Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 30
What Goes On


Notas iniciais do capítulo

Perdi as contas de quantas vezes reescrevi, tirei e acrescentei cenas nesse capítulo. E teria ficado nessa mais tempo ainda se não tivesse um carneiro-beta pra me aterrorizar... '-' #aloka

Assim sendo, obrigada ao Orphelin pelo combo revisão+terrorismo -q

Fanart por くりこ



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Capítulo XXX

O que se passa em seu coração?
O que se passa em sua mente?
Me diga o porquê
What Goes On - The Beatles

Só depois de fazer a pergunta foi que Mu percebeu o quanto ela era ambígua. Soava tanto como uma hipótese quanto como uma declaração indireta, então, como Aiolia a interpretaria? Com sua expressão mais calma, passou a observar meticulosamente o grego, por mais que este não tivesse esboçado nenhuma reação, mantendo-se deitado no chão com o olhar perdido no teto.

De repente, o leonino se sentou bruscamente e fitou o mais velho com os olhos muito arregalados. Nessa hora, Mu chegou a ter certeza de que o rapaz interpretara a sua pergunta como uma declaração. Contudo, com a mesma pressa com a qual se sentou, Aiolia balançou a cabeça – como se descartasse o que havia concluído por achar um absurdo – e voltou a se deitar com uma expressão ainda mais indecifrável no rosto.

Mu não soube se deveria ficar aliviado ou frustrado diante daquilo.

– Deve ser inevitável mesmo... – Aiolia enfim comentou, o tom de voz insinuando uma risadinha orgulhosa. – Aconteceu com a Marin, com o Milo e acho que a Tethys já estava seguindo esse caminho também... Ah! – ergueu-se pelos cotovelos para melhor visualizar o outro: – Eu disse que não vou pegar mais ninguém enquanto estiver com você, mas não é minha culpa se o Milo vier me beijar, viu?

– Pensei que você tivesse dito que ele tinha essa mania apenas quando vocês eram pequenos – Mu relembrou com uma expressão confusa.

– Eu achava isso, só que mais de uma vez ele fez um revival esse ano, daí sei lá... Bom, agora com o Camus na parada, isso não é pra acontecer, mas, como o Milo sempre me pegou de surpresa, não custa avisar, né?

O ariano assentiu devagar, sem saber o que dizer. No momento, preferia que Aiolia voltasse ao assunto principal, o que dificilmente aconteceria se desse maior atenção àquele último fato.

Alguns breves minutos de silêncio se instalaram quando o grego apoiou uma das mãos sob o queixo, desviando o olhar pensativo para o lado e mordendo o lábio inferior. Restou a Mu ficar satisfeito por ter uma natureza tão paciente e por conseguir controlar a pontinha de ansiedade que teimava em se insinuar em seu âmago.

De qualquer forma, levou um baita susto quando o leonino se sentou na cama ao seu lado tão rápido que mal chegou a vê-lo se levantar do chão. Mu virou-se de barriga para cima na cama, pronto para se sentar também, mas Aiolia se inclinou sobre ele e apoiou uma das mãos ao lado de seu pescoço, impedindo seus movimentos.

– Tsc, tsc... - fez o mais novo, balançando o indicador em frente ao rosto do ariano como se o reprovasse por algo.

Por sua vez, Mu pestanejou ao notar que estava mais interessado na proximidade daqueles lábios avermelhados do que em entender qualquer coisa mais, tanto que foi por pouco que não puxou o outro para um beijo.

Por mais desatento que fosse, Aiolia deve ter captado um pouquinho da sua vontade, pois lhe deu um atípico selinho suave. Então, soltando aquela risadinha característica, o grego deslizou os lábios por sua mandíbula até alcançar sua orelha e murmurou:

– Já passou por essa sua cabecinha, linda e dura, que o mesmo pode acontecer comigo?

O tibetano arregalou os olhos, agora estupefato. Como assim? Claro que nunca tinha lhe ocorrido que Aiolia pudesse se apaixonar por ele! Não parecia nada provável que aquilo acontecesse; não se levasse em consideração todo o histórico que tinha com o mais novo; não quando era claro que ele só estava testando uma curiosidade por diversão; não sendo ele tão jovem e impulsivo quanto o era, com um mundo de possibilidades para explorar; e, por certo, não quando percebesse que suas tentativas de ter mais intimidade seriam inúteis.

– Pelo visto, não – Aiolia soprou as palavras contra o pescoço pálido do ariano, sorrindo satisfeito quando seu hálito quente provocou um arrepio no outro. – É como uma roleta russa, Mu. A possibilidade existe tanto pra você quanto pra mim.

Em termos, Mu concordou. No seu caso, aquela não era mais uma possibilidade, sim um fato. Em todo caso e frente à expressão espantada que o leonino apresentara quando, pelo jeito, imaginou ter ouvido uma declaração sua, para Mu já estava claro que o rapaz ainda não estava pronto para saber sobre seus verdadeiros sentimentos. Por outro lado, era bom saber que ele considerava o assunto e, sobretudo, que aquela hipótese não o afastava.

Notando que o tibetano caía em pensamentos preocupados e complexos, Aiolia bufou. Aquele negócio de discutir a relação era tão cansativo... Tantas coisas melhores para eles fazerem...

– Enfim... – continuou, apertando a cintura de Mu –, não vejo nenhuma complicação. Continuo achando tudo muito simples – afirmou, mordiscando o pescoço alheio. – Se eu começar a gostar demais de você, como você diz, pode ter certeza de que não vou sossegar até te conquistar, te fazer sentir o mesmo e tal.

Inclinando a cabeça para o lado, inconsciente de que fazia isso para facilitar o acesso do grego ao seu pescoço, Mu franziu levemente o cenho. Gostou de ouvir aquilo. E teria gostado ainda mais se a perspectiva de não ser correspondido fosse a única coisa complicada que pudesse acontecer. Era a que mais...

Aí, Aiolia interrompeu suas conjecturas com um daqueles beijos arrebatadores.

Mu se viu levado para longe dos próprios pensamentos, para onde nada mais existia além dos dois. E, nossa!, era tão mais profunda a emoção de beijá-lo depois de admitir para si mesmo como se sentia que quase teve outro pequeno surto de risos.

– Ah! – exclamou Mu, estremecendo quando uma das mãos do grego se insinuou sob sua camisa e alcançou seu tórax a fim de brincar com sua pele sensível.

Okay! Já estavam ultrapassando os limites aceitáveis. E o alerta derradeiro veio assim que seu corpo reagiu com um entusiasmo superembaraçoso aos estímulos que recebia, o que fez com que se desvencilhasse da maneira mais rápida possível, sentando-se de costas para o outro enquanto tentava controlar a respiração fora do ritmo.

Aiolia não teve a menor pena do evidente desconcerto do mais velho. Sentou-se também e tratou de abraçar o ariano pelas costas, subindo beijos pelo pescoço alvo deste. Sorriu quando Mu suspirou em meio à resistência. Entrelaçou os dedos naqueles cabelos longos, na altura da nuca, e os puxou levemente para que o outro virasse a cabeça para o lado, de modo que pudesse beijar aqueles lábios rosados. E, também, porque já aprendera que aquilo sempre enfraquecia a relutância do tibetano.

Só mesmo o autocontrole excepcional pôde ajudar Mu a se esquivar e a se levantar rapidamente, antes que não resistisse a algum toque indevido. O espelho mostrou o quanto estava corado e ofegante, com os olhos brilhando atordoados, depois de tudo. Ao fundo do reflexo, vislumbrou o grego em um estado semelhante ao seu.

– Caramba, você tá cruel hoje, hein? – Aiolia protestou, fazendo um beicinho dramático: – Primeiro, ficou me chutando com violência pra fora da cama e, agora, me larga ao léu sofrendo de paudurência...

É claro que Mu não teve como não rir daquele exagero todo. Ainda assim, pediu desculpas, muito embora o leonino tivesse merecido as empurradas. Sem falar que ele já sabia que não concederia maiores intimidades.

– Hmm, se você se debruçar no meu colo, todo arrependido e pecaminoso, perguntando como posso me redimir, Aiolia-sama?, pensarei no seu caso...– sugeriu com uma expressão extasiada, um olhar sonhador perdido no nada, provavelmente imaginando a cena.

Mu só olhou para ele.

– Que cara é essa? – fez o grego, voltando a si. – Eu não te bateria, não. Consigo pensar em milhares de coisas melhores pra fazer com você, submisso assim, do que te bater...

– Não duvido... – começou a dizer, sendo interrompido por uma batida leve na porta, seguida da voz de Shion o chamando. – Entre – disse, cobrindo o pescoço com os cabelos e estranhando o jeito como Aiolia pulou assustado para fora da cama e se retraiu perto da janela.

Mal entrou, o tibetano mais velho olhou demoradamente para o irmão. Ficou satisfeito com o que viu, mas não poupou o grego de um de seus olhares estreitos.

– Ele acordou sozinho! – Aiolia se defendeu, torcendo para que Mu não o contradissesse.

– Uhum... – Shion sorriu com suspeitas para ele. Voltou-se para o irmão com uma expressão mais suave: – Conseguiu?

– Sim – Mu respondeu, compreendendo que o mais velho já havia descoberto sobre quem falara mais cedo pelo olhar que relanceou para Aiolia, indicando-o. – Obrigado, Shion.

Sorrindo para o caçula e lançando um olhar sério para o grego – que fez este se sentir como se estivesse sendo advertido de algo – Shion os deixou sozinhos novamente.

Aiolia voltou a se aproximar do ariano, logo depois, mas desistiu de abraçá-lo e começou a rir ao ouvir o estômago deste roncar alto.

– Nem sei quando foi a última vez que comi... – Mu justificou, um pouquinho sem graça.

– Opa, vamos comer fora! – o leonino exclamou animado, arrastando o mais velho pelo pulso.

Mesmo desconfiando de que o mais novo deveria estar pensando em alguma forma para boliná-lo enquanto estivessem sentados numa mesa, Mu sorriu feliz. Ao contrário das outras vezes, ficou satisfeito, e não preocupado, por ter um encontro com Aiolia. Sabia que era um bobo apaixonado, mas aquele calor no coração era tão bom. Ainda não queria pensar por quanto tempo as coisas permaneceriam tranquilas, como estavam sendo naquelas últimas semanas.

***

Na segunda-feira logo cedo, Afrodite sentiu que estava vivendo um déja vù na quadra. Ora, já não havia tentado animar Milo certa vez, alguns anos antes, quando o grego ficou todo depressivo? Sim, lá estava a mesma aura negra pairando sobre o escorpiano. Assim como Aiolia e Shina estavam, outra vez, envolvidos na questão.

– Ugh... – Milo gemeu, abraçando as pernas de encontro ao tórax, sentado no lugar mais distante das arquibancadas quase vazias. – Não acredito que fizeram aquilo comigo no Meikai... Nunca mais vou beber com aqueles pervertidos... Você viu como a Shina praticamente emitiu luz própria de tanta animação?

– Aff... – fez o pisciano olhando o amigo de cima, porque estava em pé, revirando os olhos diante daqueles resmungos quase ininteligíveis. – O chateado aqui deveria ser eu, por não ter sido convidado pra orgia...

– Não teve orgia nenhuma! – o grego protestou em voz alta e imediatamente cobriu a boca com as mãos, olhando ao redor para se certificar de que ninguém prestava atenção neles.

Afrodite balançou a cabeça, inconformado. Estavam os dois ali, matando a primeira aula, graças àquele drama desnecessário que Milo fazia só porque tinha sido pressionado a admitir que Aiolia havia sido, sim, o seu primeiro amor durante a infância.

– O problema é que eu fui pressionado do jeito mais literal possível! – Milo relembrou, levantando-se de súbito e corando furiosamente. – Contra o chão, ainda...

– Na hora em que eu cheguei, tive a impressão de que você parecia estar curtindo, hein...

O escorpiano arregalou os olhos, boquiaberto diante de tal disparate. Como assim curtindo se tinha protestado sem parar?

– Se você não lembra, estava mais bêbado do que eu imaginava... – Afrodite deu de ombros. Conhecia o grego suficientemente bem para saber que este não admitiria mais nada.

– Oh! – exclamou Aiolia, aproximando-se da dupla por trás, passando os braços ao redor das cinturas deles e dizendo com alegria: – Então, minha frutinha e minha florzinha prediletas estão aqui...

Num pulo assustado, Milo imediatamente se desfez do abraço, reclamando que não era uma frutinha coisa nenhuma. Que ultraje!

– E maçãs são o quê? Legumes? – o leonino quis saber, confuso, envolvendo o sueco com os dois braços.

Milo fez um gesto ofensivo e ficou de braços cruzados, olhando feio em direção à quadra. Aiolia não se incomodou. Tinha acabado de chegar ao colégio, para a segunda aula, e estranhou ao não encontrar os amigos na classe. Lançou um olhar descrente ao escorpiano quando Afrodite explicou que Milo estava tendo um ataque por causa do incidente no Meikai.

– Fala sério! Ainda isso? Qual o problema dos ukes com meras encoxadinhas? – Aiolia perguntou para o sueco.

– Aquilo foi quase um estupro! – o escorpiano acusou, apontando um dedo para o rosto do pior melhor amigo. – E eu não sou uke!

É claro que sua interferência foi em vão, já que foi ignorado. Afrodite sorria com malícia e especulava se Aiolia andava encoxando muitos ukes por aí. Milo bufou e voltou a resmungar quando o leonino respondeu à pergunta do outro com uma piscadela cúmplice.

– Eu não tenho nenhum problema com isso – o sueco comentou, pressionando um selinho no canto dos lábios de Aiolia antes de se desprender dos braços deste. – No entanto, odeio não ser exclusivo.

Depois de dizer isso, o humor de Afrodite azedou um pouco, como se tivesse sido lembrado de alguma outra coisa desagradável relacionada. Assistir aos dois amigos seguirem com uma discussão infrutífera desvaneceu sua paciência de vez e ele ordenou que Milo parasse de dramas. Por que diabos estava reclamando tanto? Estavam todos bêbados e nem tinha sido nada de mais. Menos do que um amasso básico, pelo que tinha visto. Sem falar que há tempos tinha certeza de que Milo e Aiolia acabariam ultrapassando alguma linha tênue e abstrata em relação à amizade deles. E, olha, até que tinha demorado! A culpa era do próprio Milo se preferia manter um relacionamento aberto com Camus em vez de se comprometer logo em um namoro sério.

– Você sabe que esse cabeça-de-vento aqui – Afrodite deu um tapinha na testa do leonino – e a Shina não teriam te atacado se você estivesse namorando mesmo.

Aiolia fez menção de reclamar do adjetivo que lhe fora atribuído, mas desistiu diante do sombrio olhar de advertência que o pisciano lhe endereçou.

– Acho que ainda não estou pronto pra isso... – Milo revelou, mirando o chão com um olhar aborrecido. – Quer dizer, são tantas coisas a se considerar... Nem imagino a reação dos meus pais se eu namorar outro cara.

– Nah – fez Aiolia entediado –, conhecendo seu pai, aposto que ele vai te zoar bastante pra depois dizer algo sobre viver o momento intensamente, ou qualquer coisa do tipo, Milo.

– Hmm, e quanto a minha mãe, o que acha?

– Acho que ela é gostosa... – o leonino replicou distraído, escapando por pouco de levar um chute. – É brincadeira! Quer dizer, ela é sim, mas enfim... Saca só, Milo, nós somos seus amigos e você pode contar com a gente, blábláblá, sabe como é. Mas você deveria conversar sobre suas preocupações com o Camus, que além de ser seu amigo é também seu maior interesse. Discutir a relação é um porre, a coisa mais lazarenta que os ukes inventam de fazer, mas... De vez em quando essa birosca serve um pouco pra algumas coisas...

Sempre perspicaz, Afrodite lançou um olhar desconfiado sobre o leonino, mas não disse nada. Milo não teve a mesma percepção, focado como estava em seu próprio dilema.

– Sem contar que o Camus não é trouxa de ficar te esperando pela eternidade, Milo – o sueco acrescentou enfadado. – Não vai querer perder o ruivo pro tal Hyoga, né?

– Nunca! – o escorpiano fez uma careta desgostosa. De fato, Camus deixara bem claro que não ia seguir com aquilo por muito tempo mesmo. – Já entendi, ok?

Pelo pau relampejante de Zeus! – Aiolia debochou, levantando as mãos para o céu. – Ele entendeu fi-nal-men-te!

Emburrado, Milo resmungou um vá se danar para o leonino, que o ignorou por estar mais interessado em cutucar a bochecha de Afrodite:

– E você, ficou ranzinza por quê? O italiano malvado anda te maltratando? Se quiser, a gente pode dar uma surra colossal nele, né, Milo?

O escorpiano assentiu, animando-se. Já Afrodite, por mais satisfeito que tivesse ficado com a proposta, apenas a agradeceu e a declinou com seu sorriso enganosamente doce:

– Posso lidar com ele sozinho – esclareceu, começando a caminhar rumo à classe. – Vamos voltar antes que a gente perca a terceira aula também.

Porém, eles acabaram perdendo aquela aula, tudo porque resolveram passar pelo banheiro do próprio vestiário da quadra e surpreenderam-se com uma cena extremamente insólita: Shaka sendo prensado contra uma parede, de forma bastante comprometedora, por Ikki.

– Caralho! – exclamou Milo, incapaz de se conter, enquanto Afrodite exibia um sorriso enigmático e Aiolia parecia abismado demais para ter qualquer reação.

Shaka apoiou as mãos no tórax de Ikki, empurrando-o para trás para que descolasse de seu corpo, encarando-o com um olhar superior que parecia dizer eu avisei que isso acabaria acontecendo. O oriental apenas deu de ombros, despreocupado, mais tentado a continuar o que faziam mesmo com a plateia.

– Que é isso, Shaka? – Milo comentou, sem noção do perigo. – Quem diria... Logo você, o deus do não-me-toques, nessa safadeza toda por aqui, em horário de aula e tudo!

– Cale-se – o indiano ordenou com voz seca, empertigando-se. – Se você tivesse aparecido na primeira aula, saberia que o professor das duas aulas seguintes não veio – e, já que tinham sido pegos mesmo, Shaka resolveu deixar a situação clara, porque não gostava de mal-entendidos: – Sobre o que presenciaram aqui, saibam que Ikki e eu estamos juntos e não admitirei brincadeirinhas sobre isso. Eis tudo.

Milo inclinou-se na direção do pior melhor amigo:

– Será que a Shina tem razão quando diz que o Shaka é seme?

– Hey! – Ikki tentou protestar, mas foi interrompido por um aperto do indiano em seu braço.

– Quieto você também. Nada disso diz respeito a qualquer um além de nós.

– Ele tem razão, Ukki! – o escorpiano alfinetou com um trocadilho infame, começando uma discussão sem sentido com o oriental mesmo sob as broncas de Shaka.

Afrodite divertia-se com tudo aquilo, mas não entrou na discussão. Estava estranhando o silêncio de Aiolia. Olhando bem, o leonino parecia meio pálido.

– Está se sentindo mal?

Aiolia o encarou como se a resposta fosse óbvia. Que mundo horrível era aquele em que Shaka não era mais virgem? Era o fim dos tempos! O pisciano achou graça. Não podia contar ao outro que o problema real era o fato de que até Shaka fazia sexo. Pelo cão de Hades! Aiolia se sentia afrontado pelo indiano fazer isso enquanto ele mesmo não podia graças à resistência dos infernos de Mu.

Ah, o horror! Por sinal, pensando no ariano...

– Ow, Shaka! – chamou, desviando a atenção do virginiano da dupla que ainda discutia. – Mas você não era a fim do Mu? Quando foi que mudou de ideia?

– Que história é essa? – Ikki imediatamente quis saber, abandonando a discussão com Milo.

Todos os olhares foram parar em Shaka – que, por sua vez, encarava Aiolia como se pretendesse lançá-lo no mais profundo dos seis mundos do Samsara. Notando que Ikki já estava enciumado e prestes a começar um enorme tumulto, o indiano tratou de esclarecer logo aquilo:

– Gosto do Mu como se fosse um irmão – assim que pronunciou essas palavras, Shaka sabia que estava sendo absolutamente sincero. Sim, já chegara a pensar que era mais do que aquilo, mas a maturidade lhe trouxe sabedoria para se compreender melhor por meio da meditação constante.

Só que nada daquilo era da conta de alguém e, por isso, Shaka não gostou de ter que se justificar. Assim, mesmo que não tivesse nada a esconder, ficou indignado por Aiolia, o tolo selvagem, trazer à tona algo que deveria ter ficado só entre eles.

– Que bom... – o leonino avaliou, como se pensasse alto, soando estranhamente aliviado. – Digo, felicidades ao novo casal! A Shina vai amar a novidade. Não deixem de contar porque, vocês sabem, se ela descobrir sozinha vai ser um caos – e saiu andando com um aceno distraído por cima do ombro.

Os demais se entreolharam, mas deixaram para lá quando Afrodite se lembrou de um detalhe curioso:

– Como veio parar aqui se já se formou, Ikki?

Enquanto o oriental explicava que Seiya e ele teriam um último jogo informal de futebol pelo colégio logo mais, Shaka aproveitou que os três se engajavam em uma conversa decente para ir atrás de Aiolia.

– O que há com você, hein? – inquiriu assim que o alcançou perto da arquibancada.

– Sei lá... – o leonino fez um gesto vago com as mãos, absorto em pensamentos. – Ciúmes, como sempre?

Shaka franziu o cenho. Ciúmes de quem exatamente?

– Ahn... De você, do Milo, do Afrodite, do meu irmão e de... Quase todo mundo? – Aiolia colocou as mãos na cabeça e bufou exasperado: – Credo! Qualquer dia desses, isso ainda vai me matar...

Que grego mais estranho, Shaka concluiu ao não reconhecer as atitudes típicas do outro. Ele não começaria uma discussão absurda até puxar uma briga, como de costume? Aliás, por mais ciumento que fosse, Aiolia não costumava admitir seu ciúmes com tanta simplicidade – não que precisasse, já que era sempre óbvio – e, no entanto, lá estava ele, distraído demais para se importar. Somando isso à expressão atormentada que vislumbrou no rosto do leonino poucos dias antes, Shaka concluiu que tinha algo de muito errado com ele.

– Algum problema em que posso ajudar? – o virginiano perguntou depois de respirar fundo. Não era seu estilo especular sobre coisas que não lhe diziam respeito, então se limitou a oferecer ajuda.

Começou a se arrepender quando Aiolia reagiu à sugestão com um olhar assombrado:

– Caramba! Por essa eu não esperava – alegou, colocando a mão sobre o coração como se estivesse prestes a enfartar. – Valeu! – acrescentou rapidamente, quando o loiro fez menção de lhe dar as costas. – Mas, como meu único problema é uma enorme concentração constante de hormônios, não tem como você me ajudar.

Shaka arqueou as sobrancelhas loiras. Desde quando aquilo era um problema para alguém tão popular? Seria bem fácil para Aiolia arranjar uma garota prestativa qualquer para ajudá-lo.

– Não posso – o leonino contestou, revirando os olhos para si mesmo ao concluir baixinho: – Nem quero. Tem que ser...

Ele não chegou a dizer quem tinha que ser. Apenas balançou a cabeça e exibiu aquele sorriso que Mu gostava tanto. Shaka pestanejou e sorriu de volta. Pela primeira vez, houve um breve momento de tranquilidade e entendimento entre eles.

Breve, pois Ikki apareceu em seguida, rosnando qualquer coisa ininteligível para Aiolia, antes de arrastar o indiano consigo para longe. Pelo caminho, Shaka fez questão de enfatizar que não toleraria aquele tipo de comportamento Neandertal, mas o mais velho nem ligou.

Aiolia riu da cena. Ao menos não era o único que corria o risco de morrer por excesso de ciúmes.

***

Naqueles dias, Aiolos começava a desconfiar de que corria risco de morte também, mas, no seu caso, por excesso de exultação. Aiolia andava tão, mais tão adorável consigo que chegava a ser preocupante quando parava para analisar. Porém, ele amava tanto esses momentos que não costumava questioná-los.

– Quero dizer, ele sempre foi muito apegado a mim – Aiolos explicou para o espanhol, ambos sentados de frente, um para o outro, no sofá da casa do último –, mas desde que entrou na pré-adolescência, ele passou a ficar constrangido com qualquer coisa que eu faça a ele. Principalmente em público...

Shura assentiu, recordando-se das tantas vezes em que tinha visto o leonino se debater entre os abraços apertados do irmão; corar todo sem graça por causa de algo afetuoso que ele lhe dizia, constrangido demais para fazer algo além de balbuciar incoerências; quando Aiolos pressionava um beijo na testa do caçula ou lhe apertava as bochechas, então, Aiolia só faltava sair correndo para se esconder.

Essa fase durou até ele alcançar a adolescência. A partir daí, passou a reagir com menos vigor e mais indiferença, embora ainda se debatesse com os abraços, beijos e apertões do mais velho. No momento, pelo que o sagitariano dizia, Aiolia estava bem mais receptivo às demonstrações de afeto. Inclusive, tinha sido o rapaz a iniciar várias delas por vontade própria.

– Se você está feliz com isso – Shura tentava entender a razão do assunto –, qual o problema?

– Ora, ele age de outro modo com você... – replicou, gesticulando para dar ênfase. – Superindiferente ou, às vezes, bem ríspido quando não consegue controlar aquele gênio difícil dele.

Shura segurou os pulsos do grego para que este parasse de mexer tantos as mãos. Não entendia qual o problema naquilo. Na verdade, a indignação do leonino em vez de fazê-lo largar a esgrima – para não ter que ficar na presença do espanhol – havia melhorado bastante o seu desempenho no esporte.

– E ele já era meu melhor aluno. Agora que resolveu se empenhar pra me superar, está incrível.

– É, mas suponho que a motivação dele venha do ciúme – disse Aiolos, tentando gesticular sem sucesso. – Eu preferia que vocês se dessem bem de verdade, como antes. Só que nunca consigo conversar com ele. Quando tento, ele me distrai sendo fofo e mordível! Ou seja, essa mudança de atitude comigo também deve ser motivada por ciúmes...

Ainda que não se importasse com os motivos, já que de modo geral o resultado era bom, Shura não gostava de ver o sagitariano incomodado daquele jeito. Sobretudo, porque sabia que aquilo iria resultar num drama histórico a qualquer minuto.

– Vou te dar uma última chance de falar com ele – o espanhol soltou os pulsos de Aiolos e propôs: – Se não der certo, falarei eu, ok?

O sagitariano assentiu com relutância, pois as coisas sempre podiam acabar piorando devido às personalidades daqueles dois.

Shura esboçou um sorriso quase imperceptível. Levantou-se e tateou os bolsos em busca do maço de cigarros e do isqueiro. Quando não os encontrou, lançou um olhar desconfiado para o grego. Tinha se esquecido de que Aiolos decidira boicotar seu fumo. Segundo este e conforme passavam mais tempo juntos, havia percebido que o espanhol fumava muito mais do que imaginava.

– Você não vai querer ter um enfisema pulmonar ou algo assim, né? – Aiolos piscou com inocência para o companheiro. Como sabia que não era o bastante, acrescentou teatralmente: – Pior! Não vai querer que eu, que sou quem você adora com todas as forças, fique doente de tanto ser exposto à fumaça, né? Ou que eu passe o resto de meus dias definhando de tristeza sobre seu túmulo e-...

Ok! – Shura interrompeu, tratando de concordar rápido: – Tem razão.

– Olha, você é a única pessoa que conheço que faz o ato de fumar parecer charmoso, mas...

– Ahh, estou ofendido... – Máscara da Morte lamentou falsamente ao sair das trevas do próprio quarto, aproximando-se em passos silenciosos. – Quer dizer que eu ensinei ele a fumar, mas quando faço não é com charme?

Shura estreitou os olhos esverdeados para o italiano enquanto este acendia um cigarro com displicência e dava uma tragada, mostrando para Aiolos que fazia exatamente igual ao primo.

O grego balbuciou uma incoerência, confuso. Estava chegando à mesma conclusão que Mu chegara uma vez, tempos antes: Máscara da Morte e Shura possuíam semelhanças que o primeiro deles fazia ir além da aparência física.

Na verdade, ia além do jeito como fumavam também. Shura sabia muito bem disso, tanto que tratou de despachar o primo, com um rude cai fora, antes que este continuasse atormentando Aiolos.

Máscara da Morte gargalhou com gosto. Depois, deu um tapinha sob o queixo do sagitariano, soprou um pouco de fumaça na direção do primo e voltou para o quarto com um sorriso satisfeito, como se só tivesse aparecido para causar.

Mas...? – Shura continuou o assunto, como se não houvessem sido interrompidos, inclinando-se sobre o grego, que continuava sentado, para deslizar os dedos por entre os cabelos deste a fim de chamar sua atenção.

– Ahn... Ah, sim! Mas tenho certeza de que pode fazer outras coisas com muito charme também – Aiolos devaneou, fixando o nada com os olhos brilhantes. – Tipo... – olhou ao redor, procurando qualquer coisa para exemplificar. Quando não conseguiu encontrar, levantou-se e correu até a cozinha com uma ideia em mente.

Há anos Shura sabia que era inútil questionar as atitudes estranhas do sagitariano, tanto que ficou parado, observando aquela agitação toda com um vago interesse.

– A solução divina! – afirmou Aiolos ao voltar com uma barra de chocolate nas mãos. – Isso é um vício bem melhor do que cigarros...

– Supondo que eu gostasse de doces, você sabe que um vício desses poderia resultar em outras doenças, não?

Aiolos agitou a mão, como quem diz okay, que seja!, e partiu um pedaço de chocolate para si:

– Certo! Viciar em algo assim seria exagero, apesar de ser possível – constatou, comendo o doce com alegria enquanto estendia o restante do chocolate para o capricorniano: – Agora, pega aí e coma com charme...

Shura arqueou uma sobrancelha para o outro. Em seguida, com sua expressão mais séria, ignorou o que lhe era oferecido e segurou a mão livre de Aiolos com a sua, puxando-a para perto do próprio rosto:

– Vejamos... – murmurou, umedecendo rapidamente o lábio inferior para, só então, deslizar a língua sobre o dedo do grego, que estava um pouquinho lambuzado de chocolate.

– ...

– Não foi charmoso? – Shura perguntou, pressionando um de seus beijos quentes na mão do outro.

– Na verdade, foi meio obsceno... – Aiolos concluiu, após soltar a respiração que nem percebeu ter prendido.

– Terei que praticar mais, se é o caso.

O grego assentiu, mas logo caiu em si e olhou rapidamente ao redor. A perspectiva de fazer qualquer coisa com Máscara da Morte por ali não era muito animadora.

– Compreendo. Então, vamos até sua casa pra que você possa falar com seu irmão. Amanhã, ele tem treino comigo – Shura justificou diante da expressão duvidosa do outro. – Se não der certo com você hoje, amanhã eu resolvo isso de uma vez.

Bagunçando os próprios cabelos, Aiolos resolveu concordar apesar de pressentir que, independente de como fosse sua conversa com o caçula, Shura acabaria tendo que se envolver.

E ele estava mais ou menos certo.

***

Aiolia não estava nem um pouco a fim de conversar com ninguém. Era início de noite e ele preferia muito mais pressionar Mu contra a porta de seu quarto, deslizando as mãos para apertá-lo em todos os lugares que conseguisse antes que o tibetano pudesse se esquivar. O tempo todo com a boca sobre a do outro, impedindo-o de protestar.

Não que o ariano estivesse tentando escapar com muito afinco.

Na verdade, Mu estava convicto de que não cederia, mas seria cruel de sua parte não dar ao menos um pouquinho mais de liberdade ao rapaz, não? Mesmo porque o leonino vinha se esforçando para cumprir com a palavra de ficar apenas com ele, não cedendo às oportunidades de relações íntimas que encontrava pela frente – e, sendo sincero, seu próprio corpo apreciava cada mínimo toque que recebia.

Ainda assim, Mu escapou de vez, todo ofegante, tão logo a voz distante de Aiolos se fez ouvir, chamando pelo irmão. Nossa, estar apaixonado significava ter momentos de tolice e loucura! Tinha se esquecido de onde estavam e de que podiam ser surpreendidos a qualquer momento.

– Isso ainda não acabou – Aiolia avisou aborrecido, lançando um olhar desconfiado ao ariano quando este começou a rir: – Você anda muito contente ultimamente, hein...

– Não é bom? – perguntou, abraçando o leonino pela cintura.

– Hmm... – o mais novo ronronou no pescoço alheio. – É diferente. Parece que você mudou e, ao mesmo tempo, voltou a ser igual... Sei lá, faz sentido?

Mu levantou o olhar para encarar o outro. Se suas linhas de raciocínio estivessem sincronizadas, fazia sentido, sim. Contudo, gostaria de ouvir uma explicação mais elaborada.

– Nah, desde que a gente começou a se pegar, você ficou cheio das preocupações – Aiolia explicou, olhando para cima com as sobrancelhas franzidas. – Agora, você anda mais tranquilo, mais parecido com o Mu de sempre.

O tibetano quase arquejou, surpreso diante daquele momento único de percepção e sensibilidade por parte do mais novo.

– É como se você tivesse encontrado alguma resposta – Aiolia prosseguiu, confusão se espalhando em seu semblante –, por mais que eu não saiba pra qual pergunta...

Depois dessa, Mu se sentiu muito mais do que apenas alegre. Sentia o coração disparado, mas não era de nervosismo. Poderia ter sido um bom momento para confessar de uma vez, com todas as letras, os seus sentimentos, mas não estava com essa coragem toda reunida. Apenas estalou um selinho sobre os lábios do rapaz, dizendo que contaria um dia o que tinha encontrado, isto é, caso ele não descobrisse sozinho primeiro. Entretanto, precisavam descer logo, se não Aiolos subiria atrás do irmão.

Durante o trajeto até a sala, o tibetano não teve como não rir de Aiolia, que não parava de bufar e reclamar, entredentes, que era uma desonra mortal ficar na seca enquanto Shaka, o loiro azedo, deveria estar praticando todas as posições do Kama Sutra numa hora daquelas.

Seu semblante só se iluminou de alegria ao pular sobre o irmão, eclipsando-se, no instante seguinte, ao lançar um olhar enviesado para Shura.

Não que o espanhol tenha se incomodado.

– Awn... – Aiolos deu um beijo na testa do irmão e sorriu para Mu: – Ué, não sabia que estava aqui. Meu irmãozinho está te alugando de novo?

A pergunta se devia ao fato de que Aiolia andava requisitando a ajuda do ariano em seus estudos. Em resposta, Mu assentiu devagar – se sentia meio culpado porque os estudos não rendiam nada já que, na verdade, a ajuda que o leonino queria era outra.

– Vou indo – Shura se despediu na sequência, lançando um olhar significativo ao sagitariano: – Não esqueça o foco.

Aiolos parou de esfregar o rosto na bochecha do caçula e tentou não parecer esquecido.

– ...

Mu aproveitou o ensejo para se despedir também e partiu na companhia de Shura, quase sorrindo diante do olhar emburrado que Aiolia lhe direcionou.

– Aff... – o leonino bufou ao ficar a sós com o irmão. – Jura que você não se incomoda com o seu sei-lá-o-quê andando por aí com o ex?

– Nem um pouco – Aiolos replicou, achando graça e bagunçando o cabelo do mais novo. – Por quê? Você se incomoda?

Aiolia mordiscou o lábio inferior e não respondeu. Meneou levemente a cabeça, dependurando-se no pescoço do sagitariano para sugerir, todo sorridente, que fossem à confeitaria.

– Só depois que você me responder – Aiolos assegurou, já resoluto. – E não adianta fazer puppy eyes pra mim... – avisou, hesitando um pouquinho diante daqueles olhos brilhantes. – Nem vem, hoje eu estou firme...

Como prova da veracidade de suas palavras – e para não ceder ao seu lado irmão-mais-velho-derretido – o sagitariano se soltou do abraço. Quase voltou atrás pela expressão magoada do caçula, mesmo sabendo que ela era proposital, com direito a beicinho e tudo. Precisou respirar fundo e resgatar seu lado sério o mais rápido que pôde, para evitar um duelo dramático entre eles:

– Lembra quando você era pequeno e teve aquela fase de estresse com o Mu?

Lógico que Aiolia se lembrava, ainda mais porque nunca tinha visto o irmão tão sério consigo, como quando veio repreendê-lo pelo mau comportamento. Chegou a ter certeza de que ele estava bravo, na ocasião.

– Então, sabe aquilo que eu te disse sobre o fato de você ser meu irmão e meus sentimentos por você não serem algo que alguém possa mudar?

O leonino anuiu, tendo um feeling sobre onde o mais velho pretendia chegar.

– Pois é – Aiolos prosseguiu, apertando os ombros do caçula –, isso continua valendo. Sempre será assim. Eu estar com o Shura não muda nada. Se seu problema com ele é apenas ciúmes, saiba que não tem sentido.

Aí, Aiolia ficou ofendido. Não era mais uma criancinha para querer toda a atenção do irmão mais velho para si, com ganas de espancar qualquer pessoa que se aproximasse dele. Já tinha passado da fase de sequer cogitar como o sagitariano poderia estar se sentindo. Óbvio que tinha ciúmes, porque era algo irracional e impossível de se controlar, mas...

– Meu ciúme não é nada perto da minha preocupação com você! – declarou com veemência, sem sequer pensar no que dizia, como era seu estilo. – Se você já ficou na fossa quando achou que o Mu não era mais seu amigo, imagina se o Shura te dispensar igual fez com ele... – Aiolia exibiu uma careta indignada. Depois, sua expressão suavizou ao concluir baixinho: – Você cuida de mim desde sempre, eu... Ehrm...

– Awn! – Aiolos exclamou enternecido, enchendo o rosto do caçula de beijos. – É por isso que anda tão adorável? Pra eu saber que sempre terei você não importa o que aconteça? – observou o leonino enrubescer, como se tivesse acabado de perceber aquilo também, e o abraçou com toda a força: – Awn, que bonitinho! Vou morrer com tanto amor!

– Aff... Tá! Menos... – Aiolia protestou, a voz abafada vindo de algum lugar no tórax do outro. – Você falando assim faz soar mais embaraçoso do que já é...

– Haha! – o sagitariano levantou o rosto do irmão, encostando a testa deste à sua: – Você me deixou muito feliz e aliviado agora. Não se preocupe com o que possa me acontecer de ruim. Vou sair de qualquer fossa, caso você esteja ao meu lado pra me apoiar.

– Isso se eu não for preso por assassinato... – Aiolia ressaltou num tom sombrio, mas logo sorriu: – Chega dessa conversa melosa, antes que você comece a se emocionar demais e nos afogue em lágrimas...

Aiolos riu, mordeu a bochecha do caçula e se afastou com agilidade para evitar a retaliação que receberia por tal feito. Com os esclarecimentos feitos, será que dali para frente o leonino conseguiria se dar bem com Shura de novo?

– Duvido muito... – Aiolia resmungou, massageando a bochecha. – Tenho que tirar satisfações com ele... Mas isso fica pra amanhã! – decidiu, animando-se com novos interesses em mente: – Agora, você vai me comprar os melhores doces da confeitaria, não vai?

Aiolos suspirou resignado e cobriu os olhos com uma das mãos, dizendo para o irmão pegar leve nos gastos – porque ainda era um pobre universitário estagiário que ganhava pouco. Dramatizações à parte, estava mesmo era intrigado com as tais satisfações que o irmão pretendia tirar com o capricorniano.

Esperava, ao menos, que os dois se entendessem depois do treino, por precaução.

***

Contrariando a expectativa do irmão, Aiolia não teve paciência para esperar o fim do treino. Empunhava a espada com cada vez mais agressividade, avançando mais do que recuando sobre Shura. E por mais habilidoso que fosse, o espanhol não contra-atacava com o mesmo ímpeto, mantendo-se preciso nos movimentos e equilibrado no temperamento, como tinha que ser. Tal postura somada à lembrança de Kanon dizendo que ninguém dizia não ao espanhol foi o estopim para o leonino:

– Como é que você conquistou meu irmão, hein?

– Determinação – Shura replicou, tomando distância do jovem oponente.

– Quer dizer que não foi fácil? – Aiolia insistiu, colocando-se em guarda. E, quando o mais velho confirmou, perguntou o que realmente queria saber: – De todas as pessoas que você já pegou, ele foi quem demorou mais, então?

Shura franziu as sobrancelhas por detrás da máscara de esgrima, desconfiando daquela conversa pessoal:

– Isso importa? – inquiriu, avançando sobre o leonino em passo duplo. – Atenção nas pernas.

Aiolia se esquivou, deslocando-se rapidamente para trás. Claro que importava! Se Aiolos fosse quem mais demorou...

– Quer dizer que o Mu não resistiu muito a você... – concluiu, chocado. Aquilo era tão injusto que acabou se distraindo por um instante.

Foi o suficiente para o espanhol desarmá-lo em um movimento súbito.

– O que o Mu tem a ver com tudo isso? – Shura questionou, a voz seca soando um tanto quanto ameaçadora, e tocou o colarinho da jaqueta do leonino com a ponta de sua espada, fazendo-o inclinar levemente o pescoço para trás por reflexo.

– Ehrm... – Aiolia titubeou, repreendendo-se mentalmente por ser tão desbocado, apesar de que não conseguiria saber o que queria sem que o outro desconfiasse da verdade.

Sem diminuir a pressão da espada, Shura tirou a própria máscara com a mão livre e jogou-a para o lado, gesticulando para que o mais novo fizesse o mesmo. Quando Aiolia o fez, o espanhol baixou a arma e o encarou com seriedade:

– Sei que você não gosta de ser tratado como criança – começou, num tom que não admitia interferências. – Então, vamos conversar de homem pra homem. Está pronto pra isso?

– Mas é lógico! – Aiolia confirmou, apertando os punhos com irritação.

Shura o analisou com um olhar crítico. Muito bem, não era seu estilo rodear para chegar onde queria, preferia ser claro e sucinto. Apreciaria se Aiolia fosse capaz de agir da mesma forma.

– Seu irmão é incrível. E, por mais que me atraia, eu me preocupo principalmente com o bem-estar e a segurança dele – esclareceu, dando um instante para que o grego processasse a informação direito.

Segundos do mais puro silêncio depois, Shura tornou a levantar a espada, tomando uma posição mais agressiva enquanto pressionava a ponta da lâmina sobre o coração do outro.

– Agora, mostre o quanto amadureceu e me diga qual o seu verdadeiro interesse no Mu.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Vish '-'

Esse capítulo era para ser o penúltimo, mas considerando o tanto que já tenho pronto somado ao que ainda falta escrever, duvido que vá acabar no próximo... De qualquer forma, não é pra demorar tanto assim a próxima atualização (ou meu carneiro-beta me deserda qualquer hora -q). Mas como sabem que sou "meio" paranoica, já peço desculpas antecipadas por uma eventual demora ._.'

Meus agradecimentos aos queridos: Orphelin, reneev, Kass, G Rodrigues, Angel Ártemis, Suh, arianinha, Leo Saint Girl, katsu, mangalove, Vanicleia Faucão dos Santos, Bruna Uzumaki, Ester di Angelo, TitiaKinast, Sweet Selene e Svanhild S2

Que tal esse capítulo? =3 No próximo teremos mais Camus, Máscara da Morte e gêmeos /o/