A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 17
Eu sinto tanto


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por BubblesChan =D



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# 19/06/2001

# Quarto – 11:37

Hoje é o famigerado dia do encontro na casa de Pablo. Acordei há poucas horas com um mal estar devastador. É como se eu tivesse sido arremessada contra a parede diversas vezes, meus braços doem tanto ao ponto de eu não conseguir levantá-los. É óbvio que estou cogitando a alternativa de não comparecer ao pseudo compromisso de hoje, mas, tecnicamente, eu estaria fugindo dos meus problemas novamente. Escondendo-me de pessoas estranhas e que aparentemente não me fazem bem algum. De que adiantaria isso tudo? Não é a primeira vez que me sinto mal, fraca, impotente. Juro por minha mãe que também será a última, minha estranha condição ainda é algo que me intriga, mas enquanto aquelas coisas estranhas que me acontecem permanecerem adormecidas, sinto que poderei continuar vivendo. Ou, pelo menos, tentando viver.

Erica. Ver seu rosto hoje com certeza me deixaria pior, no estado de praticamente regurgitar tudo que comi. Porém, algo ainda me instigava. Eu praticamente nunca vejo Erica naquela maldita escola, isso é fato, e não sou burra ao ponto de não conseguir notá-la por aí. Mas então, o que é aquela garota que ela estava defendendo ontem? Ela é obviamente uma novata, mas do mesmo jeito que nunca vejo Erica, ela também não poderia ter tanto contato com ela assim. A menos que se conheçam há um bom tempo. Não reconheci nenhum traço de possível parentesco entre as duas. Só sei de uma coisa: Ambas são igualmente odiáveis. Não sei o que Erica plantou na cabeça daquela menina sobre mim, mas conhecendo o rancor que ela guarda, obviamente já me odeia tanto quanto.

Mais tarde eu atualizo estas páginas, diário. Faz um bom tempo que não o transporto comigo.


# Árvore – 17:48

As aulas se passaram, talvez até mais rápidas que o normal, mas não que eu me incomode com isso. Nada de muito relatável aconteceu durante a tarde, a sala de aula permaneceu em silêncio em todas as disciplinas. Foi um tanto quanto assustador. Nenhum aluno disse absolutamente nada, nem mesmo aquelas conversas rápidas e despretensiosas. Silêncio total. Matheus e Erica não trocaram nem um mísero olhar comigo. Nem mesmo a tal de Angela. Parecia final de semestre. Mesmo assim, Pablo parecia o mesmo de sempre. Agradeço por ele não ter se ofendido, seria uma pena perder mais alguém. Batemos papo o tempo todo, nossas vozes ecoavam pela sala. O interessante é que nem mesmo a professora se pronunciou em nenhum momento por causa da conversa. Todos agiam como mortos. Pareciam estar ali, de corpo presente apenas, suas almas vagando por outro lugar.

O intervalo foi igual a tantos outros. Conversas agradáveis com Pablo. Notei que em nenhum momento ele tocou no assunto de ontem, como se aquilo nunca tivesse acontecido ou fosse apagado de sua mente. Também não fez nenhuma de suas investidas, que tinham se tornado constantes. Não que ele estivesse frio ou algo assim, continuava carinhoso e acolhedor comigo. Minhas dores não cessaram, e creio que ele percebeu isso também. Me perguntou diversas vezes se eu estava bem. Espero não ter o assustado, não quero que ele se preocupe com isso. Quando fico parada por algum tempo, é como se eu estivesse prestes a desmaiar. Minha visão fica turva e os sons externos se tornam cada vez mais baixos e desconexos. Pablo vez ou outra me convidava para dar uma volta, não queria que eu tivesse um colapso ali mesmo.

No momento, já fomos dispensados. Aproveitei o momento em que ele foi ao banheiro para escrever um pouco. Agora temos que nos encontrar com os outros três, e depois irmos direto para a casa de Pablo. Deseje-me sorte.


# xxx – 20:58






Eu não sei onde eu estou.












Minha cabeça dói.












Tudo dói.










Eu não sei como cheguei aqui. Não sei que lugar é esse.










Estou me forçando a escrever porque se eu não fizer isso, eu vou acabar gritando. Não sei por quanto tempo vou conseguir segurar a caneta até minha mão adormecer. Eu preciso contar.













Tudo.
























Não quero que me encontrem, mesmo que eu esteja petrificada nesse lugar pouco iluminado. Só consigo enxergar pela luz da janela. Minha coisas estão aqui. Eu não consigo mexer minhas pernas, mas eu ainda o tenho, diário. A última coisa que lembro foi uma briga que aconteceu na sala de estar.














Angela me odeia. Ela não sabe nada sobre mim, ela espalha tudo que Erica pensa. Matheus se enfureceu com Pablo. Matheus disse que Pablo me traía, as outras garotas começaram a rir e a zombar de mim. Eu chorei, eu não consegui fazer nada além de chorar.

















Pablo ficou sem reação. Matheus disse que ele não me merecia. Perguntei ao Pablo se era verdade. Erica disse que sim. Ela o beijou na minha frente. Ele estava irreconhecível.














Angela ainda ria de mim enquanto eu me ajoelhava no chão, minha visão turva se tornava completamente escura. Os sons cada vez mais altos, as risadas, as brigas, barulhos de coisas se quebrando. Eu já não enxergava mais nada.














Eu ouvi meu nome.










 


E só me restou o silêncio.


















Tem gente do lado de fora, eu preciso sair daqui. Eles estão chegando.























Estão abrindo a porta.
























Eu não consigo mais.


















Eu sinto tanto.





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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Próximo capitulo: Salva



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