Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 16
A escolha


Notas iniciais do capítulo

Quem ainda não tinha um bom motivo para odiar o Cebola, pode começar a fazer um bonequinho de vudu e espetar um monte de agulhas nele.



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O clima estava ficando tenso e os ânimos alterados. Felipe viu que todos tinham se voltado contra a Mônica e ele achou melhor fazer alguma coisa antes que a situação piorasse.

- Agora você pode ir. – Luísa falou soltando a camisa do irmão, que foi em disparada na direção deles.

Todos o viram se aproximar e logo ficaram em guarda.

- O que veio fazer aqui, seu mané? – Jeremias perguntou estufando o peito.

- Não te interessa, fica na sua!

Ele não ficou e junto com Titi, Jeremias tentou impedi-lo de chegar perto da Mônica.

- Sai pra lá que isso não é assunto seu!

- Sai pra lá você que ela é minha namorada e eu não vou sair daqui sem ela!

Felipe passou pelos dois bruscamente, afastando-os para os lados e aproximou da Mônica abraçando-a de forma protetora. Ela estava assustada e confusa, mas já tinha tomado sua decisão: ficar com ele, não com o Cebola. Era só o que importava.

Magali não se conformou em ver os dois juntos.

- Mônica, pensa bem! Por acaso você esqueceu que o Felipe já aprontou com a gente e tirou onda com a nossa cara?

Ela recuperou a sua valentia e enfrentou a amiga.

- É mesmo? E o Cebola, foi um santo por acaso? Tenha dó, gente! Será que eu não posso nem decidir sobre minha vida? Eu quero ficar com o Felipe e pronto! É crime, por acaso?

Todos ficaram diante dela, enquanto Cascão tentava consolar o Cebola que ainda estava ajoelhado no chão, chorando desesperado. Magali tomou à dianteira.

- Muito bem, você escolhe. Ou ele, ou nós!

- Ficou doida? Como você pode me pedir pra fazer uma coisa dessas? Achei que fosse minha melhor amiga!

- Eu também sou amiga do Cebola e não concordo com essa sacanagem que você fez com ele! – o resto da turma concordou com ela, ainda revoltados.

- É mesmo, ou você fica com ele, ou fica com a gente!

Ao ver que a situação estava fugindo do controle, Felipe achou melhor tirá-la dali. Todos estavam nervosos, com os ânimos alterados e ninguém estava pensando direito. Talvez, depois de pensarem com mais calma, eles voltassem atrás e tudo ficaria bem de novo. Pensando nisso, ele foi embora dali, com ela agarrada a sua cintura.

- Sua monstra! Nunca mais fala com a gente de novo!

- Nem olha mais pro nosso lado, ouviu?

- Esquece que a gente existe!

Eles saíram dali rapidamente, procurando por um lugar onde ela ficasse livre dos curiosos e pudesse se recompor antes de começarem as aulas. Se os portões não tivessem se fechado, ele teria dado um jeito de ir embora dali com ela.

- Ai, Cebola, fica assim não!

- Ela não te merece, que horror!

As moças o consolavam, enquanto os rapazes falavam palavras de incentivo para ele. O coitado parecia inconsolável, totalmente arrasado e com o coração destruído. Ele ainda segurava o buque de rosas, que estavam começando a murcharem um pouco. Cascão aproximou dele, ajudando-o a se levantar. O rapaz ainda soluçava muito, estava com o rosto banhado em lágrimas e parecia com dificuldade para andar.

- Gente, calma aí, eu vou levar ele pro banheiro.

- Quer que a gente vá junto? – Xaveco se ofereceu.

- Precisa não, acho que quanto menos gente melhor. Ele tem que se acalmar antes da aula.

Seus amigos concordaram e todos foram procurar suas salas de aula daquele ano, deixando os dois sozinhos. Cascão o levou até o banheiro mais próximo. Para a sorte deles, não havia ninguém ali.

- Pôxa, que barra heim? – Cascão perguntou, ao ver seu amigo ainda com a cabeça baixa e com o corpo sendo sacudido, como se ainda estivesse soluçando. Mas ele não estava soluçando, e muito menos chorando.

Ele ouviu um som abafado e perguntou, muito preocupado com o amigo.

- Cebola, tá tudo bem? Fala alguma coisa!

Um som de uma risada se fez ouvir. Baixo no inicio, foi aumentando de volume até se tornar uma gargalhada sinistra. Cebola levantou o rosto e Cascão afastou-se dele rapidamente, assustado com sua expressão. Apesar das lágrimas, do rosto molhado e dos olhos vermelhos, seu amigo ria como um maníaco e seu rosto mostrava a mais pura insanidade.

- Hahaha! Essa foi boa, não foi? Fala a verdade: eu sou ou não sou “o cara”?

Vendo a expressão apatetada do amigo, ele continuou falando.

- Escuta, por acaso você não teria um Oscar aí na sua mochila, teria? Eu bem que mereço um pela minha brilhante atuação! Viu como todo mundo ficou comovido? Bando de idiotas! Eles acreditaram mesmo!

- Você tava fingindo esse tempo todo? Fala sério, você é filho da puta demais! Até eu acreditei!

- Isso só mostra como eu sou bom! Agora todos ficarão do meu lado e contra a Mônica. Aquela dentuça marrenta vai ver só uma coisa!

- Você ainda quer sacanear a Mônica?

- Claro! Tudo isso teria sido evitado se ela tivesse aceitado namorar comigo. Ela teria sofrido, não nego, mas agora ela vai sofrer em dobro por me rejeitar na frente de todo mundo!

- Larga de ser Mané cara! Seu plano falhou! Ela disse não!

- Não falhou coisa nenhuma! Esqueceu que não há resposta correta?

Por fim Cascão acabou entendendo o plano. Não importava a resposta da Mônica, de qualquer forma ela ia cair na armadilha.

- Na boa, se você quer dar uma de psicopata, vai fundo. Só que eu tô fora! Mó sacanagem o que você tá fazendo com ela!

- Sacanagem foi o que ela fez comigo. E sacanagem é você, meu melhor amigo, me abandonar nessa hora!

- Sou seu amigo pro que der e vier, mas não conta comigo pra fazer esse tipo de coisa que não vai rolar!

- Cascão, por favor! Não fica fazendo esse drama!

Ele ia saindo do banheiro, já enojado com tudo aquilo. O que tinha dado no Cebola para agir daquele jeito?

- Se eu fosse você, ficaria quieto aí mesmo!

- A gente se vê por aí, valeu?

- Eu falei pra você ficar quieto! – ele avançou contra o amigo e o agarrou pela camisa, fazendo-o bater de costas contra a parede. – Escuta aqui, amigão! Com a Mônica fora, o novo dono da rua sou eu, tá ligado?

- Parabéns, então divirta-se com seu novo título!

- Não é apenas um título. Depois de hoje, todo mundo vai comer direitinho na minha mão! Agora eu sou a vítima, o rapaz de coração partido por uma garota cruel egoísta. Com isso, todo mundo vai me ouvir e fazer o que eu mandar!

O rapaz tremia apavorado. Aquele não era nem de longe o seu melhor amigo.

- Se ficar do meu lado, vai ter tudo comigo. Eu sei ser agradecido com quem me ajuda. Agora, se ficar contra mim, vai ficar contra a turma inteira também, ouviu?

- Isso não vai rolar, cara! Eles não vão cair nessa!

Cebola deu outra risada e depois seu rosto ficou sério de novo, fitando o amigo com um olhar frio e cortante.

- Seu cabeção! Você esqueceu que todo mundo se voltou contra a Mônica? Se eles ficaram contra ELA, acha mesmo que vão te tratar melhor? Esquece! Ou você fica do meu lado, ou vai ser o próximo exilado da turma. Você escolhe!

Ele gelou na hora ao ver que Cebola estava falando sério. Aquele olhar vidrado, endurecido e com um brilho cruel não deixava dúvidas. O que ele ia fazer se perdesse os amigos? Pior: e se ele perdesse a Cascuda? Além de gostar demais dela, ele sabia que ela era a única garota que o aceitava tal como era. Sua vida perderia toda a graça se ela o deixasse. Por fim, ele achou melhor se render.

- Tá bom, cara. O que é pra eu fazer?

- É assim que se fala, amigão! Ei, não fique desse jeito! Como novo dono da rua (da escola e futuramente do mundo), eu farei de você meu braço direito. E tudo vai ficar bem, pode acreditar. Quando a Mônica terminar de cumprir a sua pena, eu a farei a mulher mais feliz do mundo ao meu lado.

- Isso é piração...

- Não, é a realidade! Agora vamos pra sala antes que alguém apareça e nos dê uma bronca. Deixa só eu caprichar mais na minha cara de sofrimento!

Eles voltaram para a sala de aula. Cascão caminhava ao lado do Cebola, impressionado em ver a facilidade com que o amigo conseguia fingir uma tristeza que não sentia. Quem visse de fora, pensaria que ele estava totalmente arrasado.

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Mônica e Felipe foram para o estacionamento da escola, onde era mais tranqüilo. Com certeza os dois iam acabar chegando atrasados, mas ele não se importou. Tudo o que ele queria era protegê-la e ver as lagrimas dela partia seu coração.

- Calma, gata, fica assim não!

- Viu só como eles me trataram? Que horror!

- Eles só estavam de cabeça quente. Depois, com mais calma, eles vão pensar melhor. Você vai ver.

- Ai, tomara, viu? Eu não esperava que o Cebola fosse aprontar essa!

- Esse cara não vale nada mesmo!

Ela voltou a chorar, com o rosto enterrado no peito dele. Felipe a abraçava bem forte, afagando seus cabelos.

- Mô, eu só lamento muito que você tenha brigado com seus amigos por minha causa. Poxa, se eu soubesse...

- Tudo bem, não foi culpa sua. Eles é que não conseguem respeitar minha decisão!

- Eu quero muito namorar com você, sério! Mas se isso for te fazer infeliz...

- Nem pense nisso, por favor! Eu já perdi meus amigos, agora vou perder você também?

- Claro que não, gata! Isso nem me passou pela cabeça! Eu só não quero ver você sofrendo!

- Isso vai passar, sempre passa. Eu é que não pretendo voltar atrás, isso não! Eles não têm direito de mandar na minha vida dessa forma!

- Vai ser uma tremenda barra, você acha que vai agüentar?

- Eu sou a Mônica, esqueceu? A pergunta é: e você? Vai agüentar isso comigo?

Felipe endireitou sua postura, fez com que ela olhasse nos seus olhos e falou com a voz firme e segura:

- Mônica, eu estou com você pro que der e vier, pode acreditar! Se você cair, eu amorteço sua queda. Se atirarem em você, eu me coloco na sua frente pra te proteger. Não vou de deixar na mão, juro! Você não vai agüentar essa barra sozinha!

Ela se tranqüilizou. Mais pelo olhar dele do que pelas palavras. Ao contrário do Cebola, que tinha os olhos duros e frios, Felipe olhava para ela com um olhar terno e amoroso. Dava para ver que os sentimentos dele eram para valer.

- Eu também quero te mostrar uma coisa. Veja! – Felipe tirou seu cordão de dentro da camisa, mostrando um pingente igual ao que ele tinha lhe dado de presente no natal. Os olhos dela arregalaram

- É igual ao meu. Por que...

- Porque estamos juntos. Eu mandei fazer os dois de uma vez, mas fiquei com medo de te mostrar na época e você não gostar.

- Imagina! Achei tão fofo!

- Agora somos namorados?

- Somos sim! – apesar das lagrimas, o rosto dela se iluminou ao ver que aquilo era para valer. Entrar no meio dos seus amigos para apoiá-la foi o mesmo que se jogar entre os leões e mesmo assim ele não se importou em defendê-la. E ela também achou tão lindo e meigo os dois usando pingentes iguais! Afinal, patins só faziam sentido quando usados em dupla.

Os dois ficaram ali, abraçados e sem dizer mais nada. Eles não se importaram em perder o primeiro horário. Contanto que ninguém os visse ali, tudo ficaria tranqüilo. E ele queria mostrar que ia apoiá-la incondicionalmente e suportar qualquer coisa para protegê-la.

Nunca, em toda sua vida, ele pensou que fosse sentir algo tão forte e intenso por alguém. Nada mais no mundo importava para ele.


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Notas finais do capítulo

Vocês devem estar estranhando essa personalidade psicopata do Cebola. É que eu moldei a personalidade dele levando em conta seu ID Soranin, que é o mestre da trapaça e da mentira. Ele é um bom manipulador e especialista em levar as pessoas na lábia, mostrando-se um verdadeiro lobo em pele de cordeiro.
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Foi por isso que ele conseguiu enganar a todos, colocando a turma inteira contra a Mônica.
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E para quem não entendeu o objetivo do plano dele, pode-se dizer que era um plano capcioso, pois qualquer que fosse a resposta da Mônica, ela cairia na armadilha do mesmo jeito. Se dissesse sim, ia comer o pão que o diabo amassou com ele e perderia o Felipe. Se dissesse não, toda a turma acabaria ficando contra ela.
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Podem esperar que esse assunto ainda vai render um pouco.