Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 21
Circumstances


Notas iniciais do capítulo

Orphelin, obrigada pela revisão/trevisão/etc... -q S2 E beijos aos queridos que me mandaram mensagens cobrando a atualização S2



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Capítulo XXI

Às vezes, na confusão,
Eu me senti tão perdido e desiludido
Quanto mais as coisas mudam,
Mais elas ficam as mesmas
Circumstances - Rush

Por um instante, Milo arregalou os olhos muito azuis e forçou uma risada curta. Ajuda? Camus estava lhe oferecendo ajuda para se decidir? E decidir sobre quê exatamente? No fundo, tinha a sensação de que sabia muito bem do que o ruivo estava falando, mas... era tão complexo. Se soubesse que a vida seria assim, não teria ficado tão ansioso para deixar seus brinquedos de lado e crescer.

O francês fitou com uma expressão tão ilegível que o escorpiano caiu em si:

– Eu não sei... – murmurou, bagunçando os cachos dourados ao coçar a nuca repentinamente, parecendo muito espantado com sua própria confusão.

Não sabia mesmo. Era incrível como não sabia de mais nada. Não sabia se podia ser quem seus pais esperavam que fosse. Não sabia se podia ser quem seus amigos esperavam que fosse. Não sabia se podia ser quem ele mesmo esperava que fosse. Nem mesmo sabia se importava. Tudo o que sabia era que tinha só quinze anos... e muitas dúvidas.

O próprio Camus era uma grande dúvida.

Concluiu que deveria ter bebido. Sério! Estar sóbrio, naquele momento, não estava ajudando. O álcool poderia ser a grande desculpa para qualquer bobagem que dissesse ou fizesse...

– Pare com isso – disse o aquariano com veemência.

Automaticamente, como se tivesse sido esbofeteado de surpresa, Milo deu um passo para trás. Pronto! Percebeu, ao sentir-se acuado, que teria de fazer alguma bobagem estando sóbrio mesmo, uma vez que Camus não estava facilitando. Pelo contrário, estava claramente decidido a resolver alguma coisa sobre a qual o próprio grego nem tinha pleno conhecimento do que era, ou do que significava para si.

Mas, ao que tudo indicava, os deuses estavam ao seu lado finalmente, pois acabou sendo salvo da tortura psicológica do aquariano por fortes e longos braços, que envolveram seus ombros, e uma voz acusadora:

– Milo-chan, você está atrasado! Aposto que esqueceu, não é?

– Kanon? – perguntou o francês enquanto o escorpiano ainda parecia muito espantado para se manifestar.

– Oh, hey, Camus das Neves! – cumprimentou alegremente, fazendo uma expressão preocupada em seguida: – Atrapalhei alguma coisa?

Camus relanceou um olhar para Milo e, num gesto sucinto, deu de ombros. Percebeu que o grego mais novo ainda estava com muitas dúvidas e, também, que se sentia desconfortável em aceitar qualquer tipo de ajuda. Por isso, cerrou os olhos e virou-se para partir com um aceno, já que não ganharia nada – além de uma bela dor de cabeça – se insistisse naquele assunto com o outro.

Quando o francês sumiu de vista, Kanon finalmente soltou o garoto loiro do seu abraço e começou a rir, ou melhor, a gargalhar. Achava impressionante a capacidade que os adolescentes tinham de transformar tudo numa grande e assombrosa tempestade, colocando-se em confusões à toa.

– O que quer dizer? – Milo reclamou, cruzando os braços e olhando com desconfiança para o mais velho.

Kanon arqueou uma sobrancelha e, sarcástico como era, repetiu ao escorpiano as mesmas palavras que havia dito a Aiolia uma vez: a vida é muito curta para ser desperdiçada com tantos sentimentos negativos e moralismos exacerbados.

– Hmm... – fez o mais novo, desviando o olhar para o lado. Estava claro que havia muita coisa subentendida naquela frase e ele, sinceramente, não queria pensar em nada àquela altura da noite. – Bem, valeu por, sabe, aparecer...

O geminiano sorriu de forma que lembrava um grande predador. Apoiou uma das mãos sob o queixo e ficou a analisar o garoto mais jovem, tal como se este fosse uma obra de arte abstrusa.

– Acho que posso dar a você uma dica ou outra que seja útil, Milóvski... – e acrescentou mais para si mesmo, pensando alto: – Se conseguir controlar seu gênio difícil melhor do que o Ai-baby, vai ser perfeito...

Milo pestanejou confuso, mas igualmente curioso. Sempre quis saber o que tanto o leonino fazia com Kanon, porém, acabava ressentido com as respostas evasivas que recebia do outro ao questioná-lo a esse respeito. Logo, para Milo, Aiolia não estava agindo de acordo com o que se espera de um bom melhor amigo, mesmo que fosse um pior melhor amigo e tal.

Contudo, antes que o escorpiano obtivesse alguma resposta acerca daquele assunto, eles foram interrompidos por um Saga bastante aborrecido, que logo foi dizendo ao gêmeo:

– Você ainda será preso por isso, Kanon.

– Mas nós estamos apenas conversando. Eu nem toquei nele, irmãozinho – defendeu-se da aparente insinuação como se o próprio Milo não estivesse ali.

Saga revirou os olhos claros e passou a massagear as têmporas. Sua cabeça doía mais a cada instante.

– E quem disse que é sobre isso que estou falando? Eu sei que você não tocou nele, não no sentido que pensou... – respirou fundo, intensificando a massagem. – Eu falava sobre estar levando essa garotada completamente confusa e fortemente influenciável para o mau caminho.

O sorriso de Kanon ampliou-se. O mal não era só um ponto de vista?

– Não estou entendendo mais nada – Milo reclamou, fazendo bico. – Quem vai me explicar?

Estranhamente, Saga começou a gargalhar – daquela forma vilanesca que Aiolia achava o máximo – e puxou o garoto para si pela cintura. Explicaria tudo o que ele quisesse e...

Nã-nã-não, Saga-boy! – Kanon interrompeu, puxando Milo de volta, ou seja, para longe do gêmeo. – Você já quase traumatizou o Ai-chan, pode deixar que eu tomo conta desse aqui sozinho.

Enquanto isso, Milo tecia reclamações e protestos, embora ninguém prestasse atenção. Sentia-se preso num fogo cruzado. Será que Aiolia tinha passado por aquilo?

***

Bem, Aiolia certamente estava passando por uma situação bastante complicada. Tudo graças à combinação dele mesmo com o álcool. Ah, como Mu era irritante! Tão irritante com aqueles lábios rosados e macios que ele não conseguia parar de beijar.

Não que tivesse tentado parar. Não mesmo! Tinha uma das mãos nas costas do ariano e a outra em seu rosto pálido, mantendo-o preso em seus braços. Tinha que confessar: queria fazer aquilo desde que tivera a ideia naquela noite longínqua, ali no próprio Meikai, em que Aldebaran os interrompera sem saber. Odiava enfiar uma coisa na cabeça e ser impedido de realizá-la, mesmo que fosse uma coisa sem noção resultada de muito álcool nas veias.

Era para ser só um selinho, forte e rápido, para calar o outro. Porém, os lábios de Mu eram mesmo muito macios. Estavam doces por causa dos cocktails, tornando impossível resistir à tentação de deslizar a língua por eles e prová-los melhor. E foi isso que Aiolia fez, ignorando o visível choque inicial do mais velho.

A princípio, Mu arregalara os olhos perante o ataque surpresa. Seus pensamentos estavam embaralhados. Precisava empurrar o atrevido, era errado e... aquela língua incitando seus lábios a abrirem... mas não podia porque...

A puxada em seus cabelos, bem na nuca, foi o fim. Um arrepio correu por sua espinha e Mu não pôde se impedir de fechar os olhos, entreabrindo os lábios e permitindo que fossem imediatamente explorados. Não foi lento de forma alguma. Aiolia não sabia ser suave. Seu beijo já começou intenso e exigente.

Era ótimo, mas uma parte mínima do cérebro de Mu, que parecia ainda estar sóbria, tratou de trazê-lo de volta à realidade, que o atingiu como um raio. Estava beijando um garoto de apenas quinze anos. Um belo garoto, sim, e muito atraente, que o prendia num forte abraço como se fosse gente grande... mas que, ainda assim, era pouco mais do que uma criança.

Espalmou as mãos nos ombros do grego e o empurrou para trás, quebrando o contato. Aiolia piscou aturdido enquanto o tibetano se levantava rapidamente, puxando o ar com força pela boca para recuperar o fôlego, as faces extremamente coradas.

O leonino também se levantou – claramente descontente com a atitude do outro –, com ganas de empurrar o mais velho contra uma árvore e dar continuidade ao que estavam fazendo.

– Você... – Mu começou, afastando os cabelos do rosto, torcendo-os entre as mãos nervosamente. – Ehrm... É alguma aposta? Igual... daquela outra vez?

– Hmm... – o leonino mordeu o lábio inferior, vermelho como uma cereja, e inclinou a cabeça para o lado, considerando a pergunta. – Se te fizer sentir melhor...

Mu sorriu sem esperança, escondendo o rosto entre as mãos. O álcool evaporando-se de seu corpo em uma velocidade impressionante. Céus! Em que lugar estava com a cabeça? Deixar-se envolver por um garoto, praticamente uma criança...

Aff! – Aiolia apertou os punhos, arreliado, praticamente cuspindo as palavras: – Criança?!

E Mu soube que estava tudo, tudo muito errado.

***

Aiolos só soube que tinha algo de errado quando acordou, no dia seguinte, de uma forma estranha: sentindo a mão de alguém apertar seu traseiro com notável apreciação. Cobriu o rosto com uma almofada que tinha sob o braço, antes que a claridade do dia o perturbasse, e resmungou:

– Me deixa dormir... – aparentemente, tal situação não era estranha o bastante para arrancá-lo do mundo dos sonhos.

– Como quiser... – respondeu ironicamente uma voz com sotaque italiano, mas a mão permaneceu firme no lugar.

– Máscara da Morte! – o grego reconheceu, ainda sem se dispor a abrir os olhos. – Por que você está pegando na minha bunda?

– Cai fora! – e essa foi a voz de Shura, que veio acompanhada de um som de baque, indicando que ele empurrara o primo contra alguma coisa.

Aiolos afastou a almofada do rosto. Pronto, tinha perdido o sono! Abriu um olho verde-azulado e notou os dois primos em pé e atrás do sofá, encarando-se. Máscara da Morte sorria, cínico, por mais que o olhar de Shura para cima dele não fosse nada amistoso.

O sagitariano fechou os olhos, tentando juntar fragmentos de memória que explicassem a razão de estar ali... até ouvir um som de surpresa que, para acordá-lo de vez, veio da garganta do espanhol.

Surpreender Shura era difícil. Surpreendê-lo o bastante para que demonstrasse, então... isso era praticamente impossível.

Num pulo, Aiolos sentou-se no sofá e encarou os dois com os olhos arregalados. Estavam se beijando. Ou melhor, Máscara da Morte puxara o primo para si, pelo colarinho da camisa, e pressionava os lábios sobre os dele com força. Não durou mais do que alguns segundos. O italiano logo foi empurrado para trás e ficou rindo enquanto Shura o encarava com um olhar assassino.

Aiolia teria rido da expressão do irmão mais velho se estivesse lá, observando suas reações. O sagitariano parecia tão confuso, suas sobrancelhas arqueando e franzindo; seus lábios se entreabrindo e crispando; seu cérebro parecia incapaz de decidir se era hora de uma expressão dramática ou de uma séria.

Shura voltou-se para o grego, porém, antes que pudesse falar alguma coisa que nem mesmo ele sabia o que seria, foi atingido por uma almofada.

– É assim que você gosta de mim? – fora vencido por sua veia dramática. – Se esfregando em outro na minha frente? – insistiu, ajoelhado no sofá, apertando o encosto com as mãos.

O capricorniano o encarou com ainda mais surpresa, tentando formular alguma frase. Impossível. Começou a sorrir... e precisou se desviar de outra almofada.

– Diz que gosta de mim, mas continua saindo com o Mu, que eu sei, e agora isso! – Aiolos colocou a mão na testa de forma teatral. – Vejo as dimensões do seu amor e... Afrodite! – exclamou, finalmente percebendo que o garoto também estava por ali, só que sentado de frente para a janela e com um ar distante e silencioso. – Como você aguenta isso? – apontou para o italiano, que ainda ria de forma malcriada.

Afrodite pestanejou como se acordasse de um devaneio. Lançou um olhar curioso para o grego, outro confuso para o espanhol e um terrivelmente sombrio para o italiano, mas não disse nada. Deu de ombros e voltou a olhar através da janela para o céu acinzentado lá fora.

Aiolos revirou os olhos e deixou o corpo escorregar, deitando-se novamente no sofá. Sentia que estava esquecendo alguma coisa, mas só conseguia resmungar sobre o quanto era difícil ser ele mesmo.

– Pelo menos você não está de ressaca – Shura comentou, inclinando-se sobre o encosto do sofá para cutucar a bochecha do amigo.

– O que houve dessa vez?

Enquanto o capricorniano resumia a noite de uma forma monossilábica usual, Máscara da Morte aproveitou para arrastar Afrodite para fora de casa. Tinha coisas muito mais interessantes pra fazer do que assistir à lerdeza daqueles dois.

– E o meu irmão? – Aiolos lembrou, já pulando para fora do sofá e tateando os bolsos em busca do celular, todo preocupado.

– Na sua casa – replicou devidamente informado, pois sabia que o grego não sossegaria até descobrir o paradeiro do caçula e, ainda, se ele estava em segurança.

Conhecendo-o bem, o espanhol precisava estar preparado para a grande probabilidade de o amigo resolver sair intempestivamente pelas ruas atrás do irmão, querendo enforcar algum dos gêmeos, como era de praxe.

Aiolos ficou claramente aliviado, mas fez questão de ligar para Aiolia de qualquer jeito. Shura afastou-se enquanto os irmãos conversavam pelo telefone, preferindo ocupar o lugar em que outrora Afrodite estivera: na janela. O céu estava carregado de nuvens cor de chumbo e começava a garoar, mas ele abriu o vidro mesmo assim e acendeu um cigarro sem se preocupar.

E aquela era uma das atitudes que mais inquietavam Mu durante o tempo em que estiveram juntos: o costume do espanhol de se trancar em seus pensamentos e questionamentos, passando a estar alheio a tudo e a todos por um longo período.

No entanto, daquela vez levou só o tempo de acabar um cigarro. Quando foi pegar outro, Shura percebeu que Aiolos estava ao seu lado, observando a chuva com uma expressão tranquila. Só isso... mas foi o suficiente para que perdesse o interesse em qualquer pensamento, complexo ou não, que estivesse deslizando por sua mente capricorniana.

Acendeu um novo cigarro e assentiu distraído quando o grego disse que estava mesmo tudo bem com o irmão caçula. Ia dizer que o rapaz se preocupava demais, ou algo do tipo, mas antes que pudesse tirar o cigarro – que continuava preso entre os seus lábios – para falar, Aiolos fez isso por ele. Assim, na maior naturalidade, o sagitariano simplesmente ergueu uma das mãos e afanou o cigarro.

Mais tarde, quando parasse para relembrar, Shura concluiria que não foi um movimento muito ágil. Os dedos do grego envolveram o cigarro quase, quase tocando os seus lábios, num gesto aparentemente calculado, mas não perto o suficiente. Só o fantasma de um toque.

Na hora, entretanto, Shura não teve tempo de se frustrar. Aiolos encarou o cigarro com interesse, umedeceu o lábio inferior e deu uma tragada, imitando perfeitamente bem o jeito displicente como o capricorniano fazia.

O sagitariano não fumava, mas o espanhol não o repreendeu ou questionou, enlevado como estava ao observar o outro rapaz soprar a fumaça com os lábios avermelhados. Perguntou-se se Aiolos sabia o quanto estava atraente e tentador daquele jeito, mesmo com os cabelos despenteados e a pele estranhamente pálida sob a luminosidade fraca daquela tarde chuvosa.

– Fiquei curioso porque o cheiro é bom – o grego explicou, consciente da esquisitice de seu ato, mas alheio ao momento de fascinação que causava sem perceber. – Deixou um gosto meio adocicado – constatou como se falasse sozinho, deslizando a ponta da língua pelo lábio inferior. – Mas continua horrível, como qualquer cigarro que se preze – completou, franzindo o cenho em desgosto e estendendo o cigarro de volta para o outro.

Definitivamente, Aiolos não servia para fumar. Estava franzindo as sobrancelhas e pestanejando por causa da fumaça. E, mesmo assim, Shura teve ganas de puxá-lo para tirar o gosto ruim do cigarro dos lábios dele com os seus. Seria só o começo, é claro! O caminho para aliviar toda a tensão que estava se acumulando em seu corpo, desde o instante em que notara a presença do grego ao seu lado na janela, seria bem longo.

Encarou Aiolos com intensidade e segurou a mão deste – a mesma que ainda carregava o cigarro entre os dedos – com a sua, aproximando o rosto dela. Deslizou a língua rapidamente pelo lábio inferior e pegou o que restava do cigarro com a boca, sem desviar o olhar. Em seguida, apenas soltou a mão do grego e arqueou uma sobrancelha escura para o mesmo.

– Ahn... Não me olhe desse jeito – o sagitariano reclamou desconcertado, desferindo um soco leve no ombro do espanhol. – Eu me sinto um esquisito... – explicou, afastando-se rumo à cozinha sem esperar por demais comentários. Aproveitou a intimidade que a amizade conferia para dizer: – Estou com fome! Tem comida nessa casa?

Shura estreitou os olhos, um sorriso muito discreto surgindo em seus lábios.

***

Segunda-feira era um dia horrível por natureza. E aquela estava ainda pior que de costume, Shina pensou com seus botões, apoiando-se preguiçosamente sobre a carteira e olhando ao redor. Milo havia faltado, impedindo-a de divertir-se com um de seus passatempos preferidos: pentelhá-lo.

Camus estava ainda mais concentrado do que de costume nas aulas, não dava nem ânimo de falar com ele. Afrodite parecia meio apático e dormira a maior parte das aulas. Shaka e Marin aparentavam total falta de concentração, ambos, durante o tempo todo, lançando olhares para cima de Aiolia; os do loiro eram sinistros e os da ruiva eram aflitos.

Não era preciso conhecer o leonino muito bem para saber que este estava fervilhando ali. Uma das pernas não parava de se agitar com impaciência; já quebrara uma caneta e dois lápis; os lábios estavam inchados e extremamente vermelhos de tanto que os mordia... E, para piorar, Shina podia jurar que ele estava rosnando sem parar.

– Você tá me deixando agoniada assim... – ela reclamou baixinho, virando-se para trás. Encolheu-se e virou-se rapidamente para frente ao ser fulminada pelo olhar do grego.

– Foi mal... – ele sibilou alguns momentos depois, respirando fundo e tocando nos ombros dela.

Shina assentiu, impedindo-se de comentar algo quando Aiolia continuou a agitar a perna daquele jeito terrível. Milo fazia tanta falta! Se estivesse ali, já teria distraído o leonino ou, ao menos, feito com que ele desembuchasse qual era o bendito problema.

Ao longo das aulas, Aiolia começou a sossegar. Tanto que passou a parecer aéreo e confuso, isolando-se dos amigos na hora do intervalo. Queria um tempo sozinho consigo mesmo. Só que, infelizmente, aquele não era o seu dia.

Shaka não tardou a aparecer, com sua pose superior de sempre e seus olhares esmagadores. Sem a menor noção de perigo. Aliás, noção ele até tinha, o que faltava era medo mesmo.

– Agora não, loiro azedo.

– Por que as coisas têm que ser quando você quer? – o indiano o encarou com desdém, afastando os cabelos para trás. – Por incrível que pareça, o mundo não gira ao seu redor, ainda não percebeu isso?

– Há controvérsias... – Aiolia replicou entredentes, louco por uma briga. Contudo, sabia que o loiro não era do tipo que caía na porrada e ele mesmo estava com preguiça de ficar trocando patadas. – O que você quer pra me deixar em paz, hein?

Shaka revirou os olhos. O grego era idiota ou tinha problemas de memória mesmo?

– Quero saber o que você tinha na cabeça para cometer uma ousadia como aquela...

Aiolia pestanejou sem entender.

– Meikai... – resmungou, cruzando os braços. Olhava o outro de cima, já que se encontrava em pé enquanto o leonino jazia sentado em uma mureta. – Beijo roubado! – exclamou alto, percebendo a lerdeza do grego em compreender a mensagem.

Aiolia mal abrira a boca para dizer ah, isso! quando foi bruscamente interrompido por um Ikki surgido do nada:

– Como assim beijo roubado? – perguntou, assustando os outros dois.

– De que inferno você saiu? – Aiolia quis saber antes de ser interrompido outra vez.

– Quem você pensa que é para ficar espiando a conversa alheia, criatura? – indagou Shaka com a voz carregada de desprezo.

O recém-chegado não se deu ao trabalho de responder.

– Fica de boa, Shaka – o grego interveio, levantando-se em seguida. – Ikki é um amigo, ele não...

– Pouco me importa – o virginiano cortou sem remorsos. – Eu já perguntei o que quero saber e exijo explicações.

– Caramba! Não foi você quem pediu ajuda?

Os dois começaram a discutir, para variar. Esqueceram-se totalmente da presença de Ikki, que ficou a assisti-los em silêncio. Ao menos, até Shaka querer saber desde quando ser beijado à força era sinônimo de ajuda.

– O quê? O Aiolia te beijou à força? – Ikki intrometeu-se novamente, incapaz de se conter, olhando feio para o outro leonino.

O indiano fitou aquele insolente com indignação. Por que ele continuava ali?

– Como você se atreveu, Aiolia?

– Ah, sei lá! Eu estava bêbado, Ikki...

A indignação de Shaka cresceu ao notar que aqueles dois seres obtusos e geniosos começaram uma nova discussão ali. Pior, que trataram de ignorá-lo totalmente quando era ele mesmo o assunto. Já ia interrompê-los quando Ikki apontou-lhe um dedo de forma rude, questionando-o:

– E você... Por que deixou ele fazer isso?

A irritação de Aiolia começou a voltar em escalas maiores. Que saco! Só queria ficar sozinho e ninguém o deixava quieto!

Parou! – exclamou em voz alta, chamando a atenção para si. – Fica quieto na sua aí, Ikki! – ordenou, não fazendo questão de saber os motivos para o rapaz estar tão incomodado com aquela história. – E, Shaka... – encarou o loiro de forma sombria, apertando os punhos com força. – Você combinaria perfeitamente com o Mu mesmo, já que os dois são complicados demais, aff!

– Por que diz isso do Mu? – o indiano quis saber, ainda indignado, mas um tanto intrigado agora que o nome do ariano tinha sido mencionado.

Por um instante, Aiolia apenas abriu e fechou a boca, os olhos meio arregalados. No instante seguinte, explodiu de vez:

– Não importa! Quero que ele e vocês se danem!

Ikki e Shaka observaram o grego se afastar todo fumegante, com passos pesados, e depois se entreolharam. Deram de ombros. Aiolia furioso não era nenhuma novidade. As coisas eram, quase sempre, do mesmo jeito: ele explodia para extravasar toda a ira contida e, depois de algum tempo, ficava sossegado.

De qualquer forma, o virginiano não deixaria aquela história inacabada. Aiolia lhe devia satisfações e teria de dá-las, mais cedo ou mais tarde. Como se não bastasse isso, outro problema havia surgido e Shaka, sem perceber, estava prostrado ao lado dele, ainda aborrecido com a saída furtiva do grego de cena.

– E você, mal-educado, não tem vergonha de ficar ouvindo a conversa dos outros?

O rapaz apoiou as mãos atrás da cabeça com descaso:

– Engraçado, sabe? Não pareceu me achar mal-educado quando, tempos atrás, segurei todo o seu cabelo enquanto você colocava as tripas pra fora depois de ter bebido demais.

Fechando os olhos, Shaka apertou os lábios com força, desgostoso com a lembrança daquela noite infame. Nem ao menos tinha pedido ajuda! Ikki o ajudou porque quis e ponto final. Porém, como já estava cansado de tantas discussões, apenas perguntou secamente:

– Mas, afinal, o que você quer comigo? Imagino que não esteja procurando a minha gratidão pela sua ajuda. Afinal, se bem lembro, eu cheguei a agradecer na mesma ocasião.

– Tsc... – fez Ikki, olhando ao redor. Não tinha ninguém por perto, o grego escolhera o canto mais afastado e vazio possível para se isolar. Mas que sorte, pensou, uma ideia despontando em sua mente. – Já que com você não adianta dialogar, loiro arrogante, o jeito é partir pra ação mesmo, que nem o Aiolia fez...

– Como as-...?

E, para a grande estupefação de Shaka, Ikki simplesmente o puxou pelos ombros, encostou perigosamente seus rostos e roubou um beijo.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Vish, Shaka devia abrir uma barraquinha do beijo... #todasquer

Obrigada pelas reviews: HoneyShi, Bruna Uzumaki, chuva gótica, Eyme Uchiha, Leo Saint Girl, mangalove, katsu, Orphelin, ddkcarolina e Ethernal Saint 23... S2

Obrigada pra quem comentou na minha oneshot Aiolia x Mu (e #ficaadica pra quem não viu 8D)

Que tal esse capítulo?