Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 24
Road to Acceptance


Notas iniciais do capítulo

Meu obrigada³³³ ao Orphelin, o carneiro-beta que revisou, melhorou e discutiu a fic sem reclamar, haha S2



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201794/chapter/24

Capítulo XXIV

Eu sempre perco meu tempo só imaginando
(Você sente o mesmo?)
Adolescência
Apenas não faz sentido algum
Parece que a minha vida toda eu tive essa necessidade
Podemos nos sacrificar até o ponto de uma mudança moral
Road To Acceptance - Green Day

Shion não quis ficar para saber o que aconteceria em sua casa. Não! Ele apenas atendeu a porta, assim que a campainha tocou – um segundo após Aiolia esbravejar uma pergunta para Shura –, e aproveitou para sair de fininho com Dohko. Logo, ele não chegou a ver que o espanhol não precisou responder nada de imediato ao leonino, já que a atenção deste se voltou para os recém-chegados, Milo e Afrodite, que foram logo se pendurando em um Aiolos para lá de distraído.

– Hey! – Aiolia protestou, avançando, de braços cruzados, até o trio.

– O que foi? Eu também senti falta dele, ué – Milo explicou, encostando a cabeça no ombro do sagitariano. Estava todo sorridente. – Como sou filho único, o Aiolos sempre foi como um irmão mais velho pra mim, você sabe.

Perdido em devaneios, Aiolos deu um sorriso vago e deslizou uma das mãos pela nuca do mais novo, fazendo carinho sem notar a expressão bem fechada que seu verdadeiro irmão carregava.

O escorpiano imediatamente estranhou a falta de entusiasmo do irmão postiço. Já tinha dito aquilo para Aiolos outras vezes e, como resposta, o mais velho sempre respondia com abraços apertados e superentusiasmados, dizendo o quanto Milo era fofo e tal. Estranho!

– Faço minhas as palavras dele – Afrodite concordou, piscando para o leonino e apertando o abraço em torno da cintura do sagitariano.

A expressão de Aiolia ficou ainda mais sombria. Fala sério! Problema deles se não tinham irmãos. Não tinham nada que ficar alugando o seu, naquele grude todo.

Um tanto hesitante, Mu resolveu interceder antes que rolasse uma discussão em sua casa. Tinha percebido claramente que os dois garotos estavam brincando com o leonino, mesmo que estivessem sendo sinceros quanto aos seus sentimentos pelo sagitariano. Assim, arriscou explicar isso para o garoto, aproveitando para verificar como o mesmo reagiria a sua aproximação, ou seja, de forma rude ou não.

Como já havia acontecido outras vezes, a voz suave do ariano, de timbre tão apaziguador, acabou distraindo o mais novo. Mu tinha esse poder sobre Aiolia.

– Eu sei... – o leonino resmungou, com um olhar enjoado para cima daqueles parasitas. Mas, mesmo sabendo daquilo, ele ainda não gostava daquelas brincadeiras. Aiolos era seu irmão! – Hey, Afrodite! Eu sei que o Milo tá tentando me aborrecer por vingança, já que a agulha escarlate dele continua na mesma...

– Cala essa boca! – o escorpiano interrompeu arreliado, largando Aiolos e apontando um dedo para o pior melhor amigo.

Agulha escarlate? – Kanon, curioso como era, intrometeu-se. Diante do gesto que o leonino fez com a mão, indicando algo minúsculo, acabou concluindo o seguinte: – Ah, pequenino e vermelho, Milóvski? Haha!

– Aff! Fica na sua aí também, Kanon. É uma diferença ínfima!

Enquanto Milo protestava e Kanon ria, Mu, Saga e Shura continuavam fitando Aiolos, que permanecia absorto e com Afrodite pendurado aos seus ombros. Aiolia não tardou a se voltar para o pisciano com sua expressão mais sombria. Como ia dizendo, Milo até tinha seus motivos tortos, mas e quanto ao sueco? Por qual razão estava se esfregando em seu irmão?

– Deixa de ser ciumento, Aiolia – replicou com pouco-caso. – Seu irmão já tem idade o suficiente pra conseguir se defender. Cuide dos seus próprios problemas – dito isto, Afrodite ergueu-se um pouco e estalou um selinho no canto dos lábios de Aiolos, soltando-o e partindo em seguida sem sequer olhar para trás.

Com exceção do sagitariano, que continuava perdido em algum universo paralelo, todos, por um momento, olharam em direção à porta e ficaram em silêncio.

– O que houve com o pequeno Dite-Winky? – Kanon perguntou de repente, voltando a si.

– Não sei. Ele tá esquisito faz um bom tempo já – Milo comentou, abandonando suas tentativas inúteis de enforcar o geminiano mais novo.

A observação fez com que Mu se lembrasse da última conversa que teve com Máscara da Morte, sendo impossível não tirar algumas conclusões a respeito do comportamento do sueco. Quando o seu olhar cruzou brevemente com o de Shura, teve a impressão de que as conclusões do deste também se voltavam para o italiano.

Por sua vez, o indignado Aiolia preferiu sacudir o irmão pela gola da blusa, querendo saber qual era o problema. Porém, Aiolos esboçou outro sorriso vago e disse que não era nada, que só estava cansado mesmo, tudo enquanto segurava aquelas mãos impacientes antes que acabasse tonto.

– Nada? Nada? – repetiu horrorizado ao notar algo totalmente atípico: – Você tá sem bandana!

Todos os olhares se voltaram, surpresos, para o sagitariano. Realmente, a coisa devia ser grave para o rapaz ter se esquecido da fiel bandana.

Aiolos deslizou os dedos pela própria testa, bagunçando a franja castanha-clara, parecendo igualmente surpreso com aquele fato. Tão surpreso que nem percebeu quando o irmão caçula se voltou novamente para o espanhol à procura de respostas para tudo aquilo. O que Shura havia feito?

– Nada – ele respondeu sem emoção, na mais absoluta calma que só alguém sem culpa poderia ficar.

Não que Aiolia tenha se convencido só com aquilo, não mesmo! Kanon também não pareceu muito convencido, resolvendo especular o próprio Aiolos sobre os fatos:

– Hmm, Ai-kun, você ficou de dar uma resposta ao Shuralicious, não foi?

A pergunta direta pareceu ter algum efeito sobre o sagitariano, que abandonou o vácuo e remexeu-se inquieto, começando a achar que era a falta da bendita bandana que estava afetando a sua atenção.

Aiolia tornou a se impacientar. O que o irmão tinha respondido? Sim? Não? Shura fizera alguma coisa? Ou o próprio Aiolos teria feito alguma coisa? As perguntas triplicaram quando Kanon resolveu continuar participando do interrogatório.

Até que, aparentemente, Shura cansou daquela agitação toda e os interrompeu com a voz seca:

– Ele me disse não. Satisfeitos?

Todos os olhares se voltaram, mais uma vez, para o espanhol – inclusive o de Aiolos. Esperavam que ele dissesse mais alguma coisa ou explicasse aquela história, mas Shura não tinha mais nada a dizer. Assim, os olhares foram parar, inconformados, em Aiolos.

– Sem ofensas, Ai-kun, mas não consigo imaginar alguém dizendo não a ele – Kanon apontou para o espanhol. – Não, ninguém diria isso. Precisaria de um grande motivo... – fez o favor de dizer aquilo que, de certa forma, era uma constatação óbvia para todos os que ali estavam presentes, sorrindo de lado e piscando para o sagitariano. – Por que você disse isso, hein?

Aiolos lançou um olhar emburrado para Shura, mas este o ignorou solenemente. Sacanagem! Do jeito que o capricorniano falara podia parecer que seu não tinha significado muita coisa quando, na verdade, não servira para nada, já que não soube justificá-lo direito. Até tinha tentado, mas não dera muito certo. O capricorniano rebatera cada um de seus argumentos, dos mais racionais e lógicos até os mais absurdos e inverossímeis, sem dificuldades.

Começou a enrolar alguma explicação aos amigos, divagando tanto que ninguém entendeu nada. Não sabia o que explicar, não conseguia encontrar os porquês. Quando tentava se lembrar da sequência de fatos, que ocorreu após a sua negativa naquela noite lá no campeonato...

Sua salvação veio na forma de Mu, que se aproximou e o puxou gentilmente pelo braço, para que o acompanhasse em silêncio até o jardim.

– Relaxa, Ai-chan! – Kanon sugeriu, ao notar a expressão desconfiada do garoto enquanto observava o irmão sumir casa afora com o tibetano. – Sailor Mu sempre resolve tudo.

Aiolia fez uma careta. Credo! O repertório de apelidos do geminiano estava ficando cada vez pior...

***

Aiolos caminhou pelo jardim tateando os bolsos, com uma das mãos, e bagunçando a franja, com a outra. Sua expressão indicava consternação.

– Não seja tão distraído – disse Mu com um sorriso afável, pegando a bandana vermelha que acabara de cair do bolso do amigo e estendendo a mesma para ele.

Com uma expressão claramente aliviada, o grego colocou o acessório dizendo que, enfim, conseguiria pensar com clareza.

Ainda sorrindo, Mu franziu um pouquinho o cenho diante das excentricidades do sagitariano. Depois, desculpou-se por se intrometer na vida dele, mas estava preocupado com ele e gostaria de entender o que estava acontecendo.

– E eu pergunto isso porque você sabe, tão bem quanto eu, que arrancar mais de duas ou três palavras do Shura é quase impossível. Gostaria de entender o que você sente em relação a ele, pois eu me sentiria mal se soubesse que o interesse dele por você é recíproco e que eu estou sendo algum tipo de obstáculo pra que fiquem juntos.

Aiolos encarou o amigo com aqueles olhos nem azuis e nem verdes por inteiro.

– Hmm, estou certo? É isso mesmo? – o ariano pareceu admirado, incapaz de não ficar boquiaberto com aquela possibilidade.

– Não! Eu... Não, não! – Aiolos hesitou um instante, procurando as palavras certas, mas só conseguiu se repetir: – É só que, ahn, não! – revirou os olhos para si mesmo e, bagunçando os cabelos, tentou organizar as ideias outra vez: – Olha, pra ser bem sincero, eu nem pensei muito afundo nessa história, sabe? Quer dizer, como eu poderia pensar em dar uma chance ao ex do meu melhor amigo? Ainda mais com a impressão de que fui o estopim pro fim da relação...

Mu olhou bem para o rosto do grego, reconhecendo cada um dos traços que este possuía em comum com o irmão. Sorriu ao notar que Aiolos bagunçava o próprio cabelo do mesmo jeito que Aiolia fazia em seus momentos de agitação.

– Entendo seu ponto, Aiolos, mas minha relação com o Shura teria terminado de qualquer forma. Nunca tivemos sentimentos profundos um pelo outro. Era uma amizade colorida, entende?

– Sim – replicou emburrado –, o Shura deixou isso claro pra mim também, só que com bem menos palavras...

– Vê? Não me afetará de modo algum se você quiser. Bem, não desde que você, que é meu melhor amigo, e o Shura, que é um amigo muito importante também, se entendam um com o outro.

– Tão altruísta... – Aiolos suspirou, dividido entre o alívio e a exasperação. Ainda sem saber o que pensar direito.

Mu sorriu alegremente. Estava sendo sincero. Duvidava muito que, bem no fundo de seu espírito pacificador, houvesse qualquer ínfima possibilidade de se perturbar com um relacionamento entre aqueles dois. Surpreendeu-se com a veracidade desse pensamento ao dar-se conta de que fazia um bom tempo que não pensava em Shura de alguma forma que fosse além da amizade... Porque, por mais perturbador que fosse admitir, era certo leonino arredio que andava ocupando seus pensamentos. Não de uma forma íntima, é claro! Mas ainda assim...

Melhor voltar ao que realmente interessava...

– Aiolos, se sua negativa foi rebatida pela lógica do Shura, o que aconteceu depois? Desculpa a indiscrição, mas é que você está tão distraído...

– Bem... – replicou baixinho, desviando o olhar. Flashes daquela última noite flutuando por sua mente. Uma das mãos de Shura deslizando por seu abdômen antes de empurrá-lo com firmeza para trás, de encontro a uma parede; a voz grave pairando sobre algum ponto entre seu pescoço e sua orelha, dizendo que precisava de um argumento melhor. – Ahn, acho que acabei recorrendo a uma bobagem...

E contou, meio por cima, sobre a vez em que bebera demais e teve a brilhante ideia de dizer a Shura que o conquistaria. Aí, pressionado como ficou, Aiolos acabou se lembrando disso e tratou de relembrar o capricorniano também.

Mu piscou confuso:

– Espera! Então, você disse ao Shura que ele não podia te conquistar porque vocês já tinham combinado que é você que o conquistará? – e acrescentou quando o outro assentiu incerto: – Você sabe que isso não faz sentido, não? Ou melhor, você já fez isso sem nem perceber, o que vai dar na mesma.

– Ah, Mu! Pelo menos assim eu ganho algum tempo. Ele disse que é difícil e tal – o grego respondeu, mais flashes deslizando por sua mente, como um em que as mãos de Shura apertavam seus quadris e a boca do mesmo se fechava em seu pescoço... – Ehrm... Foi o jeito! Sem isso, eu teria sido bolinado e encoxado, com fervor e sem remorsos, na última noite lá.

Mu não conseguiu evitar uma risada. Não duvidou, nem por um segundo, que aquilo realmente teria acontecido se dependesse de Shura.

– E você, hein? – Aiolos mudou bruscamente de assunto. – Andou bem estranho antes dos jogos e ainda resolveu ir ao Tibete do nada. O que há?

O ariano ponderou sobre sua resposta. A verdade era que precisara de um tempo para pensar, mas já estava tudo bem. E foi exatamente isso o que contou ao amigo, preferindo não entrar em detalhes, já que seus problemas aparentemente tinham se resolvido – e, sendo assim, não havia razão para preocupar Aiolos com aquela história toda.

O grego assentiu distraído e voltaram para a sala.

Aiolia já estava preparado para pular em cima do irmão e exigir mais explicações. No entanto, Aiolos assumiu o ar trágico de um herói incompreendido e antecipou-se, apertando o caçula entre os braços com toda a sua força, desculpando-se pela distração e dizendo o quanto tinha sentido falta dele. Tratou de puxar Milo para abraçá-lo também.

Aiolia remexeu-se apenas o suficiente para erguer o rosto e olhar para Mu. Tranquilizou-se quando o tibetano sorriu, balançando a cabeça levemente para indicar que estava tudo bem, que não havia motivos para mais preocupações.

***

Toda a sorte de preocupações, nos mais diferentes níveis, ocorreu pelas próximas semanas. Elas logo se tornaram meses e algumas mudanças significativas começaram a acontecer.

Por exemplo, mesmo ocupado com seus estudos vestibulares, Ikki enfim conseguiu se aproximar mais de Shaka. Precisou de muita paciência, a mesma que nem se lembrava de possuir. Foi bem difícil, mas, a partir do momento em que parou de tentar convencer o indiano sobre seus sentimentos com palavras e passou a apenas interagir com ele – como vinham fazendo desde a primeira ida ao Meikai –, o virginiano começou a sair da negação defensiva em que tinha se trancado.

Não que Shaka tivesse simplesmente acreditado na amizade despretensiosa de Ikki, de uma hora para outra. O fato é que quanto mais meditava sobre tudo, mais confuso ficava. As estrelas que tanto inspiravam Shion estavam mudas.

Talvez, o indiano ainda fosse muito novo para encontrar suas respostas – por Buda, ele mal tinha certeza das perguntas certas ainda! –, mas, de qualquer forma, era inevitável que se sentisse familiarizado com Ikki. Provavelmente porque, em certos aspectos, o oriental lembrava Aiolia, o tolo selvagem com o qual o loiro já tinha certa intimidade.

O que não significava que Shaka gostasse ou pudesse se lembrar de como a droga da intimidade entre eles começara. Perdia a paciência quando os dois leoninos começavam a discutir por sua causa. Como se Aiolia se importasse! Com certeza não tinha nada melhor para fazer além de importuná-lo.

E em meio às discussões de sempre, conforme a presença de Ikki em sua vida passou a ser maior, Shaka acabou se distanciando um pouco de Mu sem perceber. Esqueceu um pouco de como se sentia em relação ao ariano desde que parara de procurar Aiolia para aquelas sessões absurdas de criar intimidade.

O mais estranho era que, quando tentava pensar sobre isso, o loiro tinha a impressão de que sentia mais falta daqueles momentos estúpidos com o grego do que dos momentos em que estudava em silêncio com Mu. Tal constatação o fazia ficar azedo e ir atrás de Aiolia a fim de criticá-lo com toda a arrogância que possuía.

Porque aí eles discutiriam.

O indiano discutia com Ikki também, quando qualquer conversa sobre estudos e profissões dava lugar a silêncios estranhos em que eles não tinham mais nada a dizer ou fazer além de ficarem olhando um para o outro. Silêncios constrangedores!

Para Shaka, viver em discussão com aqueles dois leoninos era algo familiar, embora desgastante, e que o deixava no controle das situações. Discutir era seguro.

***

Por sua vez, Milo saiu da situação segura e conhecida em que estava com Shina. Aquele rolo que nunca virou namoro, mas sempre foi fechado entre eles. Ambos concordaram que não chegariam a lugar algum daquele jeito. Pelo contrário, só se impediriam de encontrar alguém por quem teriam sentimentos verdadeiramente românticos. Assim, resolveram expandir os horizontes e manter uma relação aberta.

Se ver daquele jeito foi meio estranho para Milo. Não que ele tenha demorado a se adaptar à nova condição. Não levou muito tempo para ele começar a desbravar cada uma das possibilidades desconhecidas que apareciam em seu universo. Foi bem fácil até. Já estava acostumado a flertar com qualquer garota que julgasse interessante sem, de fato, se importar. Afinal, era mais uma forma de competir com Aiolia em alguma coisa.

Porém, o escorpiano logo percebeu que por mais garotas que seu sorriso sexy atraísse, ele não conseguia se interessar muito. Eram garotas lindas e sempre animadas em beijá-lo, tocá-lo e deixarem-no tocá-las sem qualquer hesitação. Mas...

Milo começou a duvidar de si mesmo. Quando percebeu que se agarrar com alguma garota que mal conhecia não era tão divertido quanto implicar com Camus, passou a achar que havia algo muito, mais muito errado consigo.

Conseguiu a amizade do aquariano de volta e fez seu melhor durante todas aquelas semanas para que as coisas voltassem a ser como sempre haviam sido. Só que estava faltando alguma coisa. E isso era inadmissível, uma vez que tinha dito ao ruivo que queria tudo de volta.

***

Tudo era um conceito distante para Marin. Como seria ter tudo daquele grego bobo de quem tanto gostava? Não só seu corpo e sua voz grave, naqueles irresistíveis momentos íntimos que partilhavam, mas seus pensamentos, seu coração e sua alma também.

Há tempos, ela sabia que não era para ser. Aiolia gostava dela apenas como uma grande amiga. Não poderiam ser mais do que isso. Mas, mesmo assim, seu coração ainda tinha esperanças.

E isso não estava certo. Não fazia bem nem para ela e nem para ele. Ah, aquele bobo adorável não gostava de magoá-la!

Ela até percebia o distanciamento dele, para não machucá-la mais. Porém, ele continuava sendo apenas um rapazinho dominado pelos hormônios, como tantos outros adolescentes. Insensível quando deixava de pensar com a cabeça de cima. E ela queria morrer quando achava que era arrependimento aquilo que cintilava nos olhos claros dele ao fim dos momentos em que passavam juntos.

Não era, preferia acreditar que não. Ele até podia não ficar particularmente satisfeito, com a sensação de que a estava usando, mas nunca conseguiria se arrepender daqueles momentos excelentes. Ela também queria, afinal.

Eles não conversavam muito sobre essas coisas. Uma pena que gostasse tanto assim dele. Do contrário, se a coisa toda fosse simplesmente física, eles até poderiam tentar uma relação aberta como a que Milo e Shina resolveram manter. Mas... não, não dava!

Já era bem doloroso quando ele deixava que aquela atrevida da Tethys o abraçasse, entre um jogo e outro. Por que aquela loira não procurava alguém da idade dela ou até mais velho? Garotas de dezessete anos não costumavam se interessar por garotos de quinze, certo?

As semanas foram passando e até mesmo Shina começou a notar que aquela situação já estava absurda. Quando empurrou a ruiva para os braços do leonino – com muita dor em seu coração fujoshi, pois preferia ter empurrado Milo para cima dele –, foi porque achou que ajudaria a dissipar aquela tensão sexual toda da amiga. Achou que faria bem à Marin dar uma provadinha para não passar o resto da vida na vontade, na indecisão e tal.

Como dizia um velho ditado, era melhor se arrepender daquilo que foi feito do que daquilo que se deixou de fazer. Contudo, Shina não esperava que a amiga fosse se apegar tanto. Era para a realidade tê-la atingido, mostrando que aquilo era tudo o que poderia haver entre eles. Pelo jeito, não havia adiantado e o tiro tinha saído pela culatra.

Aiolia era um vício! Provar dele uma única vez havia sido o bastante para causar dependência. Tenso! Assim, buscando reunir a pouca delicadeza que havia em sua natureza geralmente ríspida, Shina tentou alertar a amiga sobre o problema que ela estava arranjando para si mesma.

Outro ponto importante: Shina começou a ficar inconformada com a forma como Afrodite andava falando com a ruiva, porque chegava a ser cruel. Ele, que dera seu apoio para que a pisciana aproveitasse o que pudesse do grego, também já parecia ter perdido a paciência com o apego todo da garota.

Só que, apesar do inconformismo da italiana, a própria Marin não se incomodava muito. Sabia que podia parecer crueldade – e, nossa, como doía! – mas acreditava que Afrodite só dizia aquelas coisas para o bem dela. Era preocupação, ele só não sabia se expressar direito e tudo o mais.

Shina a encarava com descrença diante de tamanha demonstração de ingenuidade. Tentou, a certa altura, especular qual era a intenção do pisciano com aquela abordagem tão insensível. Se Marin já estava tão chateada, por que diabos Afrodite ainda a tratava daquele jeito? Se o sueco não queria colaborar, que não piorasse a situação.

– Diga o que quiser, mas se faço isso é porque sei que apenas as pessoas fortes sobrevivem à dor – Afrodite respondeu sem pestanejar. – Ela precisa ser mais realista, abrir os olhos e enxergar a verdade, nua e crua como ela é.

***

Cada vez mais, Afrodite estava se tornando uma pessoa incompreensível. Tudo bem que ele sempre havia sido um garoto mais distante e difícil de definir, mas já estava ficando demais.

Ele era lindo como as rosas que tanto apreciava e possuía tantos espinhos quanto. Venenosos, ainda por cima. Estava se transformando em um mestre da arte do sarcasmo amargo e dos olhares escarnecedores. Descarregando uma polidez vingativa sobre pessoas fracas, como Marin lhe parecia. Afrodite não gostava de fraqueza, pois não havia beleza nenhuma nela.

Shina passou a desconfiar de que o que quer que fosse que o pisciano mantinha com o tal de Máscara da Morte não o estava fazendo bem.

Marin e Mu concordariam com a italiana. E Shura também, ainda mais depois que o primo passou a aparecer com cada vez mais marcas roxas e arranhões pelas costas e pelo tórax, resmungando que ardiam, mas não parecendo de fato incomodado por tê-las.

– Ele seria um soldado e tanto – Máscara da Morte comentou satisfeito, num dia qualquer, bêbado e quase adormecido sobre o ombro do primo. – Não daquele tipo tolo e heroico, mas daqueles que são máquinas de guerra e que sentem prazer na destruição.

Shura sabia que havia um como eu implícito naquelas palavras. E não parecia certo nem justo que Afrodite, tendo apenas dezesseis anos, fosse interpretado daquela forma. Havia algo de concreto entre eles?

– Desejo! – o italiano exclamou com uma gargalhada.

Qualquer outro sentimento era desnecessário e incômodo. E o pisciano parecia ser o único a entender. Por isso, inclusive, Máscara da Morte sempre acabava dispensando as mulheres atraentes e vulgares que arranjava por alguns momentos, preferindo a beleza andrógina e ferina de Afrodite. Mesmo sabendo que o fedelho o mataria se pudesse...

Ele não podia, mas descontava por meio daquele jeito agressivo.

Todavia, se brincar com o ego do fedelho era algo bastante perigoso, o italiano sabia que envolver-se mais profundamente com ele, então, com certeza seria algo bem pior.

Aparentemente, Afrodite pensava do mesmo jeito sobre o ex-soldado.

***

E em meio a tantas coisas naqueles dias adolescentes, uma imagem ficaria gravada na mente de Aiolia pelo resto de sua vida. Ele jamais se esqueceria de como, certo dia, viu Mu.

Era uma criatura etérea caminhando sob a claridade do sol, o que fazia com que sua pele de alabastro e seus longos cabelos claros reluzissem enquanto o vento espalhava as mechas ao redor de seu rosto. Inutilmente, Mu insistia em afastar os cabelos para trás do ombro ou ajeitá-los atrás da orelha, sorrindo para si mesmo; os olhos passando rapidamente por tons de violeta e azul, conforme o ariano se movia sob a luz, até chegarem num verde fascinante...

Isto, depois que o ariano parou bem na frente de seu observador, seu rosto tornando-se levemente róseo diante daquela observação fixa do outro sobre si.

Que máximo! Qual era o mito em que Mu aparecia? Ou tal mito ainda precisaria ser criado?

– O que foi? – o tibetano perguntou curioso, percebendo o olhar de admiração de Aiolia, mas não se atrevendo a levá-lo a sério.

O mais novo pestanejou, desconcertado com o rumo tragicômico que seus pensamentos estavam querendo tomar, e sorriu piscando um olho azulado:

– Nada! Ou melhor, estava pensando que também quero ter cabelos longos pra sensualizar ao vento, atrair olhares e excitar os outros, haha!

Mu arregalou um pouquinho os olhos, resistindo ao impulso de deslizá-los pelo corpo atlético do leonino no intuito de verificar se aquela afirmação se aplicava a ele mesmo. Não! Era claro que não. Um absurdo até! Não achava que Aiolia precisava ter cabelos longos para conseguir fazer aquelas coisas. Ele já era bem atraente e tudo o mais sem isso.

E quanto mais os dias, as semanas e, até mesmo, os meses passavam, mais Mu começava a acreditar que Aiolia sempre seria seu enigma pessoal.

O tibetano não compreendia o motivo, mas, mesmo que tivesse deixado grande parte das grosserias, das explosões geniosas e da insolência de lado e estivesse realmente se dedicando a ser um bom amigo, o garoto continuava andando por aí com aquele ar despreocupado e devasso. Tão maravilhosamente enigmático que era impossível ignorar.

Como é que Máscara da Morte chamava mesmo? Hormônios em ebulição...

Será que o garoto tinha a mínima noção do efeito que causava?

Uma vez, Aiolia foi até a universidade a fim de buscar o irmão para irem a algum lugar. Enquanto o sagitariano não aparecia, Mu ficou conversando com o garoto em uma das cantinas, impressionado com aquele apetite infinito de atleta que levava o leonino a comer um monte de coisas sem parar. Estavam sentados, falando qualquer coisa sobre cursos, quando ambos se sobressaltaram com a aparição repentina de Pandora.

– Aiolos! – exclamou ela, abraçando o leonino por trás, os braços ao redor dos ombros dele com firmeza.

Aiolia não conseguiu responder, visivelmente paralisado ao ganhar um beijo bem perto da boca enquanto sentia o busto macio dela pressionado contra suas costas.

Sobrou para Mu a tarefa de desfazer a confusão da moça:

– Pandora, esse aí é o Aiolia – disse com a voz mais seca do que pretendia. Sentiu-se inconformado porque, em sua opinião, por mais que fossem parecidíssimos, os irmãos não eram tão idênticos a ponto de alguém se confundir daquele jeito.

A ginasta pestanejou, afrouxando o abraço e se afastando o suficiente para olhar direito para o garoto, sem chegar a soltá-lo. Aiolia sorriu para ela e, realmente, os traços daquele rosto eram mais infantis e o sorriso mais debochado do que o de Aiolos.

Ela emitiu um oh!, soltando-o de vez. Reparou, quando ele se levantou, que era mais baixo do que Aiolos, embora fosse mais alto do que ela. Nossa, lembrava-se dele um tanto mais novo, quando mal alcançava seu ombro! Inclusive, teve que se inclinar para dar um selinho nele na época. Se quisesse beijá-lo agora, por outro lado, ela teria que ficar nas pontas dos pés.

– É mesmo? – Aiolia especulou, num tom orgulhoso que fez o ariano querer revirar os olhos, encostando o ombro ao dela. Estava um palmo mais alto. Até mais do que isso, já que ela estava usando sapatos de salto alto.

Pandora levantou o rosto para ele, os olhares se cruzando, o que causou uma leve sensação de tontura nela. Eram os mesmos olhos verdes maculados de azul, joviais e intrigantes, de Aiolos. Até aí, tudo bem...

O problema foi quando o leonino sorriu de lado e ela reconheceu o mesmo sorriso meio libertino e meio perigoso típico de Kanon. Encontrar alguém assim, que mesclava características daqueles dois, chegava a ser perturbador.

E instigante! Espera, risque isso.

Pandora meneou a cabeça de leve, espalhando os cabelos escuros, e voltou seu olhar para Mu. Sentiu o rosto enrubescer com a impressão de que ele sabia perfeitamente bem o que se passava na mente dela. Sabia e compreendia. Essa noção a espantou e ela deu um passo para trás, buscando se afastar do mais novo, mas segurando-se nele quando os saltos altos oscilaram sem motivo aparente.

Mu balançou a cabeça negativamente, assistindo a moça se afastar com um aceno desajeitado. Quase, enfatize bem, sentiu pena dela. Era estranho ver que até mesmo uma jovem mulher decidida, como Pandora era, sentia-se afetada pelo magnetismo de Aiolia.

Contudo, não seria justo culpá-la por isso. Para o ariano era quase reconfortante saber que ele não era a única pessoa de vinte e poucos anos a ser atingida pelos encantos do leonino.

Aiolia sorria bobamente quando voltou a se sentar, ainda ostentando a marca do batom no rosto. Caramba! Pandora era sua grande musa da pré-adolescência, inspiradora de sonhos interessantíssimos e que ainda lhe ocorriam de vez em quando. Sempre parecera impossível que pudesse ter alguma chance com ela, mas, de repente, nem tanto assim.

– O que você acha, Mu? – perguntou com uma piscadinha marota, encostando e esfregando um joelho inocente no joelho do outro.

– Não sei – replicou com leve indiferença, afastando sutilmente a perna por precaução. Depois olhou para os lados, na esperança de que o sagitariano aparecesse logo. – Lembre-se do quanto ela é... obstinada. Conseguiria suportar?

– Ah é, tem isso – o grego resmungou, limpando o rosto e fazendo careta. – Sabe quem ia se dar bem com ela? – continuou após alguns segundos, voltando a encostar o joelho no do ariano para chamar a atenção deste. – Meu instrutor de bateria. Não sei como não pensei nisso antes, ela faz bem o tipo do Rada...

Aiolos chegou nessa hora e Mu não teve certeza se ficou aliviado ou frustrado quando o garoto quebrou o contato de vez.

***

Em outra ocasião, lá na casa dos tibetanos, Aiolia se pegou olhando para o mais novo deles através de um objeto não identificado que este estava mexendo com muita concentração. Incrível! Não sabia que Mu construía e consertava coisas.

– Não é algo tão notável assim – o ariano replicou, modesto, correspondendo brevemente ao olhar do outro com um sorriso mínimo desenhado nos lábios.

– Como não? Eu mesmo só sei quebrar e destruir as coisas. Deve ser bem legal saber consertar tudo depois.

O mais velho assentiu levemente, observando a expressão compenetrada do grego – quase indignada – enquanto observava o objeto sendo remontado. Mu teria dado mais atenção àquelas palavras se soubesse que ainda se lembraria delas em algum momento, ponderando sobre o quanto Aiolia tinha sido sincero sem nem ao menos saber as proporções que suas palavras distraídas assumiriam eventualmente.

E, então, chegou o dia em que Aiolia completou abençoados, ou não, dezesseis anos. Fez a maior festa em sua própria casa e com todos os tipos de convidados possíveis.

No entanto, a certa altura do evento, quando a noite já tingira o céu, ele subiu para o quarto atrás de alguma coisa e demorou a voltar. Foi quando Aiolos incumbiu Mu da tarefa de trazê-lo de volta para a comemoração, visto que o próprio sagitariano não conseguia dar atenção para tantas pessoas sozinho.

O tibetano subiu as escadas que davam acesso aos quartos e, para a sua surpresa, não demorou a encontrar Aiolia em meio a uma bagunça absurda. Não que fosse a primeira vez que entrava lá. Ainda assim, surpreendia-se com o fato de o quarto ainda não ter expulsado o dono para fora, tamanho era o caos dentro.

Havia pôsteres de bandas de rock, de mulheres sensuais e de animes cobrindo todas as paredes; roupas e tênis espalhados pelo chão junto com baquetas quebradas; a cama revirada com uma guitarra em cima; algumas pilhas de livros acadêmicos debaixo da cama; e, até mesmo, um famoso leão de pelúcia perto da janela.

– Não zoa o Simba! – o grego avisou ao notar os olhos de Mu sobre o bichinho. – Sei que já sou um homem feito pra ter essas coisas, mas... – lançou um olhar furtivo para o leãozinho. – Toda vez que tento me livrar dele, meu Gollum interior grita my precious! e aí eu continuo com ele...

O ariano não teve como não rir depois daquela. Queria apertar as bochechas do mais novo, que parecia adoravelmente emburrado por ser motivo de risos. Sorriu, levantando as mãos como se pedisse paz, só olhando enquanto Aiolia – mantendo um bico enorme –, revirava um monte de objetos em um canto, procurando sabe-se lá o quê.

De repente, algo ocorreu ao leonino, que, na maior cara-de-pau, perguntou se Mu não tinha comprado nada para ele.

– Sim! Mas parece que houve certo atraso na entrega... – respondeu, perdendo-se em pensamentos sobre compras pela internet. Devia ter se prevenido e comprado mais cedo.

– Hmm... – murmurou o outro todo pensativo. Crente ou não, sobre a desculpa do ariano, passou a fitá-lo com certo interesse. – Você sabe que é muita falta de atenção fazer algo assim, não sabe? Ainda mais num dia tão importante como hoje. Seria um sinal de que você não se importa comigo?

– Mas... – Mu não soube o que responder, de imediato, um tanto desconcertado pelo rumo que a conversa tinha tomado. Nessas horas, recordava-se do porquê de Aiolia e Aiolos serem irmãos, além da semelhança física: possuíam a mesma veia trágica para o drama.

– Bem! – o leonino começou, como se tivesse descoberto a solução para aquele problema. – Como prova de que você realmente se importa comigo... E enquanto eu espero o presente chegar... Ehrm... – por um minuto, pareceu bem duvidoso acerca da sua própria ideia. – Que tal um beijo então? – sugeriu meio incerto, abandonando a bagunça do seu quarto para voltar-se na direção do mais velho, que havia parado em frente à janela.

Mu só olhou para ele, confusão estampada com clareza em seu rosto. Lembrou-se de que o mais novo parecia sempre um tanto inclinado a flertar consigo quando bebia, mesmo depois de ficarem mais próximos como amigos. Voltando a tranquilizar-se, chegou à conclusão óbvia de que Aiolia já tinha bebido muito. Sim, só podia ser!

– Um pouquinho, quem sabe... – o grego replicou, fechando os olhos e batendo o dedo indicador na própria bochecha.

O tibetano fez uma expressão inconformada diante daquela prepotência toda, mas resolveu ceder ao pedido do aniversariante. Suavemente, pressionou os lábios no rosto macio do mais novo. No mesmo instante, porém, sentiu a cintura ser envolvida por uma das mãos do leonino. Ofegou quando o outro virou o rosto e eles quase roçaram seus lábios.

Mu sentiu aquele frio espalhar-se por seu estômago, a mente desnorteada diante daquela atitude que, no fundo, não o surpreendia. O que realmente o surpreendia era constatar que viera esperando por aquele momento, por mais que se negasse a aceitar isso.

Quando Aiolia soprou algumas palavras sobre seus lábios entreabertos, ele não conseguiu decifrar os significados. No entanto, a proximidade fez com que notasse a falta de vestígio de álcool no hálito doce do garoto. Ele estava sóbrio... e divinamente tentador.

Os esforços para não ceder aos próprios pensamentos sobre tocá-lo estavam prestes a deixar Mu doente. Pelos céus! Ele definharia se continuasse resistindo a toda aquela tentação.

Diante da óbvia paralisação do tibetano, Aiolia esboçou um sorrisinho enviesado, semicerrando levemente os olhos claros e aproximando, só um pouquinho mais, a boca da do outro. Repetiu as mesmas palavras de antes e, para isso, quase encostou os seus lábios nos de Mu.

O ariano balbuciou alguma incoerência, fechando os olhos e umedecendo o lábio inferior por puro reflexo. Nunca saberia o que Aiolia havia dito. Desconfiava de que era algo que também não fazia sentido, mas não se importava. Porque quando o leonino enfim capturou seus lábios daquele jeito impaciente, forte e exigente já conhecido, todo o resto deixou de existir. Parecia tão certo. Era uma sensação reconfortante, como chuva num dia muito quente de verão, ou como voltar para casa depois de um dia exaustivo de trabalho.

Sem consciência do que o resto de seu corpo fazia, Mu apoiou as mãos no tórax do mais novo. Incertas entre empurrá-lo, sem muita convicção, ou envolvê-lo de vez, com muito interesse.

Antes que pudesse se decidir, Aiolia o segurou pelos pulsos e o puxou para si até não haver mais distância alguma entre eles, fazendo com que os braços do ariano o envolvessem na altura da cintura. Assim que Mu automaticamente apertou as mãos nas laterais de seu corpo, o leonino o soltou e passou os próprios braços ao redor do corpo dele, pressionando-o ainda mais contra o seu.

Aiolia continuou incitando o ariano a acompanhar os movimentos de sua língua impaciente, alternando os beijos com algumas mordiscadas naqueles lábios rosados e roubando os suspiros que escapavam por entre eles com animação. Deslizou as mãos ao longo das costas do tibetano, uma subindo até parar na nuca e puxar aqueles cabelos longos; a outra descendo até a barra da camisa para adentrá-la e sentir a pele quente e macia das costas do outro.

A essa altura, Mu já havia abandonado o último resquício de bom senso que poderia salvá-lo.

Imaginou que se cedesse ao menos uma vez à tentação, sua alma se acalmaria – algo próximo daquilo que Shina pretendia para Marin. Perceberia que não era nada extraordinário, nada que valesse os problemas que viriam juntos, isto é, caso insistisse em se sentir atraído pelo garoto.

Ele tinha abençoados dezesseis anos e era só um beijo. Sabia, ou ao menos imaginava, que as coisas acabariam voltando ao normal. Pensava que Aiolia também veria que não tinha nada de exótico em querer ficar com um cara mais velho. Acabaria se desculpando, aquela mesma história outra vez, eles fingiriam que nada aconteceu e tentariam ser amigos de novo, certo?

Naquele momento, preso entre os braços de Aiolia, no calor dos beijos dele, Mu não tinha mesmo outra escolha a não ser acreditar naquilo. Ele pensaria melhor nas consequências mais tarde. Por hora, nunca se sentira tão certo sobre o que queria.

Assim, mesmo ainda não ousando tocá-lo direito, não hesitou em subir os dedos com toda a gentileza pela coluna do grego até alcançar as omoplatas deste, arranhando-o muito levemente ao fazer o caminho inverso até a cintura outra vez, sentindo que o mais novo se arrepiava no processo.

Não se constrangeu quando os lábios ansiosos percorreram sua mandíbula, fazendo com que inclinasse o pescoço para o lado, a fim de sentir melhor a pressão das lambidas e mordidas que o leonino passou a dar em sua jugular.

Mu poderia ter ficado naquela situação pelo resto da noite. Entretanto, quando menos de cinco minutos se passaram, desde que tudo efetivamente começou, as mãos do mais novo o empurraram abruptamente para trás, quebrando todos os toques, sem qualquer consideração. Aiolia tinha se afastado como um felino arisco.

O que seria daquela vez?

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E é isso, Mu, você bem que tentou resistir por vários capítulos, mas agora já era e... -q

Certo, o tempo não avançou muuuito, mas foi o suficiente por hora. Vamos ver no que vai dar... que tal esse capítulo de número cabalístico? -q s2

E um beijo nos queridos reneev, Hannah Kiss, Bruna Uzumaki, Orphelin, Ana Rodrigues, Kiba-Ino, katsu, Suzuki_Yoi, JulieKannagi (por MP), Lord Art e Svanhild (pelo Facebook) pelas reviews lindas S2

PS. Postei uma "side" com os irmãos Ai-Ai outro dia, porque não há nada como Aiolos divo e Aiolia emburrado S2

PS2. Os capítulos andam muito grandes? oo