Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 24
Corações partidos




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Fazia mais de meia hora que ele estava olhando para aquela foto sem reagir e sem falar nada. Ou seriam quarenta minutos? Ou uma hora? Ele tinha perdido a noção do tempo.

Seus olhos alternavam entre a foto e o texto:

“Olhe só o que a Mônica e eu fizemos enquanto você não estava olhando! Eu disse que se estalasse os dedos, ela voltaria pra mim, não disse? Agora você já era. Quando esteve comigo, ela nem lembrou da sua existência. É a mim que ela ama, você foi só uma diversão para ela.”

Então era mesmo verdade. Ela sempre foi tão louca por ele que acabou realmente voltando. Como ela pode fazer aquilo?

“Droga, eu fiz papel de palhaço! Só pode! Vai ver ela só ficou comigo pra fazer ciúme no cabeça de cebola. Ai, como eu sou burro!” era para ele ter percebido aquilo antes. Todo aquele papo sobre querer patinar, todo aquele interesse fingido... era apenas encenação para fazer ciúmes no Cebola. E ele acreditou nela, acreditou que era correspondido e que o sentimento entre eles era para valer! O dele era, mas o dela não.

Claro, eles se conheciam desde pequenos, sempre houve um lance entre eles. Felipe, por outro lado, era apenas um sujeito que tinha caído de pára-quedas naquele bairro, um novato. Foi ilusão sua achar que seria capaz de fazer a Mônica esquecer o Cebola. 

Era o que dava gostar tanto assim de uma garota e mostrar seus sentimentos. Pura burrice. Já o tinham avisado antes que homem não deveria se entregar demais, mostrar sentimentos demais senão as mulheres pisavam em cima. E era isso mesmo o que estava acontecendo. Só que a Mônica não ia pisar em cima dele, de jeito nenhum!

Estava na cara que depois daquilo, ela ia terminar com ele para ficar com o Cebola, então Felipe decidiu não deixar isso acontecer. Ele ia terminar primeiro e pelo menos sair por cima. E o concurso de patinação estava acabado para ele. Patinar com alguém como a Mônica, que o traiu daquela forma estava fora de questão. Ele não ia patinar nem com ela e nem com ninguém.

O rapaz voltou a olhar para o monitor novamente, sentindo o coração em pedaços e uma vontade enorme de chorar. Mesmo sentindo as lágrimas formando em seus olhos, ele respirou bem fundo e procurou engolir o choro. A Mônica não merecia suas lágrimas e ele não ia chorar por alguém como ela. E nem por mais ninguém.

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- Lipe? Nossa, você demorou... o que houve? – ela ia abraçá-lo e logo parou ao ver a expressão no rosto dele. Algo ali estava muito errado.

- Pode parar de fingir que agora eu já sei de tudo.

- De tudo o quê?

- Pelo menos tenta ser sincera dessa vez. Você sempre gostou dele, não é? Apesar de tudo o que rolou entre nós, é do Cebola que você gosta!

- Você tá doido? Faz dias que eu nem cumprimento o Cebola!

- Ah, claro! E eu sou o coelhinho da páscoa! Larga de ser mentirosa, garota! Eu sei muito bem que você anda de agarramento com ele pelas minhas costas!

- Eu?

- Não, eu... claro que é você! Tá querendo me fazer de palhaço, é?

- Você é que tá se fazendo de palhaço falando uma coisa dessas! Eu nem cheguei perto do Cebola! Faz dias que eu não falo com ele e...

- Pára de mentir, caramba! – ele explodiu, furioso.

- Não grita comigo, seu cabeção! Tá pensando que eu sou o quê? – ela gritou de volta com o rosto vermelho de raiva e algumas lágrimas se formando nos olhos.

- Eu tô pensando que você é uma mentirosa fingida que gosta de brincar com os sentimentos dos outros, é isso! Só que comigo você não brinca mais, acabou!

- Como é que é?

- Isso mesmo, acabou! Eu não quero mais saber de uma mentirosa que nem você, tá legal?

- Por acaso você quer parar com isso e me explicar o que tá acontecendo?

- Eu não tenho que explicar nada, você já sabe muito bem! O seu querido Cebola fez questão de esfregar na minha cara!

- O Cebola? O que ele fez?

- Pergunta pra ele, eu não vou mais ficar aqui perdendo tempo com você! E pode esquecer o concurso de patinação, eu não patino com você nunca mais, ouviu?

- Lipe, para com isso e vamos conversar direito!

- Eu já tô conversando direito. E não me chama mais de Lipe e não fala comigo nunca mais! Nem olha pra minha cara que eu não quero saber de você!

As lagrimas estavam escorrendo pelo rosto dela e por instantes ele sentiu-se vacilar. Por isso, ele virou as costas e saiu dali correndo antes que acabasse fraquejando e mudando de idéia. Ela o chamou várias vezes e tentou correr atrás, mas ele foi mais rápido e em pouco tempo saiu do seu alcance.

Ele patinava o mais rápido que podia e por mais que tentasse segurar, algumas lagrimas também escorreram dos seus olhos. Droga! Todo o seu esforço para não chorar tinha ido por água abaixo!

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Ela voltou para casa, soluçando sem parar enquanto as lágrimas caiam em grande quantidade. O que tinha acontecido com ele? Felizmente, sua mãe não estava em casa. Assim ela não teria que explicar todo aquele choro. Mônica trancou-se em seu quarto, se jogou na cama e começou a chorar como criança, abraçada ao travesseiro.

Logo quando ela pensou ter encontrado alguém realmente especial, algo aconteceu e tudo se espatifou como um vaso de porcelana que caia no chão. Por que ele a chamou de mentirosa? Por que gritou com ela daquele jeito? Alguma coisa dentro dela lhe dizia que aquilo tinha o dedo do Cebola. Claro, só podia ser! Aquele cretino certamente deve ter aprontado alguma coisa e o Felipe caiu direitinho. Tanto que sequer lhe deu a chance de se defender!

Cebola tramar algo contra ela nem incomodava tanto, já que ele fazia aquilo desde sempre e ela já tinha se acostumado, mas Felipe acreditar nele assim tão facilmente lhe magoava bem no fundo. Ao invés de confiar nela, ele preferiu confiar em alguma mentira do Cebola e terminou algo tão bom e especial que havia entre eles.

E o pior de tudo era não ter nenhuma amiga para lhe oferecer o ombro. Ela tinha ficado sozinha, sem amigos, sem namorado e seu sonho de participar do concurso e poder fazer algo diferente tinha se acabado. A vida era mesmo uma droga!

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Ele estava sentado debaixo de uma árvore, com o olhar perdido e pensando em tudo o que aconteceu. Como foi difícil fazer Luísa largar do seu pé e parar com aquelas perguntas irritantes! Quando ele chegou ao ringue de patinação, ela logo estranhou sua aparência.

- Credo, que cara horrível é essa? E cadê a Mônica?

- Ela não vem, nem hoje nem nunca mais. A gente terminou.

- Quê? Como assim terminou? O que aconteceu?

- Aconteceu que no fim de tudo, ela não passa de uma mentirosa, só isso. Ela gosta do Cebola e até andou de agarramento com ele.

- Sério? Você viu?

- Mais ou menos.

- Como assim mais ou menos? Ou você viu ou você não viu! Explica isso direito que eu não tô entendendo nada!

- Olha, não tem nada pra explicar. Ela prefere o cabeça de cebola, então que fique com ele e faça bom proveito, porque eu não quero mais saber dela. E nem quero que você fale o nome dela na minha frente, ouviu?

- Lipe, você não tá pensando direito! Me conta o que aconteceu de verdade pra gente poder...

- A gente não vai fazer nada, acabou! Eu não quero ver a Mônica nunca mais e também não patino com ela nem que me arranquem a cabeça!

Luísa falou, ameaçou e implorou, mas não adiantou de nada. Ele permaneceu irredutível. O que mais podia ser feito? A realidade estava ali, bem na cara dele. Ela queria ficar com o Cebola e só o usou para fazer ciúmes. Fim.

Ainda assim, ele custava a aceitar o que tinha acontecido. O namoro entre eles estava tão bom, ele se sentia tão feliz por estar com ela! Tão feliz que tinha até aprendido a gostar de patinar no gelo e nem estava mais se importando em usar aquelas roupas queima-filme para o concurso. Graças a ela, ele tinha descoberto sua vocação, aprendido tantas coisas interessantes e crescido muito. Depois daquilo, ele não sentia ânimo para mais nada.

Todo seu entusiasmo tinha escorrido como areia entre os dedos e não havia sobrado nada, somente um vazio avassalador.

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Ele assoviava alegremente enquanto caminhava de volta para sua casa. Aquele dia parecia tão lindo, tão perfeito! Não podia ter sido melhor. Finalmente ele conseguiu separar aqueles dois e era só questão de tempo até ela voltar correndo para seus braços.

Ao chegar em casa, Cebola cumprimentou alegremente sua mãe e até brincou um pouco com a irmã. Sua alegria não tinha tamanho e nada ia estragar aquele dia. Ele só lamentava não poder ter visto tudo de perto. Tudo bem. Apesar da distância, ele pode ouvir alguma coisa porque os dois se alteraram. Com aquilo, ele não teve duvidas do fim daquele namoro que não passava de uma grande palhaçada.

“É isso aí! Agora eu quero ver como ela vai se arranjar sem o Felipe!” enquanto estava com ele, Mônica conseguia resistir ao isolamento que a turma lhe impunha. Sem ele, no entanto, ela ia desmoronar com certeza e Cebola sabia que era só questão de tempo até ela voltar correndo para ele.

“Hum... só não sei o que eu vou fazer. Deixe-me ver... ser carinhoso e prestativo ou dar uma pisada antes? quem sabe esnobá-la um pouco? È, acho que vou fazer isso. Vou deixar que ela corra atrás de mim por um tempo até resolver dar uma trégua. Ah, e nada de voltar numa boa! Nem pensar! Tudo vai ser nas minhas condições!”

Ele passou o resto da tarde pensando nas exigências que ia fazer para que ela pudesse voltar para a turma. Primeiro, nada de gritar, mandar e nem de achar ruim com suas piadas. Quando ele fizesse alguma piadinha sobre seu temperamento ou seus dentes, ela não podia falar mais nada e nem gritar com ele. Segundo, a palavra final seria sempre a dele, nunca a dela. Ele é quem ia decidir sobre os filmes que os dois veriam no cinema, os programas, passeios e diversão. E ela teria que estar sempre disponível quando ele quisesse. Nenhuma desculpa seria aceita.

“Ih, é tanta coisa... Acho que vou fazer uma lista!”


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