Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 15
A armadilha


Notas iniciais do capítulo

Se segurem nas suas cadeiras porque o bicho vai pegar!



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Cebola tinha chegado tarde, depois das dez horas da noite. Não foi possível conseguir um vôo mais cedo. Como era tarde, ele apenas falou com Cascão por telefone para acertar os últimos detalhes do seu plano. Assim ele ficou sabendo que a Mônica pretendia chegar bem mais cedo e resolveu chegar cedo também. Fazer tudo na correria, pensando no horário da aula não ia dar certo.


No dia seguinte, Cascão estava esperando pelo Cebola, em frente a sua casa. Não demorou muito e ele saiu de lá com um grande buque de rosas vermelhas na mão. Ele tinha comprado na noite anterior, em uma floricultura que tinha no aeroporto. Foi difícil convencer seu pai a comprar aquelas flores porque o preço ali era mais alto do que nos outros lugares, mas Cebola conseguiu convencê-lo alegando que ele não queria encontrar a Mônica no dia seguinte com as mãos vazias, já que seu pouco dinheiro não tinha permitido que ele comprasse um presente para ela. Por fim, Seu Cebola acabou concordando.


– Caraca! Isso aí é pra Mônica?

– Faz parte do plano. Nenhuma declaração de amor ficaria completa sem rosas vermelhas.


Seu olhar estava endurecido e havia um sorriso perverso em seus lábios.


– Olha, ainda dá pra desistir...

– Eu não vou desistir, meu caro. A Mônica vai ficar aos meus pés. Ela não terá para onde fugir. - Dito aquilo, Cebola arrancou uma rosa do buquê e começou a apertá-la em sua mão com toda força.


Ele antegozava o prazer da vitória, tendo certeza de que Mônica não ia ter forças para escapar daquela armadilha. Aquele dia era um dia de gloria para ele. Depois daquilo, a Mônica nunca mais ia atrever a se rebelar novamente. Um dia ele pretendia ser feliz com ela e lhe dar o mundo, mas antes ela tinha que pagar caro pela traição, sofrer muito por ter se atrevido a trocá-lo por outro rapaz. Seu orgulho fora ferido e aquele crime não ia ficar impune. Depois, quando ela estivesse totalmente domada, derrotada, humilhada e jogada aos seus pés, implorando um pouco da sua afeição, ele estaria satisfeito e finalmente ia estender a sua mão, oferecendo seu amor e afeto. Com isso, ela ia ficar eternamente grata por ele e passaria a idolatrá-lo como um deus.


Com o aperto da sua mão, a rosa foi totalmente despedaçada. Suas pétalas foram sopradas pelo vento e o resto jogado no chão, como lixo.


– Vamos, Cascão. Não podemos deixar a turma esperando, certo?

– Tá bom. O jeito é esperar a Mônica dar a resposta certa. – para ele, a resposta certa seria não. Assim ela não cairia na armadilha do Cebola. No entanto, seu amigo o deixou confuso ao responder simplesmente:

– Não há resposta certa.


Ele não falou mais nada e os dois foram apressadamente para o colégio enquanto Cascão tentava entender o que Cebola queria dizer com aquilo.


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“Por que todo mundo me olha desse jeito? Que coisa! E o Cebola que não chega?” Mônica estava sentada em um banco, num lugar mais discreto, esperando pelo Cebola. Ela tinha chegado bem mais cedo naquele dia para poder conversar com ele. Quanto antes terminasse com aquilo, melhor. Felipe olhava de tudo a uma distância segura, esperando o desenrolar dos acontecimentos. Ele queria ficar ao lado dela para dar apoio, mas Mônica achou que tinha de fazer aquilo sozinha.


Todos olhavam com expectativa para o portão de entrada e não se decepcionaram nem um pouco ao verem Cebola entrando com um grande buque de rosas nas mãos! Vários “ohh” e “ahhh” foram ouvidos. Os rapazes observavam em silêncio enquanto as moças cochichavam entre si.


O rosto da Mônica empalideceu quando ela o viu se aproximando com aquelas flores nas mãos e Felipe ficou apreensivo. Quando ele chegou a mais ou menos um metro de distancia dela, a turma toda ficou em volta deles, esperando com ansiedade.


Mônica sentiu um mal estar tomando conta do seu corpo e vontade de sair dali correndo. Ainda assim, ela reuniu forças para encarar o rapaz.


– Cebola, o que tá acontecendo? A gente não devia ter essa conversa em particular?

– Devia, mas eu acho que algo tão lindo e especial assim deveria ser compartilhado com nossos amigos.


Todos sorriram e falaram palavras de incentivo para ele.


– Vai nessa, Cebola!

– Manda ver!

– Você consegue!


Ao ver que todos tinham mordido a isca, Cebola procurou fazer sua melhor cara de apaixonado e falar para a Mônica todo o discurso que ele tinha decorado cuidadosamente. Ele se aproximou mais dela, estendendo as flores e começou a falar.


– Mônica, nesses dois meses que eu fiquei nos EUA, eu não parei de pensar em você hora nenhuma!


Ela fez cara de quem não entendeu nada. Se ele tinha pensado tanto nela assim, por que então ficou sem dar noticias?


– Essa distância só serviu para fortalecer o que eu sinto por você, porque me fez entender o quanto eu te amo e você é especial para mim.


As moças derreteram-se com aquela frase, ao passo que Mônica sentiu uma enorme vontade de vomitar.


– Mônica, minha linda, meu amor... eu não quero mais ficar longe de você, nunca mais! Você é a luz da minha vida, a força de que eu preciso para seguir em frente e vencer qualquer desafio!


Apesar da distancia, Felipe pode ouvir tudo aquilo e a única coisa que ele queria era arrebentar a cara daquele cretino até virar carne moída. Como alguém podia ser tão cara de pau assim?


– Nada mais nesse mundo importa para mim, só você. Eu quero ser seu para sempre, todo seu.


Se fosse em outra época, ela teria se desmanchado em lágrimas e caído nos braços dele. Daquela vez, no entanto, ela não conseguia sentir nada além de um grande desconforto. O rosto dele era o de um rapaz apaixonado, mas seus olhos...


– Mônica, por favor, namora comigo? Diga que sim e eu serei o cara mais feliz e sortudo da terra. Namora comigo e eu colocarei o mundo aos seus pés, farei qualquer coisa para te ver feliz e nunca mais irei te deixar sair da minha vida novamente.


Ele falou aquilo olhando nos olhos dela e um arrepio desagradável percorreu seu corpo. O olhar dele estava endurecido e ela sentiu que alguma coisa ali estava errada. Ele não estava sendo sincero. E nem poderia. Durante tantos meses, ele agiu de um jeito, deixando-a de lado e não fazendo nada para que eles reatassem o namoro. Aquela mudança repentina não fazia o menor sentido.


– Ô Mônica, você não vai falar nada? – Magali disparou, tirando-a dos seus pensamentos.

– Ai, amiga, isso é lindo demais! – Cascuda apoiou, batendo palmas e Marina não ficou atrás.

– O que você está esperando? Venha pegar seu namorado.


Ela saiu daquele choque e olhou ao redor, vendo que todos os seus amigos esperavam com ansiedade pelo seu “sim”. Aquilo a deixou apavorada. O suor escorria pelo seu corpo e as pernas tremiam. Ela nunca tinha sentido tanto medo em sua vida. Se dissesse sim, ela ia perder Felipe para sempre, o que seria muito doloroso já que ela gostava muito dele e não sentia mais nada pelo Cebola. Se dissesse não, ia correr o risco de ter a turma toda contra ela e suas amizades poderiam ser perdidas. Sem falar que ela também não queria magoar o Cebola, embora duvidasse seriamente da sinceridade dele.


Felipe viu toda a confusão dela e entendeu o objetivo do Cebola. “Desgraçado! Ele tá fazendo isso de propósito pra encostar a Mônica na parede!” estava claro que o imbecil não se conformava em ser trocado por outro e por isso armou toda aquela palhaçada para forçar a Mônica a voltar para ele. Pensando nisso, ele achou melhor intervir. Ela parecia totalmente perdida, prestes a cair na armadilha dele e ele não podia deixar aquilo acontecer. Quando tentou avançar, uma mão agarrou sua camisa, fazendo-o voltar para trás. Era Luísa, que também assistia a tudo.


– Não senhor, fica quieto aí. Ela tem que resolver isso sozinha.

– Mas...

– Não tem “mas”. Se ela é tão forte quanto falam, vai sair dessa sozinha. Se não for, então não vale a pena perder tempo com uma bundona que não sabe se impor.


Ele ficou ali, parado, olhando para ela sentindo o coração apertar. Sua irmã estava certa. Ela precisava resolver aquilo sozinha e aprender a tomar as rédeas da própria vida.


Mônica olhava apavorada para Cebola, que ainda lhe estendia o buque de rosas com um sorriso no rosto. Todos os seus amigos falavam sem parar, pedindo para que ela aceitasse o namoro, deixando-a tonta e desorientada. Por instantes, ela pensou mesmo em dizer “sim” e acabar logo com tudo aquilo. Ela não sentia por ele o mesmo que sentia pelo Felipe, mas pelo menos teria algum sossego. E, se ele estivesse mesmo falando sério, talvez com o tempo conseguisse voltar a despertar nela o mesmo sentimento de antes.


Por que arriscar? Seu futuro com Felipe era incerto, ao passo que com Cebola tudo parecia definido. Ela o conhecia há anos, estava acostumada com seu jeito de ser. A turma inteira esperava que eles ficassem juntos como se aquilo fosse a ordem natural das coisas. Era um terreno conhecido e confortável, pelo qual ela sabia por onde andar. Será que valeria mesmo a pena trocar o conhecido pelo desconhecido? Valeria a pena deixar um relacionamento que parecia estável de lado para se aventurar com um novo rapaz que ela conhecia relativamente a pouco tempo e não sabia o que esperar dele?


– Mônica? Me responda, por favor! Namora comigo! Eu faço qualquer coisa por você!


A voz do Cebola fez com que ela saísse dos seus pensamentos e o encarasse. Ao olhar nos olhos dele, ela sentiu novamente aqueles arrepios desagradáveis e uma sensação de mal-estar. Não, ela não o amava mais, não sentia mais por ele o que sentia antes. Não era justo ela ser forçada a deixar de lado alguém especial para ficar com outro a quem ela não amava só porque seus amigos não sabem respeitar sua decisão!


Ela olhou por cima dos ombros dele, numa brecha que seus amigos tinham deixado no circulo que tinham formado ao redor deles e ali ela viu Felipe, lhe olhando com o rosto sereno. Ele não precisou falar nada para lhe dizer que saberia respeitar sua decisão, fosse qual fosse. Não precisou palavras e nem gestos para ela saber o quanto ele gostava dela, tanto que estava disposto a deixá-la livre para ficar com quem quisesse caso fosse seu desejo. E também não precisou de palavras para ela saber o quanto gostava dele também, o quanto ele tinha se tornado especial e único em sua vida.


Aqueles poucos segundos lhe deram força, serenidade e lucidez suficientes para ajudá-la a decidir o que fazer.


– Cebola. – ela começou, fazendo todos ficar em ansiosa expectativa. – eu sinto muito que as coisas tenham que ser dessa forma. Eu queria conversar isso em particular com você para evitar qualquer situação desagradável, mas vou falar aqui mesmo. Não, eu não quero namorar com você. Me desculpe.


Foi como se um raio tivesse atingido os pés de todos ali e Cebola ficou olhando para ela com os olhos arregalados, mal acreditando que sua declaração de amor não tinha surtido nenhum efeito sobre ela. Não, ele não podia se dar por vencido, então ele fez sua melhor cara de cachorro abandonado e carente e continuou.


– Mônica, por favor, me dê uma chance. Eu sei que pisei na bola com você, sei que aprontei muito, mas estou disposto a fazer qualquer coisa para te compensar, eu juro!

– Olha, não faz assim tá? Eu tenho carinho por você porque a gente cresceu junto e quero continuar sendo sua amiga, mas agora eu quero seguir um caminho diferente. Eu gosto de outra pessoa e quero ficar com ele.

– Como você pode fazer isso comigo? Não é justo! – ele gritou, com as lágrimas correndo pelos seus olhos.


O pessoal logo começou a olhar Mônica com hostilidade, pensando em como ela podia ser tão cruel assim com alguém que a amava muito.


– Eu sinto muito, Cebola, de verdade! Mas você precisa entender que eu não posso fazer uma coisa que meu coração não pede mais. Eu quero seguir minha vida agora e desejo que você faça o mesmo. Siga sua vida, encontre outra pessoa especial que te ame e seja feliz.


Ao ver que suas lágrimas não estavam surtindo efeito, ele se jogou no chão de joelhos, fazendo com que todos a sua volta ficassem de coração partido com o seu sofrimento. O rosto dele estava banhado em lágrimas, seus olhos vermelhos e o mais puro desespero estava registrado em seu rosto.


– Pelo amor de Deus, Mônica! Não faz isso comigo! Eu te amo, mais do que tudo no mundo! Volta para mim, por favor! Eu imploro!

– Sinto muito. Não. Eu faria qualquer coisa para não te ver sofrendo desse jeito, mas namorar com você eu não posso. Não mais. Eu te desejo toda felicidade do mundo, Cebola. Você vai superar isso e ser feliz, tenho certeza.


Ele se curvou no chão, num pranto sofrido e desesperado que deixou todos ali furiosos com a Mônica. As garotas quase partiram para cima dela, junto com os rapazes.


– Sua monstra, como você faz isso com o coitadinho?

– Olha como ele está sofrendo!

– Fica assim não, cara! Ela não te merece!

– É mesmo, esquece essa dentuça e arruma outra que te mereça!

– Gente, espera! Que é isso?

– A gente não vai esperar nada! – Magali falou avançando contra ela e segurando seu braço com força. – você magoou nosso amigo! Ele veio aqui, abriu seu coração pra você, até se jogou aos seus pés e você faz essa monstruosidade com ele?

– É mesmo! - Titi falou também indo na direção dela. – você não vale nada!


Todos começaram a xingar e falar ao mesmo tempo, deixando a Mônica apavorada. Ela tentava conversar e se justificar, mas ninguém lhe escutava. Felipe ficou preocupado quando viu alguns rapazes indo na direção dela e achou que estava na hora de agir. Ninguém ia encostar um dedo nela com ele por perto!


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