Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 20
E a guerra continua




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- Hum... interessante...

Felipe aguardava ansiosamente enquanto o homem analisava seu desenho. Ele tivera um trabalho enorme para conseguir desenhar um patim com perfeição e a avaliação daquele técnico era muito importante.

- Confesso que você deu sugestões muito interessantes, não tínhamos pensado nisso. Você acha mesmo que essa mudança de design irá tornar o produto mais confortável?

- Acho sim. Do jeito que está, incomoda um pouco na hora de aterrissar no chão depois de uma manobra.

- Entendo... e você acha que alterando essa curva o incômodo irá cessar?

- Acho sim. Eu testei esses patins várias vezes e cheguei a essa conclusão.

Ele voltou a analisar o desenho. Não era algo de um profissional, mas considerando a idade e experiência do rapaz, estava bem razoável. E o importante ali nem era o desenho e sim a sugestão que Felipe estava lhe dando, que parecia fazer bastante sentido. E ninguém melhor do que um patinador profissional para avaliar a qualidade dos seus produtos.

- Façamos o seguinte: eu darei esse desenho para que nossos técnicos e especialistas avaliem e depois lhe darei um retorno, certo?

- Claro, tranqüilo!

Felipe saiu do escritório bastante empolgado. Se ele falou que ia avaliar o desenho, era bom sinal. Do contrário teria apenas devolvido com uma negativa. Mônica o esperava do lado de fora, torcendo as mãos com ansiedade.

- E aí?

- Ele falou que vai estudar o desenho.

- Sério?

- Pois é. Claro que não tem nada garantido, mas de repente... pelo menos ele se interessou em estudar.

- Ah, eles vão aceitar a sugestão sim. E ai deles se não aceitarem! – ela fez uma falsa cara de zangada e depois ambos deram risadas enquanto saiam do prédio.

Felipe estava com os dedos cruzados, torcendo para que aceitassem sua sugestão. Ele estava adorando estudar os patins e seu design e aquilo poderia até ser o inicio de uma carreira. Quem sabe?

Enquanto andavam, Mônica alisava uma das mechas do seu cabelo, feliz por ter conseguido tirar aquela coisa grudenta sem ter que precisar cortar. Ela só lamentou por não ter visto quem fez aquilo, já que lhe pegaram por trás, senão a pessoa ia ver só uma coisa.

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Entre a turma, no entanto, as coisas continuavam com as mesmas complicações de sempre.

“Agora eu pego esses zumbis nojentos! Hahaha!” o telefone tocou, fazendo com que ele errasse um tiro e perdesse uma vida. Que idiota estaria ligando para ele no meio de algo tão importante? Cebola atendeu o celular de má vontade.

- Que foi?

- Cebola, eu tô ligando pra falar que fiquei muito preocupada hoje!

- Com o que?

- Fiquei sabendo que grudaram um chiclete no cabelo da Mônica e não foi alguém da nossa turma. Parece que tem outros alunos implicando com ela também!

- E daí? Uns a mais, outros a menos... não faz diferença. Pode até ser bom, sabe? Assim ela vai ter que correr de volta pra nós buscando apoio.

- Ficou louco por acaso? Isso é coisa da nossa turma, gente de fora não tem que enfiar o nariz no meio não!

- E o que você quer que eu faça, Magali? Se alguém tentar defendê-la, vai estragar todo o plano! Temos que deixar como está. Depois, quando a Mônica voltar pra gente, aí sim vamos acertar as contas com esse pessoal. Antes não. Agora eu vou desligar porque estou no meio de uma coisa importante. A gente se vê.

- Ei, espera!

A ligação foi encerrada e Magali não pode falar mais nada com ele. Cascuda, Marina, Maria e Isa estavam sentadas na sua cama, esperando que ela falasse. Pela cara que ela estava fazendo, a ligação não tinha dado em nada.

- Ai, eu estou ficando preocupada, viu? Enquanto era só a gente, tudo bem, mas agora tem outros alunos mexendo com a Mônica também!

Marina: - E agora? A gente vai fazer alguma coisa?

Magali: - Não. O Cebola falou que é pra gente não fazer nada por enquanto, senão estraga o plano.

Cascuda: - E a gente vai só ficar olhando eles aprontando com a Mônica e não fazer nada?

Magali: - É... pelo menos por enquanto. Se isso demorar demais, aí a gente vai ter que fazer alguma coisa.

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Enquanto ela andava pelo corredor, alguns alunos cochichavam, apontando o dedo para ela. Uns riam, outros faziam piadinhas e houve até quem lhe atirasse uma bolinha de papel em sua cabeça. Pela primeira vez em muitos dias, Mônica sentiu uma vontade enorme de esganar alguém, começando pela Denise.

Na noite anterior, ela tinha acessado o blog da Denise e viu ali um vídeo com seu treinamento. Não era somente um vídeo e sim uma espécie de compilação contendo os piores momentos, com erros, escorregões e alguns tombos. Denise tinha colocado ali somente a pior parte, fazendo com que os alunos acreditassem que ela estava indo terrivelmente mal nos treinos.

E como se não bastasse o vídeo, também tinha comentários maldosos da Denise sobre sua performance, piadinhas de mau gosto e alfinetadas sobre seu peso. Será que ninguém da turma conseguia enxergá-la além da garota gorda, baixinha e dentuça?

“A louca! eu não sei como ela consegue se equilibrar com o peso daqueles dentões! Fala sério! Parece até um elefante sambando numa loja de louças!”

“Como será que ela consegue saltar sem quebrar o gelo?”

“Ih, coitado do bofe! Um safanão dela é suficiente pra jogar ele pra fora do shopping!”

A escola inteira tinha assistido aquele vídeo e pessoas que até então nem a conheciam, agora riam e debochavam dela.

- Ô seu lesado, se você jogar isso na minha namorada eu te arrebento todinho!

- Calma aí, véi! Eu tô de boa!

Mônica olhou para trás e viu Felipe agarrando um garoto pela camisa. Ele segurava um canudo, por onde pretendia jogar bola de papel molhada em cuspe na Mônica. Foi preciso que ela voltasse atrás para acalmá-lo antes que acontecesse uma briga ali. Felizmente ninguém mais se alterou, já que Felipe tinha muitos amigos para lhe dar apoio (coisa que ela não tinha mais)

- Lipe, calma! Se você brigar com alguém, pode ficar encrencado!

- Tô nem aí! Eu não vou deixar esse bando de mané ficar mexendo com você desse jeito!

À medida que eles foram passando pelo corredor, os outros alunos desviavam o olhar e ninguém mais ria da Mônica. Ele estava disposto a protegê-la de qualquer um que tentasse provocá-la.

Na hora do recreio, Mônica sentou-se com Felipe, Luísa e seus amigos. Ela não se sentia exatamente à vontade ali, mas pelo menos ninguém a incomodava. Todos eram educados com ela e tratavam bem, só faltava um entrosamento. Aquela era uma mesa de alunos populares e se não fosse por Felipe e Luísa, ela jamais estaria sentada ali.

Cebola e o restante da turma olhavam para ela, esperando por alguma oportunidade que não surgia. Enquanto ela estivesse com Felipe e seus amigos, ninguém teria coragem de fazer nada. Aquele pessoal podia ser meio barra pesada às vezes. 

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- Vai partir pra cima de mim agora, fófis? – Denise falou encarando Luísa desafiadoramente.

- Se for preciso, pode apostar! E você vai apanhar muito feio!

- Cruzes, tá parecendo a Mônica!

- Não. A Mônica não bate em garotas, mas eu bato! E sai logo daqui antes que eu resolva te dar uns tabefes!

- Quero ver você me obrigar. Aqui é local público, eu entro e saio a hora que eu quero.

- Pode até ser, mas tem uma coisinha que você ainda não percebeu.

- Ah, é? E o que seria?

- Você gravou um vídeo do meu irmão.

- E daí?

- Daí que nós temos contratos que controlam a exibição da nossa imagem, sabe? E você exibiu um vídeo nosso sem autorização. Sabe o que isso quer dizer? Que nosso advogado pode tacar um belo processo nas costas dos seus pais!

Com aquela, Denise se encolheu de medo, mas ainda arriscou.

- A louca! Você tá só blefando!

- Quer pagar pra ver? Eu até posso ligar pra ele agora se você quiser! – ela pegou o celular e ficou esperando alguma reação da Denise. – só espero que você também tenha advogado, senão seus pais vão ter que pagar uma grana pra nós! Aí a filhinha deles vai ficar sem mesada por uns dez anos!

- Tá bom, tá bom! Já entendi, que coisa! Ah, eu nem queria mesmo, tava chato demais!

Apesar de contrariada, ela foi embora dali rapidamente. Por mais que gostasse de uma boa fofoca, ela gostava ainda mais da mesada que recebia todo mês.

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Cebola olhava os dois de longe, cerrando os punhos com raiva. Antes ele tinha pensado que o isolamento e as provocações fossem suficientes para fazer a Mônica desistir daquele namoro, mas ele estava enganado. Ao invés de afastar, aquilo parecia aproximá-la dele ainda mais.

- Denise? O que foi? Eu vi a Luísa quase dando uns tapas na sua cara...

- E foi por pouco, viu? Olha, não dá mais pra ficar gravando os treinos da Mônica. Ela ameaçou processar meus pais por causa da exibição da imagem do irmãozinho dela. E eu amo muito minha mesada, fófis.

- Deixe de ser boba! Ela só estava blefando! E se isso for mesmo um problema, você pode cobrir o rosto do Felipe igual eles fazem na televisão quando querem esconder o rosto de alguém em um vídeo. Você sabe fazer isso, não sabe?

- Ah, é! Nem tinha pensado nisso!

- Certamente que não. Agora volta pra lá e trate de gravar essas imagens. Só tome cuidado para a Luísa não te ver.

- Tá bom, mas vou logo avisando que está ficando difícil conseguir alguma coisa decente. A Mônica tá melhorando muito, viu? É cada pirueta que dá até medo!

- Humpt! Acho bom você não falar sobre isso com ninguém!

- Você é quem sabe.

Denise voltou para perto do ringue e continuou gravando e ao mesmo tempo tomando cuidado para não ser pega. Felizmente o zoom da sua câmera era bom. Cebola saiu dali porque vê-los juntos embrulhava seu estomago e ele tinha medo de acabar partindo para cima do Felipe a qualquer momento. Estava na hora de acabar com aquele namoro.


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