviamente, era uma edição nova e não um daqueles livros caindo aos pedaços, que o aquariano curtia. Porque, né? Daí já seria exagero.

– É um dos meus livros favoritos. Estava relendo pela segunda vez...

A parte de reler era mentira. Embora pretendesse, de fato, reler mais uma vez, Milo só pegou o livro para disfarçar que estava observando o aquariano. Tão concentrado na leitura... Camus mal notava quando uma mecha de seus cabelos rolava sobre seus ombros, sempre que ajeitava a posição na cadeira.

Milo estava meio preocupado. Se perdesse a aposta, teria que dar um selinho naquele ruivo! Bom, pela primeira vez, estava conseguindo trocar mais de meia dúzia de palavras com Camus sem implicar com este e ser ignorado. Era um avanço. Talvez conseguisse se aproximar dele, então, se tivesse que beijá-lo... Epa! Nada disso! Pensamento positivo! Ia dar tudo certo e era Aiolia quem teria que se virar para beijar outro cara!

Camus estava lançando um olhar incrédulo para o escorpiano. O primeiro de muitos que ainda viriam. Mesmo quando achasse que conhecia tudo o que havia para saber sobre Milo, ele ainda o surpreenderia.

Certo, então ele era grego e, naturalmente, deveria conhecer aquele que era um dos livros clássicos da literatura grega e mundial. Mas daí a ele, tão novo e impaciente, já ter lido e relido tal livro enorme era incrível.

***

Tão incrível quanto a habilidade de Mu em enrolar. Não dava para Aiolos acreditar que Mu o enrolara por tanto tempo, esquivando-se de dizer quem era a bendita pessoa interessante. Mais uma semana já tinha se passado! Os dias mais longos de sua vida, certeza!

Estava muito difícil descobrir quem era, pois Mu parecia o mesmo e conversava com todos os amigos como sempre, sem dedicar atenção especial a alguém em particular. E, também, ninguém demonstrava qualquer sentimento atípico para com o ariano. Se Mu não tivesse dito, Aiolos jamais imaginaria que o amigo estava interessado em alguém.

A primeira tentativa que o sagitariano fez para descobrir sozinho quem era a tal pessoa não foi muito feliz. Ao menos, deu para perceber que não era Kanon, pois, se fosse, ele não ficaria assediando outras pessoas, certo? Muito bem, um a menos para a lista.

A próxima candidata em potencial era Hilda, alguém que, definitivamente, possuía grandes chances. Ela e Mu até tinham aquela tranquilidade excessiva em comum. Formariam um bom par, talvez. Hilda era uma jovem muito bonita, com longos cabelos claros e uma voz adorável. Muitas pessoas diziam que ela era uma princesa por seu porte, sua elegância e sua amabilidade. Estranhamente, suas mãos estavam sempre frias.

Quando resolveu abordá-la, Aiolos concluiu que não fazia ideia de como perguntar o que queria. E se ela, assim como Kanon, achasse que estava querendo um encontro?

– Você quer me perguntar alguma coisa? – Hilda sorriu docemente para ele. Pelo visto, ela possuía uma percepção excelente.

Aiolos já ia pedir que ela não o levasse a mal, antes de fazer a pergunta, quando notou algo diferente. Hilda colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e um anel de compromisso cintilou em seu dedo. Ué, ela estava namorando?

Estava, sim! Há algum tempo, na verdade, mas não tinha revelado a ninguém antes por motivos que não ficaram muito claros para Aiolos. Seu namorado era alguém importante ou algo assim. Enfim, Hilda estava fora da lista também.

– Hey! – um dos gêmeos exclamou, interceptando Aiolos logo que este se afastou da moça. – Está atirando pra todos os lados, hein?

Aiolos nem precisou analisar o outro gêmeo, que também se aproximara. Aquele que falara só podia ser o Kanon.

O rapaz acenou positivamente, distraído, e disse para o irmão:

– Olha só como ele é, Saga. Me chamou pra sair outro dia e, agora, já está atrás de outra pessoa...

– Eu não te chamei pra sair! – Aiolos exclamou estupefato. – Você que subentendeu isso! E não estou atrás de ninguém, ok? Só estava conversando com ela e-...

– Por que está nervoso? – Kanon interrompeu com sua voz grave e um sorriso de canto, segurando o rosto do amigo com uma das mãos.

– Não estou! – o sagitariano protestou de forma não muito convincente, pois corou nervosamente quando Kanon deslizou o polegar por sua bochecha.

Aiolos afastou-se do rapaz num pulo e virou-se para o outro gêmeo com um olhar aturdido. Ah, sim! Saga também era uma pessoa interessante em potencial! Precisava checá-lo! Não era a melhor hora, com Kanon ali pronto para zoá-lo, mas o sagitariano estava muito atrapalhado. Assim, perguntou para Saga num rompante:

– E você? Está interessado em alguém?

Saga, que estava dizendo para o irmão deixar Aiolos em paz, arqueou as sobrancelhas diante da pergunta.

– Meu irmão também? – indagou Kanon, antes que o gêmeo tivesse chance de falar alguma coisa. – Está planejando uma suruba, seu pervertido?

Wah! Você é o pervertido aqui! – Aiolos exclamou perturbado, balançando a cabeça e se afastando rapidamente daqueles dois.

Kanon passou um braço pelas costas do irmão e exclamou:

– Viu só o jeito dele? Diz se não dá vontade de implicar?

Saga limitou-se a revirar os olhos e beliscar a cintura do gêmeo, que simplesmente riu divertido.

***

No dia seguinte, Aiolia tomou uma decisão. O jeito era roubar um selinho mesmo e torcer para Pandora não se zangar. Tinha que ser um ataque rápido e sem chances para falha. Se ela se afastasse de repente ou se, na pressa, ele acertasse no rosto, nunca mais teria outra chance. Pandora certamente ficaria atenta a ele depois de uma tentativa dessas.

Aiolos se surpreenderia se soubesse o quanto seu irmãozinho estava planejando alguma coisa, pesando prós e contras. Afinal, Aiolia sempre agia por impulso, raramente pensando nas consequências. Mas, daquela vez, a situação era difícil. O leonino não podia se dar ao luxo de perder. Primeiro por seu orgulho, que seria ferido simplesmente por perder em alguma coisa. Depois, porque não queria encostar a boca na de Mu, pois, além de ser um cara, o ariano era um traidor.

Shaka queria bancar o espertinho! É claro que Aiolia não acreditara naquela conversinha sobre emprestar livros! Assim que pudesse, iria tirar a limpo aquela história de visitas constantes.

Enfim, estava se desviando do plano. Concluiu que era melhor testá-lo em outra pessoa antes, por isso inventou uma desculpa qualquer, quando deu a hora do intervalo, e não foi com os amigos para o jardim como sempre fazia. Seu objetivo era chegar depois, sorrateiramente, e roubar um selinho de uma das amigas. Sabia que não era uma ideia muito brilhante, nem a melhor forma de testar seu plano, mas e daí? Se não conseguisse realizar tal façanha em uma menina de sua idade, nunca conseguiria em uma garota mais velha! E, claro, tinha que ser uma das amigas porque queria beijar uma garota bonita, né?

Esperou alguns minutos e foi atrás dos amigos. Estavam sentados perto da árvore de sempre, em um canto afastado no imenso jardim. Milo e Marin de frente para Afrodite e Shina, os dois últimos de costas para o lado pelo qual Aiolia se aproximava. Ou seja, a ruiva e o escorpiano foram os primeiros a notá-lo. Seria Shina então.

Antes que eles dissessem alguma coisa, o leonino ajoelhou-se rapidamente atrás de Shina, que, assim como Afrodite, notou sua presença no mesmo instante e virou-se para trás. Ela não esperava que Aiolia estivesse tão perto e não teve tempo de dizer ou fazer nada, pois o leonino imediatamente deu-lhe um beijinho estalado nos lábios rosados.

Simples assim.

Tão rápido quanto encostou, Aiolia afastou o rosto, mas não se levantou. Os quatro o fitavam com os olhos arregalados e ele mesmo estava com os olhos muito abertos, só que fixos no rosto bonito – e cada vez mais enrubescido – de Shina. Tinha acabado de se dar conta de que aquela era a primeira vez que beijava a boca de uma menina. Mesmo que fosse só um selinho. E provavelmente era o primeiro dela também...

Whoa! – Afrodite foi o primeiro a exclamar, trazendo os outros de volta à realidade. – Por essa eu não esperava!

– Você ficou doido? – perguntou Milo, de repente com uma pontinha de inveja, pois ainda não tinha beijado nenhuma garota e Aiolia acabara de fazer isso antes dele.

Shina piscou duas vezes consecutivas. Aí, desceu um tabefe no topo da cabeça do leonino.

– Aw!

– Por que fez isso, assim, de repente? – perguntou muito espantada, arrastando-se um pouco para longe do maluco, antes que ele resolvesse fazer mais alguma coisa.

– Ehrm... – Aiolia hesitou. Na verdade, esquecera-se de pensar sobre o que diria para justificar sua atitude. Se dissesse que era um teste, que podia ter sido tanto ela quanto Marin, sabia que ela iria matá-lo!

Shina o puxou pela gola do uniforme e começou a sacudi-lo para frente e para trás, insistindo para que falasse. Milo apoiou, pois, afinal, era para aquele tonto tentar beijar Pandora, não Shina! Afrodite também queria saber, porque sempre achou que Aiolia namoraria Marin... Que, aliás, tinha acabado de sumir sem ninguém perceber.

– É que... – Aiolia balbuciou e, automaticamente, ela parou de sacudi-lo. – Bem... Não sei... Você é bonita e... Sabe? – Não era toda a verdade, mas também não era mentira. Estava muito contente por ter tido seu primeiro beijo com uma garota tão linda, mesmo que o corpo dela ainda não tivesse se desenvolvido quase nada e tal. – Ehrm, desculpa?

Lançando um olhar incrédulo para aquele atrevido, Shina levantou-se e voltou para dentro da escola. Mal saiu, Milo e Afrodite avançaram para cima do leonino, que foi obrigado a contar toda a verdade. O pisciano o chamou de bobo, mas o escorpiano ficou indignado. Aiolia tinha um plano já! Péssimo, mas já era algo. Milo ainda não pensara em nada.

Depois desse incidente, Marin recusou-se a falar com Aiolia por dias.

Já fazia um tempo que a convivência com a amiga andava um pouco complicada. Naquele ano, todo mês parecia que Marin mudava de personalidade por alguns dias. Pensando bem, isso se aplicava a Shina também – ela ficava muito pior do que a ruiva, virava um monstro! Coisa de mulher, Dohko explicou eventualmente. A famigerada TPM.

Isso não impediu Aiolia de ficar inconformado por ser ignorado pela garota daquela forma. Quando tentava puxar conversa, ela não respondia e ainda se afastava se não estivessem em aula. Não dava para entender. Ela não costumava ignorá-lo nas outras TPMs, por que isso agora?

Afrodite disse que ele era muito bobinho por não ter percebido que era culpa daquele selinho. Daí, Aiolia ficou ainda mais confuso. Ora, era Shina quem deveria estar se comportando daquela forma então! Aliás, por fim, Shina tinha levado numa boa e dado risada até. Só pediu para Aiolia nunca mais dar um susto daqueles nela.

Bem, sendo uma pessoa naturalmente impaciente, depois do quarto dia o leonino resolveu ser mais enérgico. Quando tentou falar com Marin, na saída da escola, e ela, mais uma vez, começou a se afastar, Aiolia segurou-lhe o braço para impedir.

Marin imediatamente tentou se esquivar. Era mais alta, mas ele era muito mais forte. Só conseguiu ter o braço apertado com um pouco mais de força, antes de ser arrastada de volta para a escola. Os outros alunos ainda estavam saindo e já começavam a olhar estranho para eles.

– Só vou te soltar quando me disser a razão pra andar brava comigo – Aiolia afirmou categórico, enquanto a arrastava para o mesmo canto que sempre costumavam ficar no jardim.

– Eu não sei! – ela exclamou, sinceramente confusa.

– Como você não sabe? – se possível, Aiolia ficou ainda mais impaciente.

Então, a ruiva exclamou, outra vez, que não sabia e o leonino, de repente, se viu chocado. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Impossível! A última vez que tinha visto Marin chorar foi quando tinham uns seis anos. Desde então, ela nunca mais chorara. Ao menos, não que ele soubesse. Ela era tão forte e determinada... E, agora, estava com aquela cara de choro iminente!

– O que foi, Marin? – indagou, assustado o bastante para começar a murmurar coisas sem pensar: – Afrodite sempre diz que você é macho demais pra chorar como uma menininha... O Milo brinca que você vai ser caminhoneira quando crescer, com uma tatuagem de um coração em chamas no braço e tudo o mais...

Com isso, Marin começou a rir, como sempre fazia quando eles diziam aquelas bobagens. Aiolia soube que o clima tinha melhorado e a soltou. Ela não derramou nenhuma lágrima – felizmente, pois ele não saberia o que fazer – e explicou que não entendia direito porque ficava irritada ou triste, à toa, todo mês. Absolutamente, qualquer coisa podia desencadear alguma daquelas reações. TPM era um negócio complicado.

A ruiva tinha ficado bastante enciumada com a atitude de Aiolia, mas não entendia muito bem o motivo. E como não entendia, não teve coragem de admitir seu ciúme para o leonino.

– Quer dizer que a TPM te deixou aborrecida porque eu roubei um selinho da Shina, é isso? – o leonino perguntou, achando tudo muito esquisito.

Marin abaixou a cabeça, as faces avermelhadas, mas não respondeu. Ah, os hormônios...

– Hmm... Vou te dar um também, ok? – Aiolia avisou, já se inclinando e encostando os lábios nos dela, antes que a ruiva pudesse protestar, se afastando logo em seguida. – Pronto! – sorriu satisfeito consigo mesmo.

Ela sorriu um pouco incerta. Ao menos, ele não tinha lhe dado um susto...

Escondidos atrás de um banco, Afrodite e Milo observavam toda a cena. O escorpiano começou a bufar de raiva. Aiolia tinha beijado duas garotas já! Enquanto ele mesmo só tinha dado selinhos... no próprio Aiolia! O que, de certa forma, fazia com que se sentisse como se nunca tivesse beijado ninguém e, sim, que era mais uma das pessoas que o leonino beijou somente.

– Relaxa, Milo! – o pisciano tentou consolá-lo. – Se quiser, eu te dou um selinho.

– Não quero um selinho de outro cara! – o escorpiano protestou, fazendo careta.

– Que besteira! – afirmou Afrodite sem se abalar, puxando o rosto do amigo com as mãos e dando-lhe o tal selinho. – Pode se sentir um privilegiado agora.

Milo nem protestou. Fez uma expressão deprimida e começou a resmungar coisas que Afrodite teve muito trabalho para entender:

– Não acredito... Doze anos e minhas experiências com beijos se resumem a dois outros caras... E talvez tenha que beijar um terceiro... O Aiolia já beijou duas meninas... Eu sou um incompetente...

– Hey, Milo, não é pra tanto...

– Com certeza, não vou conseguir nada com a Pandora... – e se encolheu ainda mais atrás do banco.

– Deixe de drama, vai! – Afrodite balançou o braço no ar, sobre a cabeça do amigo, como se estivesse afastando alguma nuvem negra de lá. – Nem parece o Milo que eu conheço! Você é lindo e vai se dar superbem!

Tem razão! – Milo exclamou enérgico, erguendo a cabeça subitamente. – Eu sou demais! Não vou ser superado desse jeito! O Aiolia vai ver só!

O pisciano aplaudiu aquela rápida mudança de pensamentos, por mais que a risada maníaca do outro o tivesse deixado um pouquinho preocupado.

***

Enquanto isso, sem saber sobre as tentativas que o sagitariano andava fazendo para descobrir quem era sua pessoa interessante, Mu estava em uma cantina da universidade conversando com dois amigos. Um rapaz altíssimo e outro com cabelos curtos arrepiados. Estavam justamente falando sobre Aiolos, que parecia um tanto quanto emburrado e inquieto nos últimos dias.

– Você acha mesmo, Aldebaran? – o ariano perguntou, de repente sentindo-se um pouquinho culpado.

– Sim. E hoje esbarrei com o Kanon e ele me avisou para tomar cuidado com o Aiolos...

– Por quê? – Mu quis saber, curioso.

– Disse que o Aiolos tá na seca e fazendo propostas pra todo mundo! – Aldebaran gargalhou com vontade, de um jeito forte e contagiante que só ele era capaz de fazer.

O ariano sorriu sem entender muito bem, achando tudo muito estranho e disposto a falar com o melhor amigo depois.

– Diga a ele que posso apresentar algumas garotas do meu curso, se ele quiser – informou Aldebaran, de forma cúmplice, apertando o ombro de Mu. – Tem umas bem bonitas.

– Bobagem – resmungou o outro rapaz, que até então os ouvia em silêncio. – Kanon só pode estar zoando. Vocês sabem como ele é.

Aldebaran colocou a outra mão na frente do rosto, de forma a cobrir a boca, e murmurou para o ariano:

– Mas se Aiolos quiser um rapaz, diga pra ele prestar mais atenção no Shura aqui, que é um grande fã dele...

– Eu ouvi isso – Shura bufou, estreitando os olhos para os dois.

Mu exibiu um sorriso de desculpas, embora não tivesse dito nada. Por sua vez, Aldebaran voltou a gargalhar de forma estrondosa. Seu corpo alto e forte balançava conforme ria. Ele era brasileiro, uma companhia excelente, e cozinhava que era uma beleza. Foi o primeiro amigo que Mu fez na universidade, embora fossem de cursos diferentes. Davam-se tão bem que muita gente pensava que se conheciam há muito mais tempo. Mesmo quando acabou fazendo amizade com mais algumas pessoas, Aldebaran ficou sendo o amigo mais próximo de Mu, depois de Aiolos.

Subitamente, o brasileiro parou de rir e fez uma expressão chocada. Tinha se esquecido de fazer alguma coisa importante. Despediu-se rapidamente dos amigos e se retirou quase correndo. Por sua vez, Shura se levantou, colocando a jaqueta e dizendo que iria para fora fumar um pouco. Mu franziu o cenho, vendo-se sozinho, e também foi para fora.

Shura estava com as costas apoiadas em um muro, um cigarro ainda apagado entre os dedos, procurando o isqueiro no bolso da calça com a outra mão. Quando Mu se aproximou e parou à sua frente, Shura o encarou com uma sobrancelha arqueada.

– Se ficar aí, o vento vai fazer a fumaça chegar até você – comentou, prendendo o cigarro entre os lábios e acendendo o isqueiro.

O ariano balançou a cabeça levemente, indicando que não se importava, e ficou no mesmo lugar. Shura fechou o isqueiro e o guardou sem utilizá-lo.

– Ah, não se incomode comigo – Mu pediu no mesmo instante, observando que ele não fumaria mais.

– Tudo bem. Estou pensando em parar – comentou, girando o cigarro apagado entre os dedos e olhando de soslaio para o amigo.

Mu estava sorrindo satisfeito. Sem desmanchar o sorriso, também encostou as costas no muro, ao lado do rapaz de cabelos curtos, e inclinou o pescoço para o lado até apoiar a cabeça no ombro deste.

– Obrigado, Shura...

– Você estuda no outro prédio, vai se atrasar se não for agora.

Mu encostou a mão no antebraço de Shura, deslizando-a pelo pulso até alcançar a mão dele. Apertou-a levemente, dizendo baixinho:

– Não tem problema...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Hmm, como disse o Orphelin, esse capítulo ficou mais explicativo do que outra coisa... Enfim, agora só falta um Gold Saint pra entrar na história, hein... ;)

O Aiolia sai dando selinhos na galere e é o Aiolos quem anda levando fama de safado, tadinho... o.o

Obrigada pelas reviews: Mel Dark, Crush Girl, KassiaKarolayne, Larissa Saint, Lord Bol, Vanessa, euzinho x e stocking!

E pra quem nunca comentou, comente. Eu tenho muitas ideias pra fic lendo as reviews! :D