Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 11
How Strange


Notas iniciais do capítulo

Última vez que os avisos sobre álcool e "In vino, veritas" se repetem... ;D

Meu carneiro-beta, Orphelin, obrigada por tudo, como sempre e sempre :D



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Capítulo XI

Eu não creio que você entenda
Que não pode me segurar em suas mãos
Pois eu não sou quem você deveria estar pensando
How Strange - Emilie Autumn

O cérebro meio alcoolizado de Mu estava chocado demais para reagir. Aiolia estava abraçando-o, possessivamente, enquanto atacava seu pescoço com a boca. Então, o leonino lhe deu uma bela e dolorosa chupada na jugular – do tipo que deixa marcas indiscretas – e o tibetano voltou a raciocinar.

– Aiolia? O que-...? Aw! – exclamou, quando ele mordeu sua pele já sensível. Respirou fundo e apoiou as mãos no tórax do outro, empurrando-o para trás com menos firmeza do que pretendia.

O mais novo resmungou um protesto, tentando se aproximar outra vez, mas o ariano conseguiu detê-lo. Não ouviu uma palavra do que Mu lhe perguntou. Seus olhos brilhantes estavam fixos no pescoço claro, onde uma marca avermelhada despontava.

– Ehrm, Aiolia? – tentou de novo, desconcertado pelo olhar libertino que lhe era direcionado. – Por que está fazendo isso?

– Não sei... – replicou enfim, num tom lânguido, semicerrando os olhos e afastando as mãos do mais velho de seu tórax. – Acho que tenho alguma tara por pescoços... – e, num movimento rápido, segurou a nuca do ariano com uma das mãos e avançou novamente, dessa vez atacando-lhe o outro lado da garganta.

Alarmado, Mu reprimiu um gemido de dor, embora não tenha conseguido fazer o mesmo com o arrepio que correu por sua coluna. O leonino pareceu ter notado, pois soltou uma risadinha satisfeita, subindo com os beijos para o maxilar do tibetano...

E foi empurrado de novo. Desta vez, com mais determinação.

O ariano praguejou mentalmente contra todo o álcool que havia ingerido. Sem falar no que o mais novo tinha bebido também, é claro! Certo, era hora de colocar, de volta, um pouco de bom senso na cabeça do leonino.

Os deuses são testemunhas de que Mu tentou. Lembrou ao grego de que ele era irmão de seu melhor amigo. Depois, que devia estar fazendo aqueles carinhos em Marin! Porém, não adiantou nada. Aiolia continuou a encarar seu pescoço de forma predatória.

Então, o ariano segurou-lhe o rosto com as duas mãos, forçando-o a encará-lo. Ficou meio surpreso por não ter que levantá-lo muito. O garoto já estava praticamente da sua altura.

Quando ele tinha crescido tanto assim? Seu corpo adolescente erguia-se esbelto diante de Mu, irradiando saúde e mau comportamento. Fitou os olhos claros do mais novo, aéreos e tão penetráveis, que pareciam sugá-lo para dentro deles – totalmente diferentes dos olhos de Shura, aqueles de mundos inalcançáveis.

Mais uma vez semicerrando os olhos, Aiolia esboçou um sorriso de lado e mordeu o lábio inferior, da forma como fazia desde a infância... Mentira! Mu nunca o tinha visto fazer tal gesto com aquele estranho ar devasso.

– Você tem a mínima noção do que está fazendo? – perguntou, sorrindo confuso.

O leonino balançou a cabeça positivamente, nenhum pouco convincente, apoiando as mãos na cintura do mais velho na tentativa de aproximar-se mais uma vez.

– Não tem, não. Você está bêbado – Mu afirmou, afastando-se um passo para trás, mas sem soltar-lhe o rosto. – Além disso, você sabe que eu sou comprometido... Ou era... Deveria ser... – franziu o cenho, de repente se sentindo triste como há alguns minutos, antes do leonino resolver assediá-lo.

Abrindo totalmente os olhos frente à expressão desolada do ariano, Aiolia pousou a própria mão sobre uma das mãos de Mu, que continuavam a segurar-lhe o rosto, e, então, beijou-a. Depois, sorriu e inclinou a cabeça para o lado, roçando levemente a face na mesma mão do outro.

O tibetano corou diante da atitude inesperada. Definitivamente, tinha bebido demais. Só isso para explicar sua incapacidade de se afastar de uma vez, assim como seu gesto de deslizar o polegar pela pele macia do rosto do grego. Talvez tivesse um pouco de carência também, já que o espanhol não era muito afeito a se deixar acariciar daquela forma despretensiosa.

Não, estava tudo errado.

O que estava fazendo? Aquela pela lisa e macia, ainda sem o menor sinal de barba ou espinhas, definitivamente pertencia ao rosto de uma criança! Precisava ir embora, pensou Mu, e bem rápido.

Só que Aiolia foi muito mais rápido e levou a mão livre à nuca do mais velho, puxando-o para si sem a menor paciência. O tibetano ruborizou novamente, notando que o leonino pretendia beijá-lo de uma forma bem mais enfática do que o selinho roubado há uns três anos.

Diante da reação do mais velho, o grego interrompeu-se admirado. Apesar de bêbado, ainda se lembrava vagamente de que vinha tentando tirar Mu do sério há anos e, finalmente, tinha conseguido romper com a calma e tranquilidade dele. Não foi com raiva, como imaginava, mas, com certeza, aquela era uma reação interessante. Só não conseguia se lembrar do motivo para querer algo assim...

– Hey! Voltei! – exclamou Aldebaran, sem perceber que interrompia um delicado momento.

– Ah! – fez Mu, desviando-se do leonino, repentinamente aliviado apesar do coração ainda bater rápido.

Frustrado, Aiolia soltou alguns palavrões, fazendo com que o brasileiro olhasse para ambos sem entender nada. Teria tentado de novo, mesmo com a presença de Aldebaran, mas o ariano previu isso também e se afastou ainda mais, indo para perto do mais alto.

– Preciso ir embora. Imediatamente – disse para o amigo, ainda com os olhos fixos no mais novo. – Me ajuda a encontrar o Shaka e o Camus, por favor?

Aldebaran assentiu. O grego fez bico, emburrado, e começou a olhar ao redor em busca de sua garrafa, que nem se lembrava de ter colocado no chão. Assim que a encontrou, saiu andando com ela – não sem antes olhar feio para Mu, apontando-lhe o dedo como se dissesse que aquilo não ficaria daquele jeito.

– O que houve? – o brasileiro quis saber, observando o amigo massagear os sinais na testa e balançar a cabeça negativamente. – Ok, vamos lá!

***

Depois de o ariano ter se afastado, Shura e Aiolos continuaram sentados no banco de madeira, em silêncio, durante algum tempo. Aquele tipo de silêncio pesado e constrangedor.

– Me desculpa! – o sagitariano pediu de repente, caindo em si. – Atrapalhei seu relacionamento e ainda deixei o Mu chateado. Sou um amigo horrível! Um lixo de ser humano!

O espanhol o fitou sem expressão por um instante. Então, lembrou-se de que, assim como Mu, o outro andara bebendo algumas também. O que significava que a veia dramática de Aiolos certamente estaria mais forte do que nunca.

– Você não fez nada de errado – retorquiu com firmeza, sinceramente esperando que isso fosse o bastante para sossegá-lo.

Não foi, é claro.

– Como não? Deixei o Mu enciumado! Tudo por não conseguir me decidir e... Droga, eu mereço ser detestado por ele...

– Mu não te detesta, Aiolos – afirmou categórico, virando-se para o outro. – Além disso, ele já era meio... ressabiado com você desde antes desse seu rolo todo com aquelas duas.

O grego apoiou a mão no queixo, franzindo o cenho numa concentração inesperada. Realmente, ainda tinha aquilo... Mas, por quê? Tentou pensar na questão por um momento, desistindo logo em seguida. Era mais simples perguntar para Shura se havia alguma realidade na teoria do ariano.

Bem, deveria ser mais simples, só que não era. Voltou seu olhar pensativo para o espanhol, porém, quando este o encarou de volta, Aiolos ficou constrangido em questionar e aí, você está a fim de mim ou não?, de uma vez. Soaria presunçoso. Sem falar que, se o outro respondesse que sim, não saberia o que fazer; se ele respondesse que não, ficaria com cara de bobo.

Shura apenas arqueou uma sobrancelha escura, observando as caretas confusas que o sagitariano fazia sem perceber.

– Preciso de uma bebida! – o grego declarou, já se levantando.

– Nada disso – Shura protestou, segurando-lhe o braço. – Por hoje, chega. Vamos embora.

– Mas eu preciso! Estou sob uma tremenda tensão. Duas garotas malucas me disputando como se eu fosse um pedaço de carne fresca; meu estimado amigo com o coração repleto de mágoa e rancor por minha causa...

O capricorniano revirou os olhos e o soltou.

– Não cansa ser tão dramático assim?

– Não! – Aiolos replicou, sorrindo com satisfação. – Inclusive, eu exercito minha criatividade e...

– Que seja – interrompeu novamente. – Vamos embora.

Frustrado, o grego bufou e voltou a encarar o amigo. Os olhos de Shura o fitaram de volta, mais uma vez. Eram de um verde-escuro acinzentado curioso. Aiolos reparou que – por causa do ângulo que o rosto estava em relação à luz – o olho esquerdo parecia mais claro, enquanto o direito parecia mais esverdeado.

– Será que vai ficar tudo bem? – indagou enfim, desviando o olhar com um ar chateado.

O espanhol balançou os ombros levemente. Só conversando, depois que estivessem devidamente sóbrios, para saber com certeza. Conforme o sagitariano continuou amuado, Shura deslizou os dedos por entre os cabelos dele sem nem pensar no que fazia. Cansado, Aiolos fechou os olhos automaticamente, sem se incomodar com o gesto.

– Vamos embora – o capricorniano disse pela terceira e última vez, afastando a mão como se os cabelos do grego, de um instante para outro, tivessem lhe queimado.

– Preciso encontrar meu irmão e o Milo. Acho que as garotas vão lá pra casa também – explicou, seguindo o amigo.

Shura o lembrou de que, certamente, algum dos amigos cuidaria dos mais novos. Bastava ligar para um deles e pedir. Aiolos, longe de sua sobriedade e sabendo que os garotos deviam estar se divertindo, acabou concordando e, então, foram embora.

***

Já Milo começou a gargalhar com gosto quando finalmente encontrou o francês. Não era todo dia que se via Camus embriagado, sentado sob uma árvore enquanto cantarolava La Vie En Rose para dentro de um copo já vazio.

– Oh, o senhor autocontrole passou da conta também, hein? – indagou sarcástico, inclinando-se sobre o amigo com curiosidade.

O ruivo meramente estreitou os olhos para ele e continuou sua canção. Só parou para resmungar uma confirmação quando Milo lhe perguntou se aquela bebida tinha sido presente de Kanon.

– Ele é bem lega-... – o escorpiano tentou comentar, entretanto, foi puxado pelos braços e caiu por cima de Camus que, imediatamente, o puxou para outro daqueles beijos arrebatadores.

Eles ficaram uns três minutos se beijando até que se separaram bruscamente, depois de ouvirem uma voz feminina exclamar com um espanto extremo:

– Eu não acredito!

– Shina! – o grego exclamou assustado, tentando se levantar sem sucesso. O mundo não parecia muito estável naquele momento. – Ehrm... – Primeiro Aiolia, agora, Shina. Quem mais os interromperia naquela noite?

– Como você se atreve? Não acredito, Milo! – ela reclamou, puxando o escorpiano pela gola da camiseta, fazendo com que a cabeça deste balançasse para frente e para trás algumas vezes.

– Hahaha! Tá tudo coloriiido e giraaaando... Haha! Não pare, tá legal! – pediu, divertindo-se horrores com a sensação. Até que Shina o soltou e ele caiu de costas no chão. – Ouch! Caramba! Aquele nas nuvens é o Mufasa?

Foco, Milo! – a ariana ralhou, dando-lhe um doloroso beliscão no braço.

Camus revirou os olhos e voltou a cantarolar baixinho, ignorando totalmente a presença dos dois amigos.

– No que é que você estava pensando quando resolveu se agarrar com outro cara? – a italiana inquiriu, irada. – E nas minhas costas ainda por cima?

– Eu não sei... – Milo começou ainda deitado. – Ehrm... Bebi demais?

Shina o encarou com tanta raiva que o escorpiano se virou de bruços no chão, antes que ela lhe acertasse um golpe nas partes íntimas. E isso porque eles nem eram namorados! Imagina se fossem? Ela já o teria esfolado vivo.

– Não me venha com essa, Milo! – a ariana continuou. ainda mais irritada. – Você é injusto! – fez uma expressão decepcionada. – Poxa, você devia ter me chamado pra ver, fotografar, filmar...

– Eu... Ahn? Quê? – o grego olhou para ela atordoado, tentando se levantar de novo. – Você andou bebendo também, Shina?

O francês se cansou da música que cantava e começou a murmurar outra. Milo e Shina olharam para ele com estranheza.

– É o hino da França, La Marseillaise... – informou distraído e continuou a cantarolar: – Aux armes, citoyen! Formez vos bataillons...

– Volte a agarrar ele, Milo! – Shina sugeriu subitamente animada, os olhos brilhando em antecipação.

– Você surtou? – o escorpiano perguntou bobamente, sem entender mais nada. Entendeu menos ainda quando ela falou que gostava de yaoi. Que diabos era isso?

Em vez de explicar, Shina se voltou para o francês, que demonstrou ter entendido do que ela falava, e os dois começaram a conversar.

– Eu aaacho que me perdi... – Milo comentou confuso, olhando para os dois com os olhos arregalados. Shina não deveria estar tentando espancá-lo? E desde quando Camus conversava com aquele tom interessado? Bizarro! Resolveu deixar para lá. Era muito álcool em seu cérebro, devia estar tendo alucinações, certeza.

***

Ikki chegou à mesma conclusão enquanto assistia Shaka virar um copo de bebida alcoólica garganta adentro. Tentara impedi-lo, mas Kanon não tinha colaborado, entregando o bendito copo para o loiro teimoso. O geminiano estava estranhamente agitado, perguntando se algum deles tinha visto Saga por ali. Quando responderam que não, ele se afastou apressado para continuar sua busca.

Eww! – fez o indiano, com uma careta de desgosto, balançando a cabeça de um lado para o outro. – Esta é forte e ruim...

– Você vai passar mal, é sério – o leonino afirmou pela décima vez. A essa altura, já caminhavam perto do estacionamento.

Shaka abriu a boca para replicar, mas viu uma cena mais à frente que o deixou chocado.

– Aqueles ali são o Afrodite e o Shura? Que desaforo! Como ele se atreve a trair o Mu? – e já teria ido até a dupla, se o oriental não o tivesse segurado pelo braço.

Não era uma boa ideia chegar perto, o leonino considerou. Afrodite estava com as costas apoiadas em um carro, sendo totalmente pressionado pelo corpo do outro e, bem, eles estavam se agarrando na maior empolgação.

– Quieto, loiro! – mandou, quando os protestos começaram. – Não tenho certeza de que aquele ali é o Shura, não. É melhor confirmar.

Foi assim que Shaka se viu escondido atrás de um carro, junto com Ikki, observando Afrodite se pegar com outra pessoa que parecia ser Shura. Como assim? Que situação absurda! Ele era um rapaz decente e não um voyeur! Era muito melhor e mais prático chegar naqueles dois de uma vez!

– Porra, você é ainda mais chato bêbado do que sóbrio! – o leonino comentou arreliado, puxando o indiano para que continuasse escondido, quando este tentou se afastar.

A próxima reclamação de Shaka foi interrompida assim que ouviram um gemido do pisciano. Foi quando se deram por conta de que estavam muito perto da dupla descarada.

– Estou admirado – revelou Ikki com as sobrancelhas erguidas. – Eu achava que o Afrodite era assexuado.

– Por quê? – o loiro quis saber, com álcool demais no organismo para se importar por estar demonstrando tamanha curiosidade.

– Ah, ele é todo sou-belo-demais-pra-alguém-me-tocar. Tipo Narciso, saca? Eu já estava vendo a hora que ele ia morrer afogado em algum lago também...

Shaka fez uma careta. Sinceramente, até entendia um pouco o pisciano. Quer dizer, pelo menos Afrodite não ficava se dando ao desfrute com qualquer um!

– Você é outro... – Ikki resmungou, olhando o indiano de viés.

– O qu-...? Ah! Por Buda, o que eles pensam que estão fazendo?

Indignado, o virginiano corou porque Shura tinha segurado a mão de Afrodite em seu tórax e a estava guiando cada vez mais para baixo.

– Por que tá vermelho, loiro? – o leonino implicou, observando as reações do outro. – Gosta do que vê, é?

Shaka não se deu ao trabalho de responder. Encarou aquela criatura obtusa com o máximo de desdém que conseguiu reunir e, apertando os punhos, foi andando rapidamente até a dupla antes que pudesse ser impedido.

O problema é que, para a surpresa do indiano, não era Shura afinal, mas um primo deste que perguntou, muito descaradamente, se Shaka não gostaria de se juntar a eles e tudo o mais.

– É melhor não! – foi Ikki quem respondeu, arrastando um virginiano estarrecido para longe.

***

E longe dali, Kanon ainda estava procurando o irmão gêmeo que tinha bebido demais e – segundo as palavras de Aldebaran –, começara a aparentar certo comportamento duvidoso. Praguejou mentalmente e quase caiu para trás quando alguém pulou em seus braços do nada.

– Hey! O que houve?

– Kanon... – Aiolia murmurou, semicerrando os olhos e ignorando a pergunta. – Diga a verdade, eu sou sexy?

O geminiano arqueou as sobrancelhas diante da indagação inusitada. No momento, diria que Aiolia parecia muito mais fofo do que sexy, fazendo beicinho daquele jeito e todo corado pelo excesso de álcool.

– Eu sabia! – o leonino exclamou, soltando o outro. – Sou sem graça, por isso ninguém me quer. A Marin me dispensou e, agora, o Mu... Ninguém me quer, vou morrer sozinho!

– Calma aí, volta. Como assim o Mu?

O mais novo nem ouviu, continuou divagando:

– Estou até vendo, não é difícil prever meu futuro... Serei um velho safado, tatuado e solitário, morando num apartamento com um bando de gatos... Fumarei dez vezes mais do que o Shura e beberei até desenvolver uma cirrose...

– Hey, menos... – Kanon pediu, dividido entre o choque e a diversão. – Já é bem evidente que você e o Ai-kun são irmãos, não precisa virar um drama queen também!

– Minha diversão será tocar blues e espionar meus vizinhos mafiosos... – Aiolia continuou, totalmente distraído. – Um dia, alguma prostituta drogada vai me matar, porque eu não terei mais dinheiro pra pagar seus serviços... – fez uma expressão chorosa. – Aí, meus gatos famintos vão comer o meu corpo... – suspirou desolado. – Isso, ou vou morrer num apocalipse zumbi, né?

– ...

O grego mais velho aplaudiu. Definitivamente, Aiolos tinha sido um mestre do drama para o irmão. Passou um braço ao redor dos ombros do mais novo e tentou animá-lo:

– Bobagem, Ai-chan. Tenho certeza de que há muitas pessoas por aí que amariam ficar com você.

– Elas não estão aqui agora... – replicou mal-humorado. Repentinamente, notou algo e olhou para o outro com curiosidade: – Por que você me chama de amorzinho mesmo?

Antes que o geminiano comentasse mais alguma coisa, Aiolia continuou suas reclamações. Os ensinamentos que recebera de Dohko e Shion, quando era mais novo, não estavam adiantando. Isso é, eles até funcionavam, mas não o levavam para a próxima fase e...

Foi interrompido por uma gargalhada alta e totalmente perversa.

– Saga? – Kanon olhou para o irmão com preocupação.

– Caramba! – exclamou Aiolia impressionado, aproximando-se do gêmeo mais velho sem perceber que ele estava estranho. – Me ensina a dar essa gargalhada de vilão de anime também?

Saga sorriu cheio de más intenções, apoiando a mão sob o queixo do leonino para, no instante seguinte, levantá-lo com firmeza. Claro, claro, ensinaria tudo o que ele quisesse. Ocuparia até o lugar de Shion como um grande mestre, sem dúvidas. A diferença é que preferia a prática em vez da teoria...

– Pode ir parando por aí, Saga-boy! – Kanon ordenou, puxando o braço do irmão para que soltasse o outro. – Você precisa ir pra casa agora, não está em seu melhor momento!

– A sua vez vai chegar, meu caro... – replicou numa voz baixa e sensual bem perto do ouvido do irmão, que estagnou aparentemente impressionado. Aproveitando a deixa, Saga puxou o leonino para si, murmurando alguma coisa no ouvido deste no mesmo tom de voz.

Kanon praguejou quando percebeu que o irmão estava manipulando o garoto bêbado. Não que tivesse muita moral para dizer qualquer coisa... Porém, nem Saga e nem Aiolia estavam em seu juízo perfeito. E agora?

***

Distante das confusões no Meikai, um insone Shion preparava chá. Eram quase três horas da madrugada, mas ele andava tão ocupado com o mestrado que mal dormia naqueles dias.

– Você vai acabar doente nesse ritmo... – Dohko comentou preocupado, sentando-se à mesa com uma expressão sonolenta.

O tibetano sorriu, balançando a cabeça levemente para indicar que estava bem. Serviu um chá para o companheiro também e ficaram conversando trivialidades enquanto bebiam. Foi quando o libriano achou uma boa ideia contar que seu irmão mais novo, Shiryu, viria da China para visitá-los.

– Isso é bom, faz tempo que não o vemos. Quando ele chega?

– Bem... – Dohko esboçou um sorriso hesitante, brincando com uma mecha castanha do próprio cabelo. – No próximo final de semana...

– Ele é um bom rapaz, será muito bom vê-lo por aqui... – Shion comentou, estranhando o olhar desconfiado de Dohko. – Aconteceu alguma coisa?

O libriano balançou a cabeça negativamente. Aí, quando o tibetano disse que ele não parecia muito feliz com a vinda do irmão, percebeu que não havia sido uma ideia tão boa assim tocar naquele assunto. Shion era um ariano difícil.

– Não é isso...

– O que é então? – insistiu num tom ameno, por mais que já fitasse o outro com um daqueles seus olhares estreitos.

– Nada, não... Estava apenas pensando aqui... – murmurou num tom vago, puxando uma das mãos do outro para si, beijando-a em seguida. – Vamos dormir?

Desvencilhando-se do toque, o tibetano cruzou os braços e o encarou:

– Impressão minha ou você não me contou tudo?

– Ehrm...

Dohko foi salvo de seu desespero emergente, por hora, pelo toque da campainha. Eles se entreolharam e olharam para o relógio na parede. A campainha soou de novo. Na verdade, até que a porta fosse atendida, ela soou quase dez vezes, com durações variadas, como se quem tocasse estivesse tentando criar alguma composição muito desagradável.

– Shion! – exclamou Aldebaran assim que a porta foi aberta, com um humor para lá de feliz.

– Mas o qu-...? – Dohko começou, observando que, depois do brasileiro, entraram mais algumas pessoas na casa, em níveis diversos de embriaguez.

Milo, extremamente bêbado, sendo amparado por Camus – que não parecia muito melhor – e uma Shina bastante animada por motivos desconhecidos; Marin, apreensiva e aparentemente sóbria; Shaka, ébrio e emburrado, seguido de perto por um Ikki no mesmo estado; e, por fim, Mu, com um ar que passava longe da sobriedade também.

– A que devo a honra da visita a essa hora da madrugada? – perguntou o tibetano mais velho, sentindo uma dor de cabeça se aproximando.

Nós te amamos, Shion! – foi o que Milo declarou ao mesmo tempo em que o abraçava.

– Mu? – chamou, ignorando o escorpiano pendurado em seus ombros.

O tibetano mais novo baixou o olhar, constrangido pela situação. O que mais poderia fazer? Não podia despachar aquelas crianças para suas próprias casas naquele horário e, principalmente, naquele estado lastimável.

Aiolos e Shura tinham ido embora antes... Aliás, precisava avisá-los de que os gêmeos haviam se responsabilizado por Aiolia – e sabia que Aiolos iria surtar com isso –, assim como Máscara da Morte levara Afrodite para a casa do espanhol – e Mu esperava, sinceramente, que ele cumprisse com a palavra de não abusar do garoto alcoolizado. Bem, de qualquer forma, Shura estaria lá para impedir, certo?

No entanto, o ariano não estava com ânimo para ligar para nenhum dos dois, ainda não queria falar com eles. Acabou resolvendo deixar para o dia seguinte, até mesmo para evitar que Aiolos resolvesse ir atrás do irmão numa hora daquelas.

– Desculpe, Shion, vamos todos dormir... – Mu começou a dizer, observando, com o canto dos olhos, que Aldebaran já tinha se jogado sobre o sofá e dormido de qualquer jeito. Arregalou os olhos quando viu Milo ir até o brasileiro e começar a desenhar em seu rosto, com um pincel atômico que encontrou. – Ehrm...

– Não estou me sentindo bem... – Shaka revelou, correndo para o banheiro.

– Eu avisei, não avisei? – Ikki implicou satisfeito, indo atrás do loiro.

– Ehrm... – fez Mu de novo, sem saber o que dizer para o irmão.

Shion levantou as mãos e apoiou as costas na porta, olhando para sua sala cheia de bêbados – com exceção de Marin, que parecia perdida no meio deles, sentada no canto do outro sofá.

O libriano o encarou com um pouquinho de compaixão, sem conseguir evitar uma risada.

– Diga-me, Dohko... Por que tudo é sempre na minha casa?

– Acho que ela tem certo apelo... – replicou com um sorriso complacente, dando-lhe um beijo na bochecha. – Espere só pra ver de dia, quando todos acordarem de ressaca... Espero que não tenham aprontado nada que os façam se arrepender mais tarde...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Bem, o "amorzinho" é porque "Ai" em japonês significa "amor" e "-chan" é um sufixo carinhoso. Ou seja, o Aiolia simplesmente fez uma adaptação livre da forma como Kanon o chamou, "Ai-chan"... 8D

É, ainda não foi dessa vez que o Aiolia e o Mu se pegaram de jeito... =/ mas chegaremos lá! =3 Agora as coisas vão ficar meio complicadas, hmm...

Camus tem classe até bêbado, gente -q "La Vie En Rose" é uma música da célebre Édith Piaf; e o trecho do hino que ele cantou significa: "Às armas, cidadãos! Formai vossos batalhões..."

Agradecimentos, ósculos e amplexos para: Orphelin, Vanessa Braga da Silva, Lord Bol, Isa Angelus, Suzuki_Yoi, KassiaKarolayne, zerokai, Hanajima, euzinho x, Larissa Saint, Vanessa, Álefe, fuckyeahBL, stocking, Sion Neblina e Svanhild! :DD E, também, boas-vindas aos leitores novos e aos que se manifestaram pela primeira vez *-*

Que tal esse capítulo? ^^