Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 13
It's Just A Thought


Notas iniciais do capítulo

Orphelin, meu carneiro-beta, obrigada pela revisão e tudo o mais em plena madrugada... S2



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Capítulo XIII

É apenas um pensamento
Mas eu tenho notado algo estranho,
Ficando mais difícil de explicar
It's Just A Thought - Creedence Clearwater Revival

Enquanto dirigia, Shura só conseguia se perguntar por qual motivo tinha resolvido seguir Aiolos, quando este saíra correndo desesperado de sua casa e reclamando que Aiolia estava em perigo. Sério, era um exagero! No entanto, sabia que se não o levasse, o sagitariano acabaria sendo atropelado por atravessar as ruas correndo, tamanha era sua agitação.

– Eu protegi meu pequeno e adorável irmãozinho desde que ele nasceu, quando eu só tinha quase sete anos, – Aiolos estava resmungando sem parar, agitado no banco do passageiro – e, no exato momento, ele está nas garras daquele pervertido!

– Apesar de ser como é, eu não creio que Kanon abusaria de seu irmão, ainda mais estando embriagado – Shura ponderou racionalmente. – Eles são amigos. Vocês são amigos.

– Kanon? – repetiu com estranheza. – Eu estou preocupado é com o Saga!

O espanhol arqueou uma sobrancelha. Desde quando Saga era motivo de preocupação? O mais provável era que este tivesse cuidado do leonino.

Aiolos balançou a cabeça diante da inocência do amigo. O espanhol dizia aquilo porque não sabia que o gêmeo mais velho tinha certo probleminha que o tornava um tremendo de um pervertido, para dizer o mínimo. Mas o sagitariano sabia muito bem! Afinal, quase tinha sido vítima dele uma vez...

– Do que está falando? – Shura perguntou muito sério, estacionando em frente à casa dos gêmeos sem, no entanto, permitir que o outro saísse do carro.

Dando-se conta de que tinha falado demais, o grego suspirou e resolveu contar tudo. Basicamente, num dia qualquer em que estavam no Meikai, Saga, fora de sua personalidade normal, tinha lhe agarrado e lhe dado uma bela de uma prensada.

– E como eu estava bêbado, demorei pra conseguir escapar. Ele chegou a me dar uns beijos e tal... – Aiolos explicou desconfortável. – Depois, o Kanon apareceu e me explicou, meio que por cima, o problema do Saga, sumindo com o irmão logo em seguida.

– O Saga te agarrou? – Shura indagou surpreso, encarando o outro friamente.

– Ahn, mas foi só essa vez! – replicou, encolhendo-se instintivamente contra a porta. – O Kanon até disse que o Saga estava melhorando, só que nunca se sabe, né? Na dúvida, estou preocupado com a integridade psicológica e, principalmente, física do meu irmão.

Sem pensar direito no que fazia, o capricorniano segurou o braço de Aiolos, apertando-o com mais força conforme perguntava o motivo para o grego não ter lhe contado aquela história na época.

– Justamente pra você não me olhar dessa forma assassina que está fazendo agora. Pra alguém tão centrado, seu sangue esquenta bem rapidinho – Aiolos comentou, encarando a mão que continuava agarrada ao seu braço. – Sério, o Saga apronta pra cima de mim e você quer me matar, Shura? Tem coisa errada aí, hein...

– Eu não – murmurou indignado, soltando o braço do outro.

– Às vezes, você se preocupa demais comigo, sabia? – o grego perguntou com bom humor. – É por isso que o Mu acaba atormentado daquele jeito, viu?

– É que você... – Shura semicerrou os olhos e levou um dedo ao rosto do sagitariano, traçando o caminho de uma lágrima, de baixo para cima, até afastar-lhe a franja dos olhos.

– Eu...? – incentivou com curiosidade, sentindo-se vagamente inquieto quando o espanhol umedeceu o lábio inferior daquele jeito típico dele.

Os segundos pareceram passar devagar, como horas, até que Shura simplesmente o soltou, balançou a cabeça – indicando que não era nada – e saiu do carro. Piscando confuso, Aiolos o seguiu, mas, assim que avistou a casa dos gêmeos, sua exasperação voltou e ele correu até a porta, esmurrando-a.

Shura ainda estava aborrecido demais, frente àquela história que o grego lhe contara, para poder descrever com precisão os fatos que se sucederam depois que a porta se abriu. Sabia que Aiolos tinha agarrado Kanon pelo colarinho e começado a ralhar com este, confundindo-o com Saga; consequentemente, o gêmeo mais novo tinha dito alguma indecência sobre gostar de selvageria e o sagitariano tinha pulado para longe dele, escondendo-se atrás do espanhol.

Então, Aiolia tinha aparecido, confuso e despenteado, e Aiolos praticamente voou até ele, rondando-o para checar se ele não tinha nada fora do lugar. O leonino tinha reclamado que o irmão parecia uma galinha preocupada com o pintinho e isso, como era de se esperar, desencadeou uma cena dramática digna de novela.

– Irmãozinho ingrato! – o sagitariano exclamou, como se seu coração estivesse se partindo, mas isso era efeito da ressaca. – Eu cuidei tanto de você pra isso? Oh, a sina dos irmãos mais velhos! Mas tudo bem, não importa o que aconteça, meu amor por você não irá mudar! – e soluçou, fingindo limpar uma lágrima imaginária.

Foi aí que Saga resolveu dar o ar de sua graça, dando início a um momento que, depois, Kanon definiu como caos, pânico e desespero. A essa altura, os vizinhos já estavam começando a aparecer nas portas de suas casas, curiosos com aquela algazarra.

O geminiano mais novo estava se divertindo, assistindo a tudo sem interferir. Aiolia, por sua vez, não conseguia apartar o irmão de Saga sozinho. Assim, finalmente Shura resolveu se manifestar, incomodado com o fato de Aiolos estar pendurado no pescoço do gêmeo mais velho, muito embora este estivesse sendo esganado enquanto o sagitariano o enchia de perguntas sobre tudo o que tinha acontecido.

– Chega, Aiolos, vamos embora – o espanhol sugeriu com firmeza, passando um braço sobre o tórax do outro a fim de puxá-lo para trás. – Seu irmão está ótimo e imaculado, não há motivo pra você continuar surtado – dizendo isso, foi saindo e arrastando o amigo, acenando com a cabeça para que Aiolia os acompanhasse.

Quando os três saíram, Kanon virou-se para o irmão com um sorriso alegre:

– Aiolos de ressaca é uma coisinha rabugenta e adorável, não acha?

Saga o encarou. Aqueles certamente não eram os adjetivos mais apropriados. Pelo menos, o sagitariano não tinha visto o hematoma em sua garganta, pensou, vagamente consciente de que Kanon tinha se aproximado e estava massageando-lhe o pescoço com suavidade.

– Imagina se o Aiolos soubesse que o irmãozinho dele te atacou e você sequer revidou, graças a mim, hein?

***

Aiolia estava pensando na mesma coisa, constrangido. Sentado no banco de trás do carro, observava Shura mandar Aiolos desfazer o beicinho emburrado – inutilmente, pois este apenas fez um bico ainda maior.

No caminho para casa, o sagitariano pediu para o espanhol deixá-lo na casa de Mu. Sentia-se na obrigação de ver como estava Milo, uma vez que este tinha ficado sob a sua responsabilidade.

– Ir à casa do Mu? – Aiolia perguntou apreensivo.

– Sim, o Milo ainda está lá... – o irmão replicou com o humor bem melhor, fitando-o com curiosidade. – O que foi?

O leonino balançou a cabeça negativamente, como se dissesse que nenhum. Shura os deixou onde o grego mais velho pediu e foi embora, preferindo não entrar. Não achava que o tibetano fosse querer vê-lo ainda.

Foi um momento tenso quando Mu abriu a porta e deu de cara com Aiolos, igualmente ressabiado. Quando deu espaço para que o amigo entrasse, o ariano ficou ainda mais tenso ao ver que Aiolia estava ali também, logo atrás do irmão.

Mu tinha tentado imaginar qual seria a reação do leonino quando se reencontrassem depois da noite no Meikai, mas não demorou a perceber que era impossível. Ou melhor, que Aiolia era imprevisível.

Ele podia tanto ser agressivo, como fazia quando era mais novo e ficava irritado com alguma coisa que o tibetano tivesse, supostamente, feito; como podia simplesmente ignorar a situação, como tinha feito após dar aquele selinho em Mu há uns três anos; ou, ainda, Aiolia podia pedir desculpas, embora a probabilidade fosse mínima, uma vez que ele era muito orgulhoso.

Todas as hipóteses eram pensadas supondo, é claro, que o garoto se lembrasse do que tinha feito. Com sorte, ele não se lembraria de nada! E foi justamente o que Mu achou, considerando a forma normal como Aiolia o cumprimentou, sorrindo e perguntando sobre o paradeiro de Milo.

– Ele está no meu quarto, pois estava se sentindo mal. O deixei lá descansando – informou, respirando aliviado ao observar Aiolia ir atrás do amigo sem lançar nenhum olhar estranho para si. Bom, pelo jeito o garoto não se lembrava de nada mesmo.

Só que Mu não fazia ideia de que estava totalmente enganado.

***

Após checar que Milo estava bem e dar uma bela bronca tanto neste quanto no irmão, por terem exagerado na bebida, Aiolos decidiu ir embora. Sentia que estava chateando Mu com sua presença, pois o tibetano não tinha se mostrado muito disposto a conversar ainda.

– Bem, estou um bagaço – declarou, despedindo-se de ambos, ao perceber que o irmão havia resolvido ficar um pouco mais para conversar com Milo. – Vou pra casa, onde posso morrer...

– ...

Assim que ele se foi, Aiolia fechou a porta e praticamente pulou sobre o escorpiano, perguntando debochado:

– Quer dizer que você e o Camus passaram a noite rolando sobre a relva como duas doninhas safadas, Flor do Campo?

Mas é claro que não, seu imbecil! – replicou irritado, dando um tabefe na cabeça do outro por causa da forma como foi chamado.

Aw! Ah! Já sei! O Camus desanimou depois que comprovou como seu pinto é pequeno!

Milo mandou que o leonino fizesse algo impublicável.

– Você é a porra do meu melhor amigo! – reclamou indignado. – Que tal se comportar como tal?

– Mas esse posto significa justamente que eu tenho todo o direito de te zoar, Milo! Aliás – acrescentou possessivamente –, eu acho que sou o único que deveria poder fazer isso, hein...

– ...

De repente, Aiolia franziu o cenho e perdeu o ar debochado. Ele sabia que tal posto também significava que ele seria sempre o primeiro a se importar com Milo. Só que ele não sabia ser gentil e polido como Aldebaran, quando queria ajudar, de forma que simplesmente deu um tapinha nas costas do escorpiano e ordenou:

– Desembucha de uma vez qual é o problema, cara.

Escondendo o rosto entre as mãos, Milo balançou a cabeça e ficou em silêncio por um momento. Em seguida, virou-se para o amigo e começou a sacudi-lo pelos ombros:

– Acho que eu estou ficando meio gay! Se é que isso é possível... Eu sou gay, Aiolia?

O leonino o fitou com uma expressão confusa. Como é que ia saber? Considerando a infância deles, ele diria que o escorpiano até que demonstrava certas tendências quando tinha pegado aquele costume de ficar lhe dando selinhos o tempo todo.

– Você diz que nem sabia o que estava fazendo, mas não sei não, hein... Estou começando a achar que, na verdade, eu fui seu primeiro amor, Milo! – exclamou, com uma expressão arrebatada de triunfo nos olhos, voltando ao ar debochado.

O queixo de Milo caiu e ele piscou consecutivas vezes, em plena surpresa, seu rosto tornando-se avermelhado.

É claro que não! – exclamou horrorizado, numa voz alta que fez doer sua própria cabeça. Ele resmungou, massageando as têmporas, e insistiu num sussurro: – Nunca!

– Por quê? Não sou bom o bastante pra você? – Aiolia estalou a língua como uma criança brava e perguntou com frieza: – O Camus é melhor do que eu?

O escorpiano rolou os olhos. Conhecia o leonino desde que estavam nas barrigas de suas mães, ou seja, tinha toda a certeza de que o outro estava enciumado. Afinal, Aiolia era um maníaco totalmente possessivo. Será que um dia ele chegaria num estado tão crítico que teriam que sacrificá-lo para o próprio bem?

– Enfim... – o leonino começou, voltando ao assunto com seriedade. – Vamos analisar o seu caso, ok?

Milo assentiu, sem apostar nada naquela conversa. Sim, ele respondeu, garotas ainda o atraíam. Continuava muito interessado em Shina e queria sim levá-la para a cama. Não, ele não costumava reparar muito em homens, geralmente.

– Hmm, você não acha caras atraentes?

O silêncio pensativo do loiro durou tanto tempo que Aiolia se levantou da cama e foi olhar o pôr-do-sol pela janela. Talvez ajudasse o amigo, caso se afastasse um pouco para que este pensasse com mais clareza sobre os fatos. Não reparou nos olhares furtivos que Milo lhe lançou.

É, observando o rosto de Aiolia levemente inclinado na direção da janela, seus cabelos castanho-claros brilhando avermelhados – por causa da luz do sol se pondo – e balançando suavemente quando uma rajada de vento espreguiçou-se sobre ele, Milo tinha que admitir que o achava atraente.

Aí, ele reparou na camiseta do Iron Maiden que o leonino usava e fechou a cara, porque a falta de mangas permitia-lhe vislumbrar os contornos já definidos dos braços do outro e... Que absurdo! Tinha que tomar alguma providência antes que parecesse um franguinho perto de Aiolia! Sabia muito bem que a tendência era o corpo do leonino se tornar tão interessante quanto o de Aiolos e... Ah, merda!

– Que cara é essa, Milo? – perguntou de repente, seus olhos muito esverdeados cintilando em confusão.

– Nada! – bufou irritado. – Eu... Bem, acho que alguns caras me atraem sim...

Aiolia se aproximou e, de novo, deu-lhe tapinhas nas costas, cumprimentando-o por ser bissexual e poder pegar tanto a Shina quanto o Camus tranquilamente, se quisesse. Ou será que o francês estava naquele mesmo mar de confusão que o escorpiano?

– Não sei... – Milo resmungou amuado. – Eu tentei falar com ele antes que fosse embora, mas não sabia o que dizer. Tipo, nós demos uns pegas ontem, podemos fingir que nada aconteceu e continuarmos amigos? soaria estúpido, né? Eu nem tenho certeza se ele se lembra. Daí, diante da minha incapacidade verbal, o Camus disse que estava tudo bem, daquele jeito apático dele, e se mandou! Poxa, não quero que nossa amizade acabe por algo assim.

– Se ele disse que tá tudo bem, então tá tudo bem, não é?

Milo coçou o queixo e olhou para cima, pensativo. Achava que sim, mas, ao mesmo tempo, tinha uma leve sensação de que não seria bem assim...

E ele estava certo.

***

Durante a semana seguinte, Marin foi a primeira a notar como os amigos estavam diferentes, comportando-se de uma forma meio estranha. Ela imaginava que as mudanças se deviam aos acontecimentos no Meikai, sejam lá quais fossem eles. Sendo a única que não tinha ingerido nada alcoólico, ela, às vezes, se perguntava se estaria diferente também caso tivesse bebido. Porque a bebedeira devia ser a única explicação para tudo aquilo, certo?

A primeira mudança que reparou foi na forma como Shaka e Ikki se tratavam. Embora eles fossem amigos, o indiano não parecia aceitar muito bem esse fato, visto que o leonino vivia implicando consigo. Isso antes do Meikai, é claro! Porque, vendo-os naquela semana, Marin diria que eles estavam bem mais próximos.

Era como se Shaka tivesse ficado mais tolerante às implicâncias cada vez menos frequentes de Ikki. Provavelmente, o loiro estava tentando se mostrar agradecido pelo oriental ter cuidado dele.

Ainda assim, era estranho vê-los num clima tão bom. Marin podia jurar que tinha visto Shaka sorrir para o outro, pelo menos duas vezes, de forma amigável! Estranho, porém compreensível até, devido ao loiro se sentir em débito com o mais velho, ela imaginou.

A situação entre Camus e Milo era bem mais estranha. O ruivo estava claramente mais distante do outro, fato que estava deixando o grego irritadiço. Era estranho porque eles não pareciam ter brigado. O francês não estava sendo particularmente frio com o escorpiano, nem o estava ignorando ou algo assim, mas...

Era como se a amizade deles tivesse regredido um pouco. Parecia não haver mais nenhum tipo de intimidade entre eles. Camus o tratava com a mesma educação e distanciamento que dispensava aos demais colegas não muito conhecidos. Nem parecia que eles costumavam ser amigos tão próximos, assim como Milo era de Aiolia.

O grego andava num humor terrível. Tanto que Marin chegou a perguntar ao aquariano se este estava zangado com Milo. Camus, por sua vez, respondeu que não, dizendo que, para ele, estava tudo bem em relação ao outro. E ela sentiu que ele estava sendo inteiramente sincero.

Então, por que a distância? Mistério.

Enquanto isso, Shina ficava atrás do escorpiano tentando animá-lo. Marin achava que ela estava fazendo isso errado porque, bem, o colégio inteiro deve ter escutado o berro horrorizado que Milo soltou quando a italiana explicou para ele o que era yaoi, dando exemplos com algumas imagens.

Minha infância! – ele tinha berrado, olhando para os fanarts que nem eram indecentes. – O Goku e o Vegeta não! Não pode! Você estragou a minha infância!

Naturalmente, Shina não se incomodou com aquela reação. Disse que ele só precisava ler algumas fanfics para entrar no mesmo clima de encantamento que ela. Ou melhor, mostraria alguns OVAs para ele.

Olhando para Milo naquela semana, Marin começou a ficar com um pouquinho de dó.

Só que ainda tinha Afrodite para ela também estranhar, não bastassem Shaka e Ikki, ou Milo e Camus. Isso porque, de alguma forma, o sueco parecia mais deslumbrante do que nunca. Ele andava pelo colégio irradiando uma espécie de brilho sensual que estava atraindo cada vez mais admiradores – que ele tratava de dispensar com um sorriso radiante e cada vez menos piedoso.

Além disso, o pisciano vivia ocupado naqueles dias. Dizia que tinha algo para fazer e sumia logo depois das aulas. Ou até mesmo antes. E voltava no dia seguinte sorrindo para si mesmo de uma forma quase indecente.

Como todos estavam meio ensimesmados em suas esquisitices, ninguém se deu ao trabalho de perguntar ao sueco o que tanto este andava fazendo.

E, por último, ainda havia Aiolia. Sinceramente, Marin tinha tentado ficar zangada com ele quando, na segunda-feira, percebeu que o garoto não se lembrava de tê-la pedido em namoro. Claro, ela sabia que a chance disso acontecer era grande, porém, ficou decepcionada do mesmo jeito.

Não durou muito, na verdade. Não tinha como ficar aborrecida com o leonino por muito tempo. Não quando ele vinha em sua direção, felinamente, e apoiava-se no encosto da cadeira em que você estava sentada de um jeito displicente. Então, Aiolia sussurrava um cumprimento direto em seu ouvido, causando arrepios em sua pele, antes de beijá-la levemente no rosto enrubescido.

E era só isso! Muito estranho! Anteriormente, ele tentaria agarrá-la de uma vez e apalpá-la em todas as partes que suas mãos conseguissem alcançar, antes que Marin o afastasse. Agora, havia algo no modo como Aiolia a encarava que a fazia esquentar por dentro.

Até aquele sábado nada comum, ele não costumava ser tão... Hmm, instigante?

***

Durante a semana que sucedeu todos os acontecimentos no Meikai, Dohko poderia dizer algo sobre a forma como Shion o encarava também. Meio intimidadora, para ser sincero. Tudo porque o libriano começou a se ausentar um pouco da casa do tibetano, pois precisava organizar sua própria casa para a chegada de Shiryu.

No começo, Shion achou normal. Depois, achou que era uma desculpa pouco convincente, porque o libriano andava desconversando quando tentava perguntar sobre a visita, deixando-o bastante desconfiado com tal comportamento relutante.

Assim, como Dohko estava passando mais tempo na própria casa, pela primeira vez em anos, o tibetano resolveu que ficaria uma temporada por lá com ele também. Mudar de ares e tudo o mais.

– Mas... Mas... – o libriano balbuciou, sem saber o que dizer. Engoliu em seco quando viu os olhos de Shion se estreitarem ao mesmo tempo em que sua boca entreabria-se num discreto suspiro, o canto esquerdo erguendo-se quase imperceptivelmente.

– Não me quer aqui, é isso? – indagou lentamente. – Porque se for, eu posso simplesmente virar as costas e ir embora...

– Não é nada disso! – Dohko exclamou, abraçando-o pela cintura. – Só fiquei surpreso, você gosta tanto de ficar na sua casa, né?

Shion ficou olhando para ele de um jeito quase sufocante. Parecia dizer que sabia muito bem que o libriano estava escondendo alguma coisa. Dohko encolheu os ombros e coçou a cabeça. Ia ser difícil assim!

Na sexta à noite, ele teve que se explicar. Afinal, Shiryu chegaria no dia seguinte, logo pela manhã, acompanhado por... Shunrei, a namorada.

– Ah... – fez Shion, fechando o livro que estava lendo com um movimento rápido, compreendendo a situação finalmente. – Era isso que você não queria me contar?

– Bem, ela não é exatamente sua pessoa favorita nesse mundo... – Dohko comentou com a voz gentil.

O tibetano o encarou como se tivesse sido mortalmente ofendido. Ele não tinha nada contra a moça! Pelo contrário, achava que ela era muito gentil e atenciosa... Aliás, um pouco atenciosa demais com Dohko, para seu gosto.

– E é por isso que eu não quis te contar antes... – o libriano balbuciou, constrangido por ter escondido a informação do outro por tanto tempo. – Eu te conheço, sabia que ia se aborrecer quando te contasse...

Shion o ignorou. Não estava aborrecido, ora essa!

– Por que ela virá também? Quero dizer, vocês aproveitariam melhor o momento juntos sem ela, não?

Dohko anuiu, sem dúvidas. No entanto, Shunrei não se afastava de seu irmão de jeito nenhum. Eles acabariam se casando mesmo, não havia motivo para o tibetano ter ciúmes...

– Se ela já é sufocante assim antes de se casarem, imagino depois... – Shion estalou a língua em desagrado: – E não tem nada a ver com ciúmes.

– Claro que não – Dohko replicou num tom ameno, não querendo soar irônico. Afastou os cabelos longos do outro para trás e o beijou suavemente. – Você sabe que não precisa ficar aqui em casa, se não quiser...

Shion quase riu na cara dele. Até parece que ia deixá-lo agora que sabia que Shiryu não viria sozinho!

O libriano respirou fundo, observando o outro sair flanando pela casa. Iam ser longos dias.

***

No sábado, enquanto Shion e um apreensivo Dohko estavam no aeroporto, Mu resolveu que já era hora de falar direito com Aiolos sobre a confusão que aconteceu na noite do sábado anterior, no Meikai. Por isso, chamou o rapaz até sua casa para que pudessem conversar.

Tinha sido uma semana complicada. Não evitara o sagitariano em nenhum momento, mas também não tinha feito muita questão de encontrá-lo, simplesmente porque estava constrangido pela forma como tinha falado com ele na noite fatídica.

– Você não tem culpa de nada – Mu explicou, após um breve silêncio desconfortável, piscando meio envergonhado. – Eu sinto muito pela forma como falei, Aiolos, você nem sabia pelo que eu estava passando. É como você disse, eu tenho essa mania de tentar resolver as coisas sem falar com você, apesar, nesse caso, delas te envolverem.

Aiolos balançou a cabeça levemente e olhou para cima, replicando com um ar constrangido:

– Não tem problema, Mu. Você também tem razão pelo que disse sobre eu ter que me decidir sobre as garotas – acrescentou, mordendo o lábio inferior da forma como Aiolia fazia. – Eu queria ter feito isso nessa semana, mas não deu. Prometo que vou fazer isso hoje mesmo, ok?

O ariano sorriu para ele, sentindo-se bem mais aliviado. Só que ele continuava com um ar de tristeza que fez Aiolos imaginar que ainda não estava tudo bem e que Mu continuava aborrecido consigo. Será que a amizade deles nunca mais seria a mesma? Ele se perguntou, sem perceber que o abatimento do ariano era pela situação em geral.

***

Foi nesse ritmo que o sagitariano se viu submerso em pensamentos lúgubres. Aiolia levou um susto quando chegou em casa, após os treinos do sábado, e encontrou o lugar todo escuro e o irmão jogado sobre o sofá. Podia jurar que conseguia ver uma aura negra pairando sobre ele.

– O que aconteceu? – quis saber, preocupado, empurrando o irmão para o lado para que pudesse se sentar com ele.

– Sou um melhor amigo horrível... – Aiolos murmurou, deitando a cabeça no colo do caçula.

Apesar de ser dramático, o leonino percebeu que o mais velho estava realmente chateado consigo mesmo, então, o incentivou a contar qual era o problema. Aiolos explicou o que tinha ocorrido com um tom de voz deprimido, deixando claro que tinha sido tudo um mal-entendido, ao menos era o que achava.

– O Mu é todo calmo e ponderado, mas também é meio cabeça-dura – comentou por fim. – Do tipo que tem a mania de tentar resolver os problemas sozinhos. Não que isso seja ruim de todo, mas, se eu estou envolvido, ele precisa me falar! Titia sempre diz que podem acontecer coisas terríveis com alguém que está aborrecido e não diz o motivo...

E Aiolos continuou divagando, meio esquecido da presença do irmão. Só se tocou de que não estava sozinho quando deixou escapar um comentário que não deveria ter feito:

– Ele não pode deixar nossa amizade acabar por isso... Já passamos por tantas coisas juntos... – suspirou desolado. – Sempre estivemos um ao lado do outro... Dividimos dúvidas; fizemos o vestibular e tivemos nosso primeiro porre juntos; ganhamos abraços esmagadores do Aldebaran ao mesmo tempo; até mesmo já nos beijamos e...

Vocês fizeram o quê? – Aiolia exclamou assombrado, observando o irmão cobrir a boca com as mãos, assim como uma criança faria.

– Ahn... Nada demais, veja, eu estava curioso e ele é meu melhor amigo, totalmente confiável pra esse tipo de coisa, sabe? – o sagitariano tentou explicar, bastante desconcertado por ter deixado escapar aquela informação na frente de seu genioso irmão.

Só que Aiolia já não estava mais prestando atenção. Apenas se levantou e foi em direção à porta, ainda com uma expressão espantada.

– Hey! Aonde você vai?

– Tentar fazer algo pra te ajudar, antes que você definhe em cima desse sofá – replicou preocupado com o irmão. Fez uma careta e saiu de casa deixando um sagitariano confuso para trás.

***

Não mais confuso do que Mu que, após abrir a porta de sua casa, deu de cara com uma Aiolia incrivelmente sério, dizendo que tinha algo importante para falar consigo.

– É o Aiolos – explicou sem emoção, assim que Mu se sentou no outro sofá ao seu lado. – Ele tá pirado e depressivo porque acha que você não é mais amigo dele.

– Sério? Eu achei que já tínhamos nos entendido... – o tibetano murmurou para si mesmo de forma pensativa. – Bem, obrigado por avisar. Vou te acompanhar de volta pra sua casa, assim, eu desfaço esse mal-entendido.

Pouco depois, Mu se levantou para saírem, mas o leonino não o imitou. Continuou sentado observando o ariano de uma forma absorta. Em seguida, levantou-se e avançou até o outro de modo a empurrá-lo para que se sentasse novamente – tudo num piscar de olhos.

Por um momento, eles se entreolharam e o tempo pareceu parar espantado. Pelo menos até Aiolia afastar os cabelos longos do ariano para trás, querendo observar a pele daquele pescoço pálido. Foi quando Mu percebeu que estivera enganado o tempo todo. Então, o garoto se lembrava perfeitamente do que tinha feito no sábado anterior?

– Ficaram marcas... – o leonino murmurou, observando sua arte que já estava prestes a desaparecer.

– O que-...? – tentou perguntar totalmente espantado com aquela atitude.

No entanto, Aiolia fez uma expressão irritada e o soltou de um jeito tão brusco quanto aquele que tinha usado para empurrá-lo sobre o sofá. Aturdido, o tibetano só assistiu à rápida saída do outro, que praticamente correu para fora daquela casa, batendo a porta de forma mal-educada.

Naquele instante, Mu percebeu que as atitudes do leonino para consigo tinham mudado mais uma vez... Da mesma forma como aconteceram anos antes. Logo, soube que as coisas se complicariam a partir de então.

Ele só não podia imaginar o quanto.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Descobri que passam novelas mexicanas na Grécia, o Aiolos deve ter crescido assistindo, né... 8D

Bom, esse capítulo deve ter ficado mais pra explicativo ainda, mas, segundo meu carneiro-beta, cenas transitórias e explicativas são necessárias e eu concordo :3

Obrigada pelas reviews: Vanessa Braga da Silva, Lord Bol, Orphelin, Leo Saint Girl, Hanajima, Faith, Isa Angelus, Vanessa, Álefe, euzinho x, ddkcarolina e Svanhild! ^^

Que tal esse capítulo?