Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 41
Pura teimosia


Notas iniciais do capítulo

O Cebola é bem teimoso, mas acho que está perto de aprender a lição.



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No dia anterior...


– Porcaria, eu não acredito que aquela vagabunda fez isso!


Ele tremia de raiva ao ver seu vídeo publicado no youtube. O que seria pior, o vídeo em si ou o título?


“Cebola, Cebolão, CeCagão”


O vídeo mal tinha sido postado e já tinha dezenas de comentários que ele mal conseguia ler sem bufar de ódio.


“Esse aí deve ter comido repolho com batata doce.”

“Que sujeito manezão!”

“Kkkkkk! Ele correu que nem um pato com dor de barriga! Kkkkkkk!”

“hahahahaha, merda acontece... rs!”

“Esse é cagão mesmo!!!”


Aquilo estava lhe dando tanta raiva que ele não agüentou e fechou o navegador para não ter que ver mais nada. O estrago já estava feito, então não adiantava ficar olhando aquilo. A única coisa que poderia confortá-lo era expor Denise a mesma situação ridícula e ele ia fazer isso sem pensar duas vezes. O que ele não sabia era que aquele era o dia em que tudo tinha que dar errado.


– Peraí! Cadê as fotos? – várias pesquisas foram feitas por todo o computador e ele não conseguiu encontrar nem ao menos uma única foto da Denise com seu namorado. Nada que pudesse ser publicado. – Porcaria, eu não acredito! Alguém deve ter invadido meu computador, só pode! Aposto que foi o Franja!


Cebola levantou-se e ficou andando de um lado para o outro quase arrancando os cabelos. Então era por isso que Denise tinha ficado tão valente, claro! Ela sabia muito bem que suas fotos não seriam mais publicadas.


“Hahaha! Quem vai ver uma coisa é você, seu careca ceboludo!”


Aquela foi a última coisa que ela tinha lhe falado antes de iniciar a diarréia, levando-o a acreditar que ela sabia o que ia acontecer. Faltava apenas saber quem tinha lhe dado laxante e quando. Seguindo a mesma linha, ele lembrou-se da pipoca que tinha comido e que estava anormalmente salgada.


– Então é isso! Por que não pensei nisso antes? A safada me deu aquela pipoca salgada pra eu ficar com sede e depois tomar todo aquele suco que ELA também tinha me dado! – suas mãos socaram a parede com força para descarregar um pouco a raiva que ele sentia.


Então fora Denise quem lhe dera o laxante? Claro, aquilo era mais a cara dela. A Mônica não seria capaz de inventar algo assim, não era seu estilo. Além do mais, ele sabia que ela tinha feito aquilo como vingança pelas suas chantagens.


– Bem, então eu vou ter que dar um jeito nela e em todo mundo, bando de traidores! Eles não perdem por esperar!



No dia seguinte...



– Cebola, saia daí agora mesmo!

– Não, me deixe em paz!

– Não deixo não! Está na hora de ir para a escola!

– Ah, mãe! Eu não tô me sentindo bem hoje!


Aquela discussão estava se arrastando por mais de meia hora e nenhuma das partes estava disposta a ceder. D. Cebola não queria deixar o filho faltar a escola e o rapaz não queria ir para a escola enfrentar seus ex-amigos de jeito nenhum. Ele precisava de um tempo para pensar em algum plano e também não queria ir para a escola um dia depois de ter sido derrotado vergonhosamente pela Mônica e daquele vídeo constrangedor ter sido publicado. Era muita humilhação para uma pessoa só.


– Se você não sair daí agora mesmo, eu te coloco de castigo e corto o vídeo-game por um mês!

– Pode cortar até por um ano inteiro que eu ligo! Daqui eu não saio!


Ela passou a mão em seu rosto, tentando reunir toda paciência possível. Cascão estava esperando por ele na sala e ouvindo toda a discussão. Era de se esperar que Cebola não fosse querer ir a escola naquele dia. Talvez ele pudesse dar um jeito na situação.


– Ô D. Cebola, deixa eu conversar um pouco com ele.

– Por favor, Cascão, convence esse teimoso a ir para a escola porque eu já não sei mais o que fazer!


A mulher saiu do quarto e Cascão sentou-se na beirada da cama, onde Cebola estava deitado com as cobertas cobrindo sua cabeça.


– Você sabe que não pode ficar aí pra sempre, não sabe?

– Eu não preciso ficar pra sempre, só até o fim desse ano!

– Dá no mesmo. Ainda falta muito pro ano acabar e mais cedo ou mais tarde você vai ter que enfrentar a turma.

– É isso que eu não quero!

– Paciência. Um dia você vai ter que encarar todo mundo. Vamos fazer o seguinte: a gente fala pra sua mãe que vai a escola e podemos nos esconder no parque.

– Você tá falando em matar aula?

– É pra te dar um tempo disso tudo, mas é só hoje, viu? Eu não posso ficar faltando todo dia.

– Tá bom... de qualquer jeito minha mãe não vai me deixar ficar aqui.


Ele trocou de roupa rapidamente, pegou seu material e os dois foram para a sala, onde D. Cebola os esperava.


– Até que enfim! Tratem de correr antes que os portões fechem. E eu não quero mais saber de pirraça nenhuma pra ir a escola, ouviu mocinho?

– Tá, mãe. Tchau.


Por ser de manhã, alguns corredores percorriam o parque, enquanto outras pessoas caminhavam com seus cães ou faziam exercícios. Cebola e Cascão tinham ido para o meio de algumas arvores e arbustos, onde podiam ficar escondidos até a o fim do horário de aula.


– Você tá ligado que amanhã vai ter que ir pra escola, não tá?

– É, eu sei. Só preciso de tempo pra pensar em alguma coisa.

– Cuméquié? Você ainda quer fazer outro plano?

– Claro! Acha mesmo que eu vou desistir assim tão fácil? A Mônica pode ter vencido a batalha, mas quem vai vencer a guerra sou eu!


Cascão ouvia o amigo com os olhos arregalados.


– Desencana, véi! Acabou, já era! Deixa a Mônica em paz!

– Não vou deixar não! Eu ainda vou derrotá-la e também me vingar daqueles traidores! Eu só vou te poupar porque você me ajudou ontem, senão...

– Senão o que, careca? Pensa que eu tenho medo de você? Se liga, rapaz! Desce da lua e volta pra terra porque ninguém vai te levar a sério agora!

– Você vai!

– Eu não vou coisa nenhuma! Não conta comigo pra essas coisas porque não vai rolar!

– Ah, qualé! Você viu a sacanagem que a Denise aprontou comigo me dando laxante?

– Ué, quem mandou ficar chantageando a garota com aquela fotos?

– Eu tinha meus motivos para fazer aquilo, era algo importante!

– Só que pra ela isso não tinha nada de importante!

– Não interessa. Eu vou arrebentar a cara daquela cretina!

– Tá doido? Se você encostar um dedo nela, o pessoal vai te matar!

– Eles vão me matar de qualquer forma, então não tenho mais nada a perder! Se eu vou apanhar, ela vai apanhar antes!

– Cebola, pára com isso caralho! – Cascão gritou com tanta força que o rapaz até assustou-se. – Porra, você já não aprontou o suficiente? Tá achando ruim do que? Você mentiu pra todo mundo, fez o pessoal de palhaço, magoou a Mônica, chantageou a Denise e até deu um tapa na cara dela, socou minha cara pra botar a culpa na Mônica... caramba, você queria o que?

– Eu...

– “Eu, eu, eu...” que saco! Você só pensa em si mesmo e quando quer alguma coisa, passa por cima de todo mundo! Pelo menos uma vez na sua vida, pensa nos outros também!


O rapaz ficou mudo, olhando para o amigo que gritava com ele colérico e com o rosto vermelho. Cascão nunca tinha falado daquela forma com ele antes. Nem mesmo depois que apanhavam da Mônica.


– Cara, eu achei que você fosse meu amigo...

– Fala isso mais uma vez e eu arrebento a sua cara! Porra, eu venho te ajudando a vida inteira nesses planos toscos contra a Mônica e apanhando junto com você! Eu te ajudei nesse plano imbecil de colocar a turma contra ela e até fiquei calado quando você mentiu pra todo mundo falando que ela socou nossa cara!

– Olha...

– Olha o cacete! Eu sempre te ajudei em tudo e até arrumei uma calça ontem pra você não ir embora todo cagado! Então não vem questionar se eu sou ou não seu amigo, porque se não fosse, não estaria aqui matando aula com você e perdendo matéria!

– ...

– E quer saber de uma coisa? Se você vai mesmo insistir nessa idéia ridícula, então cai dentro e vai fundo, cara! Só não conta comigo pra esse tipo de coisa tá legal? E pode chantagear a vontade que eu não ligo. No dia em que você tomar vergonha na cara e virar gente, me procura.


Cascão saiu dali bufando de raiva e pisando duro, deixando Cebola sozinho no meio dos arbustos. Ele ainda ficou ali até terminar o horário de aula para poder voltar para casa. E ainda assim ele foi correndo para não correr o risco de encontrar ninguém da turma.


– Nossa, chegou rápido!

– Pois é, mãe... é que eu preciso estudar muita coisa.

– Ai, que fofo! É assim que eu gosto!


Ele não respondeu mais nada e correu para o seu quarto, de onde não pretendia sair tão cedo. Que droga, até seu melhor amigo o abandonou! Era muita injustiça para uma pessoa só. Seus amigos tramaram pelas costas, a garota de quem ele gostava tinha feito um plano que o deixou humilhado na frente de todos e agora estava feliz com outro e por fim Cascão se recusava a ajudá-lo!


“Porcaria, eu tenho que pensar em alguma coisa, qualquer coisa! Eu preciso de um plano agora! É isso! Um plano infalível bem bolado e planejado vai resolver tudo!” o rapaz andava de um lado para o outro tentando desesperadamente pensar em alguma coisa. As idéias mais loucas passaram por sua mente doentia e nenhuma parecia boa o suficiente. Todas precisavam da ajuda de outras pessoas e ele sabia que não podia contar com ninguém.


Na hora do almoço, ele comeu muito mal e voltou correndo para o seu quarto e para os seus delírios. “Vamos, Cebola, pensa! Você é o mestre dos planos infalíveis, ninguém pode te derrotar! Ninguém! Você será o futuro imperador da Terra!”


Seu corpo tremia e um suor gelado escorria pela sua testa, fazendo-o deitar em sua cama totalmente exausto tanto física quanto mentalmente. Ele não conseguia aceitar de jeito nenhum que seus planos tinham falhado e que a turma não ia mais acreditar em suas mentiras. Que bando de idiotas! Quem eles pensavam que eram?


“Aqueles imbecis vão ver só uma coisa, ah se vão! Eu vou me vingar de todo mundo! Até do Cascão, aquele traidor com cheiro de carniça!” em sua mente, ele não achava que estava errado. Nada disso. Todos os seus atos tinham uma justificativa. Uma boa justificativa. Era tudo culpa da Mônica, isso sim! Tudo aquilo teria sido evitado se ela continuasse esperando por ele como sempre fizera, mas não! Ela tinha que deixá-lo de lado para ficar com outro!


“É tudo culpa daquela dentuça, é ela quem está estragando minha vida e o pessoal não vê isso! Eu sou a vítima aqui, não ela!”


Sua cabeça continuou rodando e ele pensou, pensou e pensou até cair no sono totalmente exausto e sem forças para mais nada.



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