Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 5
Quem não dá assistência...




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Ele tentava manter o foco no livro, sem sucesso. Sua cabeça começou a doer com todo aquele esforço e ele acabou se levantando e indo para a janela tomar um pouco de ar.


“Porcaria! Ah, tudo culpa daquele chato do Cascão que veio falar besteira!” Cebola ficou relembrando a conversa que tivera com o amigo pelo Skype, sentindo-se irritado.


– Cara, você não tá sabendo da última.

– E se você não falar, vou continuar não sabendo. O que tá pegando?

– Fiquei sabendo pela Cascuda que a Mônica tá saindo com o Felipe.

– Com o Felipe? Que negócio é esse?

– Parece que ela tá tomando umas aulas de patinação, coisa assim.

– Ah, bom. Então é só isso.

– Só isso? Tá doido, véi? Você sabe que o Felipe tá afim da Mônica há um tempão!

– E daí? A Mônica nunca deu confiança pra ele e não é agora que isso vai mudar. Larga de ser chato que eu não vou ficar me incomodando com essas coisas!

– Você é quem sabe. O aviso tá dado. Se eu fosse você, pelo menos mandava um e-mail pra Mônica, sei lá. Faz dias que você nem dá sinal de vida!

– Estou ocupado demais. Aqui eles não dão a menor moleza. No natal eu dar um alô pra ela.


Depois que o amigo desconectou, aquilo ficou martelando em sua cabeça por um bom tempo. Então fazia mesmo vários dias que Mônica estava andando com o Felipe? Não, eram apenas aulas de patinação, nada mais. Ela queria apenas aprender a patinar e nada mais lógico que aprendesse com alguém com grande experiência. Quando tudo terminasse, as coisas voltariam ao que era antes.


“É isso mesmo, pra que me preocupar? Quando eu voltar, vai ficar tudo tranqüilo.” Além do mais, ele não acreditava que fosse acontecer alguma coisa entre eles. E mesmo que acontecesse, Cebola sabia muito bem o que fazer.


Claro, aquilo já tinha funcionado antes. Sempre funcionou. Bastava se aproximar mais da Mônica, fazer alguns chamegos, talvez uns beijinhos, gentilezas aqui, palavras doces ali e tudo ficaria em seu devido lugar. Ela acabaria se afastando dele e mais um concorrente sairia do seu caminho.


E de uma coisa ele sabia: toda vez que ela se interessava por outro, acabava quebrando a cara. Era assim desde criança e mesmo depois de crescer não mudou nada. Foi assim com o Toni, que pareceu interessado no inicio e depois armou aquela palhaçada. E mesmo quando ela tentou ficar bem com ele, acabou ficando na mão e quase ficou sem par para dançar na festa da Marina. Com o DC não foi melhor. Aquele ali era complicado demais para namorar a Mônica ou qualquer outra garota.


Não... não havia o menor perigo de a Mônica ficar com outro e pensando nisso, ele voltou para o seu livro sem pensar mais naquilo.

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– Ai puta merda! Essa doeu!

– Ai digo eu! Como você consegue ser tão tosco assim?

– Tosco? Eu? Você é que ficou esperneando no ar, por isso acabou caindo! E ainda me fez cair também!


Felipe e Luísa tentavam treinar a patinação no gelo e estavam tendo muitas dificuldades. Quando patinavam nas pistas e nas ruas, tudo era mais fácil já que cada um fazia suas manobras separadamente. Ali, no gelo, era preciso que ele a carregasse, girasse, puxasse e várias outras coisas com as quais ele não estava acostumado. Carregá-la era uma delas. Não que sua irmã fosse pesada. Nada disso. Ela era relativamente leve e ele também era bastante forte. Mas alguma coisa ali parecia não estar dando certo.


Eles pararam um pouco até a dor dos tombos passar e ficaram sentados no banco, cada um esfregando os locais doloridos do seu corpo.


– Lipe, eu acho que isso não tá dando certo...

– E não tá mesmo. Não sei de onde você tirou essa idéia.

– Ah, não sei. Talvez do fato de a gente já patinar junto desde sempre! Por que será, né?

– A gente patina junto, mas não desse jeito. É barra eu ter que ficar te carregando toda hora.

– Larga de ser reclamão que eu nem sou tão pesada assim! Você é que anda meio fracote!

– Fracote? Eu? Viaja não, mulher! Eu sou muito mais forte do que você!

– Claro, você é menino, né? Só que não é forte o suficiente para suportar meu peso enquanto patina.

– Não fica inventando desculpa não, valeu? O lance é que a gente não leva jeito pra coisa.

– A gente quem, cara pálida? Eu patino no gelo há um bom tempo, você é que ainda não tá acostumado. Com um pouco mais de treino, a gente consegue.

– Tá bom. Vamos acabar logo com isso que hoje eu marquei de dar aulas pra Mônica.

– É mesmo... e como você estão indo?


O rosto dele ficou vermelho.


– É...

– Ah, tá. Você ainda não se declarou, né?

– Peraí! Tá querendo passar o carro na frente dos bois? Não pode ser assim não! Além do mais, ela ainda tá encanada com o cabeça de cebola.

– E daí? Se ela tá encanada, você dá um jeito de desencanar.

– Se fosse assim tão fácil, já teria feito.

– Escuta, eu ainda não entendi o que você viu na Mônica.

– Por quê?

– Sei lá, ela é tão... tipo assim... esquentada, durona, arrogante...

– Isso é o que você acha ou o que a Carminha te falou?

– É o que eu acho, ué!

– E alguma vez você conversou com ela? Procurou conhecê-la melhor?


Luísa ficou sem saber o que responder.


– Parece que não. Olha, eu acho que você deveria procurar conhecer melhor as pessoas antes de ficar acreditando em qualquer fofoca por aí, viu? Especialmente nas fofocas da nossa prima.

– Nhé! Você também acreditou no que a Carminha disse.

– Foi um erro, se quer saber. Por causa disso a gente ficou implicando com eles sem razão nenhuma.

– Mas a Carmen tinha razão, você não viu como ela ficou irritada naquele dia?

– E você queria o quê? Que ela desse beijinhos e mandasse flores? No lugar dela, você teria ficado muito mais irritada. Ou você já esqueceu do dia em que jogou refrigerante num cara que tava te provocando naquele campeonato de patinação?


Ela não queria lembrar daquilo, já que tinha sido bem desagradável. O sujeito não parava de provocar, debochar dos seus patins, do seu estilo e até das duas roupas. Então Luísa acabou não agüentando e despejou na cabeça dele meia lata de refrigerante, o que causou uma confusão enorme. Felipe tinha razão. Todas as vezes que era provocada, Luísa partia para cima sem pensar duas vezes. Ele já teve vários problemas com o gênio ruim dela


– Olha, eu sei que a Mônica é esquentada, tem gênio forte e um monte de outras coisas, mas pelo menos ela tenta se controlar e ser uma pessoa mais calma, coisa que VOCÊ não faz.

– Não precisa jogar na cara, né!

– Não estou jogando na cara, só falando que você deveria conhecer melhor as pessoas antes de julgar. E ela não é nada daquilo que a Carmen falou.

– Se você diz... parece que você tá gostando dela, né?


Felipe ficou em silêncio, contemplando o ringue de patinação. A superfície do gelo refletia fracamente o teto e as luzes do recinto.


– É... eu gosto dela mesmo. Quer dizer, eu já tava de olho nela a um tempão, mas confesso que era um pouco porque os outros garotos estavam de olho também, sei lá. Aí eu fui conhecendo ela melhor, a gente foi conversando...

– Se é assim, então investe nela, ué!

– E o Cebola?

– O que tem ele? Ih, deixa disso! O cara não toma nenhuma decisão, então tome você!

– Isso é verdade... até hoje eu não entendi por que ele terminou com ela.

– Nem eu. Tá, o pessoal fala sobre um lance de ele ter que derrotar ela antes de eles namorarem. Doideira pura, sei lá.

– Eu heim... que cara mais vacilão...


Pouco depois eles voltaram ao treino, já que ele queria acabar logo com aquilo para se encontrar com a Mônica. O resto do treino foi novamente um fiasco. Eles não conseguiam nenhum tipo de sincronia. Era como se cada um quisesse ir para um lado diferente e não conseguiam entrar em um acordo. Por fim ele acabou indo embora dali chateado por estar insistindo em algo que só estava lhe dando dor de cabeça (e de perna, braço, nádegas, costas...).

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Fazia uns dez minutos que ela estava sentada no banco esperando por ele. Não demorou muito, Felipe apareceu ofegante, mostrando que ele tinha corrido muito.


– Oi, foi mal a demora, é que o ensaio de hoje foi barra!

– É? Puxa... então você deve estar cansado demais pra me ensinar hoje.

– Nem tanto, a gente pode pegar leve. Eu vou te ensinar a dar alguns giros sobre patins.

– Jura? E se eu ficar tonta?

– No começo você vai ficar mesmo, mas depois acaba acostumando. Vem, vou te mostrar como faz.


Ele girou algumas vezes, mostrando a ela como executar o movimento e lhe dando instruções. Quando ela tentou imitá-lo, perdeu o equilíbrio no terceiro giro e Felipe teve que segurá-la para que ela não caísse. Ele teve que respirar fundo para manter seu autocontrole quando o corpo dela ficou junto ao seu e procurou ajudá-la a se levantar.


– Machucou?

– Não foi nada. Tudo bem se eu tentar de novo?

– Claro! Se você cair, eu seguro. Pode mandar ver!


Nas duas tentativas seguintes, ela realmente caiu, para a alegria dele. Infelizmente, essa alegria durou pouco quando ela começou a aprender o movimento, girando com grande facilidade e não caindo mais. Que pena... carregar Luísa era uma droga, mas ele não ia se importar nem um pouco se tivesse que carregar em seus braços.


– Hã... você está bem? Ficou com uma cara...


Levou alguns segundos para ele acordar do transe e ver Mônica olhando para ele com a expressão interrogativa em seu rosto.


– Tem nada não, tudo sussa. Vamos continuar!


O treino continuou até o fim da tarde e antes de irem embora, eles ficaram sentados no banco olhando o sol se por detrás das arvores do parque. Ele nunca tinha parado para observar um pôr do sol antes. Claro, ele nunca teve motivo e nem inspiração para esse tipo de coisa.


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Notas finais do capítulo

Pois é, né... enquanto o Cebola dorme no ponto, o Felipe já está dando o jeitinho dele.



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