Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 19
Todos x Mônica




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Era a quarta vez que ela trocava de batom quando sua prima invadiu seu quarto com aquela cara de quem queria esganar alguém.


– Ai, você não bate na porta não?

– A porta está aberta. Ô Carminha, o que deu na tia pra ela ficar enchendo a cabeça da nossa mãe, heim? Nossa, deu o maior trabalho pra gente explicar as coisas pra ela!

– Ué, eu só fiz um comentário para a mammy... nada de mais.

– Nada demais? Então imagine se fosse!


Luísa ainda estava de mal humor por causa da conversa desgastante que ela e Felipe tiveram com a mãe deles. Tudo porque eles tiveram a idéia de colocar Felipe e Mônica para patinarem juntos e foi com muito custo que ela aceitou essa idéia.


– Vocês têm certeza de que essa moça sabe patinar direito? Olha que eu não quero ver meu filho passando vergonha!

– Ela não vai fazer ninguém passar vergonha. A Mônica aprende depressa e tá indo bem. Até o dia do concurso, ela vai ficar muito boa. – Felipe falou pela décima vez. Que coisa mais chata! A mãe deles costumava ser complicada em alguns momentos, sendo aquele tipo de pessoa que mesmo falando as coisas repetidas vezes, ela não entendia e perguntava tudo de novo.


Eles levaram mais de uma hora para explicar que não era uma competição oficial e sim um evento para a caridade. Os competidores não eram profissionais, não havia nenhum prêmio em dinheiro e o resultado não ia ter nenhum efeito em competições oficiais. Mesmo assim, ela falou, falou, falou várias vezes querendo saber tudo sobre a Mônica e torceu o nariz ao saber que não se tratava de uma moça rica. Claro, ela era um membro típico da família frufru.


– Olha, eu sei muito bem que você não vai com a cara da Mônica, mas não vem meter o bedelho nos nossos assuntos não, tá? A gente não fica se metendo na sua vida!

– Ai, precisa falar assim? Eu só acho que não é boa idéia fazer o Lipe patinar com a Mônica. Ela é tosca demais! Vai acabar quebrando um braço ou uma perna do pobrezinho.

– E alguma vez na sua vida você viu a Mônica patinar?

– Er...

– Não, né? Então não julgue o que você não conhece.

– Tá vendo? Você tá brigando comigo por causa daquela dentuça e eu não fiz nada de errado!


Carmen começou a chorar e Luísa não se comoveu nem um pouco porque ela conhecia muito bem aquelas lágrimas de crocodilo. Sua prima era muito manhosa e sempre que era confrontada, se desmanchava em lágrimas para ver se conseguia um pouco de compaixão.


– Não vem com essa não porque eu te conheço desde pequena. Isso não funciona comigo. – Carmen parou de chorar na mesma hora e fitou a prima com raiva.

– Por que o Lipe cismou com a Mônica? Isso não tá certo!

– Ele gosta dela e ninguém tem nada a ver com isso.

– Ela não é da nossa classe!

– Querida, elitismo é a coisa mais idiota e ultrapassada que existe e eu sei que você não importa com essas coisas de verdade. Por que você tá fazendo isso?


A loira fez um bico, tentando pensar em outra desculpa. Contar a verdade jamais!


– Vocês começaram a andar com a Mônica e me deixaram de lado!

– Você não vem com a gente porque não quer, ninguém tá te deixando de lado! Quando você quiser sair com a gente, ir para o shopping ou fazer outras coisas, pode falar que ninguém vai te morder não!

– Só que ninguém tá falando com a Mônica, então eu não posso andar com ela!

– É isso que eu não entendo! O que diabos você tem a ver com a vida da Mônica? E daí que ela não quer ficar com o cabeça de cebola? O que você tem a ver com isso?

– É que todo mundo...

– Você não é todo mundo, caramba!


Era obvio que ela não era todo mundo. Ela era Carmen Frufru. Ao ver que aquela desculpa não estava funcionando, ela ficou muda. Luísa percebeu que ela não queria falar mais nada e resolveu encerrar aquela conversa. Aquilo não estava levando a nada mesmo.


– Olha, é você quem sabe da sua vida. Se não quer mais ser amiga da Mônica, tudo bem, mas não venha nos dizer com quem a gente deve ou não andar, viu? E pára de ficar enchendo a cabeça da tia pra fazer ela infernizar nossa mãe.

– Mas...

– Se você gosta mesmo da gente, não faz mais isso. Nós temos o direito de fazer nossas escolhas também, tá?

– Tá...


Luísa deu um beijo no rosto da prima e foi embora, deixando Carmen com seus pensamentos. Interferir em assuntos familiares se mostrou muito complicado e ela decidiu que não queria mais fazer isso. Cebola havia lhe pedido para falar mal da Mônica na frente dos pais de Felipe, envenenar e fazer fofocas. Na hora lhe pareceu boa idéia e algo simples de se fazer. No entanto, ao ver a reação de Luísa, ela achou melhor desistir daquilo ou poderia acabar arrumando confusão com os primos.

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– Olha, Cebola, eu agradeço a sua preocupação, mas não nem eu nem meu marido vemos problemas na Mônica participar desse concurso.

– Mas dona Luiza! Ela vai passar a maior vergonha do mundo!

– Você já viu ela patinar?

– Er... não... é que... que... ela nunca levou jeito para essas coisas e...

– Se é assim, então eu não vou interferir em nada. A Mônica está muito feliz, animada e eu confio em minha filha pra saber que ela jamais aceitaria um desafio do qual não fosse capaz. E você também não deveria se preocupar com isso.


Não adiantou ele falar. A mãe dela continuou irredutível. Manipular um adulto era mais difícil já que costumavam ser mais experientes. O jeito era continuar trabalhando com os colegas de escola, já que com os pais da Mônica ele não ia conseguir nada.


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“Ai, que tédio! Será que não vai acontecer nada?” fazia muito tempo que ela estava ali gravando o treinamento e nada de interessante aconteceu. Somente alguns escorregões, erros, perda de equilíbrio e passos errados. Fora isso, nada que lhe chamasse a atenção.


Denise tinha começado a gravar os treinamentos com a esperança de filmar tombos homéricos da Mônica e postar tudo no seu blog. Aquilo ia ser hilário e poderia dar muitos acessos ao seu blog. Para sua decepção, no entanto, ela até que estava indo muito bem! Apesar de não ser como as patinadoras que Denise via na TV, Mônica deslizava bem no gelo, fazia várias manobras e até alguns giros no ar. Até então aquilo era impensável para ela.


Quando tudo acabou, ela foi embora antes que alguém a visse, frustrada por mais um dia sem conseguir nada de interessante. Aqueles escorregões bobos não tinham nenhuma graça. Ela queria mesmo era ver a Mônica espatifando no gelo, dando braçadas e jogando Felipe para fora do ringue, coisas do gênero. Aquilo era um tanto desanimador já que a tendência era ela melhorar com os treinos. Uma pena...


“Ah, será que eu posto isso no meu blog... Será que não posto... que dilema! Hum... só que aí vou ter que editar o filme, senão vai ficar grande demais! Ah, peraí!” uma luz se acendeu sobre sua cabeça “Eu posso editar e colocar só os micos”


Apesar de não ter grandes tombos, Denise sabia que se colocasse todos os erros em um vídeo só, teria mais impacto. E se ela colocasse alguns comentários e piadinhas, talvez alterando a música colocando algo mais engraçado, o vídeo ia ficar perfeito.


“O Cebola tá superado. O gênio do pedaço agora sou eu. Hehehe!”

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– Ai, Franja, eu não sei se vou conseguir continuar...

– Você precisa, todos nós precisamos. Sei que é difícil, mas se quisermos a Mônica de volta, temos que seguir o plano do Cebola.


Marina voltou a olhar para o papel, onde tinha uma caricatura da Mônica desenhada conforme as instruções do Cebola. Que coisa horrível! Ela só tinha aceitado desenhar aquilo com a promessa de que aquelas caricaturas jamais seriam publicadas na internet. Do contrário, nada feito. Ainda assim ela não podia deixar de pensar como a Mônica ia reagir quando visse aquilo.


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Magali conversou com Quim e combinou com ele que a Mônica ia ser muito mal atendida quando fosse a sua padaria, mas só se o pai dele não estivesse por perto. Para o Sr. Quinzão, maltratar um cliente era considerado crime hediondo, algo que ele não admitia de jeito nenhum. E, claro, ele não podia tratar os pais da Mônica da mesma forma.


A turma inteira estava se preparando para seguir as instruções do Cebola, todos com a esperança de que aquilo fizesse a Mônica voltar para eles. DC era o único que não pretendia participar daquilo, embora tivesse prometido ao irmão que também não ia falar com a Mônica. Ele sabia que Cebola só estava manipulando a todos para se vingar dela, mas faltava coragem de falar algo. Ninguém ia acreditar nele. Só lhe restava torcer para que a Mônica não sofresse tanto com aquilo, ou que pelo menos Felipe fosse capaz de lhe dar apoio.


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– Pode levantar mais um pouco, mãe.

– Tem certeza? Olha que você vai acabar machucando!

– Vou não. Se doer, eu aviso.


Ela levantou um pouco mais a perna da filha, conseguindo uma abertura quase perfeita.


– Puxa, melhorou bastante!

– Não falei?

– Ai, filha! Que orgulho ver você se dedicando tanto assim a uma coisa boa e saudável!

– Você acha, mãe?

– Claro!


Os pais da Mônica tinham aproveitado um feriado para verem a Mônica treinar no ringue de patinação e ambos ficaram surpresos ao ver o progresso da filha. Foi uma surpresa muito agradável para eles vê-la patinando quase como uma atleta profissional.


E como bônus, Mônica estava mais alegre, bem disposta e tinha melhorado muito nos estudos. Ela tinha ficado boa até em matemática e física, matérias que ela odiava antes! Se aquilo estava fazendo tão bem para ela, eles apoiavam totalmente.


– Mônica, quando é que o Felipe virá jantar com a gente de novo?

– Vou ver se chamo ele nesse sábado. E a Luisa também, senão ela chora de ciúme (hahaha)


Inicialmente, os pais da Mônica ficaram surpresos quando ela lhes apresentou Felipe como seu namorado. Eles estavam tão acostumados a verem sua filha só pensando no Cebola que foi quase um choque vê-la com um rapaz diferente. Depois, ao verem como ele parecia apaixonado por ela e também como a Mônica estava feliz, eles acabaram aceitando o namoro sem problemas. Com o Cebola, ela sempre estava triste, ansiosa ou nervosa. Com o Felipe, Mônica tinha ficado mais calma.


Ela vinha acompanhado a luta dela com o Cebola há anos e os dois nunca entravam em um acordo. Quando soube que o rapaz tinha terminado com ela por causa de uma bobagem e ainda tinha aquela neura de querer derrotá-la, Luíza ficou preocupada ao ver que sua filha poderia estar entrando em um relacionamento problemático. O rapaz era boa pessoa, mas ela não queria que Mônica gastasse seus melhores anos esperando por ele. Aquela preocupação tinha acabado quando viram Mônica se interessando por outro rapaz, algo impensável até então.


– Pronto, Mônica. Se ficar esticando demais pode machucar. E agora está na hora do lanche. Você quer?

– Ah, eu quero!


Elas foram para a cozinha e Luiza olhou a geladeira a procura de algo interessante para fazer. Não havia muita coisa.


– Hum... vou ter que fazer supermercado nesse fim de semana. Mônica, você importa de ir até a padaria do Quim para comprar aqueles biscoitos de canela?

– Importo não, mãe. Eu vou patinando que é mais rápido.


Ela deu uma risada. Tudo para Mônica era motivo para subir em patins. Pelo menos assim ela ia e voltava mais rápido.


Assim que saiu de casa, Mônica acelerou e foi correndo pelas ruas, saltando obstáculos e fazendo várias manobras, saltando latas de lixo, deslizando por corrimões e desviando de obstáculos agilmente. Treinar no gelo ajudava bastante, já que era mais difícil do que patinar in line. Em pouco tempo ela tinha chegado à padaria do Quim.


– Oi, Quim! Me vê 500g daqueles biscoitos de canela, por favor?


Era impressão sua ou o sujeito estava com má vontade? Apesar de o movimento estar pequeno naquela tarde, ele levou um tempão para atendê-la e quando finalmente notou sua presença, ele havia pesado os biscoitos de qualquer jeito, dando a impressão de que tinha colocado menos e ainda reclamou por ela ter pago com uma nota de vinte, alegando que não tinha troco.


Foi com muito custo que ela conseguiu sair da padaria com aqueles biscoitos. Na saída, ela viu Magali. Antes que ela pensasse em dirigir a palavra para sua amiga, Magali lhe virou o rosto e entrou rapidamente na padaria, desaparecendo atrás do balcão. Bem, aquilo era de se esperar e Mônica nem sabia por que ainda tentava alguma aproximação com Magali depois de tantos dias de frieza e descaso.


Ela voltou para casa devagar, sem fazer grandes manobras e ao chegar ela disse que tinha demorado porque encontrou Magali no meio do caminho. Deu trabalho para não deixar que sua mãe percebesse o que tinha acontecido, mas foi melhor assim. Ela tinha medo de que seus pais culpassem Felipe por tudo o que estava lhe acontecendo e proibisse o namoro dos dois.


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– Ops, ela tá chegando. Vocês sabem o que fazer!


Cada um foi para o seu lugar e fingiu estar fazendo algo. Uns liam, outros escreviam e o restante conversava. Quando ela chegou, quem estava perto virou o rosto para o outro lado e ninguém respondeu quando ela cumprimentou.


Mônica percebeu na hora a mudança do clima da sala. Ninguém olhava para ela e todos agiam como se ela não existisse. Sem saber o que fazer, ela apenas foi para o seu lugar. A Magali estava sentada longe e quem estava perto sequer lhe dirigiu a palavra.


No decorrer das aulas, ela mal conseguiu prestar atenção em nada. A cada cochicho que ela ouvia, seu estomago se retorcia de nervoso ao imaginar que poderiam estar falando dela. E quando ela arriscava alguma pergunta, sempre ouvia algum “ihhh” ou “por que ela não cala a boca?”


Cebola estava sentado calmamente em seu lugar, só apreciando seu plano em andamento. Todos estavam fazendo tudo conforme ele tinha ordenado, lhe dando uma gostosa sensação de estar no controle. Liderar era tão bom! Quem sabe no fim de tudo aquela turma não acabaria se transformando em “a turma do Cebola”? Depois daquilo, Mônica estaria totalmente derrotada e sem condições para liderar ninguém. Então cabia a ele tomar o lugar dela e finalmente ser o “dono da rua”.


Na hora do intervalo entre as aulas, Felipe resolveu dar uma corrida até a sala da Mônica, o que irritou ainda mais o pessoal lá dentro.


– Oi, eu vim ver com você está.

– Eu tô mais ou menos...

– Mais ou menos? Do jeito que esse pessoal tá te tratando, você deve estar muito bolada!

– Isso é... Eu fiquei totalmente isolada aqui.

– Fica assim não. Na hora do lanche você senta com a gente. Agora deixa eu ir que a professora tá chegando. A gente se vê.

– Tá.


Ela voltou para a sala e sentiu vários olhares hostis pousando sobre ela. Pelo visto ninguém ali estava gostando de vê-la com o Felipe. Será que ninguém entendia que ela tinha direito de ficar com quem quisesse? Por que não aceitavam sua escolha? Ela esperava aquilo do Cebola, mas não do restante da sua turma.

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Mesmo sabendo que podia levar uma bronca da professora, Mônica deu um jeito de esperar que todas as moças terminassem de se trocar antes de entrar no vestiário. Com isso, ela imaginou que ia ter algum sossego. Foi um engano.


“Eu não acredito!”


Era uma caricatura onde ela tinha sido desenhada exageradamente baixinha, desajeitada e com dentes enormes, totalmente desproporcionais. Aquilo fez com que ela voltasse à infância, quando Cebola e seus amigos pixavam os muros do bairro com suas caricaturas, cada uma mais horrorosa do que a outra. A diferença era que aquele desenho estava mais elaborado, a pessoa tinha reproduzido bem os traços do seu rosto e seu cabelo. Só podia ser trabalho da Marina, já que ela não conhecia mais ninguém que pudesse desenhar daquele jeito.


Não foi o desenho em si que a magoou e sim saber que Marina tinha feito aquilo com ela. Justo a marina?


Foi doloroso lembrar o quanto elas tinham sido amigas desde a infância. O único desentendimento que elas tiveram foi quando marina apareceu pela primeira vez no bairro e Mônica se enganou achando que ela estava bolando algum plano infalível. E mesmo assim, nada demais aconteceu.


Quando Marina foi raptada e levada para dentro do livro Alice no país das Maravilhas, Mônica foi salvá-la e também salvar seus amigos. Quando aquela bruxa maluca apareceu para atrapalhar a sua festa de quinze anos, ela também se arriscou muito para ajudar a consertar as coisas. Como ela pode fazer aquele tipo de coisa depois de tantos anos de amizade?

“Droga, deixa pra lá. Não vou pensar nisso.” Mônica enxugou as lágrimas e abriu a porta do armário para guardar suas coisas e acabou levando outro susto. Aquilo sim era dez vezes pior do que a caricatura!


Eram umas seis ou sete lagartas de tamanho pequeno e ela levou algum tempo para conseguir tirá-las de lá usando folhas de papel para coletá-las e tomando cuidado para que nenhuma delas lhe tocasse. Seu nojo era tanto que ela até parecia estar manipulando material radioativo. Quando terminou, ela trancou bem o armário e foi para a aula de educação física. O esporte daquele dia era basquete e ela não pode deixar de ter um pressentimento ruim. Era esporte de contato, drible e alguma coisa lhe dizia que ia ser uma longa aula.


Seus temores estavam certos. Toda hora alguém lhe dava um esbarrão ou pisava no seu pé. Ela só não caía porque era muito forte e também porque seu equilíbrio tinha melhorado muito por causa da patinação. Mesmo assim estava difícil de jogar. Ninguém lhe passava a bola, as garotas do time adversário estavam sempre em volta marcando e dando trombadas e quando ela finalmente conseguia pegar a bola, a marcação piorava de tal forma que ela achou melhor não tentar jogar. Assim que a bola ia parar em suas mãos, ela passava rapidamente.


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– Marcar a Mônica no basquete não vai dar certo. As meninas não têm força para encarar ela. – Cascão falou observando o jogo de longe. O time dele já tinha jogado e depois deram lugar para que outro time jogasse.

– Eu sei, mas pelo menos dá pra incomodar um pouco. E também eu combinei outra surpresinha com a Carmen e a Denise.

– Que surpresa?

– Fica olhando que você vai ver.


Eles voltaram a olhar para a quadra e ficaram de olho na Carmen que parecia se preparar para alguma coisa.


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Assim que pegou a bola, Carmen foi na direção da Mônica. As duas estavam em times diferentes, o que ia facilitar mais ainda as coisas para ela. Embora aquilo parecesse meio assustador, o Cebola lhe garantiu que ela não ia se machucar.


Ela só esperou a professora olhar para o outro lado, fez um pequeno sinal para Denise e avançou contra a Mônica. Aquilo foi como se chocar contra uma parede de tijolos. Talvez uma parede acolchoada, mas ainda assim uma parede. Mônica nem saiu do lugar, enquanto ela acabou caindo no chão, gritando e se contorcendo.


– Sua grossa, precisava disso? – Denise gritou quase avançando para cima dela. Outras garotas resolveram tomar partido e foi preciso que a professora controlasse a situação.


– Cara, você ficou doido? Já pensou se as meninas partem pra cima da Mônica?

– E daí? Mesmo que isso aconteça, a Mônica sabe se defender.


Pelo menos aquilo não aconteceu. A professora examinou Carmen e achou melhor tirar Mônica do jogo antes que as coisas piorassem.


Enquanto saia da quadra, as outras moças iam falando.


– Nossa, como ela é bruta!

– Precisava disso? Coitada da Carmen!

– Parece que ela gosta é de dar porrada mesmo, que coisa!


Ela conseguiu manter a calma na frente de todos, mas assim que se viu sozinha no vestiário, ela sentou-se no banco e deu vazão ao choro.


– Mônica, eu queria saber o que tá acontecendo.


Ela olhou para cima e viu a professora diante dela.


– Eu também. – foi o que ela conseguiu falar entre uma fungada e outra.

– Vocês sempre foram tão amigas!

– Até eu cismar de arrumar um namorado que não é o Cebola e querer participar de um concurso de patinação. Agora tá todo mundo virando a cara pra mim.

– Sei... talvez eles só estejam com medo de perder sua amizade...

– Se continuarem assim, é isso mesmo que vai acontecer! Amigo de verdade não faz esse tipo de coisa!

– Tem razão. Bem, se isso continuar do jeito que está ou se piorar, você deve falar com o diretor.

– Isso não seria demais?

– Não. Olha, dou aula nessa escola desde que você era pequena e já vi o que aqueles garotos faziam com você.

– Os xingamentos, piadinhas, provocações...

– Isso mesmo. Você sabia que isso se chama bullying?

– Bullying? Já ouvi falar disso, mas eu nunca tinha visto dessa forma...

– Você é uma pessoa forte e conseguiu superar tudo sozinha. Muitos outros alunos nessa situação não conseguem e o resultado pode ser desastroso.

– Ah, sei lá, na época eu achava ruim mesmo, mas hoje eu acho que era só brincadeira deles.

– Uma brincadeira que poderia ter tido um resultado muito ruim se você não fosse tão forte quanto é agora. Há casos de alunos que até tiraram a própria vida por causa desse tipo de coisa.

– Sério? Que horror!

– Sim, é um horror. E agora parece que estão te fazendo isso de novo.

– Acho que não. Quer dizer, eles não estão me xingando como antes...

– Mas estão te excluindo. Excluir de forma intencional também é bullying. E francamente, eu duvido que isso tudo se resuma somente a te deixar de lado. Eles também devem estar fazendo outras coisas, não?


Mônica abaixou a cabeça, envergonhada ao se lembrar da caricatura feita pela Marina e das lagartas.


– Se fizerem algo mais, você precisa procurar ajuda. Não deixe que eles te tratem dessa forma. Amigos não fazem o que eles estão fazendo. Agora vá tomar seu banho antes que a aula termine. Vou ver se seguro as meninas na quadra pra te dar tempo, mas eu não posso fazer isso indefinidamente.


Quando a professora saiu do vestiário, Mônica foi tomar um banho rápido e ficou pensando no que ela tinha dito. Delatar os próprios amigos era algo que não entrava em sua cabeça. Era difícil fazer aquilo depois de tantos anos de amizade.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que ficou bem comprido, mas achei que ia ficar estranho se dividisse em dois.



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