Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 29
The Answer Lies Within


Notas iniciais do capítulo

Entre o capítulo anterior e esse, eu quase morri duas vezes. Primeiro de agonia porque o Nyah ficou off por dias. Depois, de tanto rir com as reviews que mencionaram o Milo. Hahaha, gente! Não importa o que o Maçã-do-Amor pense de si mesmo, já virou uke por maioria de votos xD

Orphelin, le carneirón-beta, obrigada pelas revisões³³ todas s2



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Capítulo XXIX

Não deixe o dia passar em dúvida
A resposta está dentro de você
Você ficará bem
The Answer Lies Within - Dream Theater

Quando parasse para analisar minuciosamente a situação, Mu concluiria que aquele foi um dos momentos mais perturbadores de sua vida até então. Tanto que sua respiração ficou suspensa e tudo pareceu parar por um instante. Tamanho foi o silêncio que, para ele, era incrível que ninguém mais conseguisse ouvir o som forte de seu coração disparado dentro do peito.

Kanon com certeza não conseguia. Ele nem sequer piscou após ter ouvido a afirmação veemente do leonino. E, sendo ele a pessoa que era, não demorou a dar mostras de um sorriso dúbio, que se ampliou em seu semblante como se tivesse ouvido o que queria.

Por sua vez, Aiolia poderia ter conseguido, considerando o quanto estava perto do tibetano depois de puxá-lo para si. Porém, parecia mais preocupado em continuar encarando o geminiano com frieza, como se o desafiasse a discordar de suas palavras irrefletidas, de modo que não notou nada.

Mu ficou ali, envolvido pelo braço do mais novo e olhando para a cara deste, boquiaberto e mais pálido do que nunca; a cabeça vazia incapaz de formular um mísero pensamento que fosse; sem falar naquela sensação agonizante no seu estômago.

Em seu íntimo, torcia para que, ao contrário dele, Kanon tivesse coragem de questionar o jovem grego acerca daquela afirmativa. Contudo, perverso e vendo a sua agonia à espera de uma explicação, o geminiano permaneceu quieto. Logo, o próprio Mu teve que arriscar, por mais receoso que estivesse:

Seu...?

Automaticamente, Aiolia voltou seu olhar decidido para o tibetano, fazendo com que um calor estranho e prazeroso se espalhasse pelo corpo deste, passando por seus membros e confortando seu estômago antes de se concentrar em seu rosto, o que deixou sua face afogueada.

– Ehrm... – o leonino balbuciou, pestanejando ao se dar conta do que havia dito. Desviou o olhar e soltou a cintura alheia, afastando-se um passo para o lado.

No entanto, pareceu tão adorável daquele jeito – desconcertado e um pouquinho corado diante da própria ousadia, mordendo o lábio com tanta força que acabaria se machucando – que Mu sorriu sem perceber para ele... por causa dele.

– Como assim seu, Ai-chan? – Kanon pressionou na sequência, por fim disposto a desvendar o mistério.

Aiolia abriu e fechou a boca, engasgando com a própria saliva, o que ocasionou um acesso de tosses nele. Para sua sorte, eles foram interrompidos pela chegada de Aldebaran, que comunicou que os demais demorariam a aparecer, distraindo-os ao ponto de a pergunta ficar sem resposta.

Não que o leonino tivesse conseguido escapar. Não de Kanon. O grego mais velho tratou de passar um braço em torno do pescoço do mais novo e saiu arrastando-o consigo, comentando que seus gatos estavam com saudades de Aiolia e que, como era sexta-feira, eles poderiam ir ao Meikai à noite, como não faziam há algum tempo.

– Foi mal a pressa – Kanon se desculpou com os outros, acenando por cima do próprio ombro –, mas a gente tem muita coisa pra fazer hoje, né, Ai-chan?

Aiolia não se deu ao trabalho de contestar nem de olhar para trás, deixando-se ser conduzido sem resistências.

Aldebaran olhou para Mu sem entender. Intrigado, o ariano olhou de volta para o amigo e, respirando fundo, despediu-se também a fim de ir logo para a sua própria casa.

Que sensação mais estranha, pensou Mu durante todo o trajeto. Estava um pouquinho apreensivo com Kanon. Só os deuses deviam saber o que ele estava planejando. Com certeza, estava relacionado ao que o leonino alegara – que, por sinal, era o que dominava os seus pensamentos.

Era muita ousadia fazer uma declaração daquelas com tanta convicção! Talvez, pensando bem, fosse só o sentimento exacerbado de posse falando mais alto, mas... Tinha sido bom ouvir aquela afirmação, confessou em seu íntimo, e descobrir que ocupava um lugar significativo na cabeça do jovenzinho arisco. Mesmo que significasse pegação sem compromisso e tudo o mais.

Uma parte de Mu quis se revoltar contra o tal pronome possessivo, pois, ora! Ele não era um objeto ou uma propriedade para pertencer a alguém que, ainda por cima e de certo ponto de vista, parecia só estar lhe usando, pura e simplesmente.

Entretanto – seu lado pacificador contrapôs –, o contrário também não acontecia? Será que não estava usando Aiolia desde que concordara em ceder à própria atração? Talvez o leonino, novo como era, nem soubesse ou entendesse direito o que estava fazendo, diferentemente dele.

Okay, a possibilidade era remota.

Em todo caso e recordando-se bem da frase, ele concluiu que não tinha motivo para se revoltar. Aiolia dissera aquilo com a maior espontaneidade possível, o que lhe lembrava de quando o rapazinho dizia todo orgulhoso e satisfeito que Aiolos era seu irmão. Como isso poderia fazer com que se sentisse de outra forma que não lisonjeado? Sem falar que abria mais um leque de possibilidades...

***

No sábado, Ikki concluiu que havia poucas possibilidades para fazer o que queria. Shaka era irredutível em suas decisões, inclusive sobre algo que não precisasse fazer de imediato – estudar, no caso. Pelo menos, tinha conseguido convencê-lo de que estudar na praça, ao ar livre, seria mais produtivo do que enclausurado em alguma biblioteca.

– Pare de bufar para os livros – o indiano ordenou sem retirar os olhos de cima da página que lia. – Está atrapalhando minha concentração.

Ikki fez questão de bufar mais uma vez.

– Você já passou no vestibular, pode fazer o que quiser em vez de ficar aí me vendo estudar – Shaka constatou num tom inconformado.

– Isso é o mais próximo do que quero fazer – Ikki esclareceu mal-humorado. – Não seja tão espartano, loiro. Você não vai ter nenhuma prova nos próximos dias.

Antes que o virginiano pudesse explicar, pela décima vez, seus argumentos lógicos – em sua própria concepção –, eles foram distraídos pela aproximação de Aiolia. Na verdade, o grego apenas passou em frente ao banco em que estavam sentados, a passos largos, sem enxergá-los.

– Será que ele está bem? – Shaka perguntou, observando Aiolia se afastar. – Parecia perturbado...

– E desde quando você se importa?

O indiano revirou os olhos azuis. Não era isso que os amigos faziam? Ainda lhe parecia incrível, mas, àquela altura, tinha aceitado que – discussões e diferenças à parte – eram amigos. Precisamente como Camus pontuara certa vez.

– Aiolia é meu amigo também e nem por isso estou morrendo de preocupação igual a você... – Ikki resmungou, muito incomodado para não exagerar. – Dizem que pessoas que vivem implicando umas com a outras sempre acabam se envolvendo...

– De fato – Shaka aquiesceu, entrelaçando sua mão à do oriental para apertá-la e soltá-la com a mesma rapidez, voltando a prestar atenção no próprio livro. – Agora, fica quieto.

– Nunca! – Ikki riu satisfeito, afanando o livro do virginiano com uma das mãos e envolvendo o ombro deste com a outra. – Foi a sua maior demonstração de romantismo até hoje... – aproximou os lábios do ouvido do indiano e murmurou: – Vamos fazer algo bem melhor do que estudar, loiro, pra comemorar...

– Não agora – Shaka sorriu perigosamente e tomou o livro de volta.

– Não agora – Ikki concordou com má vontade, cruzando os braços.

O indiano demorara bastante tempo para resolver lhe dar alguma chance e, quando resolveu ceder, era tão prepotente que agia como se tudo tivesse sido ideia dele mesmo.

Tudo bem, por mais que a demora o deixasse muito impaciente, no final ela sempre valia a pena.

***

O leque de possibilidades prendeu Mu no próprio quarto por tanto tempo, enumerando-as, que logo chamou a atenção de Shion. E a atenção do tibetano mais velho ser tão atraída, por sua vez, deixava Dohko em alerta. Ou seja, Mu virou um motivo de preocupação dupla com o passar dos dias.

– Está lá desde sexta – Shion murmurou no domingo de manhã, olhando para a xícara de chá que tinha em mãos. – Não o vi comer nenhuma vez. Só sai para ir ao banheiro, onde fica horas no banho, e, em seguida, volta a se isolar.

– Talvez não seja um problema grave... – Dohko tentou, recordando-se da expressão do ariano mais novo nas duas vezes em que se cruzaram pelo corredor. – Ele me pareceu pensativo, mas não angustiado ou algo do gênero.

Shion considerou tais palavras por um instante. Em seguida, colocou o chá na mesa com uma força desnecessária, fazendo barulho, e estreitou os olhos para o namorado.

– O que foi? – o libriano quis saber, ressabiado, prestes a entrar na defensiva diante da postura do outro.

– Tem razão – Shion confirmou, levantando-se da cadeira. – Não é para ser um problema, caso o Mu saiba avaliá-lo.

– E você vai interferir? – inquiriu muito surpreso, vendo o companheiro se encaminhar rumo ao quarto do irmão. – Agora, eu estou preocupado com você. Está doente?

O ariano sorriu para ele. De fato, nunca interferia, a menos que Mu lhe pedisse ajuda – algo raríssimo de acontecer, visto que o caçula sempre preferia resolver os próprios problemas sozinho.

– Só vou lá para que meu irmão me veja e se lembre de que pode contar comigo. Não me parece que, em meio a tantas reflexões, ele tenha sequer notado nossa presença em casa.

Shion bateu à porta do quarto e chamou o mais novo. Não obtendo retorno, tentou a maçaneta e estranhou o fato de encontrá-la destrancada. Só que estranhou mais o fato de encontrar o quarto bem iluminado pela luz do sol, que entrava pela janela aberta – em vez de coberto por alguma penumbra abafada e depressiva como, sabe-se lá o motivo, imaginava que estaria.

Mu estava sentado no chão, de frente para o grande espelho que tinha na parede; as pernas cruzadas, como se meditasse, e os longos cabelos espalhados para todos os lados. A princípio, não notou que tinha companhia, concentrado em mirar o próprio reflexo como se procurasse alguma coisa muito importante.

– Diga-me, Shion – começou Mu um bom tempo depois, quando enfim percebeu o reflexo do irmão logo atrás do seu –, pareço o mesmo pra você?

– Sim... – replicou devagar, também olhando para o reflexo do caçula. – Não deveria?

– Talvez. Sinto como se estivesse me perdendo de mim mesmo. Está se tornando difícil me reconhecer...

Onde estaria o Mu tranquilo e capaz de controlar as emoções com facilidade? Aquele que nunca se exaltava e era reconhecido pela paciência constante? Que era tão centrado e conseguia avaliar as situações com sensatez, bem como colocar ao menos um pouquinho de juízo nas cabeças dos amigos menos prudentes? Era o que se perguntava.

E a conclusão a qual chegava, em suas autorreflexões, era de que aquela pessoa que ele conhecia tão bem estava desaparecendo. Sendo substituída por um Mu frequentemente preocupado e ansioso; alguém que vivia na expectativa de alguma idealização inexplicável; exasperado e inquieto diante das horas que pareciam levar anos para passarem; que não conseguia se concentrar direito e perdia a linha de raciocínio com facilidade; cheio de dúvidas, com o coração sempre a mil, pulsando com força diante de um mero pensamento que o fazia sorrir como um bobo; sem falar que, volta e meia, corava com uma facilidade constrangedora.

– E não é que ele foi sincero quando contou que só sabe destruir as coisas? – Mu riu desgostoso. – Aquele genioso está destruindo, pouco a pouco, minha personalidade e minhas convicções... Pelos céus! Ele é só um adolescente! Como pode causar tanto caos? Nesse ritmo, logo vai destruir minha sanidade também – puxou algumas mechas que estavam sobre seu colo e ficou enrolando-as entre os dedos. – E eu não sei quando, como ou o porquê de isso ter começado... E nem imagino onde vai parar, já que ele é um oceano de imprevisibilidade.

Mu escondeu o rosto entre as mãos, soltando um suspiro inconformado, e voltou a ficar em silêncio. Apesar dos pesares, as coisas continuavam parecendo tão certas e naturais que soava muito pior a ideia de lutar contra aquela situação.

Afinal, pensou, nada era melhor do que sorrir para o insolente e vê-lo sorrir de volta – mais confuso do que contente, mas eram sorrisos fantásticos de qualquer forma.

Shion o observou com atenção por um momento. Olhou para a porta, que deixara aberta, e não ficou surpreso quando encontrou Dohko parado no batente. Mu não tinha falado muito baixo, de todo jeito.

– Para mim, você se comporta da mesma maneira de sempre, calmo e gentil – garantiu o ariano mais velho. – E tenho certeza de que seus amigos concordariam. Agora...

Mu levantou uma das mãos, como um estudante que deseja fazer uma observação:

– Desculpa interromper, mas, por favor, não diga algo enigmático.

Dohko lançou ao cunhado um olhar que dizia que o compreendia muito bem. Shion, contudo, fez que não percebeu e prosseguiu:

– Ora, é você quem está criando seus próprios enigmas. Por que tantas perguntas, Mu, quando o mais importante é a resposta?

Chateado, Mu balançou a cabeça. Não tinha conseguido arrancar nenhuma resposta dele.

– Isso não faz diferença, pois – Shion colocou a mão sobre a cabeça do mais novo – a resposta está aqui, em você.

Pensando com seriedade naquelas palavras, Mu apertou os lábios e voltou a se contemplar no espelho por um longo momento. Não conseguiu encontrar nada.

Shion bagunçou um pouco mais os cabelos do irmão e se afastou com seu ar distraído:

– É muito cedo, não temos estrelas. No inconsciente, você já a encontrou. Além disso, não se esqueça de que você é muito bom em consertar o que foi destruído, Mu – proferiu num tom definitivo e saiu do quarto.

Restou a Mu lançar um olhar desolado ao libriano.

– Eu sei, acredite! Namorar o Shion consegue ser mais complexo – Dohko sorriu e se aproximou do cunhado.

– Ele deve saber mais sobre mim do que eu sei... – Mu resmungou, contrariado. Poxa, o irmão podia ser mais claro, para variar!

– Mas, sabe, ele tem razão – disse o chinês, impressionado pelo mais novo não estar conseguindo enxergar o óbvio. Não era prudente revelar o que Mu deveria descobrir sozinho, só que também não ficou satisfeito com a ideia de abandoná-lo mais confuso do que estava, depois do vácuo que Shion deixou. – Ah, tenho uma ideia! Um exercício, digamos, pra você.

O tibetano franziu o cenho e aguardou.

– Procure se lembrar de como se sentia quando começou seu relacionamento com o Shura – Dohko explanou em tom professoral. – O que tem em comum com o que sente agora em relação a essa outra pessoa? Suponho que vocês tenham alguma coisa, então, se acabasse, acha que se sentiria igual se sentiu quando você e o Shura terminaram?

Mu suspirou e estreitou os olhos para o libriano:

– Acho que você merece o namorado que tem...

– Desculpa! São quase dez anos de convivência, não posso evitar – Dohko piscou um olho cor de avelã para o mais novo e também se retirou do quarto. – Ah! – acrescentou antes de encostar a porta. – Faça isso após dormir um pouco. Está na cara que não dormiu quase nada esses últimos dias.

Algumas horas depois, no início da tarde, Shion continuava meio distraído com a situação do irmão quando a campainha tocou. Não ficou surpreso ao ver Aiolia – quem, junto com Milo, vivia jogando Pokémon com Dohko –, entretanto, prestou uma atenção muito maior do que a normal quando o rapaz perguntou por Mu.

– Hmm... – o tibetano analisou o outro de cima a baixo com seus olhos perscrutadores. – Adolescente... Imprevisível...

– Ahn? – fez Aiolia sem entender, dando um passo para trás por instinto.

– Genioso... Causador de caos... – Shion prosseguiu, apoiando uma das mãos sob o queixo. – É, deve ser você.

– Eu o quê? – o leonino quis saber, relanceando o olhar para a porta por onde acabara de entrar. Sentiu-se inexplicavelmente apreensivo quando o mais velho a fechou e apoiou-se nela, como se pretendesse impedi-lo de sair, caso quisesse.

– Hmm, você é alguém que gosta muito do irmão que tem – Shion analisou, ignorando a questão. – Correto?

Aiolia anuiu, não se sentindo muito melhor quando o ariano sorriu.

Shion compreendia bem o sentimento, afinal se sentia igual em relação ao Mu. Portanto, tinha certeza de que Aiolia também estaria disposto a tudo pelo próprio irmão.

– Como – o mais velho exemplificou – não deixar que ele sofra pela inconsequência e falta de maturidade de outras pessoas... Daquelas que aparecem em nossas vidas vez ou outra.

O leonino ficou olhando para o tibetano com as sobrancelhas arqueadas. Shion era bem estranho, concluiu.

– Oh, desculpe pela divagação – pediu o ariano, sem parecer minimamente incomodado. – É que o Mu anda diferente do comum. Muito preocupado com alguma coisa que vem acontecendo e que ele não quer me contar, talvez para não me incomodar, o que me faz ficar cogitando o que poderia ser...

Aiolia mordeu o lábio inferior, evitando o olhar direto do outro.

– Porque se eu soubesse, poderia ajudar – Shion continuou em voz baixa, estreitando mais os olhos –, nem que fosse arranjando uma maneira de dar um fim ao que está causando tantas dores de cabeça a ele, entende?

Não era uma boa ideia questionar algo, o leonino imaginou, engolindo em seco sem se dar conta. Seu alívio veio quando Dohko, após ouvir o toque da campainha e a sua voz mais a de Shion, desceu as escadas olhando com suspeita para o namorado, informando que Mu havia adormecido.

– Ah! Eu falo com ele outra hora... – Aiolia comentou, prestes a passar pelo ariano e escapulir pela porta.

– Fique, por gentileza – solicitou Shion, num tom muito mais suave do que o aperto que deu no ombro do grego. – Dohko e eu precisamos dar uma saída. Pode ficar de olho no Mu? Vai ser bem rápido.

Aiolia fez que sim devagar, mas, quando o ariano acrescentou que não deveria nem pensar em acordar Mu – apertando-lhe o ombro dolorosamente no processo –, passou a agitar a cabeça com bastante convicção.

Antes de saírem, Dohko olhou para o rapazinho com um sorriso sem graça. Sabia que o namorado não usara de força, mas sim de técnica, para apertar o leonino num ponto específico que o faria sentir-se dolorido pelos próximos minutos. Sem falar que parecia ter aterrorizado o mais novo antes que chegasse à sala.

– O que você falou pra ele, hein?

– Nada de mais – Shion alegou com seu ar mais inocente. – Apenas falávamos sobre irmãos e o quanto eles nos preocupam às vezes.

Dohko murmurou alguma coisa retórica e começou a tirar suas próprias conclusões, andando sem rumo ao lado do namorado. Sim! Eles não tinham planejado saída nenhuma, mas acompanhou Shion, ainda que os objetivos deste não estivessem muito claros. Só esperava que Mu ficasse bem.

***

Enquanto isso, Aiolos se perguntava se sempre acordaria em situações estranhas na casa de Shura. A mais estranha era a vez que acordara com Máscara da Morte apertando seu traseiro. Todavia, acordar agora e dar de cara com Afrodite adormecido ao seu lado na cama não ficava muito atrás da situação anterior.

– Ué... – balbuciou, coçando a cabeça, confuso. Estavam, sem dúvidas, no quarto amplo e meio impessoal do espanhol. Por sinal, pelo que lembrava, tinha adormecido ao lado de Shura. – Ué...

Forçando a memória, o grego levantou-se e foi ao banheiro cuidar da higiene pessoal. Quando voltou, Afrodite estava acordando, movendo-se languidamente. Não demonstrou surpresa ao ver Aiolos.

– Bom dia... – cumprimentou, esboçando um sorrisinho indecifrável: – Você foi ótimo essa noite.

– É brincadeira, né?

Em termos, o pisciano esclareceu. Deu um tom ambíguo ao comentário por brincadeira, mas Aiolos tinha sido ótimo, sim. Não se lembrava de nada?

O grego fez que não e ficou surpreso ao saber que tanto ele quanto Shura tinham acordado, no meio da madrugada, devido a um breve e barulhento desentendimento entre Afrodite e Máscara da Morte. Segundo o mais novo, enquanto o espanhol arrastava o primo para um lado, Aiolos – morrendo de sono – tinha tido o bom senso de não questionar nada e apenas puxá-lo para dormir consigo, evitando novos problemas numa hora daquelas.

– Caramba, tive uns flashes agora, mas não lembro direito de nada. Se você não falasse, acharia que foi um sonho. Você...?

– Devo estar horrível, não é? – Afrodite indagou, pulando da cama e seguindo para o banheiro com passos acelerados. Nunca se permitiria o desleixo.

Ao vê-lo retornar, vários minutos depois, Aiolos comentou que só queria saber se o mais novo estava bem. Recebendo um movimento vago com os ombros como réplica, o grego ficou em dúvida sobre como interpretar o gesto. Acabou apenas sorrindo como se pedisse desculpas pelo que tinha feito.

Quando Afrodite e Milo eram mais novos e iam passar a noite em sua casa, era habitual que os dois e seu irmão se embrenhassem em sua cama no meio da noite, fosse por algum medo infantil ou porque estavam brigando muito, sendo essa a única maneira de Aiolos dormir em paz.

– Em meio ao sono, eu nem me toquei que você está meio grandinho pra isso...

– E eu agradeço sua gentileza – Afrodite esboçou um sorriso meio estranho, como se não soubesse mais sorrir direito, não com alegria sincera. Seus sorrisos ferinos tinham se tornado tão comuns que era como se fizessem parte dele desde que nascera.

Aiolos, que o conhecia desde pequeno, sabia que não era assim:

– Sabe, de toda a pirralhada, você é o único que me passa a impressão de ter amadurecido cedo demais.

– O que quer dizer?

O sagitariano inclinou a cabeça para um lado. Não sabia explicar. Tinha a sensação de que o desenvolvimento precoce não tinha feito muito bem ao sueco.

– Penso o contrário – Afrodite contestou impassível. – Antes encarar a realidade mais cedo, seja ela qual for, do que ficar se enganando à toa.

Não precisava ser assim, Aiolos ponderou. O mais novo só conseguiria sofrer com tal estilo de pensar.

– Aprecio sua preocupação – replicou o pisciano com sinceridade, apesar de haver um tom amargo em sua voz –, por mais que ela seja desnecessária. Eu sei me cuidar. Posso ficar ofendido e inconformado, mas pode apostar que não sofro – e acrescentou com todo o desprezo: – Ninguém é digno do meu sofrimento.

E aquilo foi tudo. Afrodite afastou algumas ondas brilhantes dos cabelos para trás do ombro com altivez e foi para perto da janela em silêncio, sem dar qualquer brecha para mais conversa. Ora, refletiu, se a vida lhe desse rosas, ele trataria de dar rosas à ela também. Do contrário...

Não importava se suas atitudes fossem boas ou más, estava preparado para enfrentar as consequências.

***

Aiolia também estava – ou achava que estava – preparado para enfrentar certas consequências. Apesar da advertência de Shion ter sido bastante persuasiva, o grego era impaciente e jovem demais para não se arriscar. Assim, após cerca de cinco minutos andando em círculos pela sala, enquanto massageava o ombro dolorido, foi parar no quarto de Mu. Quem sabe ele tivesse acordado... E, se não tivesse, não seriam seus passos felinos silenciosos que o acordariam, claro!

De fato, Mu estava dormindo. Os longos fios dos cabelos claros espalhados sobre a cama e a pele quase tão pálida quanto o travesseiro que abraçava. Era uma porção de detalhes que Aiolia nunca havia reparado direito, como os cílios compridos e escuros que contrastavam com a pele alva; ou a boca rosada levemente entreaberta, o formato sugerindo um sorriso. E o tibetano não fazia nada além de dormir e... ser fascinante.

Aiolia ficou um bom tempo parado, na soleira da porta, deslumbrado com um Mu perdido em sonhos; o calor percorrendo seu corpo, sobretudo na altura da virilha, e o deixando sem saber o que fazer – se é que queria fazer alguma coisa, já que admirar o outro estava mais que perfeito.

Só se moveu quando a vontade de tocá-lo começou a aumentar numa velocidade impressionante. Aí, sim, quis fazer muitas coisas. Quis afastar as mechas de cabelo que estavam no rosto do ariano, encostando os dedos naquela pele macia; sussurrar qualquer coisa sem sentido no ouvido do outro, passando pelo pescoço, só para vê-lo se arrepiar; beijá-lo da forma mais suave que conseguisse para que, talvez, ele murmurasse seu nome enquanto dormia; e beijá-lo de novo e de novo, até que abrisse os olhos pestanejando sem pressa.

Aiolia queria fazer tantas coisas que ficou atordoado com a intensidade com que desejou Mu.

E, sendo alguém que não sossegava enquanto não fazia o que queria, o leonino sentou-se na cama e fez tudo o que quis, sem avaliar a situação, esquecendo-se da advertência de Shion. Não se arrependeu porque Mu não o decepcionou com nenhuma de suas reações. Melhor do que isso, ele acordou sorrindo e conseguiu parecer mais atraente.

– Oh! – fez o leonino de modo teatral, após um segundo desconcertado. – É verdade que o lance de beijar acorda a princes- Aw! – exclamou ao ser empurrado bruscamente para trás, caindo sentado no chão.

– Quem você ia chamar de princesa? – Mu inquiriu com uma expressão aborrecida, apoiando-se em um cotovelo. – Hmm... Aiolia?

O grego o encarava tão fixamente que o ariano ficou confuso. Lançou um olhar ao espelho logo atrás do rapaz e não gostou de como se viu: todo descabelado, a expressão sonolenta, a roupa desalinhada – por sorte não estava de pijama! Mu sentou-se na cama e fez menção de ajeitar o visual, mas foi interrompido na hora:

Não! Você tá tão... – Aiolia calou-se e ficou apreciando o mais velho, extasiado. Tão sexy e selvagem! – Ahh, essa imagem vai direto pro meu arquivo mental de referências inspiradoras.

Foi por pouco que Mu não questionou o que ele queria dizer com aquilo. Entendeu bem a tempo. Ah, aquelas piadinhas constrangedoras do mais novo! Quem o ouvisse falando de si daquele jeito poderia pensar que estava diante de uma visão e tanto.

– E estou! – o leonino garantiu animado. – Não se subestime. Tudo isso aqui é só de ficar te olhando – apontou para o próprio baixo-ventre e lançou uma piscadinha maliciosa para o outro.

Mu enrubesceu e pôs-se a pentear os cabelos com os dedos, bastante desajeitado. Pelos céus! O atrevido nem se envergonhava com a própria situação...

– Não posso evitar, ué... – Aiolia deu de ombros. – O Kanon chama de fase geleia, haha!

– ...

Diante da menção do nome do geminiano, Mu parou de tentar se ajeitar e ficou olhando para o nada. Impressionante o dom que Aiolia possuía para distraí-lo e fazer com que ficasse meio esquecido de tudo em sua presença. Foi quase com surpresa que o ariano recordou – de forma muito vívida – o incidente que andara ocupando seus pensamentos nos últimos dias.

Mu deitou-se horizontalmente na cama – de modo que ficasse de frente para o grego sentado no chão –, de barriga para baixo, com um travesseiro entre os braços. Então, fitou o mais novo com atenção:

– Falando nele... O que você quis dizer aquele dia, hein?

O leonino desviou o olhar, mordiscando o lábio inferior. Ia retrucar que só tinha respondido à insinuação de Kanon. Ou seja, que Mu era seu interesse. Só que, ao refletir melhor, concluiu que não era bem aquilo e mudou de ideia.

– É exatamente o que eu disse. Você – apontou um dedo para o tibetano e, a seguir, para si mesmo – é meu!

O efeito daquela afirmativa não foi menor do que da primeira vez em que Mu a escutou. Ao contrário, as sensações conseguiram ser mais fortes. Quis amaldiçoar Aiolia e seu perfume por todo o frio estranho no estômago e a pulsação terrivelmente acelerada que sentia, mas não conseguiu. Apenas escondeu metade do rosto atrás do travesseiro, continuando a encarar o mais novo.

– Pelo menos – Aiolia acrescentou, coçando a nuca com um ar incomodado –, enquanto a gente estiver dando uns pegas, é só meu. Kanon não tem nada que ficar se esfregando.

– Você sabe que isso não é muito justo, não sabe? – Mu ressaltou, lembrando-se de que o leonino bem que ficava se esfregando em outras por aí em vez de ser só seu também.

– Ahn... Droga! Bem que o Kanon falou algo como direitos iguais, rituais iguais, ou sei lá...

Mu ficou curioso. O que o tinha acontecido depois que o geminiano partiu com Aiolia naquele dia?

– Nada! – o leonino rebateu rápido, remexendo-se desconfortável.

– Mas vocês foram ao Meikai, não? O Kanon te fez alguma coisa?

Aiolia voltou a morder o lábio e balançou a cabeça negativamente. Não soou muito convincente, deixando o ariano mais desconfiado:

– O Saga estava lá?

Pela primeira vez na vida, Mu vislumbrou, perplexo, o grego ficar quase roxo de tão vermelho.

– Nah, esquece os dois! – Aiolia protestou, tornando a bagunçar os cabelos. Começou a murmurar coisas desconexas: – Eles são muito, muito bizarros... Sem falar na parada com o Milo... Capaz que os ovários da Shina explodiram... – interrompeu-se ao se dar conta de que não dizia nada com nada. – Hmph!

Embora achasse tudo superestranho, Mu não o impediu de voltar rapidinho ao assunto original.

Bem, Aiolia justificou que nunca tinha se considerado injusto porque, em sua cabeça, se Mu não queria se envolver mais intimamente consigo nada o impedia de procurar alguma garota, para não ficar na seca somente à espera do ariano.

– Aí, eu não parei pra pensar o que você achava disso, se concordava e tal...

O tibetano ficou admirado. Pelo visto, Aiolia tinha mudado de atitude de novo. Restava saber se tinha sido para melhor.

– Pra ser sincero – Mu explicou –, não me sinto bem com a ideia de ficar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Não é meu estilo, e não faço e nem pretendo fazer isso. Então... – hesitou apreensivo. Por mais que há tempos pensasse que o melhor, para ambos, fosse acabar com aquela coisa entre eles, de repente lhe pareceu triste a perspectiva do fim, pois...

Então...?

Uma dor de cabeça estava ameaçando principiar, Mu percebeu, massageando os sinais que possuía na testa. Não sabia o que fazer. Por um lado, não gostava que Aiolia ficasse com outras pessoas, e, por outro, não podia aprofundar as coisas com um adolescen-...

Aw! – Mu exclamou assustado, ao ser arrancado de suas divagações por uma mordida dolorida na jugular. – Hey, achei que tínhamos combinado que você não deixaria mais marcas em meu pescoço...

– Você mereceu! – Aiolia afirmou com um olhar acusador. Estava apoiado sobre um dos joelhos, ainda no chão, mas com o tronco inclinado sobre o ariano. – Aposto que estava aí se enchendo de preocupações inúteis. Aff, eu só quero saber o que você acha.

Mu fez um beicinho emburrado. Como podia ser tão transparente para o outro?

– Ok, eu considero desagradável você ficar comigo e mais não sei quantas, mas-...

Mas porra nenhuma, pare de complicar! – Aiolia interrompeu arreliado, voltando a se sentar, de forma a se inclinar para trás apoiado nos cotovelos. – Vejo que estamos entrando naquela chatice de discutir a relação de novo! Se você não gosta, eu não farei e pronto. Simples.

Depois dessa, o ariano não teve como não ficar chocado. Nossa, era tão interessante assim para o mais novo querer ficar apenas consigo ainda que isso implicasse em permanecer sem relações mais íntimas?

– Lógico que é! – Aiolia assegurou entediado.

Mu era a pessoa mais atraente que conhecia! E o grego era justo o bastante para reconhecer que se pudesse ficar com outras pessoas, o mesmo valia para o ariano. Porém, Aiolia era muito possessivo. Mesmo que Mu não pretendesse fazer aquilo, a mera perspectiva de aparecerem malucos achando que podiam flertar com ele era irritante. Seria mais fácil e justo nenhum dos dois se envolver com mais ninguém enquanto estivessem saindo.

– Ah, e por que acha que vou ficar sem alguma coisa? – o leonino exibiu seu sorrisinho enviesado. – Só preciso me empenhar mais...

– Nem pensar, pode esquecer – asseverou Mu resoluto, sentando-se sobre os calcanhares e cruzando os braços. – Você não vai conseguir me convencer.

Percebeu que não foi algo muito sábio de se dizer ao notar os olhos claros de Aiolia chamejaram empolgadíssimos:

– Aceito seu desafio!

Quê?

– Não subestime minha determinação, Mu! – declarou com intensidade, levantando-se num pulo.

– Ora! Não subestime você a minha resistência!

Ficaram se encarando por um momento, em silêncio, como se medissem forças.

– Não subestimo – Aiolia reconheceu, rindo e dando de ombros. – Você é o maior cabeça-dura que conheço! – fez uma careta: – Aff, se ainda fosse donzelo eu entendia... – e foi se contemplar no espelho, resmungando qualquer coisa que pareceu ter a ver com Shura.

Sentindo-se esgotado, Mu resolver deixar passar o donzelo daquela vez. No entanto, compreendeu, sem surpresa real, que estava satisfeito com o novo arranjo. Alegre, na verdade. O que era um absurdo! Cada vez mais envolvido naquela situação enrolada e mal escondida. Os gêmeos sabiam; Shion e Dohko eram espertos o bastante para logo descobrirem sobre quem tinha falado; Máscara da Morte desconfiava antes de tudo começar...

E Aiolia se mostrava despreocupado, como de costume. Com certeza não devia estar considerando a possibilidade de fracassar. Sua autoconfiança era assim tão grande? Era orgulho que o motivava? Definitivamente, o leonino era seu enigma pessoal, Mu concluiu antes de se lembrar das palavras de Shion: a única resposta que precisava, para solucionar seus enigmas, estava consigo mesmo.

Pegou-se sorrindo sem um real motivo enquanto apenas observava o leonino admirar o próprio reflexo – distraído em se questionar, em voz alta, sobre o comprimento do próprio cabelo – e, apesar de não parecer o momento mais apropriado, Mu se pôs a refletir sobre o que Dohko também havia sugerido.

Quando começou a se relacionar com Shura, recordou, não tinha tantas preocupações. Não precisavam esconder o fato, embora tivessem demorado um pouco para contar aos amigos. Mas foi só porque ainda estavam se conhecendo direito e se entendendo, não porque era errado de várias formas. Mu se sentia normal ao lado do espanhol e não dominado por todas aquelas emoções tão atípicas. Por menos que Shura falasse, não ficavam apenas se pegando como loucos em todo canto, porque eram amigos acima de tudo. Inclusive, foi por isso que colocaram um fim no relacionamento e continuaram bem, não? Eram mais amigos do que tudo, não estavam...

Num gesto automático, Mu cobriu a boca com uma das mãos, abafando uma exclamação; os olhos muito abertos fixos no rapaz em seu quarto; o coração disparado em puro espanto por encontrar sua resposta: estava apaixonado.

Irremediavelmente...

Apaixonado por um adolescente. Como se fosse um adolescente. Algo que nunca tinha lhe acontecido, nem quando tinha a idade do outro. Agora, tinha certeza de que só podia ser isso. Explicava tudo ao mesmo tempo em que era um contrassenso.

– O que foi? – Aiolia perguntou com estranheza quando o ariano começou a rir do nada.

Mu ria, ria e ria ainda mais. Ria tanto que suas faces ficaram rosadas e seus olhos começaram a lacrimejar. Era tão engraçado, pensou, que parecia uma piada de mau gosto dos deuses. Tinham lhe deixado passar em segurança pela adolescência para se apaixonar tolamente já adulto e pela pessoa mais improvável.

Confuso, Aiolia voltou para o lado da cama, apesar de não saber o que fazer – em especial quando o tibetano parou de rir de súbito e passou a encará-lo com obstinação.

– Ahn... Mu?

Afastando as lágrimas dos olhos, Mu sorriu amplamente e chamou o rapaz com um dedo para mais perto. O leonino se sentou na cama e, como continuou a ser chamado daquela maneira, foi se aproximando até estar com o rosto quase encostado ao do outro. Quando sorriu de volta, Mu o beijou. Aiolia arqueou as sobrancelhas – ainda era raro o tibetano tomar a iniciativa –, mas correspondeu com todo vigor.

– Desculpa, você não deve ter entendido nada – Mu pediu ao terminar o beijo, sorrindo e pestanejando várias vezes para desprender as últimas lágrimas dos cílios. – Nossa, acho que foi minha catarse... – constatou distraído. Sentia-se tão leve! O peso do mundo parecia ter sido retirado de suas costas.

Cata–quem?

O tibetano meneou a cabeça, como quem diz deixa pra lá. É claro que sabia que as coisas só ficariam mais complexas, mas identificar qual era o problema trazia um alívio enorme. Conseguiria se entender e se reconhecer de novo, encontrando seu ponto de equilíbrio.

– Aiolia, você não gosta que eu complique, certo?

Imagina... Só quero te encher de porradas quando faz isso...

– Bem – Mu enrolou uma mecha do próprio cabelo entre os dedos, sem desviar o olhar –, já te ocorreu o quanto tudo se complicaria se eu começasse a gostar demais de você?

O leonino olhou para cima. Era evidente que nunca tinha lhe ocorrido nada desse tipo:

– Por que complicaria? – mordiscou o lóbulo da orelha do ariano, sibilando com malícia: – Acho que facilitaria, e muito, a minha empreitada, hehe...

No instante seguinte, Aiolia foi chutado para fora da cama sem a menor delicadeza.

Ouch! – exclamou, abraçando o próprio corpo, outra vez sentado no chão. – Caramba, quem te vê não diz que tem tanta força, hein?

– Hmph... – Mu bufou, voltando a se deitar para ficar no mesmo nível do olhar do outro. – Estou falando sério.

– Ihh, desencana... – o leonino se deitou no chão, cruzando as mãos sob a cabeça. – Se apaixonar por mim é o tipo de coisa impossível de acontecer...

– E se eu dissesse que é inevitável?

Continua...


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Notas finais do capítulo

E agora, Aiolia? '-'

Anyway... Mu citou "catarse" no sentido da psicanálise. Que, beeem resumidamente, significa o momento em que a pessoa traz à tona emoções/sentimentos reprimidos no inconsciente e consegue superar suas perturbações, sentindo-se aliviada.

Eu quero agradecer a G Rodrigues, Angel Ártemis, reneev, Suzuki_Yoi, katsu, Bruna Uzumaki, Suh, Kass, Juliabelas, Orphelin, Vanicleia Faucão dos Santos, Kiba-Ino, Leo Saint Girl e arizodiac pelas reviews inspiradoras s2 Ah, leitores-fantasmas são sempre recebidos com amor s2

Que tal esse capítulo? Ainda não acredito que minha fic-baby está tão crescida e chegando a uma conclusão... #EMOção