A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 15
Mamãe


Notas iniciais do capítulo

Hey, BubblesChan aqui =D



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# 18/06/2001


# Quarto – 01:29

Às vezes me pergunto exatamente onde você está. Se tudo o que você pregava e acreditava é realmente sua realidade agora. Sabe, as coisas não estão fáceis desde que você se foi. De certo modo, penso que minha relação com papai talvez melhore, uma vez que agora vivemos sobre o mesmo teto. Poucas vezes conversamos aqui dentro, parece que com sua partida você levou também todas as nossas palavras. Vejo nos olhos dele que está sendo muito difícil, algumas vezes o ouço chorando no banheiro.

Mesmo assim sinto que ele está tentando reconstruir nossa relação para torna-la melhor dessa vez. Querendo ou não, ambos temos que nos acostumar com a presença um do outro e, para isso, nos darmos bem. A casa adquiriu um tom triste, dá pra sentir todo o arrependimento, tanto meu quanto de papai. Sua morte foi tão rápida e ao mesmo tempo tão confusa, é arrebatador termos de nos acostumar com sua ausência.

Devido a todas essas fatalidades, me afastei de Pablo. Recebo diversas mensagens dele diariamente, mas nunca as respondo. Aprendi que quanto mais cedo me acostumar com a ausência das pessoas, menos dependente delas eu serei no futuro. É triste saber que aprendo isso da pior maneira possível, mas tenho que manter esses pensamentos para continuar.

Desde que isso aconteceu eu não tenho ido à escola, o que não me prejudica nem um pouco. Meu luto pode ser bem justificado por minhas notas acima da média. Leio todas as mensagens que meu primo me manda com um aperto no peito. Ele soube do ocorrido, creio que desde o início, quando me afastei. Aliás, a cidade inteira já o sabe. Todo fato consumado aqui se torna corriqueiro em questão de minutos, nada me surpreende.

Não tenho feito muitas coisas ultimamente. Saio de casa duas vezes por semana, para comprar mantimentos na venda mais próxima. Implorei ao meu pai para que eu pudesse fazer isso. Acho que ele tem medo de perder a única parte restante da sua família. Mesmo assim não consigo justificar seu sentido protetor. Não o odeio, nem mesmo por ter se tornado um pai ausente (o que me leva a retornar ao que aprendi recentemente). Apenas acho que nossa aproximação depende do tempo, não vai ser do dia pra noite que nos tornaremos “íntimos”.

Nas poucas vezes que saí de casa encontrei Matheus, quase sempre na frente de casa. Ele me cumprimenta de longe sempre quando me vê, com um olhar indecifrável. Ele parece arrependido, mesmo que eu não creia no arrependimento das pessoas. Aliás, estou passando a crer em tanta coisa que eu não creria. A religião que minha mãe seguia é algo que começou a me intrigar desde então, apesar de eu nunca me intrometer nesse tipo de coisa, eu ainda sim a respeitava. Nunca me intrometi porque não via certo fundamento, pelo menos não pra mim.

Talvez as pessoas tendam a acreditar em alguém superior para que se tornem fortes. Mamãe uma vez me disse “Todos acreditam em alguma coisa”, mesmo sem especificar nada eu a entendia. Eu acreditava em minha mãe, apesar de todas as brigas constantes e a falta de diálogo, eu a admirava. Mesmo que ela não fosse um ser celestial, uma força maior, alguém com carisma o suficiente para conquistar uma grande quantidade de pessoas, ainda sim era ela quem me dava forças. Mesmo que não fôssemos próximas, ainda sim tínhamos uma ligação forte, um laço.

Sinto que a partida de minha mãe me ensinou e ainda ensinará várias coisas a meu respeito. Até lá, me manterei forte. Amadurecer nunca me pareceu uma consequência, mas agora é uma escolha. E as coisas irão mudar a partir de agora. Descanse em paz, mamãe. Mais cedo ou mais tarde, nos encontraremos. Seu orgulho não será depositado em vão, não dessa vez.



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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Próximo capitulo: A nova filha do mal



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