Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 25
O colapso




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Sua cabeça doía sem parar e ela não tinha forças para se levantar da cama. O dia tinha amanhecido e ela sabia que precisava ir para a escola, mas faltava animo e forças. Ainda assim ela fez um esforço para se sentar. Sua cabeça rodou de tal forma que ela se viu forçada a deitar de novo. Ela se sentiu incomodada e logo viu por que. Mônica tinha dormido com blusa, uma pequena jaqueta e calça jeans. Ela nem tinha tirado as meias.

Ela fez outro esforço e a mesma vertigem tomou conta do corpo dela, forçando-a a se deitar novamente. Sua boca estava totalmente seca e os lábios ressecados, indicando que ela estava com sede. Nunca, em toda sua vida, Mônica desejou tanto um copo de água. Seu corpo estava ruim, mas a sede era tão forte que ela juntou o restante de forças que tinha para se levantar da cama. Ir para a cozinha era difícil, então ela decidiu que a água da pia do seu banheiro era suficiente. Qualquer coisa para molhar sua garganta que estava mais seca que o deserto do Saara.

Ao colocar os pés no chão, ela tomou impulso para se levantar. Suas pernas pareciam feitas de gelatina e mal agüentavam o peso do seu corpo. Ela teve que se apoiar no criado para não cair. Assim que se sentiu preparada, ela foi até o banheiro se apoiando nas paredes. A pia estava bem a sua frente, prometendo um alivio ao seu sofrimento.

A água da torneira estava morna, mas ela não se importou e acabou enchendo a mão e levando a boca. Apesar do leve gosto de cloro, o liquido foi descendo pela garganta e queimando por onde passava. Estava tudo tão ressecado que a reidratação acabou sendo mais dolorosa do que aliviadora. Em poucos segundos, o incômodo da garganta passou e ela tentou lavar o rosto para ver se o mal estar passava.

Quando tentou molhar a mão para passar no rosto, seu estômago começou a se revirar, reagindo violentamente contra o liquido que ela tinha acabado de ingerir agora a pouco. A vertigem piorou mais ainda e ela acabou não agüentando. Suas pernas dobraram, fazendo-a cair de joelhos no chão e vomitar ali um liquido meio amarelado. Ela engasgava por causa do gosto horrível do vômito e o suor escorria em abundância. Alguma coisa parecia puxar seu corpo contra o chão, como se a gravidade tivesse se tornado dez vezes mais forte e ela tombou, caindo em cima do próprio vômito. Tudo ficou escuro e a última coisa da qual ela se lembrava era de ter ouvido um zumbido forte e desagradável em sua cabeça.

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- Vocês ficaram sabendo que a Mônica e o Felipe terminaram?

- Nossa, é mesmo? Que coisa... agora ela ficou sem namorado e sem amigas!

- Pois é, né... ela foi inventar moda e agora quebrou a cara!

Elas conversavam enquanto esperavam o início da aula e Magali ouvia em silêncio. Por mais que estivesse magoada com a Mônica, ela não conseguia ficar feliz em saber daquilo.

- Estranho... o namoro deles parecia estar indo tão bem! O que será que aconteceu? – ela perguntou mais para si mesma. Cascuda respondeu.

- Vai ver ele não agüentou o gênio ruim dela, sei lá. E quem agüenta? Eu nem sei como o Cebola conseguiu!

- O pior é que ela ficou esnobando a gente por causa dele e agora eu vou querer ver como ela vai se arranjar! – Carmen falou de maneira venenosa.

Cascuda: - Ih, esquece. Duvido que ela vai ter cara de nos procurar de novo!

Marina: - E se procurar, eu não vou querer conversa com ela não!

Elas tagarelavam freneticamente enquanto Denise ouvia tudo de longe, curvada sobre sua carteira e apoiando a cabeça em seus braços cruzados.

- Ô Denise, o que foi? – elas estranharam ao ver que ela não parecia nem um pouco interessada numa fofoca tão quente.

- Meu glamour não está muito bom hoje. Só isso. – uma voz cansada e desanimada falou.

- Heim? Que estranho!

Denise voltou a abaixar a cabeça e desejou poder ficar assim até o fim das aulas. Saber que o Cebola tinha aquelas fotos ainda lhe deixava temerosa e desanimada. Ela temia falar qualquer coisa e ele acabar publicando tudo. E no fundo, ela também lamentava por ter participado daquela armação contra a Mônica. Em outras circunstancias ela talvez tivesse apreciado fazer aquilo, mas daquela vez não.

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- E aí, tá satisfeito, careca? – Cascão perguntou olhando para o amigo com um olhar recriminador.

- Ainda não. Só vou ficar satisfeito quando a Mônica voltar pra mim.

- Então vai esperando, porque ela nem veio pra escola hoje.

- Já percebi. Por enquanto, vou deixar quieto. Faltar um dia ou dois não tem problemas. Se passar disso, eu vou até a casa dela. E o Felipe?

- Eu vi ele hoje, mas só de longe. Você não vai provocar ele, vai?

- Enquanto ele continuar longe, tudo bem. – na verdade, ele tinha medo de apanhar feio do rival, por isso quis manter distância. O namoro tinha acabado mesmo, então não havia problemas.

O professor havia chegado e os alunos ficaram em silêncio, olhando para o lugar da Mônica que estava vazio. Ela não era de faltar sem nenhum motivo e todos acabaram ficando preocupados com ela. Pelo visto, ela devia estar mesmo muito mal.

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- Mônica? Filha? Você está me ouvindo?

- Hum? Onde estou?

- Ela acordou! Ainda bem! – Luíza falou aliviada, chamando seu marido. – Souza, vem cá! ela acordou!

- Onde eu estou? – sua voz estava sonolenta e ela mal conseguia manter os olhos abertos. Os vultos dos seus pais estavam a sua frente, falando palavras que ela não entendia.

- Ah, não! Por favor, Mônica! Tente ficar acordada!

- Eu vou chamar o médico, fique aqui com ela!

O pai da Mônica saiu do quarto, deixando as duas sozinhas.

- Filha, agüenta firme!

- Heim?

Um leve incomodo no braço fez com e ela olhasse para o lado e visse que estava recebendo soro na veia. Aos poucos suas vias respiratórias foram se desobstruindo e ela pode sentir o cheiro inconfundível de hospital. Ela estava em um hospital? Quando? Como? Ela não se lembrava de ter sido levada para lá. Lembrava apenas de quando estava o banheiro, aquela vertigem, a queda...

Ao lembrar daqueles momentos, o seu mal estar voltou fazendo com que ela fechasse os olhos, para desespero da sua mãe. O médico chegou logo em seguida e se pôs a examinar seu pulso, os reflexos e outros pequenos exames para saber seu estado. Sua mãe acabou não agüentando e perguntou:

- E então, doutor? O que ela tem?

- Ao que parece, sua filha teve um início de desidratação. Ela apresentou sintomas clássicos como fraqueza, tontura, dor de cabeça e fadiga, que são sintomas de desidratação.

- E ela ficará bem?

- Sim, o soro será suficiente para ela. Por enquanto, deixem que ela descanse. Fará bem.

Não foi preciso o médico recomendar o descanso. Quando eles se deram conta, Mônica já estava dormindo novamente.

- Eu posso conversar com vocês dois lá fora?

- Sim, claro.

Eles foram para o corredor, deixando Mônica sozinha no quarto e o médico começou.

- Eu achei melhor não falar isso na presença da moça, mas eu desconfio de que o problema dela é um pouco mais complicado do que simples desidratação.

O casal ficou alarmado e Souza perguntou:

- O que ela tem, de verdade?

- Parece que ela tem passado por grande stress nos últimos tempos. Ela estava sim com um pouco de desidratação, mas nada que fosse suficiente para causar isso. É mais provável que ela tenha passado por uma situação de enorme stress que levou a esse esgotamento.

Os dois ficaram pensativos, tentando relembrar os últimos dias. Ela não parecia ter nenhum problema, muito pelo contrário. Mônica estava até muito alegre, descontraída e até mais calma do que de costume.

- Doutor, eu não entendo... minha filha estava tão bem nos últimos dias...

- Bem, nem sempre os filhos mostram como se sentem e às vezes costumam esconder problemas dos pais por medo ou vergonha. Eu vou receitar algumas vitaminas e recomendo tomar bastante líquido e repouso, mas também aconselho que vocês conversem com ela para chegarem à raiz do problema.

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- Tá, e daí que ela não veio? É problema meu por acaso?

- É sim seu grosso! Não foi ontem que você terminou com ela? Vai ver a coitada ficou tão mal que nem conseguiu vir pra escola!

- Coitada seu nariz! Ela apronta comigo e fica como coitada?

- E o que ela aprontou com você, exatamente?

Ele não queria falar. Admitir que tinha sido traído era humilhante demais, mesmo que fosse somente para sua irmã. Ainda assim ele não pode deixar de ficar preocupado com a Mônica. Seria mesmo verdade que ela faltou porque ficou mal por causa do rompimento? Era uma pergunta que não calava.

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Elas olhavam de longe a Mônica descendo do carro, sendo apoiada pela mãe. Ela estava muito pálida e parecia não conseguir andar direito. Magali ficou com o coração apertado ao ver sua amiga naquele estado tão deprimente. Ela não tinha ficado daquele jeito nem quando seu namoro com o Cebola tinha terminado. Pelo visto, ela gostava muito do Felipe!

Quando Mônica entrou em casa junto com sua mãe, as três tomaram coragem e se aproximaram do pai dela, que tirava algumas coisas do carro.

- Oi, seu Souza – Magali cumprimentou timidamente, pois não sabia o que esperar.

- Ah, oi Magali, oi meninas.

- A Mônica não foi para a escola hoje...

- Olha, vamos fazer o seguinte: a Mônica passou muito mal hoje de manhã e tivemos que levá-la ao hospital. Ela ainda está muito fraca e precisa descansar. Por que vocês não passam aqui mais tarde para conversar com ela?

- Claro, pode deixar...

Ele entrou também, deixando-as paradas no meio da calçada.

- O que será que ela teve? – Marina quis saber, preocupada.

- Sei lá, vai ver é manha. Não agüentou levar um fora e ficou assim.

- Cascuda! – as duas repreenderam de uma vez.

- O que foi? Falei mentira por acaso? Vocês sabem como ela é mandona e não agüenta levar um não!

 Marina e Magali sabiam que Cascuda ainda estava magoada com a Mônica por ela ter batido no Cascão, por isso não conseguia segurar sua boca. No fundo, ela também devia estar preocupada.

- Ei, meninas, o que houve?

- Oi, Cebola. A gente acabou de ficar sabendo que a Mônica passou muito mal hoje de manhã e teve que ir pro hospital.

- Sério? – até ele ficou surpreso e pensou que devia ser mesmo grave. Mônica não era dada a chiliques, manha ou fingimento.

- Eu acho que ela ficou foi muito mal por causa do Felipe.

- Ah, também não exagera, né?

- Como não? – Marina também falou – Antes de ele terminar, ela estava bem. Depois que terminou, ela ficou desse jeito. Só pode ser por causa dele!

- Nossa, ela devia gostar mesmo do Felipe, viu? Ela não tinha ficado assim nem no...

Ele apertou os lábios, tentando controlar a raiva. Embora Magali não tivesse terminado a frase, ele sabia muito bem o que ela queria dizer.

- Seja como for, a Mônica é forte. Amanhã ela vai pra escola normalmente e tudo vai ficar bem.

- Se você diz...

Após se despedir delas, Cebola foi voltando para casa ruminando seus pensamentos. Seria mesmo verdade que ela tinha ficado doente por causa do Felipe? Ele não queria acreditar, mas tudo levava a crer que sim. Quando o namoro entre ele e Mônica terminou, ela tinha ficado triste, surgiu um clima estranho entre os dois, porém as coisas foram se normalizando. Ela não demonstrou ter ficado nem um pouco deprimida. Com o Felipe, por outro lado, ela ficara até doente!

Por mais que não quisesse admitir, ele viu que ela devia realmente gostar daquele maloqueiro descabelado. Do contrário, não teria ficado doente daquele jeito. E saber que o sentimento dela pelo Felipe era maior do que o que ela tivera por ele pareceu ter feito algo dentro do seu peito se revirar violentamente. Chegando em casa, ele foi direto para seu quarto. Sua mãe não estava, deve ter saído para comprar algo e Mariazinha devia estar brincando na casa de alguma amiga.

Ele sentou-se em sua cama e ficou com a cabeça entre as mãos. Por que aquela vitória tinha ficado com gosto de derrota? Diabos, será que ele não ia conseguir derrotar a Mônica nem ao menos uma vez? Quando ele ia finalmente sentir o gosto da vitória? Talvez fosse hora de pegar mais pesado ainda com ela. Enquanto ela não estivesse totalmente caída e derrotada, ele não poderia ficar em paz.


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